Mostrando postagens com marcador liberdade de expressão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador liberdade de expressão. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Uma imprensa caquética...



POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Há alguns dias, o Chuva Ácida publicou um artigo do vereador Maycon Cesar, presidente da Comissão de Urbanismo da Câmara de Joinville. O texto era sobre a LOT – Lei de Ordenamento Territorial e incidia mais especificamente na questão das faixas viárias. O vereador apresentava uma posição discordante dos atuais inquilinos da Hermann Lepper, que estariam a impor uma espécie de vale tudo no tratamento desse dossier.

Quando o texto foi publicado, eu pessoalmente recebi algumas mensagens. Todas a indagar a razão pela qual o blog estaria a publicar um texto do vereador, pessoa sobre a qual fizeram algumas críticas contundentes. A resposta foi sempre a mesma: é a liberdade de expressão. Nenhuma sociedade civilizada tem o direito de cortar a voz às pessoas e o Chuva Ácida surgiu exatamente com a missão de ser um espaço para a democracia e a diversidade de pensamento.

Aliás, vale lembrar um fato que chegou até alguns integrantes do blog. O vereador estaria a procurar novos meios – no caso a blogosfera – para expor as suas ideias, uma vez que a velha imprensa joinvilense já não estaria tão receptiva aos seus argumentos. E quando escrevo “velha imprensa” é apenas uma forma de localizar certos meios de comunicação no espectro onde eles se encontram: o passado. Entra década, sai década e o registro dessa imprensa bafienta é o mesmo, só que mais caquético. Nada evolui.

E é um passado distante, porque o fenômeno dura há muitas décadas. Joinville sempre viveu de relações incestuosas entre a velha imprensa e o poder público. O toma-lá-dá-cá originou um ethos (não confundir com ética) segundo o qual quase tudo pode ser negociado. Silêncios, omissões, falas. Uma vezes por interesses quantificáveis, outras por simples servidão voluntária. O sabujismo acabou por se tornar uma forma de vida no seio dessa velha imprensa.

Qual o problema? Essa gente está presa ao passado – empresários, jornalistas e, inclusive, os manda-chuvas políticos – ao ponto de não perceber a real dimensão do problema. Há uma relação entre mídia e economia. Quanto mais moderna for uma, mais evoluída será a outra. Aliás, há estudos acadêmicos a demonstrar a teoria de que uma imprensa cediça representa um atraso econômico. Mas nem precisamos de teses. Os países mais desenvolvidos são aqueles onde a liberdade de expressão é mais respeitada.

Uma imprensa velha faz uma cidade velha.


É a dança da chuva.

terça-feira, 21 de abril de 2015

O ódio está no ar...

Acreditem: o comentário não foi sarcástico.
POR PEDRO HENRIQUE LEAL

Parece me que o ódio está em alta. Nas últimas duas semanas, tivemos a campanha de insultos promovida por Danilo Gentili e a revolta contra a travesti Verônica Bolina (por gente que não entendeu qual era o problema). Teve também a islamofobia gritante com pessoas mandando Charlyane Silva de Souza “voltar pro seu pais” e a chamando de “terrorista” quando essa teve seu direito de uso de véu reconhecido pela OAB, uma onda de xenofobia contra imigrantes chineses após o caso da pastelaria que usava carne de cachorro. E no meio disso tudo, se reergueu um dos mais infames blogs de ódio da internet brasileira.


Vamos então por partes.


O Caso Verônica Bolina


A sucessão de eventos na prisão da travesti ainda não está clara. Sabe se que Verônica agrediu uma vizinha de 73 anos. Que foi colocada em uma cela masculina. Que se envolveu em uma confusão na cela em que estava detida e que mordeu a orelha de um carcereiro após dita confusão. Que foi agredida na prisão e no hospital. Que foi fotografada sem camisa e com o rosto desfigurado. E que foi coagida a gravar um depoimento onde negava ter sido agredida, em troca de redução de pena.


O caso atraiu a revolta de movimentos de direitos humanos e essa revolta atraiu o ódio dos defensores da lógica “bandido bom é bandido morto”. Enquanto o primeiro grupo questionava o tratamento dado à travesti, o segundo dizia que ela devia pagar por seus crimes e merecia “apanhar mais”. Sem entender que ninguém estava dizendo que Verônica não devia pagar, mas sim que esse “pagamento” deveria ser feito dentro dos termos da lei. Grande parte dos revoltosos contra movimentos como #SomosTodasVerônica parece incapaz de compreender o problema. A indignação não é com ela ter sido presa, mas com a maneira em que foi tratada pelas autoridades e pela qual foi privada de sua dignidade.


Ainda assim houveram aqueles, muitos dos quais policiais, que viram no caso justificativa para despejar seu ódio contra todas as travestis. Como se não apenas Verônica devesse pagar além dos limites da lei, como todas as mulheres trans devessem pagar pelos crimes de uma. E sem entender que existe uma maneira civilizada de se punir transgressões, sem precisar dos punhos para isso.


Pastel com recheio de xenofobia


Dois casos serviram para refogar a velha xenofobia a brasileira. O caso da pastelaria chinesa que usava mão de obra escrava e carne de cachorro no Rio de Janeiro ressuscitou o velho discurso da “ameaça amarela”, e não foram poucos os comentários pedindo a deportação imediata de todos os sino-descendentes do país.


O segundo caso foi o recurso da bacharel em direito Charlyane Silva de Souza, privada de fazer o exame da OAB caso não retirasse o véu (e violasse suas tradições religiosas). Convertida ao Islã no ano passado, o recurso de Charlyane atraiu comentaristas furiosos, exigindo que “voltasse ao seu país” e afirmando que se tentassem o contrário “no país dela” seriam executados. Charlyane é brasileira. O Islã, uma religião, e não uma nacionalidade. O maior país islâmico? O mesmo que tantos opinadores exaltados adoraram em janeiro, quando o traficante de drogas Marco Archer foi executado.


A revolta com Charlyane representa uma série de confusões que ainda nos marcam. Não foram poucos os comentaristas que usaram das tentativas de proibição de símbolos religiosos por repartições estatais para dizer que Charlyane deveria ser proibida de usar o véu “pois o estado é laico”. Por ser muçulmana, fora chamada de terrorista e “advogada bomba”. Vez após vez, a fé islâmica se vê confundida com o extremismo, como se fossem uma coisa só .Como se não bastasse, repetem o erro de achar que todo muçulmano é árabe e um imigrante árabe.



Rede de ódio, ódio na rede


Mas o choque de ódio maior, no meu ver, veio como resposta a uma campanha do Governo Federal. Tão logo foi criada a página Humaniza Redes e o perfil correlato no Twitter, surgiram as acusações de que o programa (uma ouvidoria para denuncias de violações de direitos humanos) era “censura”. E, de imediato, o humorista Danilo Gentili tratou de dar a sua resposta: Desumaniza Redes, incentivando um festival de ofensas sem fim que empesteia a página governamental.


O argumento para defender a campanha de insultos (e apologia a violência)? Que a proliferação de homofobia, machismo, racismo, xenofobia e até pornografia infantil na rede não passa de “zueira”, que não deve ser limitada nunca. Eis a liberdade de expressão defendida por Gentili: a liberdade de ofender, de ameaçar e de discriminar. Ironicamente, o “defensor da liberdade de expressão sem limites” se dedica ativamente a silenciar o outro lado da discussão.


E no rastro da campanha de Gentili, um velho vulto se reergueu nas sombras da blogosfera brasileira. Antes conhecido como “Homem de Bem”, agora como “Tio Astolfo”, um dos mais notórios pregadores do ódio do país, procurado desde 2013, voltou a ativa. Pregando a morte de gays e negros, o estupro de feministas e outras atrocidades, o imitador de outro blog de ódio (o extinto Silvio Koerich) demonstra uma fúria implacável - e assim como a Desumaniza Redes, justifica tudo dizendo que é “humor controverso”. Pois claramente, dizer “é uma piada” resolve tudo.


Isso é só um pequeno recorte do que acontece em todas as áreas, não só na internet. As vezes pelos motivos mais banais. Quem nunca se viu insultado por gostar das “coisas erradas”? No estado americano do Oklahoma, dois colegas de quarto se golpearam com garrafas de cerveja em uma disputa sobre iPhone versus Android. O ódio está em alta e qualquer coisa parece justificá-lo.

terça-feira, 28 de maio de 2013

O poder é tortuoso, Charles Henrique!

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Esta frase, proferida por um grande amigo semana passada, me marcou demais. Soou como um grande soco no estômago, daqueles que você fica horas deitado no chão e sem ninguém pra lhe socorrer. É só você, seu corpo, e sua consciência. Não há saídas, nem espaço para fugas. Ou você reconhece que o soco do dia seguinte virá; resignando-se com a dor, ou você se esquiva e foge desta luta invisível e fria, onde a pressão se apresenta por todos os lados e esmaga qualquer tipo de pensamento ou expressão contrários.

Joinville padece de liberdade. Uma liberdade que vai além do ato de falar o que se quer, em qualquer momento, sob qualquer circunstância. Necessitamos, enquanto sociedade, reconhecer que o outro pensa diferente de nós, e ele não é fadado a se calar perante a primeira ameaça, ou à medida que se sente coagido pelas tortuosidades do poder. A fala, por si só, aprisiona. Entretanto, quando ela é reconhecida como uma construção social, que evidencia as disparidades do poder, suas desigualdades, e regras do jogo (desencapando-o de sua audaciosa invisibilidade), liberta. Em nossa cidade, quem faz isto é excluído por várias frentes que, por muitas vezes, controlam os nossos controladores e são os responsáveis pela confecção desta "mão invisível". E é perseguido até que o cansaço do enfrentamento e da não-resignação toma conta da alma, desistindo de enfrentar o soco do estômago de cada dia. É por estas e outras que algumas pessoas não sabem "engolir sapos".

O poder joinvilense é tortuoso pois é ignorante consigo mesmo. Esquece de suas virtudes e deveres. Enche-se de tentáculos para camuflar uma realidade, ou kamikazes políticos que estouram as mais diferentes adversidades encontradas pelo caminho. Por outro lado, se lembra daqueles que menos precisam ser lembrados. Constrói, altera e revisa tudo aquilo que diz sobre os interesses de poucos. E esconde a verdade da maioria da população. Felizmente algumas pessoas sempre buscam o estranhamento do familiar, em um bom processo diáletico, para o entendimento da totalidade. Destes, muitos entendem, e por motivos difusos, aceitam continuar tomando soco no estômago. Outros falam, e esperam ser ouvidos. Se você fala de dentro dos corredores tortuosos do mais alto poder, aparecem ameaças que precedem uma expulsão. Cabeças rolam, literalmente (nas mais modernas concepções que esta expressão pode permitir).

Particularmente falando, eu escolhi o meu lado. É por isto que fui estudar (e continuo até hoje), escrevo aqui no Chuva Ácida, me tornei professor, e, por algumas vezes, fui levado à gestão pública para tentar mudar aquilo que tanto percebo em minha jornada existencial. Não sei engolir sapos. Não aceito mais tomar socos diários no estômago. Não aceito compactuar com pensamentos tão distintos dos meus. Não aceito não ter oportunidades para mudar, mesmo estando na instância da mudança. Não aceito me resignar. Não aceito parar de apontar. Não aceito deixar de ser eu, para me camuflar e me tornar invisível dentro do poder. Serei eu, apenas eu. Admirador do debate e da cordialidade, consciente de todas as diferenças de posicionamentos que isso pode proporcionar. Admirador da sociedade em que vivo, e constante analítico do poder que a comanda, por mais tortuoso que seja e insista em me excluir. De tão tortuoso pode quebrar um dia. É nisso que acreditarei de hoje em diante.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O juiz e o deputado Tebaldi



POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
É um evidência: as plataformas digitais democratizam a opinião e ampliam a voz de pessoas que antes não tinham lugares de expressão. Há um novo mundo, senhores. Mas tem gente que parece não ter percebido o fenômeno na totalidade. E cometem-se erros perfeitamente evitáveis: o deputado Marco Tebaldi  foi à Justiça pedir que uma montagem fotográfica, onde ele é mostrado como ficha suja, fosse retirada do Facebook.

Li um texto sobre o episódio no jornal A Notícia e duas coisas chamaram a atenção: o pedido de Tebaldi e o estilo da resposta do juiz. No caso do candidato a fica uma evidência: ele provavelmente não se importa de despender tempo em processos que à partida não surtirão efeito. E imagino que talvez os seus conselheiros não estejam muito atentos à lógica das redes sociais. Meus senhores, vou dizer: caiu na rede é peixe. Na prática, é difícil fazer a coisa desaparecer. Vocês tiram aqui, reaparece ali. Vocês tiram ali, reaparece acolá.

Já a sentença do juiz Yhon Tostes surpreende pelo tom usado. Em vez da linguagem cifrada e intrincada que só os juristas conseguem produzir, vi uma sentença judicial com o estilo de um artigo de jornal. Coisa que nós, simples mortais, conseguimos entender. E, tal como se faz nos artigos de jornal, houve mesmo espaço para uma alfinetada no candidato. Escreveu o juiz, segundo o texto que li em A Notícia:

- Assim, muito embora efetivamente o representante e agora candidato a prefeito não tenha sido enquadrado em nenhuma das restrições da Lei Complementar nº 135/2010, a verdade é que, numa visão popular, não pode ser considerado como um 'ficha limpa', pelo contrário.

Atentem para o detalhe, leitores e leitoras: o juiz usou a expressão “pelo contrário”. É um statement interessante. Porque qualquer pessoa com dois dedos de testa consegue imaginar o contrário de “ficha limpa”. Certo? Ooops! Não sou eu a dizer, mas o juiz. Parece que foi um tiro no pé. Tebaldi não iria ganhar muita coisa ao tentar tirar o post do ar - pelo contrário, até porque esses posts desaparecem com o tempo - e ainda teve um juiz a dizer justamente o que ele tentava evitar.

Marco Tebaldi foi mais longe e, no seu  pedido de direito de resposta, pretendia veicular uma mensagem a dizer: “afirmo que sou candidato ficha limpa". O deputado e os seus advogados parecem não ter compreendido que essas coisas não funcionam assim nas redes sociais. Se o candidato quer dizer que é ficha limpa, ele não precisa ir à Justiça. Só tem que fazer um post com a frase. Simples.

Mas se querem um conselho, caro deputado e advogados, melhor deixarem para lá, porque há o risco de ser outro tiro no pé. Há uma coisa que a gente aprende em comunicação: a lógica do “ferro enferruja”. Ou seja, se o tema é potencialmente mau, melhor deixar quietinho. Além do mais, quem está limpo não precisa sair por aí a repetir. As pessoas acabam por perceber.

Talvez o conceito de democracia nas plataformas digitais ainda seja difícil de entranhar. As redes sociais dão voz às pessoas comuns, democratizam a opinião e põem os políticos num outro patamar. E não sou eu a dizer, mas sim o juiz na sua sentença, no seu estilo muito próprio:

- Se os comentários depreciativos são justos, se agradam ou não, é outra história! O que não se pode agora é querer censurar o direito fundamental de livre expressão.

É isso, juiz Yhon Tostes. Viva a liberdade de expressão!

P.S.: Tem um leitor a reclamar que falamos muito no candidato Marco Tebaldi. Mas é ele a gerar notícias perfeitamente evitáveis, como esta.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Prefeitura e a liberdade de expressão


Por JORDI CASTAN

Não é novidade. Alguns dos inquilinos atuais da Prefeitura Municipal não conseguem lidar bem com as críticas. Na verdade, algumas pessoas menos que as outras. É uma dificuldade manifesta em alguns setores e que se agrava pela total falta de maturidade e da prática de algo tão importante na sociedade democrática: o respeito pela liberdade de expressão.
É preciso maturidade para aceitar as opiniões contrárias, da mesma forma que se recebem os elogios dos áulicos. A dificuldade é tão manifesta que, não conseguindo refutar o argumento da crítica – nem sequer contra-argumentar ou mostrar o contraditório –, a prática mais comum é tentar desacreditar o crítico, o argumentum ad hominem. Tem até quem parta diretamente para o xingamento.

Ocupar cargos públicos exige outros predicados. Deveria prevalecer a competência antes da fidelidade partidária e, principalmente, o respeito aos direitos do cidadão que paga impostos. E, entre eles, o direito à liberdade da expressão. No atual governo municipal, o que separa “os homens dos meninos”, sem nenhum sexismo explícito na frase, é a capacidade para lidar com as críticas. Ter ataques chiliquentos pelos corredores do paço municipal é impróprio de quem tem por obrigação respeitar e servir o cidadão.
Toda administração pública tem que saber lidar com a crítica. E há de se reconhecer que nunca ficou tão fácil a crítica, tamanha a quantidade de trapalhadas, atitudes insensatas e desatinos produzidos.

Os críticos estão divididos em grupos: as viúvas das administrações anteriores, que choram a perda do poder e das suas benesses e que só esperam a oportunidade de voltar a ele. Do outro lado estão os que entendem que a cidade está regredindo, que há uma perda de qualidade tanto no dia a dia das pessoas como na forma como a coisa pública é tratada. Essas pessoas acreditam que as coisas podem e devem ser melhores do que são e as suas criticas vem acompanhadas de propostas e alternativas para melhorar.

Na democracia deve existir espaço para estimular o contraditório, o debate, a troca de idéias. Tanto uns como outros tem o direito e a obrigação de expressar as suas idéias e convicções, pois a decisão final caberá ao eleitor. As iniciativas do poder público de desacreditar os críticos acabam desacreditando também os elogios dos áulicos. Porque nem uns nem os outros não sobrevivem sem a liberdade de expressão.