POR CHARLES HENRIQUE VOOS
Joinville padece de liberdade. Uma liberdade que vai além do ato de falar o que se quer, em qualquer momento, sob qualquer circunstância. Necessitamos, enquanto sociedade, reconhecer que o outro pensa diferente de nós, e ele não é fadado a se calar perante a primeira ameaça, ou à medida que se sente coagido pelas tortuosidades do poder. A fala, por si só, aprisiona. Entretanto, quando ela é reconhecida como uma construção social, que evidencia as disparidades do poder, suas desigualdades, e regras do jogo (desencapando-o de sua audaciosa invisibilidade), liberta. Em nossa cidade, quem faz isto é excluído por várias frentes que, por muitas vezes, controlam os nossos controladores e são os responsáveis pela confecção desta "mão invisível". E é perseguido até que o cansaço do enfrentamento e da não-resignação toma conta da alma, desistindo de enfrentar o soco do estômago de cada dia. É por estas e outras que algumas pessoas não sabem "engolir sapos".
O poder joinvilense é tortuoso pois é ignorante consigo mesmo. Esquece de suas virtudes e deveres. Enche-se de tentáculos para camuflar uma realidade, ou kamikazes políticos que estouram as mais diferentes adversidades encontradas pelo caminho. Por outro lado, se lembra daqueles que menos precisam ser lembrados. Constrói, altera e revisa tudo aquilo que diz sobre os interesses de poucos. E esconde a verdade da maioria da população. Felizmente algumas pessoas sempre buscam o estranhamento do familiar, em um bom processo diáletico, para o entendimento da totalidade. Destes, muitos entendem, e por motivos difusos, aceitam continuar tomando soco no estômago. Outros falam, e esperam ser ouvidos. Se você fala de dentro dos corredores tortuosos do mais alto poder, aparecem ameaças que precedem uma expulsão. Cabeças rolam, literalmente (nas mais modernas concepções que esta expressão pode permitir).
Particularmente falando, eu escolhi o meu lado. É por isto que fui estudar (e continuo até hoje), escrevo aqui no Chuva Ácida, me tornei professor, e, por algumas vezes, fui levado à gestão pública para tentar mudar aquilo que tanto percebo em minha jornada existencial. Não sei engolir sapos. Não aceito mais tomar socos diários no estômago. Não aceito compactuar com pensamentos tão distintos dos meus. Não aceito não ter oportunidades para mudar, mesmo estando na instância da mudança. Não aceito me resignar. Não aceito parar de apontar. Não aceito deixar de ser eu, para me camuflar e me tornar invisível dentro do poder. Serei eu, apenas eu. Admirador do debate e da cordialidade, consciente de todas as diferenças de posicionamentos que isso pode proporcionar. Admirador da sociedade em que vivo, e constante analítico do poder que a comanda, por mais tortuoso que seja e insista em me excluir. De tão tortuoso pode quebrar um dia. É nisso que acreditarei de hoje em diante.
Ótimo Charles,
ResponderExcluirEsta sua faze de desilusão está ma-ra-vi-lho-sa.
Falta apenas um pouco mais de ação, mas como o Jordi me alertou no post anterior:
Amanhã será um outro dia!
NelsonJoi@bol.com.br
Você não parou de estudar. Parabéns.
ResponderExcluirPede para sair, pede para sair, pede para sair!
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=4PdYcIWxn1Y
ResponderExcluir"Necessitamos, enquanto sociedade, reconhecer que o outro pensa diferente de nós, e ele não é fadado a se calar perante a primeira ameaça, ou à medida que se sente coagido pelas tortuosidades do poder"
ResponderExcluir"Não aceito compactuar com pensamentos tão distintos dos meus."
te decide, maluco.
Compreender o pensamento diferente é bem distinto de compactuar com ele.
ExcluirEle deve usar o mesmo remedinho do Castan....
ExcluirBacana a atitude Charles! Discordo do pessoal que fica pedindo para você sair, na verdade todos queremos que os funcionários públicos(concursados ou não) não aceitem as mazelas do poder e quando alguém tenta fazer isto ficamos pedindo para ele sair.
ResponderExcluirCharles, siga até onde você achar que deve ou até onde deixarem, mas nunca deixe de ser você.
Não concordo.
ExcluirFuncionário público exercendo cargo de confiança é por que é da confiança do patrão.
Se o funcionário sabe que o patrão é mafioso e não pede pra sair é porque compactua com ele.
Não digo que seja o caso em questão, mas a afirmação acima dá a entender que basta não concordar com o malfeito para não ser jugado por ele.
Esta também foi a afirmação de alguns dos condenados no processo do mensalão.
Mas talvez em Joinville, o que vale para chico não valha para Francisco....
NelsonJoi@bol.com.bt
Esse negócio de cargo de confiança não existe, usam este nome justamente para fazer parecer que todos os comissionados compactuam com o "patrão". Mas o cargo em si é comissionado somente. Estamos falando de uma equipe de mais de 300 comissionados, sendo que somente se reportam ao "patrão" os funcionários de primeiro escalão. Acho que o comissionado não deve compactuar com o "patrão" e sim questionar/mudar/denunciar, mas não há necessidade de sair, deixe que eles tirem.
ExcluirCharles. Ótimo texto. Seja autêntico, você mesmo. Continue assim. Abraços
ResponderExcluirSe você sair,posso comer a tua parte no feijão?
ResponderExcluirLibera essa franga logo... Não deixa se sufocar...
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