sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O racismo e o machismo inegáveis de cada dia

Pelo visto, pra essa trabalhadora não tem vaga aqui...
POR FELIPE SILVEIRA

Talvez tenham sido poucos textos, mas não dá pra negar que a luta contra o racismo e a denúncia do quanto ele é presente em Joinville é uma das bandeiras do blog. Eu já escrevi alguns textos e sei que outros articulistas também (Clóvis e Baço, pelo menos). Além disso, tivemos um texto de Felipe Cardoso dos Santos, no Brainstorm, que foi pra lá de comentado e acessado. Da mesma forma, o machismo é tema deste blog.

O que mais me chamou a atenção em todas essas discussões e outras facebook afora foi a recusa que muitas pessoas demonstram de reconhecer que o racismo foi e ainda é muito forte nessa região. Mesmo quando ele é evidente nas propagandas da TV, nas abordagens policiais, nas disputas por emprego e, mais recentemente, nas páginas dos jornais.

Circulou, ontem (17 de outubro), um dos casos mais flagrantes desse absurdo. A coluna Livre Mercado, assinada pelo jornalista de economia Claudio Loetz, de A Notícia, traz a seguinte informação:

“Em Joinville, considerando-se todos os tipos e portes de empresas, há vagas em aberto para aproximadamente 7 mil trabalhadores. A estimativa é do vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos em Santa Catarina (ABRH-SC), Pedro Luiz Pereira. O perfil ideal do trabalhador procurado é homem, branco, de 25 a 35 anos…”

Chega a ser chocante ver essa “notícia” estampada no jornal, mesmo para quem sabe que essas são as condições do mundo real (entenda-se: não estou aceitando essa condição, estou dizendo que todos nós sabemos que o mercado de trabalho é racista e machista). É surpreendente porque houve algum tempo (recente, entre os anos 90 e 2000), em que o racismo não era declarado dessa forma nos jornais. Quem representava alguma instituição tinha algum pudor em falar e escrever esse tipo de coisa.

Diante disso, criei algumas expectativas:

1) Em relação ao público, tenho duas. Primeiro tô curioso pra saber quais serão as desculpas que vão arrumar para o racismo e machismo. Ou melhor, para negar que isso é machismo e racismo. A outra é saber como o público consciente vai lidar com isso. É preciso haver muita reclamação, muito debate, e isso é papel de todos nós.

2) Do jornalista Claudio Loetz, que tenho certeza que é um homem justo, e do jornal A Notícia eu espero uma reportagem sobre o machismo e o racismo no mercado e no ambiente de trabalho. Era isso que devia ser feito assim que chegou a informação à mesa. Era um flagrante, uma reportagem pra cá. Essa é a capacidade que o jornalista tem que ter.

3) Do autor ao qual a fala foi atribuída, Pedro Luiz Pereira, eu espero um honesto pedido de desculpas e ações que visem combater o racismo e o machismo dentro da sua organização, dentro do mercado de trabalho e consequentemente na sociedade.

Combater esses e outros preconceitos, assumir a culpa pelos erros históricos, promover ações para repará-los e não admitir que se repitam é um dever de cada um de nós.


P.S.: Vou falar sobre preconceito geracional em outro texto. Quero ler algumas coisas sobre o assunto antes.

32 comentários:

  1. O perfil desejado é este porque a empresa já deve ter muitas mulheres, negros, jovens e idosos trabalhando nela...

    Só se está buscando a diversificação dos trabalhadores...

    Sim, eu fui irônico...

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  2. Pôxa ainda bem uma luz no fim do Tunel...Pensei que ia passa em Branco como informa o Jornal....Af

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    1. Temos que cobrar uma posição do jornal e dessa instituição, Rebeca. Vamos em frente.

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  3. Parabéns Felipe. Texto excelente!

    Quando li fiquei surpreso com tamanha desfaçatez.

    Pensei que sairia uma explicação na coluna de hoje. Mas nada.

    O preconceito estava escancarado e o Jornal, que além do jornalista deve ter um "editor" chefe, deixou passar em "branco" este evidente ato racista/machista.

    É triste constatar que Joinville é excludente em quase todos os aspectos.

    Na politica sabotadora e maquiavelista.

    Na mídia sabotadora e maquiavelista, no planejamento urbano segregador e excludente e assim vai.

    Eu realmente sou contra feriados, sabe, mas não pelo motivo ou homenagem deles, mas porque acho que são inúteis e prejuticam todo o andar da sociedade.

    Mas agora, depois dessa tamanha cara de pau destes racistas, compreendo melhor a grande importância de fixar uma data específica para marcar o início da mudança de comportamento de nossa sociedade.

    Novamente parabéns, mesmo você não precisando, nesta eu estou completamente com você.

    NelsonJoi@bol.com.br



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  4. Racista. Machista. Edaísta. Abestadinho do PT

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    1. Com certeza. Vou usar a palavra, que eu não conhecia, no próximo texto. Obrigado.

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    2. O que tem o pt a ver?

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  5. Sou um dos anônimos que discordam e muito de você. Nessa você foi na mosca. Mesmo que tenha sido "apenas" um deslize é inaceitável. Parabéns

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  6. "Cor dos olhos, altura, cabelo liso? Mulher? Ui, não, não!" haha Que vergonha!

    Um 'ato falho' que revela muito da nossa sociedade.

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  7. "Do autor ao qual a fala foi atribuída, Pedro Luiz Pereira, eu espero um honesto pedido de desculpas" Desculpas porque se ele apenas traduziu em palavras um realidade? Se o fenômeno acontece, ele apenas expôs o fato, não há tipo penal para condená-lo por nada. Praticamente falar que o FELIPE é chato... é constatar um fato...não há crime.

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    1. Praticamente falar que você é um burro. Fato incontestável para todos que leram o teu comentário. Não há crime.

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    2. Esse espaço é eivado de "políticamente correto". Mesmo que para isso se passe por cima das mais óbvias das constatações. Se o máximo que vc consegue é me chamar de burro... putz.

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    3. Não é o máximo, é só o que tu merece.

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    4. Felipe, pelo teor do comentário é o mesmo anônimo que comentou no meu texto. É especialista em não dizer nada.

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    5. Certamente, Clóvis. Esse foi o motivo por eu não ter me alongado aqui. Até porque tu disse o que eu diria de forma que eu não saberia dizer. Hahaha

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  8. Preconceitos aind existem, mas está diminuindo tremendamente. Lembro que nos anos 60 havia salões só para brancos e outro só para negros, isso acabou. Muito cuidado para voltarmos ao passado, cota racial, feriado racial, etc... Vai voltar à separação racial e conflitos sociais, pior será para todos especialmente os pobres de qualquer raça .

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    1. Mayorca tecnologias, esse seu argumento é uma forma de negação ao avanço no campo da igualdade que as cotas proporcionam. Pense bem sobre ele.

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    2. Querm recriou RAÇAS no Brasil foi o governo do PT. Hoje em dia, por conta do governo que aí está, eu posso colocar em uma ficha de inscrição de um candidato à emprego em minha empresa o quesito RAÇA.

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    3. É verdade. Antes do governo petista os negros viviam em condição de igualdade com os brancos e mulheres não eram espancadas.

      Maldito Lula!

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  9. Parece que o pessoal gosta de ser enganado.
    Do que adianta "pedir desculpinha" enquanto essa prática é mantida pelos "tiozões ignorantes" das empresas?
    Nesse caso, parece que julgaram tanto quem reportou a informação e esqueceram de meter o pau naqueles que promovem o preconceito.

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    1. Diego, quem reporta informação tem um papel muito mais importante do que a gente imagina. A posição tomada por ele pode refletir justamente nas práticas dos tiozões ignorantes das empresas. Mas pra isso é preciso jornalismo sério, comprometido com a justiça, com a igualdade.

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    2. Felipe pelo jeito não foi contratado nem no A Notícia, agora tá com raivinha. Como é que se pode condenar um jornalista, que constata um fato pelo fato e o transmite. Se o escondesse, aí sim seria passível de punição, ou execração. Se fala a verdade leva pau, se não fala leva pau.. Vai entender esse povo do PT.

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    3. Felipe, concordo com a questão da influência que você citou.
      Só acho que a gente bota demais a culpa nessas "influências".
      Essa facilidade em considerar tudo o que os outros dizem é reflexo de outras questões educacionais e culturais.
      Vejo esse ponto como o grande problema.

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  10. Enfim, quando vão começar as agressões ao povo que, como eu, foi ao Stammtisch?

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    1. rs, tem o leilão do pré-sal também, ou privatização só era ruim com o FHC?

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    2. Pois é.... Fizeram uma merda. Todos os potenciais interessados se uniram e pagaram o valor mínimo, certo? Nem ágio não deu. é o fim da rosca, como se diz na Ciser.

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    3. Já deve ser muito triste ser você, anônimo. Então nem vou me incomodar.

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  11. Isso me lembra que nos anos 80, fui chamada para testes numa conhecida empresa da "villa". Fui aprovada e na entrevista, o "alemon" do RH me perguntou se eu era de "oriji" ou tinha pessoas de "oriji" na família... Como fazia pouco tempo que morava aqui, não sabia o que significava a tal palavra e perguntei o que era. Ao receber a resposta e com o estopim curto que sempre tive, o cara ouviu o que não imaginava... Não bastava eu ser branca, tinha que ser de "oriji". Um pirulito para quem adivinhar qual é a empresa...

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  12. Sinceramente, não consigo entender o que se passa na mente desses empresários, recrutadores e etc...estamos em 2014 , mas o racismo e o machismo parecem estar entranhados nessa gente. O que mais me deixa perplexo é saber que nem na Alemanha (onde morei durante 6 meses) esse comportamento existe com esta intensidade. Países como Alemanha e Noruega, entre outros, tem em sua grande maioria uma população que abomina esse comportamento.Enquanto os "descendentes" de europeus no Brasil ainda vivem com uma mentalidade similar ao do período escravagista. Patético.

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