POR CHARLES HENRIQUE VOOS
Após assistir aos 64 jogos, olhar milhares de fotos nos portais de internet, acompanhar as centenas de reportagens produzidas pelas emissoras de TV (desde a mais crítica, como a ESPN Brasil, até a mais café com leite, como a Globo), chego a conclusão de que a segregação social brasileira foi retratada perfeitamente neste mundial. O evento escancarou este fenômeno que, para muitos, é invisível e não acontece no dia-a-dia de nosso país. É uma coisa apenas de números, ou do pessoal que "só sabe criticar".
Segundo o Censo 2010, 97 milhões de pessoas se autodeclararam negras ou pardas. Isto sem contar aquelas que, por uma vergonha causada pelo ranço histórico de nosso país, não se declararam como tal. Isto representava, na época da pesquisa, mais da metade da população brasileira. o Censo 2010 também mostrou que há uma desigualdade de distribuição de renda conforme a classe étnica: os rendimentos mensais dos brancos e amarelos, se aproximaram do dobro do valor relativo aos grupos de pretos, pardos ou indígenas.
A situação nos estádios não poderia ser diferente: predominância de brancos nas arquibancadas. Com ingressos caros, na mão de cambistas, e estádios com grandes setores VIPs e com mordomias, estava óbvio que a segregação que existe no país se espacializaria no jogo de futebol. Nem falo somente sobre jogos do Brasil, mas de todos os 64, onde os brasileiros foram maioria.
Enquanto isto, as emissoras de TV mostravam onde estava o negro, o pardo, o pobre, o "cara da comunidade": estava do lado de fora, nas ruas, nos botecos da esquina, no "pagode", nas "Fan Fests". Estava em todo os lugares, menos dentro do estádio. As imagens e fotos estão rolando na internet e provam isto que escrevo. Não é nenhuma falácia.
Se aprofundarmos um pouco, perceberemos que a parcela étnica mais pobre de nosso país estava, sim, acompanhando os jogos in loco. Os vendedores, os seguranças, os serventes, faxineiros estavam lá, em suas profissões de base como fazem todos os dias, visto que é a única coisa que vos resta devido à baixa qualificação e a falta de melhores oportunidades. E, se formos reparar, estas profissões são um retrato invertido do que eram os torcedores. Lá, sim, estavam os negros, os pardos, os "caras da comunidade".
As únicas exceções à regra eram os jogadores, e alguns "gatos pingados" na torcida.
Agora dá para entender porque os estádios brasileiros exalavam ódio contra a Presidenta e suas políticas sociais?
Não diga isto Charles, a elite branca vai potencializar ainda mais o seu ódio e responder que a negrada não estava lá dentro por que não trabalha e só vive tomando cachaça. E em relação ao ódio contra a Presidenta, ainda vão vir com aquela máxima que só eles possuem consciencia política neste País pois não dependem de projetos asistencialistas e nem moram no Norte/Nordeste.
ResponderExcluirPara quem tem como Rodrigo Constantino como um "esclarecido", politicamente falando, não me assusto com nada!
ExcluirVamos colocar alguns pingos nos “I”s:
ResponderExcluirQuando alguém renega a sua ascendência não é por questões históricas ou ranço, é por falta de vergonha na cara mesmo. Não vivemos numa nação nazista que persegue judeus.
Mesmo com vencimentos satisfatórios, não me apeteceu pagar o que a FIFA pediu para assistir a um jogo de futebol, imagine então para um assalariado que ganha um ou dois salários mínimos e com família para sustentar. Jogos de Copa não são para pobres, nem aqui, nem na China. Se alguém realmente acreditou quando o governo federal prometeu reservar assentos para os beneficiários do bolsa família, provavelmente também acreditou que os estádios não seriam 100% financiados com dinheiro público ou em outras mentiras contadas antes da copa.
Dizem que na abertura a Dilma foi vaiada pela “elite branca paulistana”, depois, no encerramento, a Dilma foi vaiada pela “elite branca paulistana no Rio”, se a abertura fosse em Brasília provavelmente seria vaiada pela “elite branca paulistana em Brasília”. Ora, a Dilma foi vaiada porque é uma gestora medíocre de um governo fantoche. Talvez, se ela cumprisse com o prometido e doasse metade dos ingressos aos beneficiários do bolsa família, as vaias não seriam tantas.
José
Mas ai vc diria que ela inventou o bolsa-copa e continuaria descendo o sarrafo nela. É preciso ler um pouquinho daquele barbudinho do século 19, que todos dizem estar ultrapassado, e que lançou as bases da luta de classes. É incrível que assim como o Freud ele consegue explicar alguns ódios que sentimos até hoje.
ExcluirSe não tinha preto, os brancos fizeram o favor de xingar a Dilma por eles. A culpa é da Dilma que deixou cobrarem entradas exorbitantes e não estabeleceu uma quantia mínima que entradas para cotas raciais.
ResponderExcluirHouce segregação de negros na Copa assim como em qualquer outra atividade, evento, etc. A Copa foi um evento comercial e , portanto, como ocorre em qualquer outra atividade econômica deste país eles foram segregados. Simples assim. Quanto ao figura acima só digo que não vivemos numa nação nazista que persegue judeus, vivemos numa nação racista que exclui negros, ou você ainda não percebeu isso? Acho que não.
ResponderExcluirRacismo é exclusividade dos negros?
Excluir
ResponderExcluirAté parece que não tenha branco pobre com desejo de assistir a copa.
Tudo é motivo para de forma racista se falar de racismo.
Fica a pergunta que não quer calar: Quantos negros fazem parte da "elite" do chuva ácida mesmo?
Claro, Anônimo. A pobreza é um fato que atinge todas as etnias, em todas as regiões do país. Acontece que, estatisticamente, negros e pardos dominam as mais baixas camadas de renda do país, por diversos motivos políticos e históricos que não precisam ser discutidos agora, pois creio que você os conhece. Eu não acredito que a análise foi "racista para se falar de racismo". Foi uma análise de um fato, que ocorreu diante dos olhos de bilhões de pessoas, pelo mundo todo.
ExcluirSobre o Chuva Ácida, antes de mais nada, saiba que somos um coletivo onde prevalecem vários tipos de pessoas. Diferentes credos, origens, e posição econômica. Talvez não exista em Joinville um veículo (mesmo que no formato blog) que dê tantos espaços para visões divergentes como o nosso. Negros (e textos que observem as suas mazelas construídas historicamente neste país) não fazem parte do quadro permanente do Chuva Ácida, mas já estiveram em vários "Brainstormings", seção onde publicamos textos de convidados e voluntários.
Um abraço.