terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Algumas palavras sobre o IPPUJ

POR CHARLES HENRIQUE

Da mesma forma que criticamos as posturas presentes em toda a sociedade, também sofremos com o processo inverso. Sobre isso já abordei aqui no Chuva Ácida, mas, hoje, reforçarei o que penso sobre um órgão em específico da Prefeitura de Joinville: o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Joinville – IPPUJ, para que todos entendam claramente por qual motivo gosto tanto do tema planejamento urbano.

Ao longo de meus atuais 23 anos, talvez seja o órgão municipal em que eu mais preste atenção e acompanhe os seus passos, desde a infância. Pois é. Desenhava com amigos um possível sistema integrado, com rotas, horários, e modelos de carros das mais diversas empresas fabricantes de ônibus. Um doce sonho infantil, óbvio. Acontece que este sonho foi o que me direcionou rumo à graduação em Ciências Sociais e ao Mestrado em Urbanismo, pois sempre quis entender que “bicho” é esse chamado Joinville, e como se organiza espacialmente. Poderia ter escolhido qualquer outro curso, mas fui para as Ciências Sociais por acreditar que a cidade é feita de pessoas dos mais diversos grupos sociais. Entretanto, ao longo dos anos, aprendi que o planejamento urbano é feito por poucos.

Sempre tive a vontade de trabalhar no IPPUJ, e poder dialogar com os arquitetos-urbanistas, engenheiros, geógrafos e demais profissionais que por lá estariam. Consegui, por partes. De 22 de fevereiro a 9 de julho de 2010 estive lá (sim, como comissionado), contribuindo no projeto da pesquisa Origem-Destino.

Após a realização da pesquisa, e alguns problemas de metodologia com a gerente interina da época, decidi que sairia após as férias (eu já tinha acumulado meses de trabalho em outra pasta). Antes disso, um fato que me fez perder muito do “encanto” pelo IPPUJ: fui chamado (por uma pessoa do segundo escalão do IPPUJ) para prestar esclarecimentos sobre um texto que escrevi dias antes. O “UFSC em Joinville” criticava a postura da Reitoria da UFSC (nada a ver com Prefeitura), mas, fui orientado a “parar” de escrever sobre este tema. Voltei de férias e pedi para sair da pasta, sem enfrentamentos, por acreditar que meu tempo ali tinha acabado. Estou estudando muito para voltar um dia.

Deixo aqui a livre interpretação de cada um.

Colocando as introduções de lado, acredito num IPPUJ em que os setores dialoguem sobre programas. Infelizmente o que acontece é uma falta de diálogo. Arquitetos-urbanistas, engenheiros, e todo o restante do corpo técnico permanecem em um “cada um cuida do seu”, realizando projetos específicos. O negócio é muito cartesiano. Por lá existem ótimos profissionais, que, desarranjados, não dão o seu melhor. Talvez falte até um diálogo maior com as universidades da região, promovendo cursos, workshops, etc.

O IPPUJ é um dos poucos setores que possui, ao longo de sua história, um gestor-técnico, pois quase sempre algum profissional com graduação ou pós-graduação na área comandou as ações do órgão. A possibilidade de se despir daqueles cabides de madeira (velhos, descascados, com o gancho torto) por cabides de plástico (com diferentes moldes e nova tecnologia) é singular. Espero que a confecção dos instrumentos regulatórios do Plano Diretor de 2008 seja realizada com a convicção de que o melhor possível foi feito para toda a sociedade. Já que o planejamento é feito por poucos (por mais que plenárias e audiências públicas contribuam com o tema em questão), ele pode e deve ser feito para todos.

As críticas sempre existirão, mas são proporcionais à importância do IPPUJ. Alguns podem encarar o que se diz sobre ele como um “patrulhamento” ou “asneiras sem fundamento”, porém sempre é pensando no melhor para a cidade, sem encarar como verdade absoluta. Eu prefiro 520 mil pessoas patrulhando o IPPUJ (e também a Comissão de Urbanismo da Câmara de Vereadores) ao cenário das décadas de 1960 e 1970, onde tudo era feito em gabinetes, sem discussão, e atendendo ao desejo de poucos. O tema de tão vigente e importante, tornou-se o assunto principal de muitos diálogos. É isso que assusta alguns que estão do lado de lá do balcão (e aqueles que têm acesso livre a eles).

PS: sempre estive aberto ao diálogo e admiro o esforço de cada um em fazer o IPPUJ funcionar.

2 comentários:

  1. Caro Charles, gostaria de fazer um reparo. A Comissão de Urbanismo já funcionou, e foi muito útil, para que Joinville não piorasse muito - década de 60-70, como você coloca. Lembro do saudoso Rui Borba, além de amigo de sérias discussões, um técnico atuante, competente e extremamente apaixonado quando se tratava da rigidez de um planejamento sério em Joinville, que, com a sua famosa "paciencia baiana", muito contribuiu para que essa discussão se tornasse realidade e obrigatória. Entendo que a discussão sobre o futuro de qualquer comunidade passa, necessáriamente, por um choque de interesses, todos legítimos, em princípio, mas, ao mesmo tempo, todos questionáveis, quando se coloca a perspectiva do futuro do desenvolvimento da cidade como um todo. É por isso que todas as categorias profissionais e de representação popular devem estar representadas, com o Poder Público fazendo o papel de mediador, já que, a rigor, é o mero executor das decisões da sociedade que lá se representa. Na minha visão, conceitualmente é isso. O difícil é exercer o conceito na prática. Por isso, no atual contexto, entendo que o IPUJ deveria ser transformar num instituto independente, com a Comissão de Urbanismo como um orgão consultivo, sediado em uma universidade, por exemplo e de preferência, com poderes de veto a projetos que não obedecessem estritamente às normas de planejamento urbano.
    Defendo, há algum tempo (e já mencionei isso , aqui no Chuva Ácida, acho que num dos posts do Jordi), que uma dessas universidades que aqui se intalam deveria criar um núcleo de estudos de planejamento urbano, já que, Joinville e Região Norte apresenta-se como um caso de estudos precioso na área para os próximos 50 anos, no mínimo.

    ResponderExcluir
  2. O que faz de coisas absurdas esse IPPUJ é estarrecedor. A única coisa boa que fizeram até agora foi exatamente aquele que você participou, que foi a pesquisa de Origem Destino, porém até a leitura desses foi tão simplista e imediatista que acho improvável alguma mudança nos próximos anos. Nos dados pode-se ver claramente que a cidade precisa de um sistema de transporte coletivo eficiente, já que as pessoas fazem suas rotas comerciais somente onde seus pés lhes permitem chegar para não ter custo extra. Exceção clara somente daqueles que tem carros e podem fazer outros percursos. E o IPPUJ concluiu que a única coisa necessária são as calçadas, dando a entender: se as pessoas agora vivem em guetos, vamos colocar calçadas nos guetos. Ao invés de acabar com os guetos.

    No começo da gestão Carlito, fizeram uma rótula no meio da avenida principal do Costa e Silva, deixando o cruzamento bem menos perigoso. Porém no final de 2011 recaparam o asfalto do local e acabaram com a rótula sem atualizar a sinalização, voltando e aumentando a insegurança. Este é só um exemplo de muitos outros de trevos que parecem com rótulas, aumento o perigo de muitos cruzamentos que esses técnicos tem feito em nossa cidade.

    ResponderExcluir

O comentário não representa a opinião do blog; a responsabilidade é do autor da mensagem