POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Faz algum tempo, estava a acompanhar a produção de um
filme publicitário aqui em Portugal e um operador de câmara, um paulista, disse
que estava prontinho para passar uns meses no Brasil.
- - Férias?
- - Não.
Vou trabalhar na campanha eleitoral.
- - E
compensa deixar o trabalho aqui?
- - Claro,
lá os caras precisam fazer filmes e a grana rola solta entre a politicalhada. É
a hora certa para ganhar dinheiro.
- - Para
qual candidato vais trabalhar?
- - Ainda
não sei. Só sei que o cara tem muito dinheiro e está disposto a pagar.
- - E o
partido?
- - Também
não sei. E não importa. Desde que seja o partido da grana...
Parece brincadeira, mas a coisa é mesmo assim. Porque
o emprego de marqueteiro ou publicitário em época de eleições no patropi é uma
teta que parece não secar. Dá para muita gente mamar à grande e à francesa. Os
políticos correm atrás dos caras como moscas à procura do mel, em especial os
políticos acanalhados, que precisam branquear a imagem.
O candidato é um sacana que só quer se dar bem? Sem
problemas. É um daqueles políticos que só lembram do povão na hora das eleições?
Sem dramas. Tudo tem solução. Muitos políticos acreditam que os marqueteiros têm
poderes do além: conseguem fazer o feio parecer bonito, o canalha parecer
decente ou o aproveitador parecer sério.
Há uma explicação: os políticos brasileiros ainda não
saíram do paleolítico e por isso acreditam nos poderes sobrenaturais dessa espécie
de pajés que são os marqueteiros e publicitários. E muitos deles preferem a
pajelança do show off em vez de trabalharem sério. Ooops! Trabalhar sério? Tem político que não sabe o que é ser
sério e menos ainda o que é trabalho.
Nesta época, quando estamos às vésperas das eleições
locais, já começa a haver uma autêntica corrida dos políticos para encontrar o
publicitário ou marqueteiro que, como o os encantadores de serpentes, tenham a técnica sobre-humana de hipnotizar os eleitores e dar-lhes a vitória nas urnas.
Ou seja, os caras esperam ser eleitos apenas porque
contrataram o sujeito que domina os raios e os trovões do marketing político. O
fato é que os políticos não sabem – e nem querem saber – para que serve um
publicitário ou marqueteiro. O que fascina é a técnica de encantamento. A frase perfeita,
o filme mirabolante, a idéia genial ou a estratégica infalível.
O problema é que os marqueteiros não entendem muita
coisa de ciências políticas, de antropologia ou sociologia. A maioria deles acha
que vender um candidato é como vender um par de sapatos. Ou seja, os caras
trabalham apenas na aparência, na superfície. Mas há produtos que, por mais que
a embalagem seja bonita, ainda vão continuar a cheirar mal.
Mas, no final, o que se tem é uma equação interessante: de
um lado estão os políticos, do outro estão os marqueteiros... e no meio está o
dinheiro. Muito dinheiro.
Afinal, todo homem tem o seu preço. E alguns até fazem
em prestações.