Sou um cristão não-católico. Creio ser
importante esta introdução para contextualizar as linhas que a seguem.
Apesar de influenciado tão somente pelo que li em jornais e
na internet, gostei de alguns elementos da postura do agora papa, cardeal Jorge
Mario Bergoglio.
Não preciso alertar ninguém sobre a importância que os
símbolos têm na religião católica. O primeiro símbolo do novo papado , o nome
papal, talvez seja o mais representativo deles. A escolha do nome Francisco
pode representar que o novo papa assumirá como bandeiras a aproximação com
outras denominações religiosas, o retorno à simplicidade e a dedicação ao
combate à pobreza. O ecumenismo é demonstrado pela importância supracatólica de
São Francisco de Assis; a simplicidade pregada por Cristo e vivida nos
primeiros anos do cristianismo, foi pedida e demonstrada pelo Papa Francisco em
seus primeiros atos; e o combate à pobreza infere-se diante da homenagem a São
Francisco de Assis, fundador da ordem dos franciscanos, um sinônimo de pobreza
e desapego a bens materiais.
É evidente que a exposição midiática a que foram submetidos
os primeiros atos de Francisco não foram impensados – pelo contrário, a própria
escolha de um papa com este perfil já deveria estar alinhada entre os cardeais
há muito. Quiçá a própria renúncia de Bento XVI seja parte da trama. O
catolicismo estava em séria crise de imagem, e numa organização ardilosa como a
Santa Sé, tudo parece ser válido para retomar a importância e poder de outrora.
A escolha de um jesuíta já seria fato novo; um latino-americano poderia
reforçar a presença no mais católico dos continentes; um sacerdote que honre o
franciscanismo daria à Igreja de Roma um tempero necessário para um novo flerte
com os fiéis. Um que reúna as três características foi uma sensacional jogada
de marketing, aproveitada com competência nas fotos divulgadas nas mídias
sociais pelos marketeiros do menor país do mundo.
Parece-me óbvio dizer que não veríamos agora um papa que se
embrenhe com inovação em temas delicados como direitos homossexuais, aborto,
camisinha, celibato ou participação feminina no clero. E não veremos: o Papa
Francisco opôs-se radicalmente ao avanço dos direitos gays na Argentina, além
de ser acusado – embora sem provas – de conviver com a ditadura impiedosa que
deu as cartas por algum tempo no país vizinho. Se ele foi conivente eu não sei,
mas sua igreja foi e ele tem, eu diria, alguma responsabilidade difusa.
De toda sorte, deve a igreja renovar-se paulatinamente, e se
conseguir reduzir sua opulência e dedicar-se a causas sociais com mais ênfase
já teremos um progresso não visto no papado anterior, do antipático alemão
Joseph Ratzinger. É claro que, como defensor de direitos humanos e do Estado
absolutamente laico, preferia que já neste papado o novo Bispo de Roma
começasse a pavimentar a estrada que conduzirá a igreja a pelo menos parar de
condenar a união homossexual ou o uso de preservativos, em dois exemplos
emblemáticos. Mas o tempo haverá de forçar o Vaticano neste rumo – a sociedade
amadurecerá e, por omissão e descontextualização, nova crise se abaterá sobre
as imediações da Catedral de Pedro, conduzindo a Igreja Católica a uma nova
reforma onde a tolerância, a modernização e o progressismo moderado darão o
tom.
Precisamos aguardar os próximos meses e anos para entender
qual a profundidade da guinada que o Papa Francisco fará com sua igreja, mas
confesso que ao escolher seu nome ele certamente ganhou de mim no mínimo
simpatia.