POR GUILHERME GASSENFERTH
Com o pacote de concessões lançado pelo governo Dilma,
reacenderam-se as discussões sobre privatização. Os fantasmas de Vale e das teles
foram invocados pelos que odeiam a privatização, acompanhados de um discurso
nada educado sobre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Eu saúdo a
presidente Dilma pela decisão que considero acertada e que espero ver estendida
a aeroportos e portos, por exemplo.
Em Joinville, tivemos um recente exemplo de privatização que
é motivo de aplauso. Embora o nome cause arrepios numa gestão petista, que
tenta a todo custo afastar o rótulo “privatização” (esforçam-se para “desvilanizar”
um inocente), é o que foi feito – entregar às mãos da iniciativa privada após
reconhecimento da incapacidade. Felizmente.
Anuncia-se aos quatro cantos que Joinville é a cidade do
turismo de eventos e negócios. Dá a impressão de que somos a Meca dos congressos,
quando na verdade o que passamos é vergonha. Não foram um nem dois casos de
organizações que após sediarem aqui seu evento disseram: Joinville, nunca mais.
Os camarins do Centreventos, a grande arena multiuso construída
sem nenhum esmero técnico, são vergonhosos. Ano retrasado, ao participar da
comissão organizadora de um evento da cidade, tive que ficar na porta do
banheiro vigiando pra ninguém entrar enquanto um empresário de renome
internacional defecava. Deu pra imaginar o constrangimento pra cidade? É só uma
fechadurazinha de merda, gente. Literalmente. E aí temos acústica, logística,
climatização e outros problemas bem maiores.
O teatro Juarez Machado é uma piada de mau gosto com Joinville.
O Expocentro, em dias de chuva, não deixa os visitantes esquecerem da fama da
cidade: goteiras por todos os cantos. E em dias de sol, o calor senegalês toma
conta da atmosfera do pavilhão. E o que são as salas do “centro de convenções”
Alfredo Salfer? Este é um equipamento de turismo de eventos, ainda nas mãos do
governo – incapaz de reinvestir 1% do faturamento dos eventos ali sediados. Então, por que não repassar a uma empresa que consiga arrumar tudo isto?
Agora, volto a reconhecer o mérito da concessão da Expoville
à iniciativa privada. Parabéns à Promotur e à Prefeitura. Em troca do direito
de exploração por 25 anos, a empresa vencedora do edital terá que investir mais
de 30 milhões de reais na construção de um centro de convenções decente (com
auditório de 2.106 lugares, mais 8 salas para 204 lugares cada e ainda 6 salas
de reunião com 12 lugares), ampliação do espaço para feiras (que será o maior
do Sul do Brasil), readequação de todo o espaço e criação de um parque público
utilizando a boa área verde existente por lá.
E talvez você se questione: e o que a Prefeitura e Joinville
ganham com isto? Tudo! Com o modelo que foi proposto, a empresa deverá pagar
uma comissão de 5% sobre o faturamento dos eventos (além dos tributos devidos)
e devolver o equipamento (com todas as benfeitorias) após 25 anos. Por si, isto
já seria motivo suficiente para ser um bom negócio. É importante ressaltar
também que a Prefeitura não teria recursos para arcar com a obra, o que
atrasaria ainda mais a superação desta demanda tão importante pra cidade.
Mas indo mais além, a expectativa é de triplicar o número de
eventos atraídos à cidade, além de qualificar os que já existem por aqui. Isto
significa que, numa conta rasteira, triplicaremos o ISS proveniente da
prestação de serviços de eventos. Também os restaurantes, bares, taxistas,
lojas, hotéis e prestadores de serviços ganharão mais e precisarão gerar
empregos para dar conta da demanda. E se fizermos a lição de casa e mostrarmos
nosso potencial e criarmos infraestrutura, o turista volta com a família pra
conhecer a cidade outro dia. O turismo, se bem aproveitado, gera um ciclo
virtuoso. E todos ganham.
Em sendo assim, e tendo a Prefeitura tido a coragem de iniciar
este processo (também porque não lhe restavam muitas saídas), não ofende
perguntar: por que não vão na mesma onda Centreventos Cau Hansen (e equipamentos
anexos) e Arena Joinville? E o que dizer de ampliar a rede de saneamento básico com parceria público-privada? E mais um hospital na Zona Sul? Eu incluiria a BR-280 e o Aeroporto de Joinville,
mas aí a alçada não é nossa.
E você, concorda que passa pela iniciativa privada a solução
de muitos de nossos problemas?