quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Cidades, soluções e cidadania

Ciclistas protestam e propõem ideias para melhorar o trânsito
POR FELIPE SILVEIRA

Embora eu me identifique e seja identificado como um comunista que deseja a revolução, não a espero. Não deposito minhas fichas nesta ideia e nem acho que o advento de uma vá resolver meus problemas do dia pra noite. Pelo contrário, se acontecesse, meus problemas se multiplicariam. Por outro lado, mesmo que eu não me considere um reformista, no sentido clássico, acredito que uma grande mudança só pode ocorrer devagar, etapa por etapa, um pouquinho aqui, outro ali e mais um acolá.

Um bom exemplo é o trânsito. As pessoas só vão deixar de matar umas às outras e a deixar de se matar (por estresse, doença, acidente, brigas...) a partir de diversas mudanças que levem a humanização do ato de se locomover.

Não adianta esperar, pois não vai rolar um decreto que determine a paz no trânsito. Mas outros podem acontecer, como um decreto sobre a construção de ciclovias; e outro que diminua a velocidade para 30, 40 ou 50 km/h; ou mais um sobre melhores calçadas (que estimulem o deslocamento a pé). Outras mudanças não dependem do governo, como a instalação de bons vestiários para que trabalhadores possam ir de bicicleta ao trabalho. Mudanças em outros áreas podem influenciar, como a geração de empregos nos bairros, tornando o deslocamento mais curto.

Com a saúde e a segurança pública é a mesma coisa. Não adianta pensar que contratar médicos e policiais vai resolver os problemas. É preciso transformar (humanizar!) a formação nas duas áreas. Na saúde também é preciso mudar os hábitos alimentares da sociedade, alterar a forma de produzir alimentos, gerar interesse por atividade física que desenvolva a saúde e promover ações preventivas.

A saúde da população também melhoraria muito com mudanças no trânsito, já que todos os dias chegam muitos acidentados nos hospitais, o que sobrecarrega, e muito, a fila. Dessa forma, com apenas uma mudança - a diminuição da velocidade máxima permitida, por exemplo -, haveria diminuição da fila na saúde.

A segurança pública também não se resolve com o aumento da repressão, com instalação de equipamentos (cerca elétrica, câmeras etc.) ou prisão em massa da população negra e pobre. Já a descriminalização das drogas, proposta defendida até por FHC, tem se mostrado uma ótima forma de combater a violência gerada pelo tráfico. O Uruguai e o Colorado (estado norte-americano) são bons exemplos da mudança. Justiça social, melhor distribuição de renda e educação com oportunidades também são necessárias para diminuir a violência que é movida pela busca do lucro.

Aliás, é justamente pelo combate à violência que é importante a inclusão de temas e ações sobre minorias na educação. A população LGBT, a comunidade negra, imigrantes, pessoas com deficiência, pessoas com obesidade, mulheres e outras diversidades da sociedade sofrem uma quantidade muito maior de violência em toda a sua vida, tanto física quanto psicológica. Elas apanham, são assassinadas, são preteridas em qualquer coisa que disputem por serem o que são. Estes problemas não serão resolvidos sem a inclusão da discussão na escola, na mídia, no bar com os amigos e nas famílias. Pelo visto, a Prefeitura e os vereadores de Joinville não se importam, já que não incluíram ações e discussões sobre o assunto no Plano Municipal de Educação. Saiba mais sobre o assunto no texto de Pedro Henrique Leal.

Não se trata, aqui, de dizer que as únicas possibilidades de mudança sejam as pequenas, mas de começar a ver as pequenas como parte de algo maior. Elas servem como forma de engajamento, de puxar as pessoas para as causas. E, uma vez que alguém se torna um militante de uma, dificilmente para naquela, dificilmente fecha a cabeça novamente.

3 comentários:

  1. Ter um bom vestiário com chuveiro quente é uma ótima forma de incentivar o uso da bicicleta.

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  2. Algumas vezes não concordo muito com o seu texto, mas entendo a sua linha de raciocinio. Desta vez concordo com o seu texto, mas infelizmente a maioria dos politicos não pensam assim ou pelo menos não agem assim. Assim como tem empressarios e pessoas com grandes quantidades de $$ que pensem da mesma maneira.

    Unica coisa que eu acho complicada e a diminuição da velociadade maxima das ruas, sou a favor delas, mas a mesmas sendo bem justificadas. Mas acredito que se o pessoal respeit-se pelo menos o que já esta valendo o 60km/h diminuiria e muito o numero de acidentes.

    E depois se reclama da industria da multa e seus radares, ora so paga multa qm não respeita os limites maximos das vias.

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    1. Felipe no meu ver industria da multa é criar guarda municipal sob o pretexto de resguardar o patrimônio público e depois de criada usá-la apenas em ações de caráter arrecadatório.

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