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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

"Não são daqui": o provincianismo em Joinville


POR JORDI CASTAN

É uma característica típica das pequenas vilas do interior desenvolver animosidade e preconceito contra todos aqueles que vieram de fora ou não nasceram aqui. Em Joinville, como toda boa cidade de interior que se preze, vez por outra arrefecem este tipo de sentimentos.

O “ele/ela não é daqui” é uma forma de segregar e de identificar estigmatizando. Há nesta crítica a todo aquele que não é local,um sentimento de medo, de aversão, mas principalmente de insegurança. É esta insegurança a que cria desconforto nos nativos. Estranhos representam perigo. Porque dos nativos, sejam eles amigos ou inimigos, sabemos o que esperar e por tanto como reagir.

Não sabemos como lidar com o que nos é estranho. É impossível prever como agirão frente às nossas ações e isso os faz imprevisíveis. É esta imprevisibilidade a que cria desconforto, insegurança e preocupação. Nada molesta tanto para um local que aquilo que lhe é estranho, diferente.

O não saber faz que os locais se sintam ignorantes. Ignorantes por não saberem como reagir aos perigos que os estrangeiros representam, sem saber optam sempre por pressupor o pior. E o pior é sempre perigoso, uma ameaça. Assim, no primeiro momento sentem-se ignorantes e esta ignorância se transforma em impotência, por não saber como lidar com eles.

Ignorância e impotência são condições humilhantes, incômodas, impróprias de alguém que nasceu aqui. Ao deixar os locais sem saber como agir, os estranhos se convertem num elemento perturbador da sociedade. Bárbaros que trazem outros hábitos, costumes, outras formas de se alimentar, de se vestir ou de se expressar. Ante a impossibilidade de fazê-los desaparecer, é preciso minimizar sua presença. E, se possível, neutralizar a influência dos estranhos para recuperar a tranquilidade tão prezada pelos locais.

Por isso é tão forte o desejo de que essa gente estranha seja isolada, excluída, barrada, impedida de ameaçar a forma de vida e os valores locais. Nada é tão precioso nas pequenas vilas do interior como a segurança que proporciona o saber. Saber quem, saber quando, saber aonde, saber com quem. Saber como cada um reagirá ou responderá a cada uma das nossas ações e comentários. É o desconhecido o que assusta. É o que não sabemos que nos amedronta. O que ignoramos é o que mais tememos.

Tem gente forasteira que ousa criticar a nossa vila. Pior ainda tem a ousadia de questionar o nosso prefeito, um homem tão bom e tão trabalhador, que acorda cedo e vai à missa todos os domingos. Gente assim não pode ser daqui. Não nasceu aqui. Se tivesse nascido aqui saberia que há sobrenomes que não se questionam. Que esta vila é o que é porque os fundadores assim a fizeram, com o seu esforço e o seu trabalho. Que esta é a nossa idiossincrasia. Que aqui somos de baixar a cabeça e trabalhar. Que ordem do patrão não se questiona, só se obedece. Que quem pergunta muito não é bem visto. Como pode ser que as pessoas não entendam?

É compreensível ver o aumento de comentários xenófobos nas redes sociais. Frases do tipo: “Se não gosta daqui por que veio?”. “Não critique, se não gosta, vá embora”. “Se a sua cidade era tão boa, por que não ficou lá?”. Compreensível não quer dizer, de modo algum, que seja tolerável. É preocupante que convivamos com este tipo de atitudes que lembram outras épocas, aquelas em que se dizia abertamente: “ame-o ou deixe-o”.


terça-feira, 2 de junho de 2015

Brasil? Malta? Dinamarca? A xenofobia é a mesma

Joe Sacco, "The Unwanted", página 2:
O dilema da imigração em Malta é
o mesmo que aqui.

POR PEDRO H. LEAL

Em 2009, o jornalista maltês Joe Sacco, em parceria com o The Guardian e a Virginia Quarterly Review, publicou uma HQ de 48 páginas, “The Unwanted”, lidando com as condições de vida e a reação aos imigrantes africanos no pequeno país do Mediterrâneo. Recomendo a leitura: é uma peça bastante reveladora a respeito de imigração, refugiados e especialmente xenofobia, que se torna bastante relevante no cenário atual.

Após mais uma onda de imigrantes haitianos, a xenofobia novamente está em alta em Santa Catarina. O discurso, o mesmo dos malteses: eles estão “tomando nossos empregos”; “vão trazer crime e desordem” e “estão destruindo nossa identidade”. Alegam que eles “vão ter um monte de filhos largados ao deus dará” para viver de benefícios. Isso quando não insinuam que vieram para dar algum tipo de golpe de estado.


Enquanto empregadores usam e abusam da mão de obra migrante mais barata (para não ter que pagar direitos trabalhistas), os migrantes que são os “culpados” por serem explorados. Qualquer crime cometido (ou atribuído) a imigrantes se torna prova definitiva do caráter nefasto desses “estrangeiros” e prova de que devem ser banidos de imediato.

Se engana quem pensa que seja um fenômeno isolado. O misto de temor, asco e ódio por imigrantes abunda pelo globo, se apresentando de formas variadas. Partidos nacionalistas tem ganho força ano a ano junto com movimentos anti imigração e de “defesa das identidades nacionais”, muitos dos quais flertam com o neo-nazismo (quando não o são abertamente, como a AWB na África do Sul).

Na Dinamarca, onde morei por um ano, há um bizarro misto de extrema abertura quanto a xenofobia, e completa negação de que ela exista. Enquanto politicas estatais visam a inclusão de imigrantes (e a cidade de Aarhus tem um excelente programa de “desradicalização” de fundamentalistas), a atitude popular é outra. Imigrantes romenos são rotineiramente barrados em bares e casas noturnas; comentários hostis a imigrantes árabes e africanos são comuns. Em uma entrevista de emprego, foi me respondido com “preferimos não contratar latinos”. Em outro incidente, junto de três mulheres africanas e dois homens do leste europeu, fui expulso de um ônibus por três jovens embriagados, aos berros de “esse ônibus é só para dinamarqueses”. Mas, oficialmente, a descriminação não existe, mesmo sendo extremamente evidente.


Aqui em Swansea, segunda maior cidade de Gales, esse tipo de loucura parece ter seu lugar: o alvo do ódio, em geral os poloneses e os árabes. Comentários acusando os “poles” (Polacos) de serem “bandidos” e “parasitas” são recorrentes no maior jornal da região, o South Wales Evening Post - mesmo quando a história não os envolve. Nas proximidades da mesquita de Swansea, é ocasional ver pessoas bradando mensagens de ódio contra os “infiéis”, mas ao contrário do que o senso comum possa ditar, não são os muçulmanos a berrar. Os “infiéis” e “hereges” que tem que “temer” nesse caso são os imigrantes árabes e africanos que vivem nas redondezas.

A Europa abunda em xenofobia. Por todo o Reino Unido, grupos como a UKIP e Britain First ganham destaque - nas ultimas eleições, a UKIP teve espantosos 3,8 milhões de votos, 12,6% dos votos. Na França, o papel de difundir o ódio contra imigrantes e estrangeiros cabe à Frente Nacional, de Jean-Marie Le Pen (que disse que a solução para a imigração era “uma visita do senhor Ebola”). Na Alemanha, o boi se chama Pegida. Na Espanha, grupos como Democracia Nacional, España 2000 e Plataforma per Catalunya vivem do discurso de “proteção da identidade nacional” e “Espanha para espanhóis” (ou Catalunha para catalões).

Entre as vítimas recorrentes de descriminação, destacam-se os ciganos, árabes, africanos e latinos. No caso dos primeiros, o preconceito ainda é visto oficialmente como justificado. Enquanto crimes cometidos por estas minorias são desproporcionalmente repercutidos, quando são vitimas costumam ser ignoradas e muitos ataques são “justificados” como “vingança”. Entre Dezembro de 2014 e janeiro deste ano, três mesquitas foram alvo de incêndios na Suécia. Após o ataque a revista Charlie Hebdo, no começo do ano, mesquitas foram alvo de ataques com granadas, e lojas de kebab foram explodidas. Em 2011, após uma garota declarar ter sido estuprada por ciganos, um acampamento cigano em Turim foi incendiado - pouco depois, a garota disse ter inventado a história, mas muitos ainda viram o ataque como “justo”.

É de se perguntar a que grau chega a violência contra imigrantes no Brasil, dado que não é noticiado. O que dá para saber é que nossos xenófobos não primam pelo conhecimento geográfico. No auge da histeria quanto ao Ebola, corria pelas redes sociais a “notícia” de que os imigrantes do Haiti, um país caribenho, trariam a doença para o Brasil. Doença típica do continente africano. Mais recentemente, alguns comentaristas exaltados se preocupavam com a possibilidade de militantes do Boko Haram (uma milícia extremista islâmica da África Subsaariana) estarem entre os haitianos, ignorando que o Haiti é um país de imensa maioria católica e não fica na Africa.

De forma similar, os refugiados de zonas de conflito no oriente médio e na África são acusados de serem parte dos grupos do qual estão fugindo. Enquanto isso, na África do Sul, uma onda de violência contra imigrantes vindos do Zimbábue e de Moçambique tem tomado o país e imigrantes tem sido forçados a se isolar em campos de refugiados. Para os xenófobos da África do Sul, os imigrantes do norte são “violentos, incultos, e só querem viver das benesses do estado”. Soa familiar?



quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Sul e o Norte

POR CAROLINA PETERS

O ódio é, acima de tudo, burro.
Quando mudei para São Paulo, aos 15 anos, conseguir uma informação para chegar do ponto A ao B era quase impossível. Começa que já sou meio desorientada mesmo; que não conhecia nadica de nada da cidade; que minha cartografia catarinense não conseguia ainda dimensionar as distâncias paulistanas. E acaba que eu falava cantadinho. Antes que eu terminasse o pedido, vinha a pergunta:

-- Mas você não é daqui, né?

Eu respondia que não. E como o olhar insistia em mais informações, dizia que vinha de Santa Catarina. Floripa? Não, Joinville. Ah, mas você não fala como gaúcho.. Claro que não.

Depois da mostra de ignorância geográfica, vinha uma enxurrada de elogios às belas praias, às gentes bonitas e educadas, a qualidade de vida. Ao pedacinho de Europa, surrada e maltrapilha, mas Europa, que cultivamos como se existisse no sul do país. Mas por que razão? Por que deixar Santa Catarina?

O bom de São Paulo é que as placas são várias e não sabem ainda falar.

Por vezes, um mesmo que elogiava o meu estado vinha confessar que os migrantes do Norte eram a grande mazela de São Paulo. Aprendi que em SP, ser nordestino é xingamento, daqueles mais variados. “Baiano”, por exemplo, pode querer dizer tanto cafona quanto sujo ou mal educado. A xenofobia nunca é arbitrária ou incondicional. Alguns de fora valem menos, outros, valem mais.

Na minha primeira semana em Fortaleza, folheando o jornal, me deparo com o comentário de uma leitora sobre a sondagem eleitoral no estado do Ceará, que dava à presidenta Dilma ampla vantagem sobre Aécio e Campos - era maio: “Depois há quem reclame de ouvir dos habitantes do Sul e Sudeste que nós, nordestinos, não sabemos votar.”

Gosto muito de uma gravura feita pelo pintor uruguaio Joaquín Torres García em 1943, um mapa invertido da América do Sul. “El Sur es el Norte” é um manifesto de independência artística das escolas europeias e uma afirmação de humanidade dos habitantes do sul do globo. Meu Norte é o Sul: Uma noção que me orienta, um nacionalismo que é libertador, que busca romper com os padrões hegemônicos e produzir seus próprios paradigmas. Que não é xenófobo ou excludente. O oposto do sentimento separatista com o qual convivi em Santa Catarina e São Paulo.

Pensei em um livro que li no início desse ano, relatos de uma jornalista portuguesa que cobriu os dias que antecederam a queda do ditador Hosni Mubarak no Egito em janeiro de 2011. Lá pelas tantas, ao comentar o tratamento que a imprensa internacional dispensava ao levante popular e os posicionamentos de diversos chefes de Estado, ela escreve “para o ocidente, a vida dos outros povos pode sempre esperar”.

O Nordeste cresceu nos governos do PT. Os programas de distribuição de renda movimentaram a economia em pequenas e grandes cidades; o aumento do salário aumento o poder de compra. A economia nordestina cresce mais que a média do Brasil. O nordestino que reelege Dilma o faz por convicção e reflexão, não por ignorância.

O ódio aos homossexuais, aos negros, a misoginia, marcaram o primeiro turno nos debates. Proferidos de maneira explícita por dois candidatos menores que não valem citação, encheram a bola de Aécio, para quem fizeram linha auxiliar, colaborando para levar o tucano ao segundo turno. Apesar do desempenho pífio presidencial, o ódio mais caricato mostrou força nas disputas proporcionais e na disputa pela vaga do senado nos estados.

Na segunda volta, toma conta o ódio de classe que separa o Norte e Nordeste explorados do Sul e Sudeste beneficiários.

Este, ao menos, tem sofrido consecutivas derrotas. Pesquisas recentes e conversas entreouvidas no transporte público indicam que a percepção de que a pobreza é resultado da falta de oportunidade e da desigualdade social, não da preguiça e da vadiagem, como se dizia, tem crescido. Espero que a tendência siga.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A xenofobia só atinge o pobre, o negro, o favelado?

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Após a experiência prática de algumas situações, e a leitura de manchetes de jornais (e seus respectivos comentários no facebook), encontro cada vez mais pessoas xenófobas. Segundo o dicionário Michaelis, xenofobia é a aversão a pessoas e coisas estrangeiras. Este fenômeno é crescente, e reproduz uma série de preconceitos. Entretanto, precisamos nos lembrar que a vida é um atuar migrante, uma adaptação às circunstâncias... e muitos esquecem-se disto.

Quando uma cidade quer controlar o seu crescimento populacional, por exemplo, é comum levantarmos notícias de Prefeituras que colocaram mendigos, profissionais do sexo, e demais pessoas pobres em ônibus e mandaram para alguma outra cidade, bem longe dali. Mas são as mesmas Prefeituras que querem mais empresas na cidade e mais executivos morando nela. Até que ponto a xenofobia atinge as mais altas classes de nossa sociedade?

A última onda xenófoba muito presente em nosso dia-a-dia atinge os haitianos. Após incentivos do governo brasileiro, vários deles estão vindo para o Brasil para ter uma vida diferente de seu país natal, que há décadas sofre com problemas políticos internos e uma grande desigualdade social. É um retrato muito parecido com a onda migratória dos anos 1800, quando alemães vieram para nossa região, fugindo do cenário catastrófico que estava a Alemanha pré-unificação. Ou semelhante aos italianos que vieram décadas depois, fugindo da Primeira Guerra e das poucas esperanças na Itália. São estes, inclusive, responsáveis por boa parte da herança étnica que temos aqui no sul do país, juntamente com os afro-descendentes, os ibéricos e a população indígena que aqui habita há muito tempo. Se olharmos mais recentemente, o forçado êxodo rural do século XX nas cidades brasileiras trouxe muita gente do interior para o litoral em busca de melhores oportunidades. O joinvilense médio não é o descendente germânico, mas, sim, uma mistura de várias etnias.

Os haitianos não vieram para invadir o país ou declararem guerra. Vieram para ter uma vida diferente e ocuparem postos de trabalho que geralmente não são ocupados por brasileiros. Há muitos municípios em que as Prefeituras locais criaram programas de atendimento específicos para estes migrantes, mas a população em geral ainda carrega um preconceito bobo, fantasiado de xenofobia. O executivo alemão que vem morar na região por causa da BMW não recebe o mesmo tratamento que o haitiano que expõe a sua trajetória de vida num jornal. O motivo: o primeiro é rico, o segundo é um "pobre coitado". Joinvilenses reproduzem há muitos anos piadas contra paranaenses, só pra citar um outro exemplo.

Infelizmente é uma praga que se espalha não só pela nossa cidade, mas por todas aquelas que sofrem grande crescimento demográfico. Dói demais escutar e ler pessoas com estes preceitos, esquecendo-se que, antes de mais nada, somos todos seres humanos nos adaptando às nossas diferenças, às nossas realidades, às nossas desigualdades. Somos todos migrantes em algum momento de nossas vidas, seja por nós mesmos ou nossos antepassados.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Carlito persiste no erro


POR JORDI CASTAN

O prefeito Carlito Merss insiste de forma quase patológica em fazer afirmações, em público, que não correspondem a verdade.


Primeiro foi na TV da Cidade e as infelizes declarações já foram objeto de um post neste blog   "A xenofobia é coisa feia" as declarações do Sr. Carlito Merss motivaram tambem uma ação judicial-processo 0803086-66.2012.8.24.0038, promovida pelo  Advogado Gustavo Pereira, outro dos citados com frequência pelo prefeito, ocorrido no último 16 de agosto, no Juizado Especial Cível da UNIVILLE, oportunidade em que foi assegurado judicialmente direito de resposta em razão das declarações inverídicas do Prefeito Municipal Carlito Merss sobre episódio da LOT. Já na audiência foi homologado o acordo anexo e concedido o direito de resposta que confirma que as afirmações feitas pelo prefeito não procedem e surpreende ainda mais que depois de ter concordado em conceder o direito de resposta insista em repetir em outros foros as mesmas afirmações falsas.


No debate eleitoral promovido pelo jornal A Noticia, a TV COM e a SOCIESC na sexta feira dia 31 de agosto com os demais candidatos o Prefeito decidiu reproduzir as mesmas declarações ao responder a pergunta formulada pelo sociólogo Charles Henrique Voos, companheiro do bolg Chuva Ácida, o prefeito disse: “Forças do atraso, cerca de cinco pessoas, resolveram parar a cidade.” Insiste em responsabilizar pela não votação da LOT as mesmas cinco pessoas que já citou nominalmente na TV da Cidade, seria prudente que lembrasse o Sr. Prefeito o oficio do seu gabinete em que admite que seu Governo errou na condução do assunto,visto que ao ser acossado pelo Ministério Público, a Prefeitura concordou com todas as recomendações feitas pela 13a. Promotoria de Justiça.





Para facilitar a compreensão do leitor menos atento a estes temas reproduzimos o texto que como DIREITO de RESPOSTA deverá ser lido no mesmo programa em que o prefeito fez as inoportunas e improcedentes afirmações na TV da Cidade.


DIREITO DE RESPOSTA:Por acordo formulado nos autos do Processo 0803086-66.2012.8.24.0038, o Programa Condomínio e Casa, albergando o direito constitucional de resposta proporcional ao agravo invocado pelo Sr. Gustavo Pereira da Silva, Presidente da Associação de Moradores Viva o Bairro Santo Antônio, apresenta o contra-ponto das declarações prestadas pelo Sr. Carlito Merss, coadjuvadas pelo Sr. Jorge Laureno, em programa exibido no dia 14.03.2012. Inicialmente, o agravado salienta que as declarações do Sr. Carlito Merss desinformaram a população acerca dos fatos que gravitaram no embate travado na Lei de Ordenamento Territorial-PLC 69-2011, cuja votação foi suspensa pela Câmara de Vereadores em 31.01.2012.


PONTO PRIMEIRO. O Sr Carlito Merss afirmou no dia 14.03.2012 neste Programa que não se tratava de um movimento iniciado nos bairros, inexistindo a participação das associações de moradores, mas realizado por uma minoria. 


RESPOSTA: É improcedente a afirmação,pois o movimento popular foi protagonizado por mais de uma dezena de entidades, sendo que 07 (sete) entidades, entre associações de moradores e uma ONG, tomaram à frente deste processo, a saber: Associação de Moradores da Estrada da Ilha, representado pelo Sr. Ivandir Hardt;Associação de Moradores da Estrada do Oeste, representado pelo Sr. Luis Américo; Associação de Moradores e Amigos do Bairro América, representada pelo Sr. Lauri do Nascimento; Associação de Moradores do Bairro Saguaçu, representado pelo Sr. Arno Kumlehn; Associação Viva o Bairro Santo Antônio, representado pelo agravado, Sr. Gustavo Pereira da Silva; Associação de Moradores do São Marcos, representado pelo Sr. Jean; Sindicato Rural de Joinville, representado pelo Sr. Jordi Castan. 


PONTO DOIS: A ação judicial promovida está causando o atraso na Cidade porque se trata de uma questiúncula, um detalhe pequeno, sem importância. 


RESPOSTA: É improcedente a afirmação porque atender a legislação não é algo desimportante. Além disso,existem duas ações judiciais em tramitação na Justiça sobre o assunto, a ação popular 038.12.003806-1 e uma ação civil pública 038.12.004246-8,patrocinada pelas entidades suso referidas. Convém ressaltar que a decisão judicial proferida pela Justiça não inibiu o Poder Legislativo de votar o PLC 69-2011, tão somente invalidou os Decretos de nomeação dos 140 Conselheiros do Conselho da Cidade, números 18008 e 18007, de 12.07.2011. A decisão também anulou as reuniões do Conselho Consultivo e Deliberativo do Conselho da Cidade entre os meses de Agosto e Setembro de 2011, de números, 23, 24, 25 e 26. O projeto PLC 69-2011 não foi votado por decisão do Poder Legislativo, visto que, por cautela, a Procuradoria da Câmara de Vereadores recomendou aguardar os desdobramentos.Em suma, foram detectadas inconformidades no Conselho da Cidade, ocorrendo invalidação parcial dos trabalhos realizados pelo órgão colegiado.





PONTO TRÊS: Que os autores populares possuem interesses em atrasar e deixar a Cidade como está.


RESPOSTA: É improcedente a afirmação. Aliás, competia ao Sr.Prefeito esclarecer a natureza destes alegados interesses, tornando a afirmativa sem qualquer fundamento.


PONTO QUATRO: O Procurador Geral está sendo processado em conjunto com todos os 140 Conselheiros do Conselho da Cidade. 


RESPOSTA: É improcedente a afirmação. O Procurador Geral do Município não é réu em nenhum dos dois processos citados e também não está sendo investigado em procedimento no Ministério Público. E, dentre os 140 Conselheiros, apenas 14 Conselheiros integrantes do Conselho Consultivo Deliberativo é que são réus na ação popular, por exigência do art. 3º e art. 6º.da Lei 4717-65. 


PONTO CINCO: O que está lá é o atraso, pela demora de mais de 02(dois) meses em votar a lei. 


RESPOSTA: É improcedente a afirmação, pois nenhum dos autores populares e dirigentes desejam o atraso ou prejudicar o desenvolvimento da Cidade. O crescimento de Joinville deve ser sustentável, legal e democrático- estas são as premissas deste movimento popular. Por fim, esclareça-se que o Sr. Carlito Merss, conforme o teor do Ofício de número 1209/12-GP e o Ofício 654-2012 do IPPUJ ora enviados à Promotoria de Justiça, foi instado a revogar os Decretos 18008 e 18007, de 12.07.2012 através do Decreto 18.995, de 03.05.2012 e proporcionar a completa reformulação do Conselho da Cidade, em atendimento à todas as recomendações expedidas pelo órgão do Ministério Público  de Joinville, cujo teor destes documentos serão lidos conforme segue...


A única justificativa que pode levar a compreender tão estranho e improcedente comportamento do prefeito, só poderia ser o nervosismo próprio da campanha eleitoral, acrescido do baixo desempenho da sua candidatura que em todas as pesquisas o coloca em quarto lugar e por tanto fora do segundo turno. Mesmo que seja  compreensível  este tipo de comportamento é inadmissível para quem exerce um cargo público da  importância do que ele exerce e que ainda pretende se postular a um novo mandato.


quinta-feira, 7 de junho de 2012

A xenofobia é coisa feia, Carlito


POR JORDI CASTAN

O prefeito Carlito anda nervoso, irritadiço e parece ter perdido a tolerância que fez dele um político respeitado e elogiado pela capacidade de diálogo. Em recente programa de televisão, ele se posicionou sobre a ação popular que, graças a uma liminar, impediu a votação da LOT - Lei de Ordenamento Territorial. Uma medida que levou o município a corrigir os erros cometidos no processo de discussão e elaboração do documento, inclusive obrigando a rever a composição do Conselho da Cidade e convocar audiências publicas para garantir a gestão democrática da cidade.

Por causa da ação popular, da qual sou subscritor, durante um programa de televisão o prefeito me qualificou (ou será que o objetivo era desqualificar?) de maneira pouco republicana. Afirmou textualmente: “nem brasileiro é”. A afirmação revela outro componente mais complexo: parece que nem todos os joinvilenses têm o direito a defender a sua cidade. Que uns são mais joinvilenses que outros. Ou, ainda, que há um direito negado a quem veio de fora e aprendeu a amar, acreditar e promover o melhor para esta cidade.

Se o raciocínio do prefeito tiver outros seguidores na sua administração é um caminho perigoso. Aliás, em termos práticos, ao dizer que “nem brasileiro é...” o prefeito cometeu uma incorreção. Será preciso lembrá-lo que para ocupar cargo público é imperativo ser cidadão brasileiro. O prefeito, sabedor da minha condição de ex-secretário municipal e ex-presidente da Conurb, deveria concluir que sou sim cidadão brasileiro de pleno direito.

E há algo a dizer sobre o programa, que é patrocinado e dirigido pelo SECOVI (o  Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis e dos Condominios Residenciais e Comerciais do Norte do Estado de Santa Catarina - SECOVI Norte), que representa os interesses do setor imobiliário e é apresentado pelo seu presidente, Jorge Laureano (ver vídeo anexo). O prefeito Carlito Merss se sentia evidentemente à vontade, num ambiente que lhe era cômodo, em que não esperava nenhuma questão incomoda. Poderia ser dito que estava entre amigos.






O prefeito fez questão de citar nominalmente e tecer comentários – na maioria menos elogiosos – sobre cada um dos autores da ação popular. A prova que o prefeito vinha preparado para ser questionado sobre o tema é que tirou do bolso da camisa uma “cola” com os nomes de cada um dos autores. Parece que Carlito Merss, além de nervoso e irritadiço, também anda esquecidiço. Anda tão esquecidiço que até esqueceu que, em passado não tão recente, já me pediu voto, tanto para ele próprio como para os outros candidatos do seu partido. Mas como poderia votar se não fosse brasileiro naturalizado?

Por que o prefeito se arvora num direito que não lhe pertence? O direito de decidir quem são os joinvilenses, os que podem ou não amar esta terra. Quem tem o direito de gostar e defender a cidade em que vivemos, trabalhamos e construímos o futuro nosso e dos nossos filhos. Discriminar uns em beneficio de outros é um erro grave. Pode, inclusive, ser considerado delito. A discriminação por origem, nacionalidade ou raça é um delito mais próprio das organizações de extrema direita. Não posso imaginar uma pessoa que, durante toda a vida, tem se apresentado como democrata e defensor do modelo republicano, ser tão leviana ao ponto de ter atitudes xenófobas.

É evidente que a situação deixou o prefeito Carlito desconfortável. Porque uma vez mais foi mal assessorado e entrou numa canoa furada. E agora precisa agora correr atrás do prejuízo para atender as recomendações do Ministério Público. Mas daí à xenofobia é um grande passo.