terça-feira, 24 de outubro de 2017

Pessoas com dedos grandes e cabeça pequena. Pirou?


POR LEO VORTIS
Quando era pequeno, olhava com muita admiração para as pessoas que tinham o tal “conhecimento enciclopédico”. Você já imaginou quanta informação é preciso armazenar no cérebro para chegar a ter tanto conhecimento? Quando olhava para a velhinha enciclopédia que os meus pais insistiam em manter na estante, a minha admiração aumentava ainda mais. Eita! Era muita coisa para memorizar.

Naqueles tempos não sabia da expressão homo encyclopedie (que só conheci depois de adulto, ao ler um texto sobre memória eidética). Meu, no meu olhar de moleque, era difícil imaginar que uma pessoa pudesse tantos livros dentro da cabeça. O cara devia saber tudo sobre tudo. Sobre o universo e arredores. Um cara assim devia ser imbatível num debate. Mas será que teria lugar no mundo de hoje, em que tudo cabe num simples chip e a ideia de debate caiu em desuso?

Hoje o cara não teria serventia. É uma pena. Porque essa pessoa certamente era capaz de interpretar a informação. Bem ao contrário do que acontece neste tempo, quando temos o fenômeno da “overload information”: a pessoa é sobrecarregada informação mas não sabe o que fazer com ela. Talvez fosse necessário atualizar o conceito para “conhecimento wikipédico”. Só que não é preciso armazenar coisa alguma, porque basta usar os dedos para pesquisar. 

Há uma clara diferença entre o homo encyclopedie e o homo wikipedie (se é permitira a analogia). Porque hoje em dia está tudo na Wikipedia. As pessoas estão a trocar o cérebro pelos dedos. Há uma enorme incapacidade de interpretar informação, pois a internet funciona com uma espécie de extensão da memória. E a cada dia a gente vai se tornando ainda mais incapaz de gerir a vastíssima informação disponível na rede.

Um dia destes li um artigo científico que era meio darwiniano, porque falava em evolução. O texto tinha um palpite meio maluco. A evolução para o homo wikipedie pode produzir mudanças físicas nos seres humanos: gente com cabeça pequena, porque não precisa do cérebro, mas com dedos enormes, para poder manipular os dispositivos eletrônicos. Caraca! Não riam... Aliás, o texto, apesar de estranho, estava bom construído. 

Fala sério. Por essa linha,  é possível um futuro orwelliano, do ponto de vista político. Uma sociedade dividida entre senhores, no topo, e tecnodependentes, na base da sociedade. Na torre de marfim do poder, um grupo reduzido de seres que ainda sabem pensar e produzem as evoluções tecnológicas. Na base da sociedade, uma massa ignara formada por consumidores de tecnologia e cuja vida gira em torno de coisas como o smartphone.

Pirou na batatinha? Talvez. Nem parece estar tão longe assim. Não vamos esquecer que a ficção é apenas a antessala da realidade.






4 comentários:

  1. Tá bom, Cláudia, imaginemos que você tem uma biblioteca em casa e nunca pesquisou na Wikipedia...

    Próximo!

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  2. Só um momento. Vou ali buscar o meu telefone de discar e aí a gente fala em pé de igualdade.

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  3. Melhor buscar um tacape, Leo. O cara deve viver numa caverna. E o que ele chama de enciclopédia não passa de pinturas rupestres nas paredes.

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  4. Não subestime a Wikipedia, conheço um sujeito que ganhou 2 milhões fazendo “consultoria esportiva” apenas copinando as informações do site.

    Eduardo, Jlle

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