segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

"Não são daqui": o provincianismo em Joinville


POR JORDI CASTAN

É uma característica típica das pequenas vilas do interior desenvolver animosidade e preconceito contra todos aqueles que vieram de fora ou não nasceram aqui. Em Joinville, como toda boa cidade de interior que se preze, vez por outra arrefecem este tipo de sentimentos.

O “ele/ela não é daqui” é uma forma de segregar e de identificar estigmatizando. Há nesta crítica a todo aquele que não é local,um sentimento de medo, de aversão, mas principalmente de insegurança. É esta insegurança a que cria desconforto nos nativos. Estranhos representam perigo. Porque dos nativos, sejam eles amigos ou inimigos, sabemos o que esperar e por tanto como reagir.

Não sabemos como lidar com o que nos é estranho. É impossível prever como agirão frente às nossas ações e isso os faz imprevisíveis. É esta imprevisibilidade a que cria desconforto, insegurança e preocupação. Nada molesta tanto para um local que aquilo que lhe é estranho, diferente.

O não saber faz que os locais se sintam ignorantes. Ignorantes por não saberem como reagir aos perigos que os estrangeiros representam, sem saber optam sempre por pressupor o pior. E o pior é sempre perigoso, uma ameaça. Assim, no primeiro momento sentem-se ignorantes e esta ignorância se transforma em impotência, por não saber como lidar com eles.

Ignorância e impotência são condições humilhantes, incômodas, impróprias de alguém que nasceu aqui. Ao deixar os locais sem saber como agir, os estranhos se convertem num elemento perturbador da sociedade. Bárbaros que trazem outros hábitos, costumes, outras formas de se alimentar, de se vestir ou de se expressar. Ante a impossibilidade de fazê-los desaparecer, é preciso minimizar sua presença. E, se possível, neutralizar a influência dos estranhos para recuperar a tranquilidade tão prezada pelos locais.

Por isso é tão forte o desejo de que essa gente estranha seja isolada, excluída, barrada, impedida de ameaçar a forma de vida e os valores locais. Nada é tão precioso nas pequenas vilas do interior como a segurança que proporciona o saber. Saber quem, saber quando, saber aonde, saber com quem. Saber como cada um reagirá ou responderá a cada uma das nossas ações e comentários. É o desconhecido o que assusta. É o que não sabemos que nos amedronta. O que ignoramos é o que mais tememos.

Tem gente forasteira que ousa criticar a nossa vila. Pior ainda tem a ousadia de questionar o nosso prefeito, um homem tão bom e tão trabalhador, que acorda cedo e vai à missa todos os domingos. Gente assim não pode ser daqui. Não nasceu aqui. Se tivesse nascido aqui saberia que há sobrenomes que não se questionam. Que esta vila é o que é porque os fundadores assim a fizeram, com o seu esforço e o seu trabalho. Que esta é a nossa idiossincrasia. Que aqui somos de baixar a cabeça e trabalhar. Que ordem do patrão não se questiona, só se obedece. Que quem pergunta muito não é bem visto. Como pode ser que as pessoas não entendam?

É compreensível ver o aumento de comentários xenófobos nas redes sociais. Frases do tipo: “Se não gosta daqui por que veio?”. “Não critique, se não gosta, vá embora”. “Se a sua cidade era tão boa, por que não ficou lá?”. Compreensível não quer dizer, de modo algum, que seja tolerável. É preocupante que convivamos com este tipo de atitudes que lembram outras épocas, aquelas em que se dizia abertamente: “ame-o ou deixe-o”.


15 comentários:

  1. KKK... Todo esse "rodeio" de provincianismo e preconceito pra... atacar o prefeito? A maioria do povo de Joinville não é nativa daqui! Então,... esse papo não cola! Se tá ruim pra muitos, imaginem para os escritores do C.A.! Tá difícil arrumar tanta "historinha"! Mas ao menos é engraçado!... KKK

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    1. Atacar o prefeito? Você é doente!

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    2. Desculpe, confundi doença com falta de capacidade de compreender um texto simples

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  2. Infelizmente este comportamento é típico de muitas cabeças em qualquer lugar do mundo. Predominante, precisa ser questionado permanentemente.

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  3. "Tem gente forasteira que ousa criticar a nossa vila. Pior ainda tem a ousadia de questionar o nosso prefeito, um homem tão bom e tão trabalhador, que acorda cedo e vai à missa todos os domingos. "

    É verdade! Na minha falta de capacidade em compreender um texto, cheguei a ver cinismo nesse trecho! Vê se pode!

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    1. Viu? Sabia que voçê teria dificuldade em diferenciar sarcasmo de cinismo.
      Uma ajudinha.

      http://comentariosdejoinville.blogspot.com.br/2012/04/incrementando-o-vocabulario.html

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    2. Cinismo usado como derivação de sentido!... se preferir, entenda como sarcasmo ou ironia!...

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    3. Viu? Você insiste em misturar tudo, como se fosse a mesma coisa. Os leitores do Chuva Ácida sabem diferenciar um do outro. Tem certeza que não caiu aqui por engano?

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  4. Pois é .....
    Uma certa vez, durante um debate familiar, minha sogrinha querida bradou, referindo-se à filha (minha consorte): "- acontece que ela é minha filha."
    Quando eu tive a oportunidade, rara, de responder: "- por falta de opção, ué ! .... mas optou por viver comigo."
    uhauhuauhauhua
    A vida é assim
    Tem amores que são vinculos natos ... e sem opção de escolha;
    Tem amores que são conquistados

    filho natural é o amor nato;
    filho adotado é o amor escolhido e conquistado

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  5. Aqui há mais de 30 anos, mesmo criticando algumas coisas, adotamos a cidade e concordo com o " filho adotado é amor escolhido". Acho que existem muitas formas de se fazer críticas e sugestões e algumas são desnecessárias. Provincianismo existe em todo lugar em maior ou menor grau.

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  6. sou filho da terra !!! e critico um monte !!!
    tá uma M... , atrasada !! e sim o alcaide tem parcela de culpa !!

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  7. Parabéns! Tem mais é que expor a ferida. Tem mais é que falar mesmo desse pensamento atrasado e limitado. Um pensamento que faz a gigante cidade ter uma cabeça de ervilha. Precisamos que o crescimento populacional seja acompanhado de um pensamento cosmopolita, multicultural, vanguardista que torne a cidade um referencial. Continua escrevendo aí, temos que falar disso mesmo.

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  8. Essa tropa de Udolite ta começando a aparecer com o exército kamikaze do prefeito anterior. Aparecem em qualquer lugar, atirando pra todo lado de onde surja alguma crítica ao senhor da casa grande.

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  9. Há uns 30 anos atrás, em semana acadêmica de administração dá FURJ, palestrante perguntou a plateia com uns 300 acadêmicos:

    Quem nasceu em Joinville?

    Menos de 20 pessoas ergueram as mãos.
    Fui um dos que não ergueram

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  10. Provncianismo como em Curitiba, São Paulo contra nordestinos, Rio contra caboclos, etc etc ...

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