POR CHARLES HENRIQUE
Acompanhamos nos últimos anos uma preocupação enorme com o Aeroporto de Joinville. Desde a novela do ILS até as árvores que foram responsáveis pelo cancelamento de diversos voos por aqui. Os nossos representantes se organizaram (pressionados pelas entidades empresariais e segmentos da imprensa local) e estão, paulatinamente, realizando melhorias neste aparelho público. Mas há gente remando contra a maré: as companhias aéreas, que cessam cada vez mais as operações por aqui.
Num não tão distante ano de 1998,
o jornal A Notícia já abordava que equipamentos mais avançados seriam necessários para combater o mau tempo responsável pelo cancelamento dos voos. Surgia aí o ILS (aquele aparelho que ajuda nas condições adversas de visibilidade) no vocabulário dos joinvilenses. E, 11 anos após esta reportagem, nada foi feito, dando lugar para o maior pico da crise:
as principais companhias suspenderam grande parte de seus voos, pelas péssimas condições nas cabeceiras da pista. As árvores foram cortadas pela Prefeitura (após longa novela), políticos (e empresários) se deslocaram até Brasília e Rio de Janeiro pedindo mais atenção com nosso Aeroporto, e foram atendidos.
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Fachada do Aeroporto de Joinville. Foto: Divulgação Infraero. |
A Infraero (órgão do Governo Federal responsável pelo Aeroporto) e a Prefeitura (responsável pelas desapropriações no entorno) assumiram a responsabilidade e fizeram alguns investimentos. O saguão foi ampliado, projetos de ampliação da pista foram concebidos, torre de controle será modernizada, e, mais recentemente,
o edital para a instalação do ILS foi lançado. Todos estes esforços fizeram com que o Aeroporto atraísse novas empresas e batesse um recorde de passageiros em 2011. E o projeto de Aeroporto em Araquari, alternativa para o “fracasso” do nosso Aeroporto, está praticamente esquecido na gaveta da SC Parcerias.
Acontece que, com todos estes esforços e recordes de movimentação, o Aeroporto vem sofrendo duras punhaladas. Todas as companhias já fizeram alterações em seus voos, diminuindo a oferta de quando aportaram por aqui (aumentando os preços – lei da oferta e da procura). O mais preocupante é que todos os pedidos foram realizados recentemente, após todo o esforço do poder público. Os voos saem lotados (ou quase) e cada vez menos gente utiliza Curitiba ou Navegantes para viajar.
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Aeroporto de Joinville, vista aérea via Google Earth. |
A Azul Linhas Aéreas, segundo o blog Joinville Spotting (destinado a compartilhar informações do Aeroporto de Joinville) relata que
“A Azul entrou ontem (6 de março de 2012) com pedido junto a Anac solicitando a exclusão de dois de seus voos entre Joinville e Campinas. São os voos 4150 e 4153 que eram operados aos domingos por aeronaves E190/195. Esses voos existiam desde o início das operações da Azul em Joinville.” E quando a empresa não exclui voos, coloca aviões menores:
"A Azul entrou com pedido ontem (20 de dezembro de 2011) junto à Anac solicitando alteração em dois de seus voos em Joinville. De acordo com o pedido o voo 4378 partirá de Campinas às 16h34 e chegará em Joinville às 18h00. No sentido oposto o voo 4379 partirá de Joinville às 18h40 e chegará em Campinas às 20h08. Esses dois voos serão operados de Domingo a Sexta-feira pelo ATR-72. Este pedido consta como alteração. Paralelamente, a Azul solicitou alteração de equipamento em dois voos operados pelo ATR-72 entre Campinas e Maringá. O horário de partida e chegada destes voos em Campinas são respectivamente 17h55 e 20h58, justamente os horários dos voos 4247 e 4278 que operam os E-195 entre Campinas e Joinville. Da mesma forma, os horários 16h34 e 20h08 em Campinas que foram solicitados agora pela Azul correspondem aos voos atualmente operados pelo ATR-72 em Maringá. Dessa forma entende-se que está havendo troca de equipamentos e slots entre os voos para Joinville e Maringá, sendo que haverá redução de oferta em Joinville e aumento em Maringá. Para resumir, os ATRs que iam para Maringá agora virão para Joinville e os Ejets que vinham para cá, agora irão para Maringá.”
A Trip Linhas Aéreas também modificou a sua atuação por aqui:
“Também na última quinta-feira a Trip entrou com pedido de alteração dos voos 5644 e 5645 que ligam Guarulhos, Joinville e Criciúma, perdendo a última etapa que era Porto Alegre.” (Joinville Spotting, 28 de agosto de 2011). E ainda:
“A Trip Linhas Aéreas deixou de operar os vôos 5610 e 5611 que ligavam diariamente Joinville e Guarulhos, sendo o último vôo no domingo, 9 de Janeiro. Os dois vôos, no entanto, continuam sendo operados pela empresa com outro destino: Maringá, no estado do Paraná, desde 10 de Janeiro.”
A GOL Linhas Aéreas Inteligentes também entrou na mesma onda recentemente:
“A empresa entrou com pedido de alteração de dois de seus voos na última quinta-feira. Trata-se dos voos 1376 e 1377 que fazem a ligação entre os aeroportos de Joinville e de Congonhas, em São Paulo. De acordo com o pedido, os voos 1376 e 1377 agora passarão a fazer a ligação entre São Paulo e Presidente Prudente. Dessa forma, a Gol deixará de operar em Joinville no período matutino e como consequencia, deixará de operar também aos sábados, já que estes eram os dois únicos voos operados pela empresa aos sábados.” (Joinville Spotting, 21 de Janeiro de 2012)
Finalmente, a TAM foi a empresa que mais remanejou horários nos últimos meses:
"Há pouco mais de um ano a Tam pretendia ampliar suas operações na cidade através da Pantanal, mas o pedido teve restrição da Anac e foi retirado. Há dois meses atrás a empresa remanejou seus horários em Joinville e Navegantes, com troca de slots em Congonhas, antecipando o horário dos voos 3033 e 3034. No início de Agosto houve novo pedido de alteração de horários, sendo que os slots dos voos 3038 e 3039 estavam passando para os voos 3114 e 3115 que ligarão Congonhas e Hercílio Luz, aprovados na última quinta-feira, vigorando a partir de 3 de Outubro de 2011." (Joinville Spotting, 28 de agosto de 2011)
Quando tudo parece que conspira a favor, sempre alguém rema contra a maré. Desta vez são as companhias. O boom aéreo que o país sofre (cada vez mais as classes C e D estão utilizando o modo aeroviário de transporte) também chegou por aqui. Está na hora dos empresários e poder público cobrarem uma atitude destas empresas, caso contrário, buscarem alternativas como WebJet, Avianca e Passaredo. Talvez a concorrência seja o que mais precisamos neste momento, e nos livrarmos da “vergonha” que era o Aeroporto.