quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Turbante, marchinha de Carnaval e o que nós, pessoas brancas, (não) temos com isso



POR CECILIA SANTOS
Se eu tivesse que explicar a alguém não familiarizado com o jargão das redes sociais o que significa a expressão “mimimi”, eu definiria como “termo usado para expressar falta de empatia”.

Há uns dias as redes sociais debateram acaloradamente se algumas marchinhas de Carnaval são racistas, e por isso devem ser evitadas, ou não. Por exemplo:
“O seu cabelo não nega, mulata, porque és mulata na cor,
Mas como a cor não pega, mulata, mulata, eu quero o seu amor”
Nós, pessoas brancas, não vemos racismo porque não passamos por algo semelhante. Ninguém vai cantar em uma canção que pode nos amar, “apesar” de sermos brancos.

Então, apesar de algumas pessoas não verem a ofensividade (óbvia) da marchinha, não vale usar o argumento de que todo mundo cantou assim a vida inteira. A sociedade deixou de fazer um monte de coisas que hoje são claramente horríveis. Além disso, existem milhares de marchinhas, sem contar as que aparecem todo ano. Ninguém vai morrer se justamente a racista não tocar neste Carnaval, certo?

Uns dias depois, viralizou o post de uma garota branca que foi supostamente repreendida por uma mulher negra por estar usando um turbante. A garota tirou o turbante para mostrar que estava careca por conta da quimioterapia para tratar um câncer. E terminou o post com um “vai ter branca usando turbante”.

Parte da militância negra manifestou-se contra o uso do turbante como apropriação cultural e houve intensas reações contrárias. Mas é bem sintomático que isso mobilize mais as pessoas do que as denúncias de assassinatos de crianças e jovens negros nas periferias e comunidades pela PM.

Eu também não entendo muito bem a questão da apropriação cultural. Acontece que eu não tenho mesmo como entender, porque não é um símbolo da cultura dominante a que eu pertenço, essa que ao longo da história tem feito de tudo para reprimir e invisibilizar outras culturas e crenças.

Se as pessoas negras alegam que o turbante é um símbolo de resistência e/ou religião, quem sou eu para dar palpite? Até porque essa conversa não é sobre mim e meus adereços de cabeça, é sobre todo um grupo de pessoas que inclusive são frequentemente hostilizadas por usar esses mesmos símbolos.

Nós, pessoas brancas, temos sempre uma resistência muito grande a reconhecer nossos privilégios e nossas atitudes de discriminação. A discussão sobre racismo nos coloca quase sempre em posição defensiva ou de ataque, mas raramente de reconhecimento. Um exemplo: somente depois de 30 anos de formada eu me dei conta de que não havia uma única pessoa negra na minha turma de faculdade. Apontei isso no Facebook e fui criticada por duas ex-colegas, que diziam que tinham se esforçado muito para cursar uma faculdade particular. Tenho certeza de que sim. O que elas não percebem é que muitas pessoas negras se esforçaram tanto ou até mais do que elas e não conseguiram chegar lá, por mil motivos sobre os quais deveríamos refletir a fim de combater esse verdadeiro apartheid social que vivemos.

Quando ouço alguém dizer que o racismo não existe e que nós somos todos humanos, penso em fazer as seguintes perguntas:

(No caso de uma mulher) Ao visitar um edifício de classe média-alta, alguém já te perguntou se você tem dia livre para faxina?*

(No caso de um homem) Você costuma ser abordado pela polícia na rua ou seguido por funcionários em estabelecimentos comerciais?

Nós, pessoas brancas, realmente não entendemos o racismo porque não passamos cotidianamente por essas situações. Mas deveríamos ouvir o incômodo dos outros, ter empatia e respeitar. E abolir essa expressão horrorosa, “mimimi”.

(*O exemplo acima é real e aconteceu algumas vezes com uma das minhas vizinhas, de 1 das 3 únicas famílias negras no meu condomínio de classe média-alta com 92 apartamentos).

27 comentários:

  1. Ora, você não precisa entender o significado. Como uma esquerdista mimizenta que é, basta seguir a tropa politicamente correta e "ser uma pessoa do bem".

    Essa bobajada toda passa distante das pessoas com algo a fazer...

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    1. Ah, sim, eu imagino que os machóides brancos de classe média têm muito o que fazer a fim de manter o establishment do século XIX. E todo aquele ódio e intolerância não vão se espalhar sozinhos pelas redes sociais, não é mesmo?

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    2. Você faz parte dos 0,0001% da população mundial que enxerga preconceito em tudo. Não passarão! A humanidade continuará a seguir o seu caminho sem que preconceituosos às avessas tentam se precipitar.

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    3. A caravana passa e os cães ladram.

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    4. A partir dessa mimizeira toda sugeri algo que fosse equivalente à sua capacidade intelectual.

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    5. E quem é você pra falar da minha capacidade intelectual? Um grosseirão que vive escondido atrás do anonimato?

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  2. Racismo é crime e pronto. Apropriação cultural já é forçar em muito a barra.
    Agora pergunto quando um esquerdista babaca vem aqui fazer piadinhas dos alemães, não é nada?

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    1. Ich habe die Nase voll. Baron Von Ehcsztein

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  3. O carnaval não foi inventado pelos negros. se eles entram na fuzarca é apropriação cultural? brasileiro pode comer pizza? brasileiro não pode jogar futebol, é apropriação cultural também. Negros não podem fazer teatro, os gregos vão se sentir ofendidos. vc gosta de feijoada, Cecília? alemão pode fazer cerveja ou isso vai deixar o egípcio irritado?
    Como é que eu falo vão carpir um lote em tupi-guarani?

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    1. Não fala. É isso o que eu digo no texto. Branco fala demais, toda vez que a gente aponta racismo.

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    2. mas o racismo no caso do turbante foi da negra contra a branca, meu deus.
      e presta atenção na letra da marchinha: "...a cor NÃO PEGA, mulata...", não pega quer dizer não importa, cecília, cor de pele não define absolutamente nada. E veja bem, eu não estou dizendo que não existem pessoas racistas, mas acho que classificar as pessoas por cor de pele, e basear o comportamento e os costumes das pessoas por esta classificação é uma atitude racista. O brasileiro se apropriou culturalmente de um esporte inglês, elitista e praticado por brancos e melhorou ele. e o engraçado é que o branco inglês elitista não reclamou nem um pouco disso.
      Branco fala demais, percebi isso pelo teu texto.
      Cês tão precisando ler Oswald de Andrade...

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    3. Deixa eu tentar explicar didaticamente por meio da análise sintática. "mas como (= já que) a cor não pega, mulata, eu quero o seu amor". Temos aí uma oração subordinada adverbial consecutiva. Invertendo a oração, a gente tem: "eu quero o seu amor, já que a cor não pega" (seja no sentido de não ser contagiosa ou não importar). Ora, se não importa, pra que que essa construção está ali? Faria sentido alguém cantar: "quero o seu amor, já que ser branca não pega"?

      "classificar as pessoas por cor de pele, e basear o comportamento e os costumes das pessoas por esta classificação é uma atitude racista" => é exatamente isso que a letra da marchinha faz.

      Que insistência em desconstruir a queixa da militância negra, né? Te faz sentir melhor, saber que você pode decidir por ela o que é racista ou não?

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    4. Ah, e pelo amor da deusa, não existe racismo de negro contra branco.

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    5. Rs, vc inverteu oração, deu nome prá coitada e tudo continua a mesma bobagem.
      eu não estou decidindo nada por ninguém, só acho q esta é uma batalha meio que perdida. os autores já estão mortos e acho difícil controlar o q as pessoas vão cantar no carnaval (e já imagino que vai ter gente cantando essa bosta só de pirraça, ninguém lembrava mais dessa merda. odeio carnaval).
      E ficamos aqui nós dois, vc, uma branca (vc não imagina como me sinto mal classificando alguém pela cor da pele), dizendo q eu, pardo (neto de negro com portuguesa, filho de branco com mestiça (credo...)) sou racista pq acho ridículo negro se incomodando com marchinha de carnaval...
      "Quem te inventou, meu pancadão
      Teve uma consagração
      A lua te invejando faz careta
      Porque, mulata, tu não és deste planeta!"
      Peraí, essa estrofe objetifica a negra!!!!!!

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  4. Estou bem longe de ser especialista no tema, mas tem umas coisas que são bizarras tipo eu aceito a sua comida, mas não aceito conviver contigo.

    Sobre isso tem um vídeo muito bom no youtube:

    https://www.youtube.com/watch?v=DCTEsPlfbww

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  5. MI MI MI MI MI MI... Eita... Vai pra um bingão, vai procurar o que fazer....

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    1. ahahahaha... bingão? Ah, sim, nada mais produtivo do que um bingão.

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  6. Considero que a apropriação cultural é um radicalismo. A cultura não pode ser imposta a ninguém, ela deve ser natural, e nem negada a quem queira participar dela. Radicais devem ser combatidos e não exaltados. Vemos cada vez mais a guerra de progressistas de esquerda contra conservadores de direita, ser mais agravada pois os lados estão mais preocupados em combater o lado inimigo do que educar os seus semelhantes.

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  7. E nos comentários, os anônimos negacionistas em polvorosa comprovando cada um dos pontos da autora do texto.

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  8. Apropriação cultural é algo natural e neutro, se torna danoso quando cria esteriótipos rasos que fomentam discriminação ou fantasia, a forma como hippies e homens da caverna são representados em Hollywood são exemplos claros, uns como rebeldes mimados outros como seres de baixos intelecto(quando tudo indica que eles eram mais inteligentes que nós).

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  9. Classe média-alta pelo padrão Lula. Ninguém classe média alta vive em condomínio com 92 apartamentos...

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    1. Querido, não é uma valoração subjetiva. Pra mim tanto faz. O que eu quis mostrar é que existe uma razão para os espaços privilegiados e de poder serem ocupados majoritariamente por pessoas brancas. E enquanto a gente não encarar isso, vamos continuar sendo um país de terceiro mundo. Tá bom pra você?

      Mas pra você não passar vergonha na internet, procura no Google o novo CCEB revisado em 2015 (Novo Critério Brasil).

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    2. Amanhã mesmo vou me mudar pra favela,, fiquei constrangido por ter trabalhando e ganhado dinheiro com meu esforço. Nossa que tristeza.... Estou tão deprimido..... hahahahahahahaha

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  10. Cecília, parabéns pelo artigo. Entendi que a proposta é provocar o debate e com isso ir concientizando as pessoas. Isso está visivelmente ocorrendo.

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    1. Obrigada, Rogério. Realmente as vozes que foram silenciadas por séculos não aceitam mais ser caladas, e isso provoca a ira de quem sempre mandou.

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  11. Porque ninguém analisa o verso que diz "/A lua te invejando fez careta/", a lua que é branca INVEJANDO a mulata!. Mas não, só criticam a parte que lhes convém.

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    1. Olha só, acho que não é assim tão difícil juntar lé com cré e ver que esse verso não é racista (exceto que as pessoas negras não concordam com a palavra mulata).

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