POR VANDERSON SOARES
É engraçada essa coisa de
trabalho. Já parou pra pensar em como chegamos nesse modelo de trabalho? O mundo
ocidental foi moldado à imagem do mundo greco-romano. E sua exuberância, com grandes monumentos e
obras faraônicas forjadas pelo trabalho escravo.
Nos idos de II a.C até o
século V, a herança greco-romana sobre o trabalho era relacionada à escravidão,
considerando o trabalho como algo menor, indecente ou de gente que está sendo
punida.
Nosso mundo
passa desta fase e chega, pomposo, à Idade Medieval em que a relação se
modifica um pouco. Não é mais escravo, mas servo. A relação ainda é de
dependência, onde o servo trabalha um pouco para si e o restante para o seu
senhor. Mas se o sistema escravocrata estava tão bem, por que mudar? Sentiu-se
a necessidade de vender e comercializar a mais pessoas, neste caso, para os
escravos, que agora eram “livres”. Esse retrato europeu do trabalho foi
importado e a relação de exploração do outro moldou a forma de trabalho
ocidental. No Brasil e EUA, por exemplo, o sistema de trabalho foi todo
edificado sob essa ótica.
Karl Marx
fazia uma relação interessante sobre isso, explicando questões como preço e
valor e a famosa “mais-valia” que seria a diferença entre o valor pago ao
trabalhador para produzir determinado bem e o real custo para produzi-lo.
Para
incrementar a história, faltava a religião entrar no jogo e dar sua
contribuição relacionando o trabalho com castigo. E foi isso que se sucedeu. O
judaísmo contribuiu doutrinando que o trabalho era um castigo devido à
desobediência de Adão e Eva, ainda quando estavam dentro dos “portões” do Éden.
Aqui parafraseio o livro de Gênese
quando Deus diz “Tirarás dela (da terra) com trabalhos penosos o teu sustento
todos os dias de tua vida...Comerás o teu pão com o suor do teu rosto” (Gen, 3,
17-19).
Essa
ideia de trabalho ser castigo se passou para o ocidente e permeia muitos até
hoje, quando a igreja católica, herdando as concepções semitas, relaciona
pobreza à salvação, riqueza à condenação e trabalho a algo penoso aludido à castigo.
Continuando
a viagem, nos idos dos séculos XVI o protestantismo vai trazer uma inflexão no
tema, aludindo o trabalho, que nasce junto com o capitalismo, como continuação
da obra divina onde o acumular e guardar será valorizado. Ainda hoje, em
condições visuais de observação, é comum observar um protestante numa posição
social mais privilegiada do que um católico (observação pessoal do autor). Esta
relação do protestantismo com a evolução do trabalho e do capitalismo é muito
bem expressada na obra de Max Weber, “A Ética Protestante e o Espírito do
Capitalismo”, obra do século XIX, mas de uma atualidade brutal.
No
Brasil, quem começou a discutir e implementar os direitos trabalhistas foi o
presidente Getúlio Vargas. Hoje se comenta da legalização da terceirização, o
que eu vejo como algo extremamente pernicioso para nossa sociedade. A herança
escravagista e exploratória, mesmo com os direitos trabalhistas, é muito
presente em muitas regiões do Brasil. Legalizando a terceirização estaremos
retroagindo neste ponto. Analogamente, é mais ou menos como se estivéssemos
cancelando os direitos trabalhistas, mudando os nomes e vínculos, mas não
mexendo nas condições de trabalho.
É claro que causa revolta quando um trabalhador “encostado” trabalha na reforma de sua casa ou de maneira informal para fazer renda extra ou pedindo atestados médicos por motivos inexistentes. Há de se observar também o lado das pessoas que não levam a sério suas obrigações profissionais e abusam da fragilidade do nosso sistema, mas ainda assim, concordado com o protestantismo defendo que o trabalho é a continuação da obra divina de cada um, onde a contribuição pessoal para o desenvolvimento do mundo é feita de maneira prazerosa. O que não é possível ocorrer se o trabalhador não se sentir protegido, por meio oficializado, ou seja, pela Lei.
Estava indo tão bem... Porque Karl Marx?
ResponderExcluirDuvido que você leu a PEC 4330!
ResponderExcluirSe ele leu, não entendeu!
Excluir(ia chamá-lo de papagaio de pirata, mas soaria muito ofensivo a alguém que não conheço)
Eduardo, Jlle
Você tenho certeza que não leu, pois saberia que não é PEC, é PL.
ExcluirComeçou com um Plano de Lei em 2004 e virou uma Proposta de Emenda à Constituição
ExcluirNão piora a situação. Tá ficando feio.
Excluir