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sexta-feira, 20 de junho de 2014

Joinville passou longe da Copa

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Lembro-me bem de quando a Arena Joinville foi construída, e de como os políticos locais fantasiaram em torno do estádio. Era cômico de ver como a imprensa local comprou a ideia, inclusive lançando o estádio recém-inaugurado como um dos possíveis locais para a Copa do Mundo, caso um dia ela acontecesse no Brasil (depois de duas ou três ampliações, claro). A "estrutura" da Arena, "digna de excelência", padece desde sua inauguração, com remendos ao projeto inicial, infiltrações, e seguidas notícias de não-liberação por parte dos Bombeiros para os campeonatos que ali são disputados.

Em segundo lugar, a estrutura de Joinville para receber grandes eventos, como uma Copa do Mundo, é muito pequena. Por mais que três hotéis da cidade fossem chancelados pela FIFA, o Aeroporto é insuficiente e precário (a novela ILS se arrasta há anos) e não havia condições, nem em meados dos anos 2000, nem hoje, da cidade se envolver nestes eventos. Não é a toa que somente grandes capitais foram escolhidas como sedes dos jogos, as quais fizeram parte do combo especulação-flexibilização-lucro que uma cidade do porte de Joinville não poderia oferecer, perante o tamanho dos negócios gerados em torno da Copa.

Esta euforia de cidade-sede dos jogos acabou cedo, quando a FIFA anunciou as cidades pré-selecionadas, e Joinville estava de fora. Os agentes locais não se davam conta de que a estrutura local era infinitamente inferior às outras, por mais que, dentro de Santa Catarina, Joinville se sobressaia. A luta então passou para abrigar alguma seleção, como cidade de treinamento. As falácias continuaram, como a atração de seleções européias, pela ligação da colonização germânica da região, etc. Até a Rússia foi sondada, graças ao Bolshoi. Vale lembrar que a Rússia joga em Curitiba, aqui pertinho, mas mesmo assim escolheu o interior de São Paulo. Os alemães, por exemplo, montaram uma enorme estrutura no interior da Bahia.

Alguns imaginavam, como último suspiro, que a cidade estaria cheia de turistas atraídos pela Copa do Mundo. Infelizmente Joinville não é uma cidade turística, ainda mais se for para "gringo" ver. Para piorar, o Aeroporto que poderia receber os voos excedentes de Curitiba, não teve registros de receber voos extras criados pela demanda da Copa. Restou à cidade de Joinville assistir os jogos pela TV.

Está claro que, desde o começo, não houve um planejamento sério para a atração de alguma seleção, ou até mesmo uma maior inserção da cidade neste evento de proporções mundiais que é a Copa do Mundo. Desde a "invenção" de que a Arena Joinville poderia receber jogos (para esconder os problemas estruturais de seu nascimento) até as negociações políticas para hospedar alguma seleção, nada de sério aconteceu. Apenas uma viagem no "oba-oba" que a Copa provoca, dando margem à interpretações de que "há trabalho", ou algo do gênero.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Na Copa, Joinville sai na frente

POR JORDI CASTAN



Joinville consegue atrair a atenção mundial. A própria Fifa deve enviar um representante para a inauguração do Parque da Copa em abril. Joinville marca um gol de placa, ao modificar o projeto original do Porta do Mar para o Parque da Copa, uma jogada de marketing turístico: saber aproveitar o momento e projetar Joinville como a primeira cidade do Brasil a fazer um parque para a Copa.

A ideia de construir uma trave olhando a Baía de Saguaçu e encher o chão com réplicas em concreto da "Brazuca" é uma das boas iniciativas da administração municipal. Criatividade em modo “on”. Apesar de que nenhuma das seleções participantes escolheu Joinville como sede, temos a oportunidade de emplacar na mídia internacional.

Pena que os "parques" do Fonplata sejam a imagem de como funciona (ou melhor, como não funciona) o serviço público em Joinville. Obras caras, orçamentos estourados, atrasos no cronograma que se alastram sem solução pelas várias administrações. E que, depois de inaugurados de forma precária ou incompletos, em poucos meses apresentam um estado de abandono e de deterioro lastimável e injustificado. Fixar data de inauguraçao para um desses parques é um mico tal que não há uma que não tenha sido remarcada em mais de uma ocasião.

O plantio de árvores não atende nem as especificações técnicas de altura, DAP (diâmetro a altura do peito) ou a formação adequada da galhada. E se fosse pouco, ainda há quem ache que manutenção de parques e praças se reduz à roçada periódica do mato que toma conta dos canteiros. O resultado desta evidente falta de competência técnica para assumir uma responsabilidade como esta - ou a visão excessivamente simplista da gestão de verde urbano - é o quadro que aí está: parques abandonados, mato tomando conta, plantas mortas que não são substituídas. E em pouco tempo os parques se degradam e se convertem em espaços ocupados por marginais durante boa parte do dia. O resultado é dinheiro público jogado pela sarjeta e parques e praças que não atendem o objetivo para que foram projetados.




O pior é que entra governo, sai governo e o tema parques e praças se mantêm inalterado.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Festival de Bizarrices que Assola o País II


POR CLÓVIS GRUNER

Fiquei meio fora do ar a semana toda. Sem tempo até pra fuçar no Facebook, alimentei secretamente a esperança de, ao colocar de volta a cara na realidade – virtual ou não – seria gratamente presenteado com algumas boas notícias. Mas nada: o noticiário continua a produzir bizarrices em escala geométrica. Tantas que precisei de um bisturi para selecionar apenas as quatro que compõem o segundo volume do meu Febiapa – o Festival de Bizarrices que Assola o País.

DO DOMÍNIO DO FATO AO DOMÍNIO DO FRETE – Com um zelo surpreendente para uma imprensa e mídias que há até alguns dias pareciam dispostas a moralizar o país, ficamos sabendo do “helicóptero de carreira” de um deputado estadual de Minas Gerais, apreendido com inacreditáveis 400 quilos de coca. Não, você não leu errado nem eu me equivoquei: não eram 400 litros de Coca, a Cola, mas quase meia tonelada do mais puro pó, aquele que não levanta poeira. O deputado se chama Gustavo Perrella e pertence a um partido recentemente criado, o Solidariedade. Ele e o pai, o senador José Perrella (PDT), são aliados do governador e presidenciável Aécio Neves, do PSDB, o que talvez explique a solidariedade – com o perdão do trocadilho – dos meios de comunicação. O deputado tratou de responsabilizar rapidamente piloto e co-piloto, afirmando nada saber sobre a carga cheirável transportada em seu helicóptero.  Aliás, o combustível da eufórica viagem foi todinho pago pela Assembleia Legislativa de Minas. Bizarro.

DURA LEX, TUDO BEM; MAS SED LEX JÁ É VANDALISMO – Flagrado como responsável por um rombo de mais de meio bilhão de reais – estimativas falam de R$ 570 milhões, aproximadamente –, o PSDB decidiu se defender. E o fez acusando o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de manipular as investigações sobre a quadrilha que, sob o comando de tucanos de altíssima plumagem, passou os últimos anos superfaturando obras no metrô paulistano. E como o ministro teria manipulado o processo? Ora, enviando provas e demais documentos do caso à Polícia Federal. Isso mesmo. Para a alta cúpula tucana, o problema não é o superfaturamento, nem a propina paga aos políticos do PSDB ou os enormes prejuízos causados aos cofres públicos de São Paulo. O problema mesmo, de verdade, é que o Ministro da Justiça fez o que se espera de um Ministro da Justiça e encaminhou documentos e provas à PF, tudo com a clara intenção de prejudicar o PSDB e desviar a atenção para a prisão dos mensaleiros, óbvio. Não deu muito certo, porque os principais veículos de informação continuam a falar muito de Dirceu e Genoíno e muito pouco da corrupção em São Paulo, numa desproporção que seria intrigante não fosse tão reveladora. Em homenagem a FHC: très bizarre.

DIVERSIDADE, DESDE QUE BEM BRANQUINHA – Como quem manda na Copa é a FIFA, e o Brasil será sede do certame em 2014, andamos um tanto submissos aos caprichos da entidade. E eles são muitos. Nessa semana, os donos da bola decidiram que Lázaro Ramos e Camila Pitanga não era o casal apropriado para apresentar a cerimônia do sorteio da Copa do Mundo. Vetados, foram substituídos por Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert. Não se trata, claro, de racismo – afinal, não somos um país racista, nem tampouco a FIFA, não é mesmo? Tanto que Margareth Menezes e Olodum, entre outros artistas, se apresentarão na mesma cerimônia, tudo para mostrar ao mundo a diversidade étnica brasileira, segundo ainda a mesma FIFA. Trocando em miúdos: animar a plateia, tudo bem. Afinal, se temos anualmente o carnaval, não custa organizar um fora de hora para exportar via satélite nossa contagiante alegria. Mas ser mestre de cerimônia exige classe e postura, e o que pensariam plateias mundo afora ao serem confrontadas com a imagem improvável de dois negros apresentando uma cerimônia oficial? A lógica da FIFA parece ser a mesma dos comentadores anônimos de blogs: se mostramos ao mundo nossos negros e escondemos nossos talentos brancos, alguém vai pensar que somos racistas. Democracia racial se faz garantindo igualdade de oportunidades, diriam esses mesmos anônimos. Mas a responsabilidade não é da entidade maior do futebol se alguns são mais iguais que os outros. Bizarro, tudo muito bizarro: o veto e os anônimos.

“IDEOLOGIA-A, EU QUERO UMA PRA VIVER” – Quando o escreveu, Cazuza certamente não imaginou que seu verso ecoaria tanto e tão profundamente na direita conservadora brasileira. Fica difícil imaginar o que seria dela, hoje, sem ter uma ideologia para temer e ideólogos por toda parte para odiar. A bola da vez é a professora Cléo Tibiriçá, professora de Comunicação e Expressão na Fatec de Barueri . Ela virou objeto de bullying virtual levado a cabo por uma organização chamada “Escola sem partido”. A tal organização a acusou publicamente de colocar em prática um plano de ensino que objetiva criar “a maior aversão possível a tudo o que não se identifique com uma visão esquerdista ou progressista da sociedade, da cultura, da economia e da história”. Se não estivesse tão ocupado em entender como o gramscianismo adentrou o Vaticano, depois da declaração do Papa sobre a economia de mercado, Olavo de Carvalho certamente acusaria Cléo Tibiriçá de conspirar contra a Civilização Ocidental. O caso é apenas mais um em um elenco de aberrações produzido pela organização, que se diz neutra, mas trata professores como criminosos e alunos e pais como um bando de imbecis. Além disso, basta uma visita à sua página e a apregoada neutralidade cai por terra. Nela, pipocam artigos de viés de direita e conservador, assinados por um elenco de autores a quem se pode acusar de tudo, menos de não terem uma ideologia. Nada contra, há quem goste e se identifique com o estilo “I see red people”. Mas se a organização insiste em policiar e atacar a ideologia dos outros e disfarça a sua própria sob o manto de uma suposta e mentirosa neutralidade, a coisa é mais que bizarra. É desonesta.