POR GUILHERME GASSENFERTH
Saiu ontem, dia 12 de dezembro, o novo ranking do PIB
(Produto Interno Bruto) dos municípios brasileiros de 2010. E nossa cidade tem
excelentes notícias: após crescer apenas 1% entre 2008 e 2009, Joinville deu um
salto, atingindo um PIB superior a 18 bilhões de reais, o que a classifica como
25ª produção brasileira.
Nosso município está à frente de cidades importantes como
Belém do Pará, Ribeirão Preto e Santo André. Sozinha, Joinville revela uma
economia superior ao do estado de Tocantins inteiro. Nosso município responde
sozinho por 0,5% do PIB brasileiro. Embora seja apenas o 36º colocado em
população no Brasil, o município de Joinville tem o 25º PIB do país. É
importante ressaltar que Joinville está à frente de outras 15 capitais
brasileiras.
Quando apenas o contexto de Santa Catarina é analisado,
Joinville assume uma posição de ainda mais destaque. Nosso produto interno
bruto representa 12,1% do PIB de Santa Catarina, ainda que tenhamos menos 8,24%
da população do Estado. Um dado que impressiona é que o PIB de Joinville é
maior que o das 201 cidades com menor PIB de Santa Catarina somadas!
Antes de prosseguirmos num aprofundamento da análise sobre
Joinville, vale debruçar-se um pouco sobre outras questões que vieram à tona
com a liberação das informações sobre os PIBs municipais. Dentre os 10 maiores
PIBs do Estado, apenas um decresceu: Chapecó. Confesso não ter buscado
informações para entender a queda. Como entre os 50 maiores PIBs apenas o de
Chapecó e Videira caíram, posso crer que houve algum problema com a indústria
agroalimentar em 2010.
No entanto, virando a tabela de cabeça para baixo, preocupa
saber que dentre 69 municípios catarinenses viram seu PIB diminuir de tamanho
em relação ao ano anterior. Dentre os 50 menores municípios de Santa Catarina
(todos com população inferior a 3 mil habitantes), 20 diminuíram seu produto
interno bruto de 2009 para 2010. E entre as 12 cidades com menos de 2 mil
habitantes, 50% decresceram de um ano para o outro. A média de crescimento nominal dos
50 menores municípios foi de apenas 3,6% de 2009 para 2010, enquanto a média
dos 50 maiores foi de 16,4%.
Estas disparidades revelam (em análise pessoal sem qualquer
cunho científico) uma perigosa tendência de decréscimo econômico em cidades
muito pequenas. É preciso avaliar esta questão com cuidado, buscando saber se a
descentralização tem realmente sido eficaz com o interior do Estado.
Na microrregião de Joinville (formada por Araquari, Baln.
Barra do Sul, Corupá, Garuva, Guaramirim, Itapoá, Jaraguá do Sul, Joinville,
Massaranduba, São Francisco do Sul e Schroeder), temos 3 cidades entre as 10
maiores: Joinville, Jaraguá e São Francisco do Sul. O PIB de nossa microrregião
é de 20,4% do PIB do Estado, ou seja, de substanciais 31 bilhões de reais.
Entre as 10 cidades cujas economias mais cresceram em SC,
duas estão em nossa microrregião: Araquari (59,9%) e Joinville (38,4%). Aliás,
o crescimento tão exacerbado numa cidade do porte de Joinville é realmente
admirável! Vale informar que o crescimento nominal médio das cidades da microrregião
foi de 25,2%, sendo que a única cidade a crescer menos de 10% foi Guaramirim,
que marcou 9,7% de variação de 2009 a 2010.
Araquari já alcançou PIB superior a meio bilhão de reais, e
com a instalação de fábricas novas nos últimos dois anos e a concretização da
instalação da BMW certamente alçarão o município aos 15 maiores PIBs do Estado
muito em breve. A cada dia que passa torna-se mais importante que Joinville dê
atenção a esta vizinha.
PIB E DESENVOLVIMENTO
Muito embora os dados sejam muito positivos para Joinville,
há uma série de questionamentos a se fazer. O PIB alto representa necessariamente
vantagem para os habitantes de uma cidade?
Há de considerar o fato de que quanto mais aquecida é uma
economia, geralmente mais dinheiro possui uma prefeitura, mais empregos são
gerados, aumenta-se a renda e um ciclo positivo se instaura.
Nossos indicadores, no entanto, revelam que há dados
preocupantes e que devem ser levados em consideração. Vamos falar um pouco
sobre PIB per capita, qualidade de vida e felicidade. Eu iria acrescentar uma
análise sobre desigualdade social, mas o coeficiente de Gini mais atual que
encontrei é de 2003.
O PIB per capita de Joinville é o 10º melhor de SC e o 175º
maior do Brasil. O PIB per capita local é de R$ 35.854,42, em 2010. No entanto,
este número representa pouca relação com benefícios à população. O cálculo em
feito levando em consideração a produção total do município dividindo pela população.
Na cidade brasileira com maior PIB per capita, São Francisco do Conde (BA), não
há esgoto tratado, a mortalidade infantil é superior ao preconizado pela OMS e
apenas metade da população tem acesso à água encanada. É a prova de que PIB per
capita não significa necessariamente desenvolvimento.
Há ainda a possibilidade de avaliar-se o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), que supostamente mede a qualidade de vida dos
habitantes de uma localidade. O IDH de Joinville é de 0,857, o que faz de nossa
cidade a 13ª colocada no Brasil. No entanto, a base de cálculo do IDH é muito
superficial, abrangendo apenas PIB per capita, expectativa de vida ao nascer e
anos médios de estudo e anos esperados de escolaridade. Qualidade de vida vai
muito, mas muito além disto.
Ao buscarmos indicadores de infraestrutura, apenas um deles já demonstra nossa fragilidade: pavimentação. Joinville é uma das cidades médias brasileiras com menores índices de pavimentação: apenas 60% da população local vive em ruas pavimentadas, enquanto em cidades como Sorocaba e Ribeirão Preto, com PIB menor que nosso, mais de 95% dos moradores vivem em ruas pavimentadas.
Por outro lado, há sensível melhora joinvilense no IFDM, Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal. Em 2008 éramos o 142º município brasileiro, em 2009 passamos a 88º e em 2010 (último índice) figurávamos em 67º no Brasil e em 4º lugar em SC. Este índice me parece ser o mais próximo de avaliar a qualidade de vida e desenvolvimento de um município que reflita em benefícios aos cidadãos.
Deveríamos começar a medir nosso FIB, a Felicidade Interna
Bruta. Esta põe-se em contraponto ao PIB, trazendo à tona a reflexão sobre o
que mais importante: ser rico ou ser feliz? Será que nossos mais de 7 mil
joinvilenses vivendo em favelas sentirão alguma diferença por Joinville ser a
25ª cidade mais rica do país?
Riqueza é importante, economia crescente é fundamental, aumentar
a produção é vital para uma sociedade. No entanto, não podemos descuidar de
aspectos que trazem felicidade e conforto às vidas de todos os cidadãos: acesso
à saúde decente e educação de qualidade; segurança e percepção de segurança;
mobilidade; lazer e cultura; meio ambiente protegido e preservado; renda
suficiente para satisfação das necessidades. Comemoremos o PIB, sim, mas
busquemos mais pra Joinville!