terça-feira, 22 de outubro de 2013

Acorrentar-se é a solução?

POR JORDI CASTAN

Só uma situação de desespero levou a Sra. Rozevelde da Silva de 55 anos a tomar a medida extrema de acorrentar-se na grade do Hospital Municipal São José primeiro e na própria prefeitura depois. A sua situação não é um caso isolado, o numero de consultas, atendimentos e cirurgias represadas é tão vergonhoso que até o TCE (Tribunal de Contas do Estado) apontou um cenário de descontrole na gestão do hospital. Detalhava o desrespeito à fila dos pacientes que aguardam por cirurgias, a falta de controle da jornada de trabalho de médicos e até casos de profissionais que ganhavam mais de R$ 30 mil, valor maior do que o salário do prefeito Udo Döhler, cerca de R$ 23,5 mil na época da auditoria – o que é proibido pela Constituição Federal.

Chega um ponto em que o cidadão não aguenta mais o discurso fácil do político e parte para buscar soluções radicais. Há neste caso uma oportunidade de mudar, de verdade,  o momento de fazer deste um ponto de inflexão no tema da crise da saúde em Joinville.

O Prefeito Udo Dohler, reafirmou que o problema da saúde não é um problema de recursos é um problema de gestão. Joinville gasta hoje o dobro do que precisaria na saúde apesar de uma parcela significativa da população estar coberta por planos de saúde complementar o que deveria ser uma ajuda adicional para resolver o problema. Se o problema for a gestão e na sua campanha se destacou até a saciedade a sua imagem de gestor e o seu conhecimento dos problemas da saúde pela experiência acumulada a frente do Hospital Dona Helena, a solução já deveria estar sendo percebida pela população. O prefeito já assumiu faz quase um ano e o tema da saúde já era do seu conhecimento. Por si fosse pouco, a saúde foi elencada como a sua prioridade. É bom lembrar que o prefeito Carlito Merss, também elegeu a saúde uma das sua prioridades, do mesmo modo que outros prefeitos antes que ele o fizeram. A priorização da saúde não parece ter servido para resolver o problema. Serão precisas ações mais firmes e concretas que mais discursos, mais compressas de água fria e palavras vazias.

Para entender um pouco mais sobre o caso é bom lembrar que depois de esperar por mais de dois anos por uma cirurgia de quadril, a diarista se acorrentou na grade do Hospital São José, por duas vezes, foi analisada por uma junta medica que diagnosticou que o seu caso não era nem de urgência, nem de emergência e que a sua cirurgia seria eletiva. Ela recebeu uma receita com um remédio contra a dor e enviada para casa.

Sem solução e de acordo com o que já havia anunciado, o seu próximo passo foi se acorrentar na grade da Prefeitura Municipal, la foi vista pelo Prefeito Udo Dohler que convocou uma comissão de alto nível, envolvendo o Secretario de Saúde, o Diretor do Hospital São José, a Procuradoria do Município e a Diretora Executiva da Secretaria da Saúde e depois de analisar o caso, decidiu que poderia ser marcada a cirurgia para a colocação da prótese na cadeira. Foram precisos três dias para que a maquina pública se mexesse, foi preciso que a imprensa divulgasse o caso para que a cirurgia fosse marcada, foi necessário que a Sra. Rozevelde tomasse uma atitude extrema para que a cirurgia fosse marcada e o parecer tomado o dia anterior, alegando que a sua cirurgia não era emergencial e poderia esperar fosse mudado.

O poder público trata mal ao contribuinte, ignora a dor e despreza o sofrimento do andar de baixo. O caso da Sra. Rozevelde é uma prova que a sociedade precisa se mobilizar para defender seus direitos. Ela é um exemplo de coragem e uma prova que quem luta pelos seus direitos consegue seus objetivos.

O risco esta a partir de este episodio que o que foi um fato isolado fruto do desespero, possa passar a se converter numa rotina e que a cada semana novas Rozeveldes se acorrentem as grades dos edifícios públicos e convoquem a imprensa para divulgar as suas tragédias pessoais.

Será cada vez mais difícil para o poder público continuar empurrando com a barriga soluções que a sociedade esta esperando já faz anos, a paciência esgotou e discursos e justificativas não são mais suficientes. A hora de agir e de fazê-lo com presteza já passou. Neste caso a prefeitura agiu finalmente, depois que o episodio já tinha adquirido proporções maiores que as necessárias. Já no primeiro dia a resposta deveria ter sido mais concreta.

Sobre este episodio e revoltado com como foi tratado pelo poder público, encaminhei ao jornal A Noticia uma carta, no tom irônico que entendo que merecia a forma incompetente com o tema foi tratado pela prefeitura.

O texto é esse:

Correntes

Demorou, mas o problema da saúde em Joinville está em vias de solução. A Secretaria de Saúde está abrindo licitação em caráter emergencial de correntes e cadeados para que os pacientes com casos mais graves possam se acorrentar às grades dos edifícios públicos e com isso receber a atenção da imprensa. Assim, a possibilidade de serem atendidos de forma prioritária passa a ser uma realidade.

O Protocolo de Manchester ganha em Joinville, graças à criatividade sambaquiana, um novo componente: a corrente. Assim, as pulseiras coloridas que parecem alegres adereços de festa ou de balada ganham uma versão mais metaleira e pesada, a corrente de aço dos desesperados, que, cansados do discurso enfadonho, optam por medidas mais radicais.

Jordi Castan,

E a carta publicada mereceu esta resposta da Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Joinville, curioso porem que carta de teor semelhante, assinada pelo Sr. Jorge D. Hexsel não mereceu nenhuma resposta da mesma assessoria.

A Prefeitura de Joinville, por meio da Secretaria de Comunicação, lamenta o teor e a publicação do texto escrito por Jordi Castan na seção de cartas de “A Notícia”, na edição de 18/10. O conteúdo em nada contribuiu para a solução dos graves problemas que a cidade enfrenta na área da saúde. Ao utilizar o deboche, a falsa informação e insinuações, o articulista, por meio do jornal, promove tom pejorativo e sem seriedade para tratar do sofrimento do cidadão.
Além disso, fantasiar sobre o Protocolo de Manchester, modelo consagrado de padronização de atendimento, vai na contramão do que o próprio jornal, na mesma edição, apresenta para a sociedade de Joinville em um debate construtivo e de altíssimo nível. A atual administração entende que o debate sério, sem cores partidárias e sem rancores do passado, é fundamental para a construção de uma sociedade melhor. É a Joinville que queremos.


Fora a inusual agressividade da resposta da Secretaria, o texto surtiria mais efeito se tivessem dedicado o espaço a informar e esclarecer em lugar de agredir. Mas optou por seguir a hierarquia do Desacordo de Graham e dirigir seu esforço “Ad Hominem” passo prévio ao próprio xingamento. Desconsiderando os estágios prévios, que seriam o de refutar o argumento central, ou refutar pura e simplesmente a carta, ou contra-argumentar, ou usar da contradição e ainda responder ao tom. Faltou equilíbrio e sobrou bílis. Deve ser o nervosismo lógico de quem vê que transcorridos 10 meses de governo a maquina continua emperrada e o relógio continua seu tic –tac imperturbável. 

18 comentários:

  1. Eu já não me sinto sócio desta sociedade. É triste constatar isso, mas é verdade.

    NelsonJoi@bol.com.br

    ResponderExcluir
  2. Mais uma vez fica provado que ironia e sarcasmo são elementos retóricos que devem ser usados com muito cuidado no reino dos sambaquis.
    O próprio autor do artigo, tempos atrás, já publicou um texto onde define e explica o conceito de ambos.
    No caso da diarista acorrentada, o texto irônico serviu não só de apoio à vítima, como também de belo "tapa de luva" no poder público joinvilense.
    Como sempre, mal entendido.
    Parabéns Jordi. Pelos dois artigos.

    ResponderExcluir
  3. Aqui no Brasil a arrecadação não é suficiente.
    Faça as compras do mês e veja no final do cupom que 33% do valor pago é imposto. Abastecer o carro e veja que 51% é imposto.
    Vc se ferra o mês inteiro e no final vai ver que tiram uma boa parte do seu pagamento para o maldito imposto de renda.
    E se não tiver condições de pagar um plano de saúde particular, apodrece nas filas desses hospitais que são uma vergonha.
    Vereador ou deputado não vai parar em hospital publico. Deveriam ser obrigados a utilizar, para sentir na pele o que o povo, que eles deveriam representar, tem que enfrentar diariamente. A mesma coisa valer para seus filhos e família, com relação educação ou outros serviços públicos.
    Tenho vergonha de ser Brasileiro.

    ResponderExcluir
  4. O TCE deveria ter verificado os contratos de TI da Saúde e do HMSJ. No HMSJ tem até pessoa física ganhando para manter um software de RH.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não há ilícito nisto se contratado de maneira regular.

      Excluir
  5. É com tristeza que anuncio que deixarei de ler este blog. Nos últimos tempos fui surpreendido com artigos cada vez mais polêmicos.

    Se antes buscava-se comentar de coisas que ocorrem na cidade de Joinville, hoje busca-se atingir diretamente o prefeito. E apartir dos últimos artigos publicados constatei que cada vez mais pessoas como vocês estão "mordidas" por não terem conseguido um cargo publico...

    Para mim, o Chuva Acida morreu. Ass: Tiago.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Opa! Quer dizer que não podemos criticar o prefeito? O Jordi falou alguma mentira? Provavelmente você adorava o Chuva quando ele batia no Carlito né? A propósito o Chuva não morreu, mas a tão falada gestão da cidade é que precisa nascer.

      Excluir
    2. para mim e para muitos a equação deste comentário é esta: Tiago = fake = comissionado desesperado defendendo o seu.

      Excluir
    3. Gostaria de saber como estaria Joinville de hoje se o Udo tivesse recebido a prefeitura nas precáríssimas condicóes em que Tebaldi entregou ao Carlito.
      Udo que tanto pintaram de salvador da mostras claras de que dirigir negócios na iniciativa privada é totalmente diverso de gerir o poder público. Provando a tese de que foi mais uma jogada eleitoreira que Luiz Henrique armou para o facilmente influencíavel eleitor joinvilense.
      - Jones -

      Excluir
  6. Não da pra acreditar que como resposta a Prefeitura de Joinville deu referência aos dados do protocolo de Manchester. Pois foi nesse maldito procotolo que a Sra. Rozevelde foi tratada como sem emergência. Tentam nos passar a idéia de quem usa esse protocolo não está precisando de hospital, inclusive no próprio AN quando tratou disso no Hospital Infantil.
    Pois minha filha foi categorizada com a tal pulseira verde no hospital infantil o que me fez esperar 4 horas para ter um atendimento de 10 minutos onde foi receitado 2 remédios (sendo um antibiótico). Esperei as 4 horas pois minha filha reclamava de dor mas como não tinha febre ficamos lá esperando.
    No jornal, minha filha é tratada como atendimento desnecessário onde eles fazem de tudo para não atender (principalmente demorar, como a Sra. citada no texto).

    Lamentável como a saúde continua uma lástima, o governo estadual não da conta do Hospital Regional e diz vai construir outro na zona sul e o prefeito cancelou o PA do Vila Nova e ta dizendo que o que falta é gestão e não dinheiro (sendo que ele é gestor e até agora NADA, NENHUMA AÇÃO PARA COMBATER CORRUPÇÃO OU AGILIZAR A MAQUINA PÚBLICA)

    É só vergonha atrás de vergonha nessa gestão da saúde em Joinville, e ainda tenho que ler que Udo pode ser o candidato a vice do Colombo, ou seja, Udo parece que está se espelhando no governador, e já começaram as interdições nas escolas municipais e as mesmas respostas para desinterditar (judicialmente ao invés de reformas) CORRAM!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O protocolo é ótimo. O problema é quem aplica o protocolo. A falta completa de infraestrutura para atender a população leva a distorções que não tem nada a ver com o protocolo.

      Excluir
  7. 1. O Chuva Ácida precisa de mais articulistas deste porte.
    2. Se muitos votaram no Udo exatamente porque acreditavam em sua alta capacidade de gestão, estamos desapontados.
    3. Udo esqueceu que a eleição passou, não basta constatar o óbvio. Se o que falta é gestão e por conta dessa qualidade ele foi eleito, mãos à obra.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Talvez agora as pessoas aprendam que não adianta votar em "gestores" mas em projetos políticos comprometidos com a população e não com a classe empresarial. Uma cidade não é uma empresa. Precisa de gestores? Sim. Mas precisa muito mais do que isso.

      Excluir
    2. Desculpa aí anônimo mas se você votou no Udo por conta de sua capacidade de gestão, não deveria estar desapontado visto que a ela é essa mesmo que estamos vendo.

      Excluir
  8. Pode ser que a administração Carlito não foi das melhores, mas quando ele era prefeito eu ia no PAM do Boa Vista marcar consulta com Nefrologista e tinha vaga para o dia seguinte, hoje eu vou la marco e vou para casa e espero ate um mês para ser chamado, remedio então nem se fala depois que o Udolf entrou diminuiu a quantidade de remedio no postinho, minha mãe fez exame essa semana e teve que comprar recipiente para coletar material na farmacia porque não tinha em nenhum posto de saude.

    ResponderExcluir
  9. Parabéns mais uma vez Jordi. Quando li o seu comentário na Noticia, dava gaitadas numa mesa de uma panificadora tomando café. Para encarar esta troupe, só com muita gozação mesmo, por que vergonha na cara perderam há muito.
    Agora, muito além da sua importante constatação e da necessária crítica, o ponto alto de post realmente fica com a resposta da Prefeitura. O governo Udo deveria se lamentar é de não ter feito absolutamente nada em quase um ano de governo, uma vez que mandam na cidade há um século e meio. Utilizar deboche, falsas informações e insinuações é exatamente a prática do poder público municipal e estadual diariamente na nossa cara, quer pelo estado sucateado da saúde e educação, quer pela sem-vergonhice da Lei de Ordenamento Territorial para privilegiar os mesmos de sempre. E a questão do tom "nacionalista" do Protocolo de Manchester então é simplesmente patético, um governo que até agora não teve a coragem de virar a mesa contra um punhado de médicos que mandam na saúde da cidade.
    Que mais gozações, deboches e ironias povoem os espaços de opinião desta cidade, pois no circo estamos vivendo desde janeiro deste ano.

    ResponderExcluir
  10. Teve mais gente acorrentada não teve Jordi? Vi a chamada no Jornal do Almoço mas não consegui assistir

    ResponderExcluir

O comentário não representa a opinião do blog; a responsabilidade é do autor da mensagem