quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Temer, o escravo de 594 almas

POR CHARLES HENRIQUE VOOS
Com a infeliz declaração de que "só temos a comemorar", o atual Ministro da Agricultura e empresário do setor de agrotóxicos, Blairo Maggi, explicou o sentimento do governo federal sobre as novas regras que definem a fiscalização do trabalho escravo no Brasil. Mesmo que a Secretária Nacional de Cidadania, Flávia Piovesan, diga que é um "retrocesso inaceitável", não há como negar que o Brasil acabou por regularizar o trabalho escravo. As novas burocracias impostas, e comemoradas pelos grandes empresários urbanos e agrários, praticamente impedem qualquer investigação isenta ou denúncias frutíferas. Trabalhadores nacionais e estrangeiros, do campo e da cidade, especialmente pobres e crianças (crianças!), são os mais atingidos. Estamos pagando um preço quase inimaginável para o sustento de Temer no poder.

O nosso país ainda mantém muitas heranças do período colonial, e a escravidão é uma delas. Os negros possuem um passivo social gigantesco por causa disso, apesar de grande parcela da população negar e ainda acreditar no falso discurso da meritocracia. Ainda sustentamos nossos privilégios nesta lógica de séculos atrás. Por outro lado, os dados sobre trabalho mostram algo que pouco enxergamos: nos últimos dez anos, mais de 1.500 pessoas foram libertadas de condições assim, por todo o Brasil, em média. Para piorar, agora está tudo muito bem regulamentado, mesmo que o governo fale em "novas regras para a fiscalização".



Ocorre que a deturpação de direitos sociais pelo atual governo está virando rotina, especialmente como moeda de troca para o chefe do executivo se livrar de acusações contra o seu nome. Para se livrar do primeiro pedido de Impeachment, patrocinou o Congresso com emendas e medidas provisórias que beneficiaram os representantes setores do agronegócio, das igrejas e outros setores conservadores. Não por acaso, visto que a bancada desses ramos tem uma grande relevância na composição do Congresso. A regularização do trabalho escravo, lembremos, é uma estratégia para compor com a segunda acusação, a qual já tramita pela Câmara.

Sendo assim, temos um presidente que é o verdadeiro escravo, mas de 513 deputados e 81 senadores. Para se manter no poder, atende a todos os interesses de seus donos, nem que, para isso, tenha que cortar os nossos direitos. É uma luta desenfreada para realinhar conservadoramente o país. E ainda faltam a Previdência, bem como outras surpresas desagradáveis que logo virão. Com Supremo, com tudo.

4 comentários:

  1. Na verdade a burocracia foi diminuída. Ponto para o governo!
    Enxergar todo empresário agrícola como um “escravagista” é uma piada de mau gosto.
    Quanto ao Temer ser “escravo” dos parlamentares, nada muito diferente de uma certa encastelada que tínhamos como presidente há alguns meses.

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  2. Vai ver como era no Gulag, depois vá conhecer a realidade no norte e nordeste, po fim se posicione.

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  3. Ahã... um celetista que trabalha eventualmente 10, 11 horas por dia (8 + horas extras) é caracterizado pelos “fiscais” como “análogo à escravidão”.
    Então a palavra “escravidão” tem de ser revista, é esse um dos exemplos que a MP esclarece. Sem contar com aqueles “fiscais” que ameaçam os fazendeiros com multa, caso o dono da fazenda não molhe sua mão. A MP, inclusive, exige a presença da PM nos flagrantes - coisa que os interessados na manutenção da lei não querem, por quê?

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  4. Existe um fenômeno global que é chineizacao dos empregos bem simples que vai além da governabilidade dos nossos gestores. Uma forma é fazer o que nossos gestores fizeram, tem outra a moda de Trump qual vcs preferem?

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