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segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Aberta a temporada de caça

POR JORDI CASTAN


A cada dois anos - nesta época do ano - abre a temporada de caça. De um lado, os eleitores são alvo fácil de charlatães, políticos e outros mentirosos. Do outro, os eleitores, se convertem em caçadores e saem às ruas a procura de um candidato honesto em quem possam votar. É uma luta desigual, inglória em que os charlatães, embaucadores, mentirosos e trapaceiros têm todas as chances de ganhar.

O bom senso recomenda manter distância dos trapaceiros ignorantes, uma boa distancia se equipara a gozar da proximidade de um sábio. A tarefa do eleitor é duplamente difícil: por uma parte, não se deixar seduzir pelo canto de sereia dos candidatos, que, contando com a colaboração de marqueteiros e com recursos quase infinitos, projetam uma imagem que pouco tem a ver com a realidade. O eleitor médio tem poucas possibilidades de não sucumbir ao encanto do discurso fácil, da imagem editada, do sorriso falso e da roupa impecavelmente passada. 

Armados com dados, pesquisas e informantes, inclusive de dentro da própria comunidade, os candidatos dizem o que o eleitor quer ouvir.  E o eleitor cai com facilidade na arapuca, atraído pela isca do verbo melífluo daquele que mesmo não tendo feito nada, nos últimos quatro anos e sem pretender fazer, promete agora que fará o que não fez.  É hora do eleitor aprender a reconhecer os charlatães que se escondem no meio dos políticos honestos e sinceros. Há inclusive estudos científicos, que insistem em assegurar que há políticos sinceros. Que mesmo pertencendo ao mundo mitológico das fadas, os gnomos, os trolls, os dragões, o saci-pererê e a curupira eles conseguem ser indicados nas convenções partidárias e ganham o direito de disputar eleições com chance real de ganhar.

Evitar os charlatães é mais fácil do que parece. A melhor tática é utilizar a “via negativa” e em lugar de concentrar-nos em dizer o que é ou como é um charlatão, focar no que não é, e proceder a um processo de eliminação. Assim, a melhor forma de identificá-los é olhar para aqueles que oferecem sempre visões ou mensagens positivas, aqueles que vendem a imagem que tudo é fácil, simples, que não há problemas. Imaginemos que alguém disser que a BR-280 estará duplicada em menos de um ano e que agora vai, que não haverá problemas na abertura da licitação. Pronto... é tiro e queda. Só pode ser um charlatão. Pintou o mundo de cor de rosa? é charlatão.

A dica serve também para outras duplicações como a da Santos Dumont ou a Dona Francisca. Se diz que serão instaladas trocentas câmaras de segurança, com tecnologia digital de alta definição. Acertou, é outro charlatão. São todos candidatos a escrever livros tendo como título: “Como encontrar um marido em 12 passos”, ou “Como ter sucesso com as mulheres” ou “Os dez degraus para o sucesso”, ou “Como administrar Santa Catarina” ou “Como navegar na marolinha”. Reconheceu algum? Ficou fácil verdade? Para concluir, quando aparecer um candidato que fale dos problemas reais que o Estado e o país vivem, preste atenção, você pode estar frente à frente com um candidato honesto.

A parte triste é termos aprendido, ao longo do tempo, que nem sempre os melhores candidatos vencem. E que a maioria do eleitorado gosta de se deixar iludir e vota em quem oferece soluções mágicas para emagrecer sem sacrifício, para prosperar sem trabalho e para progredir sem educação.




sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Aleluia: só o Ministério Público salva!

POR GUILHERME GASSENFERTH


[Este é o primeiro de uma série de textos sobre os perigos que a religião pode oferecer à sociedade. Além deste, outros dois - pelo menos - versarão sobre a questão do fundamentalismo religioso e sobre o Estado laico.  Acompanhe!]

Há em curso uma situação grave e crescente no país: o surgimento e crescimento das igrejas neopentecostais. Se as pessoas querem crer nos ensinamentos religiosos repassados pelos “profetas” e “apóstolos” (como os fundadores das seitas se autoproclamam), tudo bem. É direito delas. O problema é que algumas religiões estão aproveitando-se da ignorância do povo brasileiro para explorá-lo e enriquecerem à custa de falsas promessas.

As religiões neopentecostais, vale dizer, surgiram no Brasil a partir da Igreja Universal do Reino de Deus, IURD, criada por Edir Macedo em 1977. Nos parágrafos seguintes, veremos um pouco de como agem estes falsos profetas, usando o povo brasileiro para enriquecer seus bolsos, e tudo isso com a infeliz e constitucional imunidade de impostos. E um país com 75% de analfabetismo (funcional e total) é um terreno fértil para estes espertalhões.

O bispo Edir Macedo, dono da TV Record, é aquele que ensinava os pastores a pedir dinheiro para seus fiéis, lembrando-os de ameaçar os fiéis que não doassem com a ida pro inferno: “ou dá, ou desce”. A Câmara de Representantes (equivalente à nossa Câmara dos Deputados) da Bélgica disse que a IURD é uma “associação criminosa, cujo único objetivo é o enriquecimento” e “uma forma extrema de mercantilismo da fé”. Não é à toa que em 1992 Edir Macedo foi para a prisão, acusado de “delitos de charlatanismo, estelionato e lesão à crendice popular”. Infelizmente, não passou duas semanas na cadeia e voltou a explorar a fé – e principalmente o bolso – do povo. Enriqueceu tanto que chegou a oferecer mais de meio bilhão de reais para comprar as madrugadas da TV Globo, sua principal concorrente, que recusou a oferta.

Em 1998, o pastor Valdemiro Santiago, ou o “Apóstolo” Valdemir criou sua própria igreja, a Igreja Mundial do Poder de Deus. O apóstolo Valdemiro chorou diante das câmeras (é o televangelista com maior número de horas na TV brasileira) e conseguiu arrecadar R$ 23 milhões por meio de 150 mil doações de R$ 153, o número de peixes que um milagre de Cristo produziu. Os fiéis, ao associarem o valor ao milagre, fizeram a doação de bom grado. A Igreja Mundial é uma lojinha (inha?) da fé. Vendeu um martelinho de madeira que prometia quebrar mandingas, maus olhados e os obstáculos do caminho, por mil reais cada. Também comercializou “água ungida” em garrafas pet de 400 ml. As ofertas eram de R$ 100 a R$ 1.000, e bastava uma gota desta água para mudar a história da vida do comprador. Com tanto faturamento, fica fácil fazer milagres!

Há também um tipo intolerante entre os pastores, Silas Malafaia. O pastor homofóbico afirmou que o PLC 122 (que busca incluir a discriminação por orientação sexual na lei que proíbe o racismo e discriminação religiosa) seria o primeiro passo para a legalização da pedofilia no Brasil. Parece ser um idiota, mas não é. Em 2009, lançou a campanha de venda da Bíblia da Batalha Espiritual e Vitória Financeira (!), que troca um exemplar por apenas R$ 900. É possível também virar um Parceiro Ministerial, com doações mensais de R$ 15 a R$ 1.000. A Igreja Vitória em Cristo aceita Visa, Master, Diners, American Express e até mesmo Hipercard. Não tem desculpa pra não dar. Daqui a pouco vão parcelar o dízimo.

Há dois milênios Jesus Cristo, o nome invocado por todas as personagens acima, expulsava do templo os mercadores e os compradores, que usavam a casa de oração como espaço de comércio. Valdemiro Santigo, R. R. Soares, Edir Macedo, Silas Malafaia e os demais adeptos da Teologia da Prosperidade devem fazer inveja aos antigos mercadores do templo. A megalomania não está só no nome das igrejas, como Mundial, Internacional e até Universal, mas também na conta bancária dos pastores.

Como Lutero, que combateu a indulgência e o mercado da fé no século XVI não vai voltar, o Governo deveria impedir desde já a atuação destes charlatães, exploradores, comerciantes da fé. O perigo é iminente para todos nós. A lavagem cerebral que estes pastores aplicam nas mentes vazias de seus seguidores faz que os fiéis votem nos candidatos indicados pelos pastores. E aí, o problema vira meu e seu. No caso destas igrejas, só o Ministério Público salva!

“E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões”. Mateus 21:13

PS - após ter escrito este artigo, recebi uma reportagem de um jornal mineiro - cuja autenticidade não pude verificar - que falava que a Igreja Universal do Reino de Deus passaria a aceitar cartão de crédito para parcelar o dízimo em até 12x.