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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Poesia de passeio


Foto: Fabrício Porto/ND
POR CLÓVIS GRUNER

A data na dedicatória – “outono/2013” – denuncia: venho querendo escrever sobre “Farda de passeio: poesia quase toda”, do Caco de Oliveira, desde que recebi meu exemplar pelo correio. Mas a tal “realidade” – as manifestações de junho, o assassinato do Amarildo, a desmilitarização da PM, os médicos cubanos, o conservadorismo reacionário dos politicamente incorretos, etc... – atropelou, um após o outro, meus planos de resenhar esta merecida e necessária antologia – e digo uma coisa e outra porque Caco vem fazendo poesia há umas três décadas, utilizando como suporte para sua escrita meios os mais diversos: varais literários, poemas xerocados e carimbados, grafites em pedras e muros, etc...

Conheço o Caco de Oliveira dos tempos em que morava em Joinville e cheguei a guardar por um longo período alguns de seus poemas carimbados, infelizmente perdidos depois de três mudanças. Naquela época – final dos anos 1980 e 90 adentro – eram poucos os lugares e eventos que costumávamos – estudantes, jornalistas, artistas, etc... – frequentar. Ele era presença assídua, tímida e generosa, e suas intervenções já sinalizavam a possibilidade de ler a cidade sob uma clave poética.

Tal possibilidade é uma das que surgem da leitura de “Farda de passeio”. Mas não se trata, por certo, da cidade em seu sentido mais estrito e tangível: nos versos de Caco de Oliveira, ela é mais uma metáfora que coisa, e seu desenho se faz pela confluência de pequenas impressões, desejos e símbolos. Flutuante e incorpórea como uma chama, ela nem por isso é menos real e visível, e os muitos indícios de sua presença surgem em versos como “A vidraça do ônibus coletivo/ chora,/ chove dentro e fora dos olhos.”, ou “Verão/ a lesma refresca a barriga/ no mármore do banheiro.” Em outros, a dicção poética caminha pari passu à solidariedade que denuncia as muitas contradições ainda entranhadas na história e no cotidiano urbanos – e se é possível identificar um nome e uma presença, Joinville, ainda assim pode se tratar de qualquer outra cidade: “Mangue, revirar o passado dói, remói sentimentos. Invasão, fiação de gatos, privadas de buracos no chão, pinguelas e janelas negras. (Saímos donde a gente tava, porque o aluguel comia em nossa mesa).”

A linha que separa a “cidade real” da “cidade imaginada”, portanto, é tênue. E diferente do que supõe uma racionalidade mais dura e instrumental, pouco afeita à experiência sensível, é justamente essa configuração imaginária que permite acessar tanto o seu caráter plural, como os muitos significados atribuídos a ela por meio da linguagem. Quando diz que “o vento balança/ a estátua da praça”, Caco problematiza o cotidiano fluído e “sem tempo” dos que circulam pela cidade sem, muitas vezes, percebê-la. Mas, igualmente, confronta um passado objetivado nos monumentos públicos, opondo-lhe a possibilidade de outros pretéritos encobertos pela almejada solidez dos discursos e imagens oficiais.

OUTRAS FARDAS E PASSEIOS – É esse olhar a cidade, essa tentativa de apreendê-la para além da sua superfície mais visível, que a meu ver aproxima a poesia de Caco de Oliveira de algumas das experiências que o antecederam. Falo dos poetas e da poesia feita nos anos 70 e 80, da revista literária “Cordão” (onde escreveram, entre outros, Alcides Buss, Borges de Garuva, Germano Jacobs, Ives Paz, David Gonçalves, Carlos Adauto Vieira e Eunaldo Verdi); das publicações independentes do mesmo período (tais como “O aprendiz da esperança”, de Apolinário Ternes, “Vida dura”, de Celso Martins e “Saindo da escuridão”, de Luiz Alberto Correa – estes dois últimos, aliás, meus preferidos); dos eventos literários organizados por Dúnia de Freitas, já nos anos de 1990; e, mais recentemente, da poesia escrita por uma geração de novos poetas – e me recordo particularmente de Patrícia Hoffman, Marcos Vasquez, Marcos Alqueire e Fernando Karl, além do próprio Caco de Oliveira.

Em que pese as muitas diferenças – de época, temas e estilos – entre os poetas citados, há alguns elementos a aproximá-los. Sem entrar no mérito do seu valor literário, há neles um esforço por produzir uma poesia que não descuida do mundo; antes, procura ocupar um espaço entre a linguagem e o mundo, aquilo que o ensaísta francês Maurice Blanchot denominou “espaço literário”. É deste espaço-trincheira que se pode apreender e interpretar a linguagem como uma arma de luta; resultado de pressões e violências culturais, sociais e políticas, mas também como uma forma de reagir a elas, um golpe desferido em meio a uma batalha.

Em sua trajetória, Caco de Oliveira construiu inúmeras trincheiras, multiplicou e potencializou espaços, fez com que seus versos, sua ironia, sua apenas aparente leveza (o italiano Ítalo Calvino já disse que só sabe a leveza quem conhece o peso das coisas) chegasse até onde de direito: os leitores, sem os quais a palavra, qualquer palavra, resta incompleta. “Farda de passeio” celebra e sintetiza o percurso de um “guerrilheiro da poesia” que, como todo bom poeta, não declinou do compromisso com seus contemporâneos. Um dos meus haikais preferidos diz: “Enxurrada de palavras/ no asfalto quente da linguagem./ O mormaço põe delírio nos versos.” Pode-se reconhecer na escolha das palavras – enxurrada, asfalto quente, mormaço – a presença latente da cidade que Caco escolheu sua. Latente, mas não limitadora. Ser a um só tempo local e universal, eis aí uma das riquezas dessa joia chamada poesia e deste pequeno grande livro que é “Farda de passeio”.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Repentistas trocam poemas em Joinville


Em 17/02, o Guilherme Gassenferth publicou aqui no Chuva Ácida o poema "Joinville em Poemas e Problemas", a primeira postagem em forma de poesia do blog. Fomos surpreendidos com um leitor, que publicou nos comentários seu poema de resposta à postagem. 

Na opinião do autor Guilherme Gassenferth, o poema do leitor ficou melhor que o que havia sido postado. Então, ele resolveu utilizar o espaço "Com a palavra... o leitor", homenageando ao autor (cuja identidade conhecida infelzimente é apenas o apelido 'Nelson Jvlle'). 

O convite também foi formulado como um poema, bem como a aceitação do convite. Confira a troca de poemas (texto em azul é do leitor Nelson Jvlle).

Com a palavra... o leitor!




[POEMA ORIGINAL] POR GUILHERME GASSENFERTH

Joinville é uma cidade
lotada de problemas.
Vou sem dó nem piedade
falar sobre alguns temas.

A biblioteca, coitada,
se a visse Rolf Colin
deste jeito abandonada
choraria sem ter fim.

Biblioteca sem teto
Museu interditado
Não posso ficar quieto
Muito triste tenho achado.

E falando em interdição
lembrei-me das escolas:
descaso, decepção!
Como pode, oras bolas?

E da Câmara, que falar?
Os nossos maus vereadores
ao invés de legislar
só nos causam dissabores.

Além disso é só olhar,
com os carros do Odir,
não precisam trabalhar,
basta apenas dirigir.

E falando aqui de carro
nosso trânsito tá horrível.
Isto tudo é bem bizarro
pois o imposto está incrível.

De bicicleta nem pensar
não dá para ser feliz
se ninguém te atropelar
então foi por um triz!

De busão fica difícil
desconforto e lotação
além de tanto sacrifício
o preço é deste tamanhão!

Se eu não vou com a Transtusa,
"opto" pela Gidion
esta escolha é obtusa
porque como tá não está bom.

E nem mesmo de avião
é possível ter conforto
porque ali no Cubatão
já tá pequeno o aeroporto.

E agora vou dizer:
obrigado, seu Carlito
mais espaço pro lazer
nosso parque tá bonito

Mas não posso me furtar 
a falar com sinceridade:
É preciso batalhar
por um parque de verdade!

Não esqueçamos da saúde
muito menos do Zequinha
vemos cada vez mais amiúde
superlotado na telinha.

Vendo assim até dá pena
e a toda hora, o tempo inteiro
entoam a mesma cantilena
"Isto é falta de dinheiro!"

Mas não se engane, não Senhor
quando ouvir este bordão
digo isto sem temor
O problema é de gestão

O Carlito até tentou
melhorar a administração
E onde foi que ele errou?
Foi na comunicação.

Mas até gosto no geral,
da gestão deste Carlito.
Se tá errado eu meto o pau, 
mas se tá bom eu admito!

Acredite, Joinville ficará boa!
mas pr'isso se concretizar
e não ter sido tudo à toa
pense muito bem na hora de votar.

[PRIMEIRA RESPOSTA] POR "NELSON JVLLE"

Tem razão o escrevente
de sobrenome tão complicado
Mostrou a Joinville recente
mas esqueceu a do passado

Nisso não há impedimento,
mas lembro sempre a grande verdade.
Aquele que semeia vento,
Só pode colher tempestade.

Portanto não me surpreendo
ao ver Joinville ir a pique.
Nenhuma cidade inteira resiste
a oito anos de Luiz Henrique

Que agora em Brasília é senador
mas anda dizendo sandices
à noite puxando o cobertor,
diz despachar com Ulysses...

Ora vejam o que diz nosso ex-prefeito
Num recente discurso esquisito
Ao ver que agora não tem mais jeito
Botou toda a culpa no Carlito.

Ora nosso querido Senador
como sempre ardiloso e astuto
quando prefeito deixou de fazer
e agora diz que falta viaduto.

Enquanto isso o povo sofrido
o assistiu manso, calado e mudo
deixar o Mariani rendido
e hoje nos empurrar o Udo

Sem contar que o Tebaldi foi feito
Sucessor para cuidar do inventário
Primeiro fez dele prefeito,
E depois o impôs Secretário

Mas seu reinado pouco durou.
No estado o prejuizo foi enorme
Dona Lia muitas escolas lacrou
e as crianças estão sem uniforme

E diante de todo esse dilema
Ao invés das escolas consertar
Fazia churrascos em Itapema
Pra depois à Lia processar

Bem, espero que não me levem a mal
Porém insisto e repito
Vamos brincar o carnaval
E não culpar tanto o Carlito.


[O CONVITE] POR GUILHERME GASSENFERTH

Nelson Joinville, caro amigo
Ora só me cabe dizer
"Concordo plenamente contigo"
Permita-me o porquê esclarecer.

Durante anos Joinville penou
Nas mãos do hoje Senador
Mas que tanto mandou e desmandou
Que mais parece Imperador!

E se hoje nosso asfalto
Está todo esburacado
É preciso falar bem alto
Carlito não é o culpado!

Confesso que tenho medo
Do que pode acontecer
Um sete de outubro bem azedo
Que tenhamos de viver.

Ao seu Udo sou simpático
Mas não gosto de seu mentor
Que parece ser fanático
Por causar-nos dissabor

Luiz Henrique em Brasília
Cuide agora do Senado
Pois quando esteve lá na Ilha
Não olhou pra este lado!

Digo, olhar até olhou
Mas só olhou pela política
Da cidade tanto sugou
Que hoje encontra-se raquítica!

Para Joinville dar-se bem
Parar hoje é preciso
De só dizer amém
Ao Senador que é bem liso.

Nelson, deixe-me propor:
Aceitarias meu convite
De teu poema aqui expor
Para aquele que nos visite?

Quero fazer uma postagem
E publicar este teu texto
Pro joinvilense ter coragem
De tirar este cabresto

E parar de achar que Luiz Henrique
Grande algoz desta cidade
Ainda é nosso cacique
E o será por toda eternidade!

De todo modo, obrigado
Por dar sua contribuição
Melhor que o que eu tinha postado
Foi esta sua criação!


[RESPOSTA AO CONVITE] POR "NELSON JVLLE"

Meu caro amigo escritor
de texto tão prazeiroso.
Nos prova sem tirar nem por
o quanto é generoso.

Pela gentileza que me concedeu,
só posso ficar honrado.
Mas...meu post melhor que o teu?
acho um tanto exagerado.

Quanto a tua proposta e convite
Não se faça de rogado
Se o texto algo transmite
Use-o bem, mas com muito cuidado

Porque todos sabemos de sobra
Não é novidade na praça
Pois quando criticam sua obra
O Senador nunca acha graça...

Sorte e sucesso, amigo.
E que suas lutas sejam exitosas
Mas por certo irá enfrentar
Muitas viúvas raivosas.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Joinville em poemas e problemas

POR GUILHERME GASSENFERTH

Joinville é uma cidade
lotada de problemas.
Vou sem dó nem piedade
falar sobre alguns temas.

A biblioteca, coitada,
se a visse Rolf Colin
deste jeito abandonada
choraria sem ter fim.

Biblioteca sem teto
Museu interditado
Não posso ficar quieto
Muito triste tenho achado.

E falando em interdição
lembrei-me das escolas:
descaso, decepção!
Como pode, oras bolas?

E da Câmara, que falar?
Os nossos maus vereadores
ao invés de legislar
só nos causam dissabores.

Além disso é só olhar,
com os carros do Odir,
não precisam trabalhar,
basta apenas dirigir.

E falando aqui de carro
nosso trânsito tá horrível.
Isto tudo é bem bizarro
pois o imposto está incrível.

De bicicleta nem pensar
não dá para ser feliz
se ninguém te atropelar
então foi por um triz!

De busão fica difícil
desconforto e lotação
além de tanto sacrifício
o preço é deste tamanhão!

Se eu não vou com a Transtusa,
"opto" pela Gidion
esta escolha é obtusa
porque como tá não está bom.

E nem mesmo de avião
é possível ter conforto
porque ali no Cubatão
já tá pequeno o aeroporto.

E agora vou dizer:
obrigado, seu Carlito
mais espaço pro lazer
nosso parque tá bonito

Mas não posso me furtar 
a falar com sinceridade:
É preciso batalhar
por um parque de verdade!

Não esqueçamos da saúde
muito menos do Zequinha
vemos cada vez mais amiúde
superlotado na telinha.

Vendo assim até dá pena
e a toda hora, o tempo inteiro
entoam a mesma cantilena
"Isto é falta de dinheiro!"

Mas não se engane, não Senhor
quando ouvir este bordão
digo isto sem temor
O problema é de gestão

O Carlito até tentou
melhorar a administração
E onde foi que ele errou?
Foi na comunicação.

Mas até gosto no geral,
da gestão deste Carlito.
Se tá errado eu meto o pau, 
mas se tá bom eu admito!

Acredite, Joinville ficará boa!
mas pr'isso se concretizar
e não ter sido tudo à toa
pense muito bem na hora de votar.