quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Vocês vão ficar milionários

POR JORDI CASTAN


"Vocês vão ficar milionários". Alodir Cristo - vereador

 O debate sobre a LOT, as sessões extraordinárias e as, digamos, audiências públicas promovidas pelo legislativo produziram algumas pérolas e, principalmente, evidenciaram uma boa parte do jogo de interesses em que tem se convertido o planejamento urbano de Joinville. A ganância de uns, a cobiça de outros, a desfaçatez de uma minoria e o idealismo de alguns setores propiciou um quadro bastante claro do que está em jogo, quem são os atores, quem é platéia e quem paga a conta. Uma das pérolas mais interessantes foi produzida pelo vereador Alodir Cristo, que num determinado momento lançou: “Vocês vão ficar milionários”. A frase, além da sua força retórica e de conseguir criar um jogo de efeito, ficou incompleta porque não ficou claro para os ouvintes atentos se ele se referia a:

 1.- Os representantes da Associação de Moradores da Estrada da Ilha, que manifestaram repetidamente e em alto e bom som que não concordam com a proposta defendida pelo vereador, e não só por ele, de reduzir o tamanho dos lotes para 600 m2, numa área tradicionalmente rural, historicamente sujeita a enchentes e com um perfil consolidado. Entendem os moradores que reduzir o tamanho dos lotes para permitir loteamentos naquela área descaracterizará completamente a região. E também que não há infraestrutura adequada para fazer frente ao crescimento populacional que a proposta acarretaria. Caso tivessem interesse em formar parte do seleto grupo de milionários a que o vereador faz referência, deveriam vender as suas áreas de cultivo e abandonar as atividades tradicionais que formam parte do seu modo de vida. Acrescente-se ainda que representa um aumento do perímetro urbano do município, algo que o Plano Diretor não permite.

 2.- Os representantes do setor imobiliário, proponentes das diversas emendas que tem como objetivo mudar o perfil da cidade, aumentar o seu perímetro, avançar sobre áreas que hoje são rurais e, portanto, de pouco valor imobiliário. E que, de forma definitiva, seriam os maiores beneficiados com as mudanças propostas.

 3.- Os vereadores que, imbuídos do mais elevado espírito social e político, aprovam emendas com efeitos questionáveis: descaracterizando o perfil da cidade, promovendo perdas irreversíveis de qualidade de vida para as pessoas que nela moram e estimulando o adensamento e a verticalização de áreas alagáveis. Tudo isso sem infraestruturas e de forma claramente contrária aos desejos da maioria dos moradores eleitores. Mas eles o fariam na certeza que há setores da sociedade que saberão reconhecer o sacrifício dos legisladores e que os poderão recompensar regiamente no futuro próximo, pelo desgaste político que agora enfrentam.

É importante que o vereador Cristo seja mais preciso, que esclareça exatamente quem ficará milionário. E seria ainda melhor que informasse a quanto ascenderá a riqueza gerada pelas suas ações e emendas. Ainda seria ideal se a unidade de medida que ele estaria utilizando para medir o enriquecimento que propõe seriam os reais, os votos, os amigos, os metros quadrados de área construída ou qualquer outra que agora nos escape.

10 comentários:

  1. O que é proposto é condomínio fechado e não loteamento. Que por si só já é uma grande diferença. E outra, existe o Country club por lá...

    Marcos

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  2. Condomínio fechado de 600 metros quadrados!!! hahahahahaha. Seis geminadas e olhe lá. Me lembrou da Bill Clinton, quando disse que não havia feito sexo com a estagiária, porque sexo oral não é sexo...

    Jordi, perfeito como de costume.

    Cristo foi, na minha visão, a grande decepção desta legislatura.
    Dificilmente vai se reeleger, não só pelo que tem feito na LOT, mas, principalmente, por ter ofendido todos os servidores municipais em outra ocasião. Na PMJ querem o Cristo na cruz...

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  3. Acompanhe melhor! São 600 m²(mínimo) por terreno e não o tamanho do condomínio.

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    1. E daí? Em Campo Alegre, reino dos condominio rurais e que está descaracterizando a paisagem e o meio ambiente da região, vc não encontra terrenos deste tamanho. É favelização sim, estamos rumando para isto.

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  4. É no mínimo incabível os argumentos utilizados por alguns moradores e entidades com afinidades para a atividade especulativa. Dizer que a Estrada da Ilha já está descaracterizada? Que existe uma "forte" pressão de ocupação? O que é isso, tão achando que só existem babacas por aqui? O Golf Clube não é parâmetro para nada, tanto é que sofreu ação da Justiça e teve que cumprir Ajustamento de Conduta e tudo mais. É exceção. Sem contar que esta região se trata, conforme está sendo provado, um importante "reservatório" de águas daquela planície, sua impermeabilização trará consequencias inprevisíveis para parte do Bom Retiro e Jardim Sofia.
    E no Panagua então nem se fala, avançar o perímetro, permitir indústrias sobre banhados, restingas e manguezais é crime contra o patrimonio da União e da Humanidade.
    É incrível como o PT, partido que teve Chico Mendes e Marina da Silva, está conivente com esta putaria toda.

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  5. O terreno da minha casa tem quase 600 m². O do meu vizinho também. Vários outros de minha rua tem área de tamanho semelhante.

    (Desculpe-me moderação, mas não vejo exemplo melhor...) É como dizer, olha, vocês serão fodidos, todos vocês... mas não se preocupem... o tamanho do "documento" é pequeno... não vai doer tanto...

    E a nomenclatura ARTs seria, desta forma, uma espécie de vaselina imaginária.

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  6. Os comentários críticos estão a altura do post, maravilha! É por isto que a chuva não forma apenas uma bolha, porque é ácida e permeia muitas camadas...

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    1. É "Gilberto"... defender o indefensável não é fácil. Ou você achou que seria?

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    2. Prezado anônimo
      Nunca me preocupei em defender ninguém, a não ser minha familia e meus Amigos, que são meia dúzia. Me preocupo somente em preservar as minhas convicções. Estas sim, estão intocáveis, e é por isto que luto, por exemplo, contra o crime de avançar o perímetro sobre todo o Panagua e Estrada da Ilha.

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  7. Jordi,

    Infelizmente conclui há 3 ou 4 anos passados que nossa amada Joinville não se presta mais para 2 coisas:

    - Estabelecer atividade industrial, são tantas as exigências que somadas a exploração imobiliária inviabilizam qualquer negócio. Atenção isto vale somente para indústrias, preferencialmente de pequeno porte que tenham nascido na cidade.

    - Adquirir imóveis para uso próprio, os valores praticados não são próximos ao rendimentos que pode se esperar deles. Felizes daqueles que ainda disponham de algum imóvel da família para residir. Por maior que seja o capital disponível o conhecimento matemático aconselha prudência porque algo está errado.

    Permanecendo e sendo válidas minha observações a população e o PIB crescerão no máximo vegetativamente. Isto talvez explique a pressa em consolidar o injustificável.

    Concluindo, somente 2 das 3 alternativas apresentadas sincronizam-se com a lógica que apresentei.

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