sábado, 18 de fevereiro de 2012

Acrescentar um ponto ao debate: Conselho de Usuários e Usuárias do Transporte Coletivo.


POR MAIKON K

O debate sobre o futuro do transporte coletivo na cidade ganha novos espaços. A primeira audiência pública sobre o tema, organizada pela Comissão de Licitação - cuja composição é de 100% de membros da PMJ (Prefeitura Municipal de Joinville) - deixou a desejar, por justamente não abrir a participação de diferentes setores da cidade que debatem o transporte coletivo. Ao mesmo tempo, as duas audiências (a segunda está marcada para o dia 27 de fevereiro) se mostram com uma tintura democrática, porque segundo a PMJ, o futuro do transporte em Joinville já tem destino definido: controle e exploração da iniciativa privada, longe dos interesses da população.

A FLPT (Frente de Luta pelo Transporte Público) por quatro anos constrói sua visão sobre o funcionamento e importância de transporte público, gratuito e de qualidade para a cidade. Debates e seminários com diferentes vozes formularam com base concreta o projeto Tarifa Zero. O projeto está em discussão no Blog Chuva Ácida. Manifestações ocuparam as praças e as ruas da cidade, única maneira de se fazer ouvir pelo poder municipal, já que o debate com as vozes dissidentes na perspectiva política radical, ainda sofre muita resistência. Eu quero acrescentar um ponto, ainda de maneira introdutória e superficial, que é a formação de um Conselho de Usuários-as do Transporte Coletivo.

A prática política atual está convencionada aos espaços institucionais. Ou seja, tudo que acontece fora da Câmara de Vereadores, da PMJ e dos Partidos está condenada a ser ignorada, tratada com indiferença ou classificada a “rebeldia juvenil”. A FLPT está na contramão da presente prática política, se coloca com disposição a auto-organização das vozes dissidentes por um transporte público. Fato que leva a descrença de setores mais tradicionais da esquerda joinvilense, da grande mídia local e da PMJ. A prática política FLPT é a democracia das ruas. O entendimento dos espaços abertos da cidade proporciona que a cada pessoa inserida na luta traga o seu ponto de vista, seu acúmulo teórico e prático sobre o tema, criando um poder de voz e de voto diferente do que acontece nos espaços institucionais, onde o futuro da cidade é determinado por representantes ligado à exploração econômica e dominação política e cultural. Antes que você afirma algo, já digo, não é a anarquia nas ruas, mas uma tentativa de ampliar o entendimento prático de democracia.

No mesmo cenário, homens e mulheres mantêm entusiasmos com os espaços “democráticos” assegurados pela Constituição de 88 e pelo Estatuto das Cidades. Consideram os Conselhos Municipais como uma via necessária, porque não dizer fundamental, a ser ocupado por nós. Quando críticas são feitas aos Conselhos Municipais, os argumentos estão baseados que os espaços são conduzidos por pessoas corruptas, mesmo assim, ainda se mantém fé nesses espaços institucionais. Porém, nos últimos anos vivenciamos um pouco mais do que simples corrupção. Vemos Conselhos funcionarem para manter a “ordem”, “paz social” e o “trabalho”. Cito somente dois fatos relacionados ao Conselho Municipal da Cidade :  Em 2009,  a articulação do tal Conselho ignorou as vozes dissidentes, na época publiquei sobre a  questão, leia:

Conselho (06 de agosto)

Quando a dança não é para todos (08 de agosto)

Uma raivosa resposta a Charles Henrique (13 de agosto)

Outro fato é que a Justiça cancelou as deliberações do Conselho Municipal da Cidade, mais informações na reportagem do Jornal A notícia, publicada no último dia 14 de fevereiro de 2012.

Por isso, quando falo, e em certo aspecto a FLPT também argumenta, sobre Conselho de Usuários e Usuárias, não faço referência ao modelo pouco participativo, de fácil manipulação para os interesses de quem explora economicamente e domina politicamente e culturalmente os caminhos da história escrita no tempo presente, como nos Conselhos Municipais.

O que trago para vocês é a ideia de que não basta uma empresa pública com transporte público e gratuito, torna-se fundamental a criação de um Conselho de Usuários, que seja proibida a participação da iniciativa privada e da PMJ. A legítima organização de usuários e usuárias do transporte coletivo.



As possíveis responsabilidades do Conselho:

A) que os (as) participantes não sejam remunerados e nem ocupem cargos comissionados na PMJ e na Câmara de Vereadores, menos ainda na iniciativa privada que explora a questão da mobilidade urbana.

B) que os conselhos sejam organizados nas 14 secretárias regionais, mas completamente independente da PMJ.

C) que seja responsável pela fiscalização do funcionamento, dos gastos, das arrecadações para a aplicação da gratuidade

D) que seja responsável pela elaboração, junto com os técnicos responsáveis pelo setor de mobilidade urbana, da criação e mudanças das linhas disponíveis, a condição de trabalho dos motoristas, mecânicos e outros profissionais que trabalham para o funcionamento do transporte

E) que seja responsável pela acessibilidade de pessoas com necessidades físicas, visuais, de ciclistas e outros (as).

No presente blog, quando é citada a necessidade de um transporte público, os descrentes com os serviços públicos apontam o quanto os homens e as mulheres que compõem o Estado são responsáveis por corrupção, gastos excessivos e má gestão. Eu concordo com esses apontamentos na realização da cidade capitalista, apesar de acreditar que essas práticas estão contidas na própria existência do Estado. Porém, torna-se fundamental defender os serviços públicos básicos para todas as pessoas. Dentro do contexto de construção de luta, a criação de um Conselho de Usuários e Usuárias é uma tentativa para evitar os desvios corruptos e de interesses privados em detrimento da população local.

Maikon K é membro da Frente de Luta pelo Transporte Público, professor do ensino fundamental e médio e trabalhador da cultura na CIA Rústico Teatral.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Joinville em poemas e problemas

POR GUILHERME GASSENFERTH

Joinville é uma cidade
lotada de problemas.
Vou sem dó nem piedade
falar sobre alguns temas.

A biblioteca, coitada,
se a visse Rolf Colin
deste jeito abandonada
choraria sem ter fim.

Biblioteca sem teto
Museu interditado
Não posso ficar quieto
Muito triste tenho achado.

E falando em interdição
lembrei-me das escolas:
descaso, decepção!
Como pode, oras bolas?

E da Câmara, que falar?
Os nossos maus vereadores
ao invés de legislar
só nos causam dissabores.

Além disso é só olhar,
com os carros do Odir,
não precisam trabalhar,
basta apenas dirigir.

E falando aqui de carro
nosso trânsito tá horrível.
Isto tudo é bem bizarro
pois o imposto está incrível.

De bicicleta nem pensar
não dá para ser feliz
se ninguém te atropelar
então foi por um triz!

De busão fica difícil
desconforto e lotação
além de tanto sacrifício
o preço é deste tamanhão!

Se eu não vou com a Transtusa,
"opto" pela Gidion
esta escolha é obtusa
porque como tá não está bom.

E nem mesmo de avião
é possível ter conforto
porque ali no Cubatão
já tá pequeno o aeroporto.

E agora vou dizer:
obrigado, seu Carlito
mais espaço pro lazer
nosso parque tá bonito

Mas não posso me furtar 
a falar com sinceridade:
É preciso batalhar
por um parque de verdade!

Não esqueçamos da saúde
muito menos do Zequinha
vemos cada vez mais amiúde
superlotado na telinha.

Vendo assim até dá pena
e a toda hora, o tempo inteiro
entoam a mesma cantilena
"Isto é falta de dinheiro!"

Mas não se engane, não Senhor
quando ouvir este bordão
digo isto sem temor
O problema é de gestão

O Carlito até tentou
melhorar a administração
E onde foi que ele errou?
Foi na comunicação.

Mas até gosto no geral,
da gestão deste Carlito.
Se tá errado eu meto o pau, 
mas se tá bom eu admito!

Acredite, Joinville ficará boa!
mas pr'isso se concretizar
e não ter sido tudo à toa
pense muito bem na hora de votar.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Escolher entre fazer o fácil e o difícil




POR JORDI CASTAN

Sem chegar ainda a ser uma situação apocalíptica, Joinville não apresenta muito bom aspecto. A quantidade de pessoas, das mais diversas origens e condições, que manifestam o seu descontentamento pelo estado em que a cidade se encontra é elevada demais para que se possa falar em orquestração.

Por que será que a cidade parece regredir em lugar de avançar, como todos gostaríamos. Alain de Botton, o conhecido filosofo suíço, que esteve no Brasil há poucos dias, responde com a simplicidade que lhe é característica: “A desordem, o caos e mais fácil, a ordem, a organização dão mais trabalho.” Simples assim.

Organizar, planejar, prever, fazer, resolver exige mais esforço e capacidade que procrastinar, esquecer, deixar de fazer ou em outras palavras olhar para o outro lado. A facilidade com que nos deixamos levar pela senda do menor esforço é evidente. Nem precisamos enumerar os prédios públicos que estão interditados ou em estado precário. As obras inconclusas, interrompidas ou deterioradas prematuramente: todos conhecemos mais de media dúzia. A situação é tão comum que a imprensa quase nem noticia mais.

Estes são os pontos em que as pessoas se fixam para chegar à conclusão de que as coisas não estão bem. A percepção, por outro lado, tem um peso importantíssimo. O que passa a ser verdade é aquilo que as pessoas percebem com verdadeiro. De nada adianta gastar pequenas fortunas para repetir que três praças são um parque, ou que nunca se fizeram tantas obras, ou que a qualidade das obras públicas agora é muito melhor que no passado. O que conta é a percepção.

À medida que o tempo passa, e há menos areia na parte de cima do relógio, é mais difícil acreditar que o que não foi feito antes será feito agora. Porque quem escolheu seguir o caminho mais fácil dificilmente vai mudar a sua forma de agir. Mudar a forma de agir toma tempo, exige esforço, mudanças comportamentais. E nem sempre tem sucesso. Quando se trata de uma pessoa já é difícil, quando se fala de cultura organizacional é quase impossível. Se além de todas estas dificuldades, ainda há resistências internas e se a organização em questão muda de direcionamento a cada quatro anos, pode ser uma missão impossível.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A resposta da comunidade

POR FELIPE SILVEIRA

A discussão [sem noção] sobre parque ou praça ficou pra trás, conforme imaginado. No presente a história é outra e o Parque da Cidade mostra todos os dias o quanto era imprescindível para a população joinvilense.

Duas vezes por semana, pelo menos, eu vou ao parque para jogar basquete. Talvez porque estávamos em período de férias escolares, quase sempre tive que esperar para poder usar uma das tabelas, sempre ocupadas. Enquanto esperava, gostava de observar o movimento intenso do parque. Seja na academia da melhor idade, usada por gente de todas as idades, ou na pista de corrida. Ou mesmo nos banquinhos, sempre ocupados por amigos ou famílias, que gostam de ficar apenas conversando. Ah, claro, não posso me esquecer do senhor que ficava pulando corda, sozinho, bem no meio do setor Bucarein. Ele poderia fazer isso na garagem de casa, mas, sei lá por que, ali é mais legal. E nem vou falar da pista de skate e das quadras do setor Guanabara, já que mal passo por lá, mas sei que estão sempre cheias.

Então, parque ou praça, o importante é que o espaço desempenha um papel cada vez mais importante na vida de algumas pessoas. E nem vou falar da comunidade, já que eu já joguei bola com gente que veio do Itinga e com gente que veio de Pirabeiraba.

Ressaltei a importância do parque para as pessoas porque Joinville precisa de mais. Mais parque, mais praça, mais pista de corrida, mais pista de skate, mais tabelas para o basquete e mais redes de vôlei. Apesar de gostar de pedalar até o parque, eu adoraria poder jogar basquete aqui na Praça Tancredo Neves, do lado de casa, cuja fama, desde que eu me entendo por gente, é de "lugar de maconheiro". E eu tenho certeza que isso pode mudar.

Particularmente, não vejo motivo para que não tenha pelo menos duas tabelas de basquete em cada praça da cidade, já que o espaço necessário é muito pequeno. Digo o mesmo para a rede de vôlei, apesar de entender que neste caso o objeto está mais sujeito ao vandalismo. Confesso que fico um pouco decepcionado quando vejo uma praça nova sem uma tabelinha.

Ah, e não posso esquecer de uma velha reclamação do pessoal do basquete. A tabela não pode estar na quadra de futsal, pois isso gera uma disputa pelo espaço por diferentes grupos. Cada um com o seu espaço.

Sobre o vandalismo, apesar de ser um problema sério, é um problema que tem que ser encarado de frente, até que as pessoas tenham a consciência devida do que é público e o cuidado que se deve ter com aquilo que é de todos.

Fica, então, a minha singela sugestão para que cada vez mais seja investido em parques, praças, espaços para a prática esportiva e outros locais que sirvam simplesmente para um passeio com a família ou uma conversa com os amigos. O resultado, que é ganho em qualidade de vida, pode ser observado em poucos meses.


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

iPads para os Deputados Estaduais. Computadores ultrapassados para as Escolas Básicas.

POR CHARLES HENRIQUE

Há alguns dias algo vem me martelando a mente. E mais uma vez, vem lá da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina:

“Na volta dos deputados estaduais ao trabalho, nesta terça-feira, cada um deles vai ganhar um iPad para trabalhar. Os equipamentos foram comprados pela Assembleia Legislativa, que gastou R$116 mil na compra de 45 aparelhos e capas protetoras. […] A intenção, segundo a instituição, é facilitar o acompanhamento da tramitação de processos por parte dos parlamentares, reduzindo a circulação de documentos em papel.” (Grupo RBS, 6/2/2012)

Sobre esta importante aquisição para os nobres legisladores, temos dois pontos a debater: 1) a eficiência de um iPad para o dia-a-dia do deputado e 2) o custo financeiro.

(Foto: Divulgação ALESC)

Um deputado estadual já ganha um salário muito gordo (20 mil reais) e tem uma verba de gabinete estratosférica, com uma quantidade maior ainda de assessores, sem contar as diárias de 670 reais como já denunciamos aqui no Chuva. Será que mesmo assim o deputado precisa ganhar um iPad, visto que sua renda mensal é tão pouca, e que este item indispensável tem que ser comprado em massa, simbolizando um “presente”? O plenário é todo informatizado, os gabinetes também. Deputados não cansam de twittar de seus celulares mega potentes. E agora todos têm um iPad. Tá bom, fui convencido...

Por outro lado, este indispensável item custará em média 2.500 reais (R$116.000/45 = R$2.577,78). Este é o preço de mercado do iPad mais avançado que está a venda, com wi-fi, 64GB, e acesso 3G. Tudo tem que ser do mais top, não é?

(Foto: Divulgação ALESC)

Em contrapartida, as escolas do Estado de Santa Catarina sofrem. E não vi nenhum deputado catarinense cobrar do Governo do Estado uma melhor política de inclusão digital nas escolas, bem como a compra de tablets (para as crianças aqueles tablets sem qualidade, por favor!) que favoreçam um diálogo maior de nossa juventude com a tecnologia mais avançada. Os computadores que aparecem por aqui são aqueles baratinhos, com a tecnologia mais simples possível, e professores de informática mal treinados, e, por fim, sem um responsável pela manutenção dos aparelhos. Deixam acumular uma quantidade significativa de aparelhos estragados, para aí sim licitar o conserto.

(Foto: Divulgação ALESC)

Não está na hora dos deputados olharem para Santa Catarina de outra forma?

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

No circo da Câmara, os palhaços estão na plateia!

POR GUILHERME GASSENFERTH

A Câmara de Vereadores de Joinville especializou-se em sair da sua especialidade.

No ano passado, vimos o bizarro espetáculo da mediação da greve dos servidores municipais – coisa que não tem nada a ver com as atribuições daquela Casa. Não sei se era um teatro de tragédia, comédia ou farsa. Soou como demagogia, mas deve ter sido apenas impressão minha.

No fim do ano, o presidente Odir Nunes – que depois de alguma pressão resolveu dividir a gostosa incumbência com outros vereadores – confundiu as atribuições do Legislativo com Executivo e passou a decidir o destino das sobras de recursos da Câmara. É de fazer Montesquieu arrepiar-se em sua tumba. Não é mais o Executivo que decide o que fazer com o dinheiro, é o Legislativo – como se as sobras não voltassem automaticamente para os cofres da Prefeitura. As entidades que receberam parte destes recursos têm o nobre edil em alta conta agora. Soou eleitoreiro, mas deve ter sido apenas impressão minha.

E volta a lenga-lenga com os polêmicos carros da Câmara. Quando assumiu, o presidente Odir resolveu moralizar o uso dos carros na Câmara. Os veículos antes só podiam pernoitar em órgãos públicos ou na própria Casa e serem usados de segunda a sexta – sem salvo-conduto para partidas de futebol. Com a posse de Odir, podem ser usados independentemente do dia, e podem agora pernoitar na casa do legislador, de seus assessores. Soou como confusão patrimonial, mas deve ter sido apenas impressão minha.

E aí, no ano passado, aumenta em 61,4% a quilometragem dos carros na Câmara. De 181,3 mil para 292,6 mil. Vamos escutar as razões que permitiram este pequeno aumento. Do diretor-geral da Câmara, Flávio Boldt, publicado em ANotícia deste 13/02/2012: “Eles [os vereadores] estão mais atuantes nos dois últimos anos. O aumento da quilometragem reflete o aumento do trabalho do Legislativo”. Oh, sim. Soou delirante, mas deve ter sido apenas impressão minha.

Odir, que disse ter implantado “um choque de gestão” na Câmara, deve ter se eletrocutado com o próprio choque e afetou sua capacidade de argumentação lógica. Veja o que ele diz, sobre o aumento da quilometragem e suas regras permissivas de uso dos carros: “Aumentou a quilometragem justamente porque o controle que fazemos é rígido”. Ah, bem. Soou incoerente, mas deve ter sido apenas impressão minha.

E a Câmara inicia o ano mais uma vez saindo de sua especialidade legislativa. Agora, o plenário da Câmara transformou-se também em palco de um hilário espetáculo de humor, de fazer inveja a qualquer bom circo. Mas os palhaços estão na plateia. 

Vou de táxi

POR JOSÉ ANTÓNIO BACO
Não entendo muita coisa de mobilidade urbana (há muita gente mais habilitada que eu para discutir essas coisas). Mas fico à vontade para dar o meu pitaco quando sou afetado pela imobilidade urbana. É o que acontece em quase todas as minhas  férias em Joinville.
Tenho uma regra. Sempre que saio com amigos para tomar uma cervejinha (o turismo da cirrose é o único que realmente funciona em Joinville) não levo carro. Como vivo em Portugal e lá a tal lei seca é para cumprir,  estou habituado a não dirigir quando bebo. Então opto pelo transportes públicos.
Mas o lógica não serve para Joinville. Usar ônibus aqui é inviável. Os pontos são longe de casa, os horário não ajudam, não há grande conforto, o preço é um pouco salgado e as linhas não me levam onde eu preciso ir. Então a solução é usar táxi.
Ok... mas não é bem uma solução. Acontece que os preços praticados em Joinville são um bocadinho mais caros que em Lisboa. Exato. Os táxis em Joinville custam um nadinha mais que em uma capital européia.  E o serviço deixa a desejar, em especial para o turista habituado a outras realidades.
Dá para entender que seja o cliente a procurar o táxi, indo ao ponto ou telefonando. Tudo bem. Mas há momentos em que a coisa não funciona. Quando chove, por exemplo, é muito difícil encontrar um táxi na cidade. Os próprios taxistas com quem tenho conversado dizem que há necessidade de mais veículos.
Outra coisa que deveria ser levada em conta – porque os serviços devem ser focados na satisfação dos clientes – é a frota formada por muitos carros de baixa cilindrada. Digo isso não pela potência dos veículos, mas pelo conforto dos passageiros. Se eu estou a comprar um serviço quero ser bem atendido.
Tudo bem. Não precisamos chegar ao requinte de Lisboa, por exemplo, onde a frota é formada, em sua maioria, por Mercedes (carros obviamente mais espaçosos). Mas talvez devesse haver alguma exigência nesse sentido, porque andar encaixotado em carrinhos diminutos não é a minha idéia de bom serviço.
E há outro aspecto interessante do ponto de vista turístico. Os táxis de Joinville – na cor branca – parecem com outros carros particulares, não têm personalidade e não são memoráveis.  Pode parecer uma besteirinha, mas isso ajuda a construir a imagem da cidade na mente dos turistas.
Quem vai a Nova Iorque, Cidade do México, Madrid, Londres, Lisboa ou Curitiba sabe que os táxis ajudam a fazer a “marca-cidade”. Portanto, não havendo em Joinville uma alternativa aos ônibus (muita gente acha que há), talvez o pessoal devesse dar uma melhorada no serviço de táxis. Repito: não sou um especialista em mobilidade urbana e a minha análise é apenas o ponto de vista do turista.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Abortamento previsto em lei e políticas públicas: uma questão de direitos humanos


POR MIRYAM MASTRELLA

A temática do aborto é bastante polêmica, cercada de melindres e controvérsias. Mesmo nos casos em que a lei não pune a prática do aborto, percebe-se o peso de valores morais e religiosos na execução das leis e na formulação de políticas públicas, ainda que o Estado brasileiro seja, constitucionalmente, laico.(1)

O Código Penal de 1940 estabelece duas situações em que não se pune a interrupção da gravidez: 1) quando não há outra forma de salvar a vida da gestante; 2) quando a gravidez é decorrente de estupro e há o consentimento da mulher, ou seu representante legal, em relação ao aborto. Quando previsto em lei, fala-se em aborto legal. Caso a mulher decida pela interrupção, deve ter seu direito garantido pelo Estado.(2)

Na prática, entretanto, observa-se uma lacuna entre o que o dispositivo legal estabelece e a garantia de acesso ao procedimento nos serviços públicos de saúde. As políticas públicas foram implantadas tardiamente: somente em 1989, por iniciativa da Prefeitura de São Paulo, foi fundado o primeiro serviço de aborto legal, no Hospital Dr. Arthur Ribeiro de Saboya, uma unidade da rede pública de saúde.(3)

Somente em 1997 o Ministério da Saúde passa a regulamentar, por meio do Sistema Único de Saúde, o atendimento nos casos de aborto legal em âmbito nacional. Em 1999, com a publicação da Norma Técnica para Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes, percebe-se a tentativa do Ministério da Saúde em orientar as equipes de saúde para o atendimento às vítimas de violência sexual.(4)

Oficialmente são 70 serviços de referência credenciados pelo Governo para a realização do aborto legal em todo território nacional.(5) Nem todos, porém, chegam a realizar a interrupção da gestação, por diversas razões. Dentre elas, destacam-se: a insuficiência de profissionais dispostos a atuar nestes serviços; resistência de alguns profissionais que integram estas equipes a realizar o procedimento, mesmo nos casos previstos em lei; desconhecimento de alguns profissionais da legislação e das técnicas adequadas para a realização do procedimento; falta de padronização no treinamento das equipes; falta de apoio/atenção/acompanhamento aos profissionais responsáveis pelo acolhimento e assistência nestes serviços; falta de divulgação dos serviços de aborto legal existentes no País; desconhecimento, por parte das mulheres, da legislação.
Santa Catarina foi o último Estado da região Sul a implementar o serviço de abortamento legal: foi criado em 2006 e funciona no Hospital Universitário da UFSC, em Florianópolis, sendo o único do Estado a realizar a interrupção da gravidez. No ano de 2007 foram atendidas 437 mulheres vítimas de violência sexual em Santa Catarina. No entanto, até setembro de 2008 o serviço só atendia as catarinenses residentes na capital. A justificativa da médica da equipe, à época, foi a de que não realizar o procedimento em mulheres de outras cidades forçaria a criação de outros serviços de aborto legal no Estado. Até 2007, sete mulheres interromperam a gestação na capital catarinense.(6) Faltam estudos e dados oficiais sobre a efetiva atuação destes serviços no País. Sem o devido acompanhamento do cotidiano destas unidades, as dificuldades vivenciadas, pelas mulheres e pelos profissionais de saúde, acabam negligenciadas.

A omissão do Estado em efetivar políticas públicas que garantam o acesso ao abortamento previsto em lei representa uma violação dos direitos humanos das mulheres, sobretudo das mais pobres. Retira das mulheres que engravidaram em decorrência de um estupro a autonomia de decidirem sobre prosseguir, ou não, com a gravidez, violentando-as novamente. A dificuldade de acesso à realização do procedimento em unidades de saúde, por profissionais capacitados, leva à busca pelo abortamento clandestino e inseguro, que pode colocar em risco a saúde e à vida destas mulheres que deveriam ser amparadas pelo Estado.

Referências:

1 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 05 de outubro de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm. Arquivo consultado em fevereiro de 2012.

2 BRASIL. Código Penal. Colaboração de Antonio L. de Toledo Pinto, Márcia V. dos Santos Wíndt e Lívia Céspedes. 39. ed. São Paulo: Saraiva, 2001, 794.p.

3 TALIB, Rosângela Aparecida; CITELI, Maria Teresa. Dossiê: serviços de aborto legal em hospitais públicos brasileiros (1989-2004). São Paulo: Católicas pelo Direito de Decidir, 2005.

4 TALIB, Rosângela Aparecida. O aborto legal no Brasil. 2009. Disponível em: http://www.catolicas.org.br/artigos/conteudo.asp?cod=2840. Arquivo consultado em fevereiro de 2012.

5 NEGRÃO, Télia. Não será fácil recolocar o aborto na agenda política: depoimento. [22 de dezembro de 2011]. Rio Grande do Sul: Sul 21. Entrevista concedida a Vivian Virissimo. Disponível em: http://sul21.com.br/jornal/2011/12/nao-vai-ser-facil-recolocar-aborto-na-agenda-politica-diz-telia-negrao/. Arquivo consultado em fevereiro de 2012.

6 SAKAE, Juliana. HU oferece serviço de aborto legal a mulheres da capital. [setembro de 2008]. Florianópolis: Zero. Disponível em: http://blogdozero.files.wordpress.com/2008/11/pg_141.pdf. Arquivo consultado em fevereiro de 2012.

Miryam Mastrella é Socióloga, doutoranda em Sociologia pela Universidade de Brasília, pesquisadora da Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Transporte coletivo de graça em Joinville

POR GUILHERME GASSENFERTH

A Frente de Luta pelo Transporte Público (que tomo a liberdade de abreviar como FLTP) propõe que o transporte coletivo seja gratuito. Ou propõe uma mensalidade baixa, pelo menos enquanto o sistema não puder ser 100% subsidiado (ver no item 10 abaixo). Fizeram uma bonita defesa de seus ideais durante a primeira audiência pública do transporte coletivo em Joinville.

Comentei pelo Twitter que eu dei um passo à esquerda na audiência. Saí de lá convencido de que é preciso brigar pelo transporte coletivo gratuito. Explico porque é justa a gratuidade do transporte coletivo. Segundo a Constituição Federal, o transporte coletivo é essencial (art. 30, inciso V). E me parece que o também constitucional acesso universal a direitos fundamentais, como saúde e educação, depõe contra as catracas. Ora, se eu preciso ir ao hospital, mas não tenho dinheiro para o ônibus, estou sendo alijado de minha cidadania. Alguém discorda?

Uma família que ganha um salário mínimo por mês não tem recursos para pagar transporte coletivo, seja para educação, seja para lazer, seja para ir ao hospital, seja para o que for. Gasta tudo em supermercado, aluguel ou financiamento do imóvel, água, luz e telefone. Não sobra nem para o IPTU, prestação das Casas Bahia, para assistir a uma peça de teatro, comprar uma revista... Façam as contas. Quem tiver dúvidas, fale comigo que eu demonstro.

Sabemos que há duas formas básicas de mobilidade social no Brasil. Educação ou tráfico de drogas. Se a família quer dar estudo pros filhos, um curso técnico ou faculdade, não dá. Por que mesmo que consiga uma bolsa de estudos integral, são necessários R$ 121,00 para ir e voltar todos os 22 dias da escola ou da faculdade, de ônibus. Lembram-se que acabou a grana só nas despesas primárias? Bem, ainda sobra a opção do tráfico de drogas.

TRANSPORTE GRATUITO E DEMOCRACIA

Não há democracia e cidadania sem mobilidade urbana, sem acesso aos direitos fundamentais, sem a possibilidade de o cidadão viver a cidade. Já basta de sermos a cidade operária, que relega suas pessoas a simples conjuntos de braços para trabalhar na linha de produção. É preciso dar condições aos cidadãos, e o transporte coletivo gratuito seria a mais bela demonstração de democracia que Joinville poderia viver.

Ademais, com menos veículos nas ruas, conseqüência natural da gratuidade do transporte coletivo, há um ganho de qualidade de vida: menos estresse no trânsito, menos poluição atmosférica, menos ruídos, mais educação, mais saúde, mais direitos, menos doenças cardiorrespiratórias... Pode não financiar a proposta, mas representa um valor para o povo.

A Frente de Luta pelo Transporte Público faz algumas propostas interessantes neste sentido – não concordo com todas elas, mas após escutá-las, passei a ser favorável ao transporte gratuito, o principal ponto da proposta.

O diretor-executivo do IPPUJ, Vladimir Constante, afirmou em reportagem publicada por AN no início do mês, que segundo suas estimativas, a operação do transporte gratuito custaria cerca de R$ 200 milhões anuais à Prefeitura (o dobro da receita anual atual das concessionárias do serviço). À primeira vista, parece inviável. Mas vamos aos cálculos.

O FINANCIAMENTO DA GRATUIDADE

A FLTP sugere que o transporte gratuito seja subsidiado das seguintes formas:

1. Multas de trânsito. Hoje, a arrecadação é de cerca de R$ 12 milhões/ano, o que serve para pagar o aluguel dos equipamentos, a operação do sistema e o repasse que é feito às polícias do valor. Com o aumento do número de equipamentos dos atuais 25 pra 100, o custo fixo tende a cair, a arrecadação aumentar, mas acho que não será uma fonte de financiamento rentável. Descarto no cálculo.

2. Estacionamento rotativo. Se a CONURB passar a operar o sistema, os custos subirão, pois os funcionários públicos são mais caros que as fiscais da empresa privada. Talvez com inovação e criatividade consiga se reduzir o custo, mas hoje a arrecadação anual do estacionamento rotativo para a Prefeitura é da ordem de R$ 1 milhão. Vamos contabilizar tal valor no cálculo.

3. Publicidade no espaço dos ônibus. Cada busdoor custa R$ 550 por mês (acho barato), se TODOS os espaços dos 354 ônibus forem locados, estamos falando de R$ 3,5 milhões anuais. Mas creio que é possível pensar em ampliar os espaços publicitários e, com isso, aumentar a arrecadação. Mas não será o divisor de águas.

4. Aluguel dos pontos comerciais dos terminais. Vamos lembrar que não há espaço para locar no Terminal Central (dá pra pensar no assunto?), e apenas uma lanchonete no Terminal Norte, Tupy e Sul (que deve pagar não mais que 2 mil por mês). Dos 10 terminais, em 6 há possibilidade de locação. Se pensarmos em 20 mil por terminal por mês, chegamos a cerca de R$ 1,5 milhão por ano. É possível adequar o espaço, construir mais salas, mas hoje não chega a mais que isto.

5. Criação de taxa-transporte para empregadores. Polêmica à vista. Não sei como poderia ser institucionalizada, se é possível, se é legal, mas enfim, vamos lá. Um empregador que pague um salário mínimo custeia cerca de R$ 84 por empregado para o transporte coletivo (R$ 121 menos os R$ 37 que são descontados do empregado, 6% do salário). Um que pague R$ 1.200 de salário custeia cerca de R$ 49,00. Vamos supor que esta taxa-transporte seria de R$ 30,00 por empregado por mês. Considerando aí uma população economicamente ativa de 200.000 pessoas, estamos falando de R$ 72.000.000 anuais. Para a maior parte dos empregadores, é negócio – o vale-transporte de empregados com menos de R$ 1.500 de salário (a grande maioria) custam mais que R$ 30,00 para os empregadores. Será uma parada dura, mas é preciso cabeças pensantes, inovadoras e criativas para pensar nisso. E muita saliva.

6. Menos obras. A economia do orçamento público com obras de infraestrutura: com a maximização do uso do transporte coletivo em detrimento do individual, será preciso investir menos na manutenção do asfalto, em alargamento de ruas, em binários, em novas avenidas, elevados etc. Consta do site do TCE que Joinville gastou R$ 130 milhões em urbanismo no ano passado. Quanto disto poderia ter sido economizado? 10%? Seriam R$ 13 milhões.

7. Menos internações. Consta-me que 49% das internações no Hospital São José advém de acidentes com motociclistas. Se houver forte redução no número de motociclistas, será possível reduzir fortemente os gastos com a internação e com a saúde no geral. Joinville gastou R$ 135 milhões com “Assistência Hospitalar e Ambulatorial” em 2011. Seria possível reduzir 10% deste valor? São mais R$ 13 milhões.

8. Qualidade de vida. Vale dizer que o custo por passageiro tende a cair, uma vez que teremos ônibus mais cheios, acabarão os custos com os tíquetes e os cartões, o fim da catraca libera mais espaço interno nos ônibus, acaba a Passebus e por aí vai.

9. Aquecimento econômico. Considerando que os R$ 100 milhões que a Transtusa e Gidion arrecadam para operar o sistema passariam a ser injetados na economia local (sim, porque os investidores e especuladores não são clientes do transporte coletivo), a cidade ganha mais empregos, a economia cresce e a arrecadação sobe – podendo até mesmo subsidiar uma parte do transporte gratuito. Bacana, né?

10. Mensalidade dos usuários – a FLTP propõe que os usuários (que não sejam vinculados ao Bolsa Família, pois estes receberiam total isenção) paguem uma mensalidade enquanto o sistema não conseguir ser totalmente custeado pela Prefeitura. Algo como R$ 45,00, e pode usar à vontade. Representaria aí cerca de R$ 97 milhões anuais, considerando 200 mil usuários/dia menos 20 mil beneficiários de Bolsa Família. A proposta prevê que esta mensalidade deverá ser regressiva e extinta em no máximo 10 anos.

Somando as receitas acima, chegamos ao valor total de R$ 201 milhões de reais. Então, é sim possível (do ponto de vista financeiro) acatar a proposta da FLTP.

ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA E IPTU PROGRESSIVO

Mas para extinguir a mensalidade proposta no item 10, a alternativa prevista é a implantação do IPTU progressivo. Especuladores, tremei! Corre à boca miúda que um habitante de família tradicional, ligada à indústria e à ACIJ solicitou à Prefeitura que levasse seus carnês de IPTU de Kombi. Parece que a história de que uma família tem um terço dos imóveis da cidade não é de todo uma lenda. E dá-lhe especular.

Não sou contra a propriedade privada nem a acumulação de riqueza e patrimônio. Quando obtidas de forma lícita, evidentemente. Só que a especulação imobiliária tem um destino previsto no Estatuto das Cidades: o IPTU progressivo, que institui o aumento da cobrança de IPTU gradativamente sobre imóveis desocupados, caso o estes não cumpram a constitucional função social – de habitação.

O IPTU representa R$ 90 milhões de arrecadação anual. Vamos supor que 20% dos imóveis de Joinville estejam destinados à especulação imobiliária (o percentual de imóveis vazios, com ou sem construção, é maior).  Então suponhamos que 20% dos R$ 90 milhões, ou seja, R$ 18 milhões, seja o valor pago de IPTU pelos imóveis destinados à especulação. Se a alíquota é de 0,5% do valor dos imóveis, e 0,5% arrecada 18 milhões, 4% (percentual a ser alcançado em 3 anos, considerando que o IPTU dobraria no IPTU progressivo) representariam R$ 144 milhões de arrecadação, ou seja, R$ 126 milhões a mais. Se chegarmos ao percentual máximo de 15% previsto na Lei, estaríamos falando de R$ 540 milhões só nas áreas de especulação – valor MUITO MAIS que suficiente para custear 100% do transporte e investir em educação, infraestrutura, turismo, políticas públicas, habitação etc.

IPTU PROGRESSIVO NÃO É LENDA

São Paulo aprova IPTU progressivo – http://glo.bo/zHOILh

STF declara IPTU progressivo constitucional – http://bit.ly/wO3Vtt 

Bem, sabemos que a situação real, caso se consiga aprovar o IPTU progressivo, não será tão maravilhosa, pois muitos conseguirão escapar da tributação de alguma forma, além da possível inadimplência. Mas se o IPTU progressivo for aplicado a um terço dos imóveis especulativos, estaríamos falando de R$ 180 milhões de reais.

A intenção é defender o acesso dos cidadãos aos seus direitos. Os cálculos apresentados estão longe de serem científicos, comprovados ou verossímeis. Sou um leigo em planejamento urbano (e em muitas outras coisas). Não tenho a pretensão de ser exato, nem de apresentar a grande solução para todos os problemas de Joinville. Há muitas outras coisas que podem ser feitas para apoiar esta ideia, boa parte delas envolvendo criatividade e inovação. Não falamos sobre outros modais de transporte (é assim que se fala?), sobre a questão da velocidade média dos ônibus (quanto mais rápidos, menos veículos são necessários), sobre a possibilidade de espaçar um pouco mais os pontos de ônibus – e também aumentar a velocidade média, sobre mudar o terminal central de lugar, entre outros temas.

Acho que muitos jogarão pedras, outros ridicularizarão as ideias, sem contar as contestações técnicas. Mas a intenção foi simplesmente lançar uma luz sobre o assunto e afastar a resposta automática de que não é viável, sem sequer fazer alguma análise a respeito.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

As minorias de sempre

POR JORDI CASTAN

As respostas e atitudes posteriores à liminar concedida pela Justiça, atendendo a ação popular que questiona a legitimidade do Conselho da Cidade, permitiu identificar claramente o papel de muitos dos protagonistas desta LOT (Lei de Ordenamento Territorial). Os ataques furibundos aos suspeitos habituais, aquela minoria absoluta que discorda de tudo e que é contra o desenvolvimento e o crescimento de Joinville, estiveram na ordem do dia.

Quanto mais virulento o ataque, quanto maior a crispação do orador ou oradora, quanto mais direta a personalização do ataque, mais evidente o nível de interesse pessoal no tema. E é esta personalização do interesse que precisa ser analisada com atenção.

De um lado, temos uma parte da sociedade que não acredita que a condução deste processo tenha sido o melhor para Joinville. Neste caso, o conceito é Joinville como um todo, sem pontualismos, sem defender ou questionar esta ou aquela emenda, esta ou aquela mudança de zoneamento.

Esta parte da sociedade, contrariamente ao que se insiste em divulgar, não é uma minoria absoluta, não são só três ou quatro pessoas. Envolve também entidades, ONGs, sindicatos e associações de moradores, todas elas com CNPJ, para atender esta curiosa forma de representatividade que o poder público municipal defende e pratica. Aliás, curiosa esta fixação que esta administração tem com o CNPJ.

Um grupo cada vez maior de pessoas está se somando ao movimento e subscrevendo as ações que na justiça questionam não só a legitimidade do Conselho da Cidade, como também a não realização de audiências públicas em cada bairro e a gestão democrática da cidade preconizada na legislação federal. Não deixa de ser irônico que este debate surja numa administração do PT, em outras épocas paladino da democracia participativa, do orçamento participativo e do assembleísmo permanente.

Do outro lado, outra minoria absoluta, formada por lobistas do tijolo, especuladores conhecidos e vereadores próximos a este movimento desenvolvimentista que defende o princípio de que vale tudo em nome do crescimento. Em alguns casos a proximidade e o grau de intimidade é tal que pode parecer promíscuo e indecente a olhares menos experientes.

Também fazem parte desta outra minoria representantes do poder executivo, que tem pressionado de forma descarada a própria sociedade, impondo um modelo de participação em que só resta acatar ou discordar. Escolher entre o céu ou o inferno. Ser adulado e ter os seus pleitos atendidos ou ser cozinhado em óleo fervendo são as duas opções oferecidas.

Entre essas duas minorias permanece uma enorme parcela da sociedade que não sabe, não conhece e não se interessa pela LOT, pelo planejamento urbano. Mas é quem primeiro protestará com veemência ao escutar o barulho do bate-estaca ao lado de casa e alegará que não sabia. Ou mesmo quando descobrir que passará a ter como vizinho uma indústria ou um comércio de porte. Aí já será muito tarde.

Agora ainda há tempo.

Contraponto



Prezado Vereador Alodir Cristo

Agradeço que participe do blog com os seus comentários e desta forma possamos, tanto você como, principalmente, eu esclarecer eventuais mal entendidos originados tanto do meu texto, como da sua própria resposta.

É importante que passe a incluir, na propedêutica de quem escolheu a vida pública, outras matérias que hoje lhe escapam. Estar preparado para conviver com o contraditório, respeitar os que pensam de forma diferente, ouvir as opiniões que mesmo contrárias às suas são igualmente válidas e merecem atenção e consideração. Particularmente, se pensa seriamente em disputar de novo um cargo eletivo, me pareceria prudente que reveja os seus conceitos e principalmente os dos possíveis eleitores.

Acho desnecessário dizer que prescindirei da sua graciosa oferta de receber os seus ensinamentos e espero que não fique desapontado por não aceitar tão generosa proposta. Defendo, por princípio, que todos somos ao mesmo tempo aprendizes e professores na escola da vida e que podemos desde a humildade aprender dos outros, mesmo dos que podem parecer inferiores social ou intelectualmente, não consigo, mesmo com a minha melhor boa vontade, identificar um único ponto seu, que possa me servir de referência ou de ensinamento. Tenho que reconhecer que é decepcionante chegar a esta conclusão.

Ainda a correlação que insidiosamente faz do meu mundo, como sendo diferente do seu, é absolutamente correta. Vivemos em mundos de valores e princípios diferentes, eu diria opostos. Lembro que foi você, a menos que venha de público a desmentir, quem afirmou que: “Vocês vão ficar milionários”, evidenciando a troca efetiva que há entre as mudanças de zoneamento propostas e o surgimento de uma nova geração de milionários. Só falta ainda esclarecer qual é a unidade de medida que utiliza para medir a “riqueza” gerada se é o vil dinheiro, os amigos, os votos, os metros quadrados de área construída ou qualquer outro.

Jordi Castan

Ponto


Prezado Jordi Castan,

         Diante do exposto em seu artigo “Vocês vão ficar milionários”, publicado no blog  Chuva Ácida, afirmo que você não participou de todas as discussões realizadas a respeito da nova Lei de Ordenamento Territorial (LOT). Portanto, pode ser que não tenha entendido o seu conteúdo ou que foi simplesmente um mal entendido. Estou à sua disposição e terei enorme prazer em recebê-lo em meu gabinete, ou em qualquer outro lugar, para que eu possa lhe explicar, olhando nos seus olhos, as suas dúvidas. Como educador e vereador tenho em meu perfil a característicade ensinar. Caso você tenha dificuldade de compreensão, por não ser brasileiro, faço questão de explicar, quantas vezes for necessário, até que haja entendimento correto do ocorrido no dia da reunião sobre a LOT. Quanto à sua afirmação de que não entendeu “quanto ascenderá a riqueza gerada” pelas minhas ações e emendas, quero lhe informar que você não deve basear a sua realidade com a dos outros. Se em seu “mundo” é comum esta troca defavores, comigo é diferente, pois mantenho intacta a ética e a moral herdada de meus pais.

Sem mais para o momento, despeço-me.
Atenciosamente,

Alodir Alves de Cristo
Vereador

Blog Chuva Ácida


Na semana passada, os integrantes do Chuva Ácida foram interpelados pela assessoria do vereador Alodir Cristo, que pedia um "direito de resposta" ao texto publicado aqui na última quinta-feira. Como o blogue é um espaço de opinião e não um espaço jornalístico, acreditamos que a categoria "direito de resposta" não se aplica. Mas quem acompanha o Chuva Ácida sabe que este espaço surgiu com a proposta de ser democrático, de propor o debate e valorizar o contraditório. Portanto, hoje estamos publicando o texto que o vereador Alodir Cristo pode entender como "direito de resposta", mas que para nós é apenas o normal exercício do contraditório. E deixamos uma recomendação: se no futuro alguém quiser exercer o tal "direito de resposta", não é preciso despender energias à toa, basta falar com qualquer um dos integrantes do blog e o espaço estará aberto.

Aliás, recomendamos a leitura da resposta do vereador e esperamos que tenha muitos acessos. Afinal, nada melhor que um texto para sabermos mais sobre o seu autor.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Oradores e oratória

Parafraseando W.S. Churchill, há políticos tão ruins que eles mesmos escrevem os seus discursos. O vereador Alodir Cristo dá uma demonstração do que pode ser um discurso político na Câmara de Vereadores de Joinville.

Deve ser assim mesmo...

POR FELIPE SILVEIRA

Nós, joinvilenses (os nascidos e os que aqui chegaram depois deste fato), temos um problema com o passado.  Cidade industrial, Joinville sempre funcionou mais ou menos do mesmo jeito que a “firma”: poucos mandam, muitos obedecem. Assim, carregamos essa mania feia de aceitar calados os mandos e desmandos daqueles que se auto-denominam poderosos. Talvez por medo do livro negro, sei lá... Sabe aquela lenda de que todos aqueles que incomodavam (reclamavam direitos?) tinham o nome marcado em um livro negro e nunca mais pegavam emprego na cidade? Ah, não conhece? Bom, eu ouvi isso dos mais velhos, mas sabe como é lenda, né?

Essa mania feia – e claro que não é uma particularidade joinvilense – persiste através dos tempos. Mesmo que a cidade tenha mudado, se tornado mais comercial e desenvolvido a área de serviços, mesmo que as leis garantam os direitos e que já não seja feio ser visto nas praças, a mania de deixar alguém mandar persiste. Uma mania que pode ser vista quando alguém diz “isso é assim mesmo”.

Mas o que eu acho mesmo inadmissível é a importância dada para certas entidades e empresários nesta cidade. Não dá para entender porque um representante de uma associação empresarial é convidado para um debate sobre mobilidade urbana ou convidado para qualquer outro debate. É evidente que, se ele representa uma associação empresarial ou comercial ou sei lá o que, ele vai defender os interesses de tal associação, e, consequentemente, não vai defender o interesse das pessoas e da comunidade. Vamos continuar dando essa importância a eles? Vamos admitir que a imprensa esteja sempre bajulando esses caras? Vamos admitir que uma das ordens de serviço mais aguardadas pela população joinvilense seja assinada na Acij, pelo governador, como se a entidade tivesse alguma ligação com o fato?

É estranho notar, também, que em determinados momentos, quando os empresários deveriam falar, eles se calam. É o caso do debate sobre transporte. Onde estão os empresários nesta discussão? Eu esperava que eles dialogassem com o povo – que está debatendo – sobre o melhor modelo de transporte para a população. E imagino que defenderiam o deles, claro. Eles acreditam que o modelo deles é o melhor, né?

Parece contraditório querer que eles se calem num parágrafo e debatam em outro, mas não é. Há momentos em que determinados empresários têm a obrigação de participar do debate, e não usar de outros canais (pelo telefone, sei lá) para exercer e chegar ao poder. A questão ambiental, por exemplo, exige que cada um explique o que faz e o que não faz. Há debates públicos, que exigem a participação. O que é bem diferente da bajulação que estamos acostumados a acompanhar.

Para finalizar, também acho incrível o boato de que certa família é dona de 1/3 das terras dessa cidade. Só pode ser outra lenda, né? Não há outra explicação. Porque, convenhamos, é terra a dar com o pé. Enquanto isso, milhares deixam a metade da renda da família para o aluguel, outro quarto da renda para o transporte, e torcendo para sobrar um pouquinho para a comida. Teatro, música, ingresso para o jogo do JEC ou do time de basquete, cinema, dinheiro para um jantar com a namorada? Que isso? Parece que algumas coisas são assim por aqui.

Eu não acho justo, mas, isso deve ser assim mesmo...

P.S.: O colega de blog Charles Henrique já tratou da importância excessiva dada às entidades empresariais aqui no Chuva Ácida. Assim que eu achar o link, compartilho com vocês.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

E sobre a licitação para a coleta de lixo, ninguém vai falar?

POR CHARLES HENRIQUE

Após a última semana ( a qual considero a mais importante da história do planejamento urbano desta cidade), com as discussões sobre a licitação do transporte coletivo, Lei de Ordenamento Territorial, mobilidade urbana, queda do Conselho da Cidade, e todos os furacões que por aqui passaram, precisamos colocar neste “balaio” mais um tema para discutir: a coleta de lixo.

O lixo que produzimos diariamente é coletado pela mesma empresa há muitos anos, e, em muito breve, o contrato com a Ambiental está para expirar. É de extrema importância que cobremos (da mesma forma que estamos cobrando em relação ao transporte coletivo) a licitação do lixo em Joinville. Desta maneira, poderemos ter evoluções no sistema, e não sermos mais reféns de um serviço que está ultrapassado (que se resume em coletas três vezes por semana de orgânicos e uma vez de reciclados), e que tem grandes deficiências.

Parece que um longa-metragem está se desenrolando em Joinville: grandes contratos de gaveta precisam ser desfeitos através de processos licitatórios. Ótimo, a cidade agradece. Mas por qual motivo ninguém está falando sobre a coleta de lixo? Este serviço é tão essencial quanto o transporte coletivo para o nosso dia-a-dia, e também precisa ser promovido através de uma concorrência pública.

Esta é a oportunidade de trazermos para a nossa cidade sistemas diferenciados para a coleta de nosso lixo, bem como discutir de forma séria e responsável a destinação de tudo o que produzimos, e que atualmente vai para o aterro sanitário. Será que a melhor forma é enterrar? E as outras? Há experiências muito interessantes em outras cidades Brasil afora, e este é o momento que a cidade tem para não ficar mais 15 anos estagnada, agredindo o meio ambiente da forma que agride hoje.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Menos FM

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Há coincidências estranhas. Como ia sair de férias, decidi adiantar uns textos com a ideia de me manter o mais longe possível do computador. E um dos temas preparados era um elogio ao jornalismo da Mais FM, comandado pelo jornalista Marcão Braga. Mesmo vivendo do outro lado do Atlântico eu era um ouvinte assíduo (menos naqueles dias, não tão raros assim, em que a internet não funcionava). Mas agora que o Marcão Braga e o seu pessoal saíram do ar, tive que voltar ao teclado e emendar o texto.
A minha análise ia neste sentido: o rádio é um meio de comunicação muito maltratado em Joinville. É inacreditável que não se tenha evoluído quase nada em três ou quatro décadas. É triste que o rádio seja o porto seguro de incompetentes, inconsequentes e uma canalhada que só empurra a imagem da cidade para o lodo. O trabalho da equipe do jornalista Marcão Braga estava a ir em sentido contrário, a mostrar que é possível fazer radiojornalismo com profissionalismo e evitar o rame-rame foleiro que é uma marca da rádio local.
Ok... não me interessam as tricas que envolveram a saída. Não sei o que houve, não quero saber e não tenho raiva de quem sabe. E para o pessoal que adora ver interesses ocultos em tudo, deixo claro: o meu único interesse é o desejo de uma mídia moderna. Porque, bem sabemos, não é possível fazer uma cidade moderna com uma mídia que ainda vive em tempos goebbelianos. Quem percorre o dial do rádio em Joinville sabe que estamos a anos-luz de uma mídia decente. Mais do que isso, o que temos é um insulto à inteligência dos ouvintes. É um show de horrores.
Aliás, vale um comentário. As pessoas que me conhecem sabem que eu gosto de Joinville (tanto que passo todas as minhas férias aqui). E vez por outra dou por mim lá em Lisboa a pensar em voltar. Mas ao longo dos anos desenvolvi uma técnica desencorajadora. Sempre que bate uma vontade de voltar, eu vou para o computador e ouço certos “jornalistas” do rádio joinvilense. É tiro e queda. Qualquer pessoa com dois dedos de cérebro desiste logo, porque os caras fazem a cidade parecer um pântano ético e moral. É uma escrotidão.
O trabalho da equipe de Marcão Braga chegou a dar a esperança de que as coisas iam mudar e que finalmente o radiojornalismo iria caminhar para o profissionalismo, a credibilização e a seriedade. Mas parece que voltamos à estaca zero. Espero que seja por pouco tempo e que logo alguém decida assumir esse tipo de projeto. Porque ao longo dos últimos meses, graças ao trabalho do Marcão Braga e do seu pessoal, estive mais ligado a Joinville, mesmo vivendo a 10 mil quilômetros. Isso é modernidade.
Não sei como é para os leitores e as leitoras, mas eu acabo de ficar sem opção decente de radiojornalismo em Joinville. E ficamos todos com menos FM.

P.S.: Você, leitor anônimo, que já está pensando em fazer uma ligação entre este texto e o Charles Henrique, não perca o seu tempo. Não trouxe o meu computador... e também não estou com pachorra para essa discussão.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O bom e velho asfalto novo

POR EDUARDO SCHMITZ

A quantidade de temas relacionados a Joinville para se tratar nesse espaço deve ser sem fim. Por esse motivo, demorei certo tempo para decidir sobre o que escrever. Recortei a cidade em um espaço um pouco menor ainda, mas que deve se repetir por todos os seus 1.143 quilômetros quadrados. Para os que não sabem, moro no bairro Vila Nova, mas nem por isso estou puxando a sardinha para a minha brasa. Eu resumiria o bairro como o ornitorrinco dos bairros. Mas como já disse, não deve ser filho único.

Quero começar com uma provocação: tente chegar no bairro entre 17h30 e 19h. Uma maravilha. Quer ver então sair dele lá pelas 8h. Aí começam as aberrações. O acesso ao bairro se resume quase que exclusivamente a uma alternativa. Eu moro lá há 23 anos e conheço cada rua, mas não conheço caminho mais perto para se chegar a região central sem ser pela rua Quinze de Novembro. Um trecho curto. Nada mais que uns oito ou nove quilômetros. Trecho para ser percorrido em uns 15 minutos, mas que podem levar até 40. Ou mais. Existem caminhos secundários, como a estrada dos Suíços (mas sem condições para transitar diariamente), pelo Morro do Meio (uma volta muito grande), ou pelo novo trecho da Rodovia do Arroz (útil, se estiver indo para o Distrito Industrial).

Como temos um governo de bom coração, foi escolhida a Vila Nova para receber uma mega obra no ano eleitoral. “O Binário da Vila Nova.” Chuto, por baixo, que escuto essa frase há uns cinco anos. Mas sobre isso o que tenho a dizer é que essa obra está defasada nos mesmo cinco anos que ouço falar dela. Não quero decepcionar os mais otimistas, mas só isso não será necessário para curar a chaga que é o trânsito da Vila Nova.

Parte do caos que são as ruas, principalmente a Quinze de Novembro, é culpa dos cidadãos. Sinto a necessidade de criticar também a população. Primeiro por ficar atônica ao descaso de governos. E depois pela falta de educação no trânsito. Não é possível que as pessoas não saibam a diferença entre rua, calçada, estacionamento e ciclo-faixa. Pedestres, ciclistas e carros freqüentam os quatro espaços. A infra-estrutura dificulta as coisas, mas a falta de educação salta aos olhos.

Tudo isso deve ser potencializado com a chegada de quase 600 novas famílias ao bairro. Elas não estão saindo do nada. São fruto do projeto Minha Casa Minha Vida. Os méritos do projeto podem ficar de lado por um instante. A discussão pode caminhar para outro caminho.

A administração municipal sabia há tempos desse fenômeno migratório. A dúvida é quanto à adequação da estrutura do bairro. As 600 famílias devem representar, no mínimo, umas 1.800 pessoas. Mas trabalhando com o número de famílias vamos fazer umas suposições. Que tal colocar todas essas pessoas no “Vila Nova – Centro” às 8h e às 18h? Ou então as 600 “pessoas” cada uma no seu carro indo trabalhar. Sem falar na estrutura de saúde e educação.

O Charles e o Jordi gostam de bater na tecla do planejamento urbano e não é por menos. Já passou do tempo de uma cidade com mais de 500 mil habitantes depender de vontades eleitorais ou jogos políticos. Os discursos de “se fosse qualquer outro partido no poder teria a mesma posição” já estão vencidos. O Binário da Vila Nova é uma das melhores caricaturas desse oportunismo eleitoral. 2012 será um ano onde as boas ações terão vários pais. “Vamos ficar de olho.”

Eduardo Schmitz é joinvilense, estudante de jornalismo e opina sobre tudo. Twitter: @erschmitz

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Aleluia: só o Ministério Público salva!

POR GUILHERME GASSENFERTH


[Este é o primeiro de uma série de textos sobre os perigos que a religião pode oferecer à sociedade. Além deste, outros dois - pelo menos - versarão sobre a questão do fundamentalismo religioso e sobre o Estado laico.  Acompanhe!]

Há em curso uma situação grave e crescente no país: o surgimento e crescimento das igrejas neopentecostais. Se as pessoas querem crer nos ensinamentos religiosos repassados pelos “profetas” e “apóstolos” (como os fundadores das seitas se autoproclamam), tudo bem. É direito delas. O problema é que algumas religiões estão aproveitando-se da ignorância do povo brasileiro para explorá-lo e enriquecerem à custa de falsas promessas.

As religiões neopentecostais, vale dizer, surgiram no Brasil a partir da Igreja Universal do Reino de Deus, IURD, criada por Edir Macedo em 1977. Nos parágrafos seguintes, veremos um pouco de como agem estes falsos profetas, usando o povo brasileiro para enriquecer seus bolsos, e tudo isso com a infeliz e constitucional imunidade de impostos. E um país com 75% de analfabetismo (funcional e total) é um terreno fértil para estes espertalhões.

O bispo Edir Macedo, dono da TV Record, é aquele que ensinava os pastores a pedir dinheiro para seus fiéis, lembrando-os de ameaçar os fiéis que não doassem com a ida pro inferno: “ou dá, ou desce”. A Câmara de Representantes (equivalente à nossa Câmara dos Deputados) da Bélgica disse que a IURD é uma “associação criminosa, cujo único objetivo é o enriquecimento” e “uma forma extrema de mercantilismo da fé”. Não é à toa que em 1992 Edir Macedo foi para a prisão, acusado de “delitos de charlatanismo, estelionato e lesão à crendice popular”. Infelizmente, não passou duas semanas na cadeia e voltou a explorar a fé – e principalmente o bolso – do povo. Enriqueceu tanto que chegou a oferecer mais de meio bilhão de reais para comprar as madrugadas da TV Globo, sua principal concorrente, que recusou a oferta.

Em 1998, o pastor Valdemiro Santiago, ou o “Apóstolo” Valdemir criou sua própria igreja, a Igreja Mundial do Poder de Deus. O apóstolo Valdemiro chorou diante das câmeras (é o televangelista com maior número de horas na TV brasileira) e conseguiu arrecadar R$ 23 milhões por meio de 150 mil doações de R$ 153, o número de peixes que um milagre de Cristo produziu. Os fiéis, ao associarem o valor ao milagre, fizeram a doação de bom grado. A Igreja Mundial é uma lojinha (inha?) da fé. Vendeu um martelinho de madeira que prometia quebrar mandingas, maus olhados e os obstáculos do caminho, por mil reais cada. Também comercializou “água ungida” em garrafas pet de 400 ml. As ofertas eram de R$ 100 a R$ 1.000, e bastava uma gota desta água para mudar a história da vida do comprador. Com tanto faturamento, fica fácil fazer milagres!

Há também um tipo intolerante entre os pastores, Silas Malafaia. O pastor homofóbico afirmou que o PLC 122 (que busca incluir a discriminação por orientação sexual na lei que proíbe o racismo e discriminação religiosa) seria o primeiro passo para a legalização da pedofilia no Brasil. Parece ser um idiota, mas não é. Em 2009, lançou a campanha de venda da Bíblia da Batalha Espiritual e Vitória Financeira (!), que troca um exemplar por apenas R$ 900. É possível também virar um Parceiro Ministerial, com doações mensais de R$ 15 a R$ 1.000. A Igreja Vitória em Cristo aceita Visa, Master, Diners, American Express e até mesmo Hipercard. Não tem desculpa pra não dar. Daqui a pouco vão parcelar o dízimo.

Há dois milênios Jesus Cristo, o nome invocado por todas as personagens acima, expulsava do templo os mercadores e os compradores, que usavam a casa de oração como espaço de comércio. Valdemiro Santigo, R. R. Soares, Edir Macedo, Silas Malafaia e os demais adeptos da Teologia da Prosperidade devem fazer inveja aos antigos mercadores do templo. A megalomania não está só no nome das igrejas, como Mundial, Internacional e até Universal, mas também na conta bancária dos pastores.

Como Lutero, que combateu a indulgência e o mercado da fé no século XVI não vai voltar, o Governo deveria impedir desde já a atuação destes charlatães, exploradores, comerciantes da fé. O perigo é iminente para todos nós. A lavagem cerebral que estes pastores aplicam nas mentes vazias de seus seguidores faz que os fiéis votem nos candidatos indicados pelos pastores. E aí, o problema vira meu e seu. No caso destas igrejas, só o Ministério Público salva!

“E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões”. Mateus 21:13

PS - após ter escrito este artigo, recebi uma reportagem de um jornal mineiro - cuja autenticidade não pude verificar - que falava que a Igreja Universal do Reino de Deus passaria a aceitar cartão de crédito para parcelar o dízimo em até 12x.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Vocês vão ficar milionários

POR JORDI CASTAN


"Vocês vão ficar milionários". Alodir Cristo - vereador

 O debate sobre a LOT, as sessões extraordinárias e as, digamos, audiências públicas promovidas pelo legislativo produziram algumas pérolas e, principalmente, evidenciaram uma boa parte do jogo de interesses em que tem se convertido o planejamento urbano de Joinville. A ganância de uns, a cobiça de outros, a desfaçatez de uma minoria e o idealismo de alguns setores propiciou um quadro bastante claro do que está em jogo, quem são os atores, quem é platéia e quem paga a conta. Uma das pérolas mais interessantes foi produzida pelo vereador Alodir Cristo, que num determinado momento lançou: “Vocês vão ficar milionários”. A frase, além da sua força retórica e de conseguir criar um jogo de efeito, ficou incompleta porque não ficou claro para os ouvintes atentos se ele se referia a:

 1.- Os representantes da Associação de Moradores da Estrada da Ilha, que manifestaram repetidamente e em alto e bom som que não concordam com a proposta defendida pelo vereador, e não só por ele, de reduzir o tamanho dos lotes para 600 m2, numa área tradicionalmente rural, historicamente sujeita a enchentes e com um perfil consolidado. Entendem os moradores que reduzir o tamanho dos lotes para permitir loteamentos naquela área descaracterizará completamente a região. E também que não há infraestrutura adequada para fazer frente ao crescimento populacional que a proposta acarretaria. Caso tivessem interesse em formar parte do seleto grupo de milionários a que o vereador faz referência, deveriam vender as suas áreas de cultivo e abandonar as atividades tradicionais que formam parte do seu modo de vida. Acrescente-se ainda que representa um aumento do perímetro urbano do município, algo que o Plano Diretor não permite.

 2.- Os representantes do setor imobiliário, proponentes das diversas emendas que tem como objetivo mudar o perfil da cidade, aumentar o seu perímetro, avançar sobre áreas que hoje são rurais e, portanto, de pouco valor imobiliário. E que, de forma definitiva, seriam os maiores beneficiados com as mudanças propostas.

 3.- Os vereadores que, imbuídos do mais elevado espírito social e político, aprovam emendas com efeitos questionáveis: descaracterizando o perfil da cidade, promovendo perdas irreversíveis de qualidade de vida para as pessoas que nela moram e estimulando o adensamento e a verticalização de áreas alagáveis. Tudo isso sem infraestruturas e de forma claramente contrária aos desejos da maioria dos moradores eleitores. Mas eles o fariam na certeza que há setores da sociedade que saberão reconhecer o sacrifício dos legisladores e que os poderão recompensar regiamente no futuro próximo, pelo desgaste político que agora enfrentam.

É importante que o vereador Cristo seja mais preciso, que esclareça exatamente quem ficará milionário. E seria ainda melhor que informasse a quanto ascenderá a riqueza gerada pelas suas ações e emendas. Ainda seria ideal se a unidade de medida que ele estaria utilizando para medir o enriquecimento que propõe seriam os reais, os votos, os amigos, os metros quadrados de área construída ou qualquer outra que agora nos escape.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O que é e o que não é utopia e a razão da nossa imobilidade


POR FELIPE SILVEIRA

Achar que toda proposta de avanço social é utopia é a maior barreira para o nosso desenvolvimento humano (aquele que importa, pois o econômico só é bom se servir ao desenvolvimento humano).

Desde sempre, mas principalmente desde a segunda-feira (30) – após a audiência pública sobre a licitação do transporte coletivo –, tenho ouvido que a passagem gratuita e a criação de uma empresa pública de transporte são utopia, coisa de doido e que não vai dar certo. O ponto comum entre todas as pessoas que falaram isso: elas não conhecem a proposta. Por isso, apresento-a vocês, aqui.

Ok. Agora que você leu pode dizer o que acha, se é possível ou impossível, se é justa ou se não é. Mas não se esqueça de que é a sua opinião e não a verdade. E você provar que a sua opinião é a mais correta, sem problema algum. Para isso, basta participar do debate. Você pode, inclusive, sugerir melhorias na proposta. Vou dar o exemplo de uma delas.

O ponto mais “polêmico” da proposta da gratuidade é a conta. Afinal, quem vai pagar essa conta? (vamos retornar a essa pergunta daqui a pouco). A proposta, que você acabou de ler, oferece algumas respostas. A principal delas é o IPTU progressivo, que além de financiar o transporte de milhares de cidadãos, permitindo o acesso à cidade, acabaria/reduziria a especulação imobiliária, resolvendo, ou chegando perto, pelo menos, de resolver o problema da falta de moradia. No entanto, a proposta também sugere, caso não seja possível o financiamento integral em um primeiro momento, o pagamento de mensalidade (baixa) a fim de fazer essa transição até a tarifa zero. Essa foi uma sugestão dada por uma das pessoas que se interessaram em debater e tornar a proposta cada vez mais viável. Assim ela foi e continua sendo construída.

Sacaram a diferença entre virar as costas e dizer que não é possível?

Mas, então, quem paga a conta? Aí entramos no debate político. Quem paga a conta do SUS, da educação? Todo mundo! Por que, então, que o transporte público, que só traz benefícios à mobilidade, ao meio ambiente, que diminui a fila no hospital e o nível de estresse da população, não pode ser financiado por toda a sociedade?

Fica claro aqui que a discussão é política, e não técnica. A segunda é importante, mas tem que estar submetida à primeira. E, para discutir tudo isso política e tecnicamente, é preciso vontade e coragem. Virar as costas, dizer que é utopia, e continuar a ser explorado pode ser mais fácil em um primeiro momento, mas essa é uma escolha sua.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A preguiça, a incompetência e as irresponsabilidades das políticas urbanas

POR CHARLES HENRIQUE

“Ridículo”. Foi esta a expressão que saiu da boca de uma funcionária comissionada da Prefeitura ontem, após o término da Audiência Pública na Câmara de Vereadores, que tratava sobre a licitação do transporte coletivo. Óbvio que ela estava falando sobre as manifestações críticas que foram enunciadas pela sociedade civil, presente de forma organizada, ou não. Aliás, eu que por vezes critiquei a Frente de Luta pelo Transporte Público, tenho que elogiar e ressaltar a roupagem democrática de suas intervenções. Exaltar também a coragem da Prefeitura Municipal de Joinville em ouvir a população, fato que nunca foi feito quando o assunto é transporte coletivo.

Ocorre que, a população assistiu de camarote durante anos uma ação de política urbana ineficaz, caracterizada por momentos de preguiça, de incompetência, e de irresponsabilidades. Isso tudo culminou na noite de ontem, pois quando a população não discute propostas, e dá lugar a questionamentos sobre a base de todo o processo, é sinal de que algo não saiu da forma mais correta. A insatisfação com o sistema de transporte coletivo foi notória. E mais ainda com o modo em que as coisas estão sendo conduzidas.

A preguiça é identificada no simples fato de que a Prefeitura sentou com a população pela primeira vez na noite de ontem, para discutir os dados da Pesquisa Origem-Destino (primeira etapa de um Plano de Mobilidade, instrumento previsto no Plano Diretor de 2008), esta que foi elaborada no primeiro semestre de 2010. Praticamente um ano e meio de tempo para o diálogo, para a construção de um plano de mobilidade que pautasse as futuras intervenções, dando diretrizes e caracterizando programas de planejamento urbano. Querem que as pessoas entendam de Pesquisas, números e mais dados complexos (até para quem trabalha e estuda sobre isso), e ainda dêem sugestões (!!!) em duas audiências. A preguiça ceifou a oportunidade de termos quase uma centena de audiências por todos os bairros dessa cidade.

A incompetência aparece na não-confecção do Plano de Mobilidade antes das discussões sobre transporte coletivo. A mobilidade urbana é um reflexo de todos os condicionantes sociais, espaciais e econômicos, que, interligados entre si, formam tudo aquilo que hoje consideramos como cidade. Não dá para montarmos um sistema de transporte coletivo por ônibus sem pensarmos conjuntamente nestes fatores. Ontem, após pressão de vários setores sociais, o IPPUJ disse que o Plano de Mobilidade está sendo revisado e será enviado para o Conselho da Cidade, e, após isto, para aprovação na Câmara de Vereadores. Mas só agora? E as audiências com a população? Vai ser que nem na Lei de Ordenamento Territorial, um processo sem audiências públicas? Carroça na frente dos bois, sempre.

As irresponsabilidades se apresentam na junção das duas adjetivações supracitadas. A não-confecção do Plano de Mobilidade, juntamente com a preguiça de querer tratar a licitação do transporte coletivo, não ouvindo o povo no tempo de sobra que teve, e, após meses de expectativas, avisar que tudo é pra ser resolvido “pra ontem”. Uai (que nem diz o pessoal lá de Minas Gerais e do centro-oeste), agora querem que tudo seja rápido? Ridículo é a Prefeitura (e todos os órgãos que compõem a polêmica comissão criada para organizar o processo licitatório) querer dançar tango com passos de samba.

PS: para quem quiser ouvir a entrevista da Presidente do IPPUJ, Roberta Schiessl, sobre este tema, aí vai o link da entrevista que ela concedeu ontem (30jan) para o Jornalismo da MAIS FM: http://t.co/P6R0IIhr

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Udo Döhler vai abraçar a Viúva Porcina?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O nome mais fora de lugar entre os pré-candidatos à Prefeitura de Joinville é Udo Döhler. Por uma razão simples: ele não precisa do emprego para nada. Afinal, ao contrário da maioria dos seus pré-adversários, o empresário já está com a vida ganha e não lucra grande coisa ao se meter no lodaçal da política.
Aliás, neste momento deve haver muita gente a fazer a mesma pergunta: por que razão o empresário iria deixar uma aposentadoria dourada para ingressar numa atividade armadilhada como a política? Prestígio pessoal? O gostinho do poder? Vaidade? Tédio? Conselhos duvidosos? Ok... essa é uma questão de foro íntimo que só ele próprio poderá responder.
No entanto, há um fato incontornável: ninguém chega onde Udo Döhler chegou tomando decisões mal pensadas. E o empresário sabe que, ao avançar com a candidatura, tem um importante diferencial a seu favor: os eleitores andam com o saco cheio de políticos incapazes de cumprir o que prometem.
Todos sabemos que em política mais vale a percepção do que a realidade. E os políticos tradicionais simbolizam um acumular de decepções. Nada mais lógico, portanto, que construir a imagem do candidato Udo Döhler a partir do perfil de gestor. É uma poderosa arma de marketing pessoal, sem sombra de dúvida.
Muitos eleitores – por ingenuidade ou legítima fé – acham que a solução passa por um governo tecnocrata. Não passa. Nenhum município pode ser governado com soluções puramente empresariais. Ser um gestor tem vantagens, mas também os seus óbices. Haverá muitos momentos em que o administrador precisará vestir a pele de político. E o fator político pode ser a kriptonita de Udo Döhler.
A VIÚVA PORCINA –  O problema para o empresário não é a candidatura em si, mas tudo o que ela comporta. Ou seja, a sua vitória significa a volta da maralha do PMDB ao poder (se bem que nunca saíram de lá). E qualquer pessoa com dois dedos de memória sabe que isso não augura coisas boas.
O que é o PMDB, tanto no plano nacional quanto local? Uma gororoba ideológica. Uma mistela moral. Um esturricado ético. No caso de Joinville, ao longo das últimas administrações, o partido tem sido uma espécie de Viúva Porcina, aquela que foi sem nunca ter sido. Ou seja, esteve lá sem ter estado.
E como em política só falta ver boi voar, ninguém pode pôr de lado a possibilidade de coligações com os caras da tríplice. E aí corremos o risco de tudo virar um bordel fisiológico, com a Viúva Porcina no papel de cafetina. O risco da promiscuidade é tanto que nem a imagem de seriedade de Udo Döhler escapará ao contágio.
Há outro fator interessante. Tem gente a fazer analogias e a pensar que Udo Döhler pode ser uma espécie de Wittich Freitag dos nossos dias. Besteira. Todos sabemos que a história só se repete como farsa. E os tempos são muito diferentes. Hoje temos uma mídia mais democratizada. As redes sociais, por exemplo, são uma mídia incontrolável e capaz de provocar danos sérios na imagem dos políticos. Aliás,vivemos tempos tão diferentes que até um zé-ninguém como eu pode vir para um blog e tentar dissecar a candidatura do empresário.
Bem-vindo ao mundo da política, sr. Udo Döhler. É bom começar a conviver com a ideia de virar vidraça. Porque , não tenho dúvidas, tem gente a acumular pedras.