POR EDUARDO DALBOSCO
Com uma certa surpresa, recebi o convite para colaborar com o Blog do Chuva Ácida. Surpresa pois sou uma referência do governo municipal de Joinville e a Chuva, nem sempre amena, ventila ares independentes, marcadamente críticos e com orientação preferencial, não obtusa, pela direção contrária ao estabilishment político.
Escrever 3.447 toques, articular frases, organizar idéias, encadear o pensamento e ser convincente, influindo na opinião pública é enorme desafio. Acredito ser de uma grande responsabilidade social, com alcance nem sempre mensurável, tecer um comentário sobre algo, alguém ou alguma coisa, registrando de forma peremptória um parecer seja condescendente, acusatório ou de apologia desbragada.
Neste caminho, enobrecer ou avacalhar são práticas idênticas, que utilizam os mesmos instrumentais para gerar eficácia na tarefa de convencer. Nem sempre uma critica autodenominada de esperta, tem pertinência com a vida mesma, ou consistência para lograr o rótulo de válida ou lógica. Quantas vezes um comentário de 140 toques, limite da capacidade de produção teórica para muitos, tece juízos fulminantes sobre assuntos que requerem espaços verdadeiramente acadêmicos para se fazerem entender, tal a complexidade dos mesmos. É comum o entusiasmo juvenil de críticos de plantão produzir frases curtas, pobres, sobre assuntos polêmicos. É usual o deleite prazeroso que muitos tem de fulminar outro, com palavras rápidas, mas certeiras, impressas e definitivas em palpites nas colunas de opinião nos jornais, na provocação de um microfone aberto de rádio ou na facilidade comunicativa das redes sociais, que aceitam qualquer comentário.
Recentemente o colunista Paulo Ghiraldelli Jr., da Folha, asseverou que o comportamento udenista que grassa na história política brasileira, o mesmo que já apostou no PT e no PSDB, agora encontrou nas redes sociais o seu lócus apropriado para reproduzir a crítica sacrossanta de que todos são eticamente impuros. O texto, “Frustração e ódio à democracia”, alerta para o perigo deste comportamento quase sempre localizado na classe média. Concordo com o recado, mas não compartilho com o mérito da análise.
Sou da opinião de que cada palavra precisa ser respeitada. Cada idéia, abriga um sentido que, pertinente ou não, merece ser sempre considerado. Conviver com o diálogo, saber transitar na diversidade de opinião, confrontar sem destruir, construir pelo convencimento e pela humildade de aceitar a mudança de posicionamento, dá trabalho, mas pode ser decisivo para que o pacto societário seja obrigatoriamente prisioneiro e liberto pelos valores da humanidade e da inteligência.
Ouvir é uma capacidade fora de moda. Aqueles que silenciam e escutam, valorizando a carga de idéias que recebem, processando o contraditório antes de emitir precipitadamente qualquer opinião, geralmente são considerados fracos, ausentes de posições firmes, carentes daquela energia individualista que determina, pauta, manda, afirma ou decide. Acho sinceramente que precisamos saber ouvir. Precisamos ter paciência histórica com aqueles que dizem barbaridades de assuntos que não conhecem e com os que se declaram absolutamente certos de temas dos quais eles não têm o menor domínio ou propriedade.
A desigualdade intelectual é propriamente humana, não compreendê-la é burrice. Sem cair no relativismo, o juízo ou a decisão merecem a sabedoria de uma reflexão apropriada.
O maniqueísmo do bem contra o mal, da direita contra a esquerda, do certo contra o errado, está em assintonia com a sociedade contemporânea. Pensar a diferença tendo como ponto de partida a exclusão do adverso é comportamento medieval, próprio dos amantes da guilhotina.
Pensar a complexidade incluindo o diverso é atual, moderno e necessário. Exige tolerância, preparação, estudo, apego à coerência. E, sobretudo, honestidade com as convicções.
Parabéns ao Chuva Ácida. Espaço plural de crítica inteligente. Jonville sai ganhando. Todos saem ganhando.
Eduardo Dalbosco é Chefe de Gabinete da Prefeitura de Joinville
Eduardo, muito oportuno seu post neste blog. Para bons entendedores, basta. Faz pensar, incomoda, provoca, bagunça nossas zonas de conforto. O problema é que, talvez, nem todos sejam bons entendedores. Em outra oportunidade, seria bacana e ainda mais oportuno responder algumas críticas rasas e interesseiras que, vez ou outra, aparecem por aqui minando a tal "pluralidade" que, supostamente, é marca do espaço.
ResponderExcluirParabéns pelo artigo, Eduardo. Gostei, especialmente o parágrafo que diz: "A desigualdade intelectual é propriamente humana, não compreendê-la é burrice. Sem cair no relativismo, o juízo ou a decisão merecem a sabedoria de uma reflexão apropriada." Só faria um reparo, se me permite: entre "não" e "compreendêla", da primeira frase, eu colocaria um "tentar", ficando assim: "...não tentar compreendê-la...".
ResponderExcluirO texto está muito bem escrito! Considerando o exíguo prazo que você teve para escrevê-lo, seus méritos são ainda maiores. Parabéns!
ResponderExcluirEduardo, permita-me repetir o seu penultimo parágrafo:
ResponderExcluir"Pensar a complexidade incluindo o diverso é atual, moderno e necessário. Exige tolerância, preparação, estudo, apego à coerência. E, sobretudo, honestidade com as convicções."
Cada vez mais acredito nesta eterna discussão que é a vida. Vi estes dias um post muito legal no facebook com a seguinte pichação em um muro na Espanha: "La mente es como un paracaídas, sólo funciona si se abre."
O texto, complementado pelo comentário da Elisa, não poderia estar melhor.
ResponderExcluirAna Carolina Luz