sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Bom dia, Joinville!

POR FELIPE SILVEIRA

Todas as manhãs, quando abro meu twitter, sou recebido com calorosos bons-dias dos futuros candidatos a Prefeitura de Joinville. Abro um sorrisão, feliz pela simpatia dos nossos homens públicos, e penso: esse dia vai ser bom! Pacientemente, aguardo mais twits, esperando que algum candidato diga algo sobre política mesmo, sobre o que pensa sobre a cidade, sobre direitos, sobre comunicação, sobre cidadania, sobre violência, sobre drogas...

Mas fico só no aguardo mesmo. Tem candidato filósofo, candidato jornalista (aquele que publica informações “importantes”), candidato que quer voltar no tempo, candidato revoltado e candidato analista. Só não tem candidato que discuta a sociedade, suas necessidades e costumes.

E não tem por um simples motivo: porque a sociedade não quer. Candidatos são um reflexo da nossa sociedade e seus discursos são frutos dos nossos anseios e cobranças. E, puta que pariu, nós estamos contentes com o que tem por aí.

Um bom exemplo do que eu estou falando é a questão da segurança pública. Eu não quero saber se o candidato (nesse caso ao governo estadual) promete aumentar o número de policiais. Infelizmente, essa é a discussão que importa para a sociedade, achando que isso resolve alguma coisa do problema da segurança pública.

Eu gostaria de saber qual político vai reformar a polícia. Esse, sim, ganharia meu voto. Qual candidato vai aproximar a polícia da comunidade? Qual vai proibir a prática ilegal de violência da polícia? Qual vai trabalhar pela redução de desigualdades? Afinal, sabemos que a violência é fruto da desigualdade, e não fruto da “vagabundagem”.

Da mesma forma, não quero saber qual político vai alargar ruas para que caibam mais carros (pode transformar tudo em rua que sempre vai ter engarrafamento se não mudar a lógica do transporte). Eu quero saber deles vai propor um verdadeiro debate sobre mobilidade urbana, no qual fique claro que a política individualista do uso do carro no dia a dia é nociva à sociedade. Quero saber qual vai fechar uma via de carro para abrir mais corredores de ônibus, qual vai criar uma empresa pública de transporte para que todos tenham o direito de ir e vir garantidos, já que o modelo atual de transporte privatizado provou o seu retumbante fracasso na garantia desses direitos assegurados pela Constituição.

No entanto, é cada vez mais claro que a sociedade, no geral, não quer saber de nada disso. A maioria só quer saber de entrar no seu carrinho e não ficar tanto tempo no trânsito. Pra isso, quer avenida mais larga. Vão dar com os burros na água. Ou vão se jogar na água... sei lá.

4 comentários:

  1. Felipe, entendo teu argumento, mas acho que devemos ter cuidado ao afirmar que os políticos e seus discursos são reflexo da sociedade e seus anseios. Deste jeito, logo acabamos concordando que "cada povo tem o governo que merece", e não é bem assim.

    Se a população (ou boa parte dela) ainda não se mostra conscientizada sobre algumas questões (como a mobilidade urbana, a segurança pública, o aborto legal, o casamento gay, a adoção por casais homossexuais), creio que seria dever dos políticos fomentar o bom debate e colaborar na politização da sociedade. Mais do que isso, devem criar e aprovar leis que tragam para a sociedade mudanças concretas e, assim, possibilitem a mudança no pensamento das pessoas. Mais ou menos como é a proposta da política de cotas: a presença efetiva dos afrodescendentes nas universidades é uma oportunidade para as pessoas pensarem na exclusão a qual eles (os afordescendentes) são frequentemente submetidos.

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  2. Felipe parece desejar o mesmo que eu, candidatos que não sejam populistas, bienalmente percebo o processo de extinção.

    Para exercer meu direito de ir e vir, eu e uma grande parcela de contribuintes domiciliados em Joinville, necessitamos de ruas e avenidas que permitam a mobilidade.

    Para atender as necessidades dos clientes, preciso me deslocar de carro pela cidade, ao aeroporto ou BR101, com o mínimo de "imobilização", é uma questão de sobrevivência, mas pode chamar de egoísmo.

    A incompetência em executar um planejamento de décadas atrás, não pode ser usado para decretar o fim do uso do automóvel pelas pessoas comuns e torna-lo exclusivo dos políticos, membros de partidos e sindicatos como nos países comunistas.

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  3. Sua visão do que preza nas questões de segurança e parcialmente na questão da mobilidade são semelhantes às minhas.

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  4. Só esclarecendo que mobilidade e segurança são apenas dois exemplos neste texto. Poderia citar qualquer outro - educação, lazer...

    Elisa, entendi, mas mantenho a afirmação e considero uma coisa bem diferente da outra. Na minha opinião, o discurso dos políticos reflete muito bem a sociedade. Tanto é que me sinto representado pelos meus candidatos considerados "nanicos". Da mesma forma, o discurso daqueles que não gosto se parece muito com a maior parte da opinião que acompanho. A "exigência" da maior parte do povo, na minha visão, é bem cretina. E é disso que trata o texto. O que pode ser muito bem criticado, claro, até pq dessa forma é um pouco grosseira.

    Por isso, acredito que a sociedade precisa aumentar a exigência, para que as "respostas" dos políticos ou os próprios políticos sejam melhores.

    Acho isso muito diferente de cada povo tem o governante que merece. Acho que as pessoas merecem o melhor, mas, para isso, tem que exigir o melhor.

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