POR FABIANA A. VIEIRA
Depois daquela cena toda que vi
na noite de terça-feira no plenário da Câmara dos Deputados, tive uma
certeza. O povo gosta mesmo é do espetáculo.
Sim, por mais que todas
essas manifestações tragam um quê de indignação, fica claro que o povo
estava só esperando uma amostra da competência dos nossos
representantes. E eles responderam bravamente.
Mas a verdade é que
essa pauta não será a salvação para o fim da corrupção. Aliás, o
arquivamento da PEC 37 não vai fazer nem cócegas nesse assunto.
A
sensação é que foi uma vitória acachapante contra a corrupção, mas a
realidade é que tudo ficou como já estava. Ou seja, o poder de
investigação criminal não é exclusivo da Polícia Federal, nem do
Ministério Público. Aliás, o Ministério Público nunca teve essa
prerrogativa. Para ter essa legitimidade terão que regulamentar isso
ainda, através de um projeto de Lei Complementar (parece que já está
tramitando no Congresso).
O Congresso, que de bobo não tem nada,
precisava dar uma demonstração de que entendeu o recado das ruas e pegou
uma das principais reivindicações para mostrar que está alinhado com o
povo. E por que escolheram bem a PEC 37? Porque a PEC 37 poderia ser
arquivada sem danos para ninguém.
Não mudou absolutamente nada, nem
mudaria se fosse aprovada, pois certamente o MP não deixaria de
investigar, como hoje já faz sem nenhuma determinação constituinte para
isso. A Constituição assegura ao MP a possibilidade e o dever de
acompanhar a investigação da polícia. Na prática as coisas são assim: a
polícia investiga. o MP acusa, o advogado defende e o juíz ou juri
julga.
Eu fico me perguntando porque o povo abraçou com tanta força
essa causa. Na verdade tudo não passava de uma disputa entre delegados
da Polícia Federal e promotores do Ministério Público. Daí veio um lobby
gigantesco intitulado PEC da Impunidade. Aliás, quem foi o marketeiro
gênio que pensou nisso? E mais ainda, quanto será que custou essa
campanha da PEC da Impunidade? Camisetas, panfletos, parafernalhas. Quem
pagou? Quem poderia investigar isso?
Mais do mesmo, fico com a
sensação de que o povo finge que exerceu sua cidadania, o Congresso
finge que trabalhou alinhado com a opinião pública, a imprensa finge que
fez seu papel esclarecedor e o gigante finge que acordou!