POR LIZANDRA CARPES
Tivemos
em Joinville, no dia 11 de agosto, um caso exemplar de justiceiro que quis
lavar a honra (honra que se resumiu em um celular) com sangue ou com um golpe
de arte marcial (golpe que se resumiu no que era a vida de alguém). Diego
Felipe Fortunato Cidral era jovem e negro. E após uma gravata para ser
imobilizado, acaba sem vida. Mais uma pessoa que entra nas estatísticas do
genocídio da população negra.
Não
vou entrar no mérito das questões do racismo (tema que o Felipe Cardoso trata
com maestria aqui no Chuva Ácida) ou se houve ou não intenção de matar, pois
para isso haverá um processo de julgamento. Vou aprofundar, sim, a questão da
banalidade da violência e a desvalorização da vida. Muitos foram os comentários
e posicionamentos. No entanto, o que mais choca é a crueldade aberta e pública
em redes sociais: “Ainda bem que morreu, menos um”.
É
preciso entender que a violência vai muito além das agressões e da morte. Ela
se perpetua na incitação. Qualquer ato cometido que viole a Constituição
Federal Brasileira de 1988 é um ato de violência. Ou seja, há violência quando
não tem escolas, há violência quando pessoas morrem nas filas dos hospitais, há
violência quando o Estado é ausente de suas obrigações. E esta é a mais ameaçadora das violências,
porque é provedora da injustiça e da desigualdade, a raiz do problema.
Quando
“fazer justiça com as próprias mãos” ou “linchamento” tornam-se solução, isso
evidencia também o atestado de falência dos setores que devem organizar estes
conflitos sociais. É evidente que existem ferramentas e interesses que se
alimentam da violência. A mídia sangrenta que vende horrores de publicidade com
programas policialescos. Quanto mais sangue, mais audiência, gerando a indústria
do medo, que, como diz o sociólogo Zygmunt Bauman em seu livro “Em Busca da
Política”, uma sociedade amedrontada é de fácil manipulação.
A
única justiça que podemos fazer com as próprias mãos é lutar por justiça
social. É ocupar os espaços de decisão. A justiça com as próprias mãos se faz
com conhecimento de causa e na participação política. Não movida por
sentimentalismos. É fiscalizar e monitorar o serviço público e, mais que isso,
cobrar resoluções. E no ciclo vicioso da violência, a pergunta que fica é: quem
comete a violência primeiro, o cidadão e a cidadã ou o Estado?
Excelente texto, Lizandra. "Olho por olho e o mundo acabará cego". Paz é fruto de muita luta pra alcançar a justiça, é fruto de muita formação humana, é fruto de muito esforço intelectual. Sigamos em frente, há muito por fazer.
ResponderExcluirBrilhante seu texto e quero acrescentar mais alguns dados que são importantes. Nesta época de eleições, o apelo de boa parte dos candidatos é a tão falada segurança... Fica claro que se referem a aumento de policiamento e estrutura repressiva. Continuo insistindo que somente a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos pode melhorar a segurança (não há como extinguir a criminalidade!, visto que o crime faz parte de todas as camadas sociais inclusive da atual classe política). Enquanto os bens de consumo supérfluos explodirem em nossa cara como fator de felicidade material, aos quais a maioria não tem acesso, continuaremos vivenciando esses roubos tolos (celulares modernos, tênis de marca). Os que não se prestam a uma análise mais profunda da questão vão ficar avalizando o "justiçamento". Como nossa Justiça não é neutra, aos pobres, cadeia ou morte, aos riquinhos o direito da dúvida e a falta de provas filmadas. Aí continuaremos a ter médicos assassinos e vândalos soltos. Ao pobulacho, cadeia.
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