quarta-feira, 16 de julho de 2014

Ser rico é a melhor coisa que podemos querer


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O texto de ontem do Felipe Silveira abre caminho para uma reflexão interessante. Diz ele que ser rico é algo que não deseja a ninguém, “pois o rico pressupõe o pobre”. Não concordo com a ideia (mesmo que seja mera retórica), ainda mais quando apresentada em termos absolutos. Porque tudo é relativo, até mesmo a pobreza. Ser pobre na Noruega não é o mesmo que ser pobre no Brasil.

Mas a relatividade da pobreza é questão de somenos. O problema é que essa visão “franciscana” deixa implícito o discurso da socialização da miséria. É mau em termos políticos. Porque é o argumento que dá sustentação à semântica reacionária da direita, que acusa as esquerdas de vocação para a pobreza. Ora, o ideal de socialismo tem que ser afirmativo e apontar noutra direção: a socialização da riqueza.

E antes que apareça um conservador mais afoito a falar em tirar dinheiro dos ricos para dar aos pobres, não é isso que estou a dizer. O tema aqui é uma melhor divisão da riqueza. Não vamos esquecer que o relatório "Credit Suisse 2013 Wealth Report" revelou, há poucos meses, que 0,7% da população concentra 41% da riqueza mundial. E é contra essa “taxa de ganância” que a humanidade deve se insurgir.

Não odeio os ricos. Só não quero ser como esses incultos e gananciosos que formam as elites econômicas latino-americanas. Aliás, como escreveu Victor Bulmer-Thomas, especialista em assuntos da América Latina e Caribe, as elites locais “só conseguem sentir-se ricas se estiverem rodeadas de pobres”. Fazer uma profissão de fé pela pobreza é dar-lhes esse prazer.

Eis a diferença: não rejeito a riqueza. Só não quero ser rico sozinho. Porque a riqueza produzida pelo modo de produção capitalista é suficiente para todos. Aliás, acho que o problema mais imediato nem é acabar com o capitalismo, mas com os maus capitalistas e sua voracidade sem limites nem ética. Enfim, ao contrário do co-blogger Felipe Silveira, eu quero experimentar a riqueza. Porque a pobreza já sei como é.

É como diz o velho deitado: “Há uma guerra contra a pobreza… e os pobres estão a perder”.

3 comentários:

  1. Nossa, um sopro de sensatez vindo do Baço. Fiquei até arrepiado.

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  2. Isso nón ecxiste, o Baço nón bode dobrar meu dedo... Sensatez no Baço nón ecxiste...

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