Interessante
o tema levantado pelo Guilherme Gassenferth na semana passada, aqui no ChuvaÁcida. E também a troca de opiniões que rolou nos comentários. Mas faltou o
foco num aspecto que, do meu ponto de vista, é o mais importante: a falta de
adaptação dos cursos de humanas às exigências dos tempos.
Ficou
abstrato? O problema é que os cursos de humanas - Ciências Sociais,
Ciência Política, Sociologia, Geografia, Letras, História ou Antropologia,
entre outros - não respondem às exigências de uma sociedade que, gostemos ou
não, segue um modelo de desenvolvimento. Quer dizer, os cursos de
humanísticas ficam no seu gueto de conhecimento e não tentam encontrar uma
aplicação prática nessa nova realidade.
Vamos
traduzir em casos práticos? Um dia fui entrevistado por uma jornalista
portuguesa (sim, o maior jornal do país me confundiu com um linguista a sério)
que era formada em filosofia. Na agência onde trabalho, tive um estagiário
formado em antropologia e que enveredou pelo caminho das pesquisas de opinião.
Também conheço um sociólogo que se tornou planejador estratégico numa empresa.
E há muitos outros casos.
INTERDISCIPLINAR
- O problema
é que o Brasil ainda vive essa obsessão pelo diploma (é só olhar para o tanto
que sacaneiam o Lula) sem se preocupar com a adaptação à nova realidade social.
Na Europa, por exemplo, acabou o conceito de “uma profissão para a vida”.
A lógica é de que, ao longo da carreira, as pessoas vão mudar de
profissão para encontrar lugar no mercado de trabalho.
O
fato é que eu posso ser formado em humanas - Geografia, História, Antropologia
ou o escambau - e exercer outra função qualquer (como de fato exerço). Nas
sociedades hodiernas, as empresas não contratam títulos, mas a capacidade de
resolver problemas. Talvez seja a hora de os cursos de humanísticas deixarem de
tratar a interdisciplinaridade como objeto de estudo e pensarem nela como forma de adaptação
ao mercado de trabalho.
Atenção.
Ao contrário do que muitos possam pensar, sou a favor da formação humanista.
Porque ela é essencial para compreender o mundo. A primeira vez que entrei para
a universidade foi num curso de engenharia. E posso dizer que a grade
curricular era completamente desprovida de qualquer conhecimento que permitisse
ver o mundo sem ser de forma ideológica (no sentido marxiano de distorção). Saltei
fora.
Outra
coisa. O pessoal mais antigo sabe que estou no jornalismo desde meados dos anos
80, apesar de ser licenciado em História (naquela época não havia cursos de
Jornalismo em Joinville). Mas se alguém perguntar, eu digo. Se tivesse que
refazer o meu percurso acadêmico - sabendo o que sei hoje - escolhia fazer
História novamente. Não tenho qualquer dúvida de que obtive melhores
ferramentas para ler o mundo.
TO
BE OR NOT TO BE - Ok... aí vou bater numa casca de ferida que nunca seca. Se eu
voltar para o Brasil, é provável que os meninos dos sindicatos não me aceitem
como jornalista. E não adianta dizer que eu fiz pós-graduação, especialização,
mestrado ou doutorado na área de comunicação. Ou mesmo que já tenha dado aulas
na universidade. Ou ainda que sou capaz de fazer o trabalho. De fato, eu posso
ser jornalista em Portugal, na Espanha ou na Noruega. Mas não no Brasil.
Tudo
isso para dizer que há muita coisa a mudar. É preciso sair das caixinhas
fechadas. O mercado de trabalho, goste-se dele ou não, olha para os diplomas,
mas está interessado em contratar profissionais que ofereçam soluções. Talento,
criatividade, proatividade. É claro que a lógica não vale para algumas áreas
essencialmente técnicas. Mas vale para quem quer sobreviver num mundo onde os empregos
tendem a escassear.
Um
dia o Brasil vai ter que mudar. Deixar de ser um país agro-exportador, voltado
para empresas de mão-de-obra intensiva ou uma economia que vive da extração de
recursos naturais. E aí o futuro dependerá de cérebros. E os diplomas - úteis,
claro - ficarão no lugar a que pertencem: a parede.
É
assim aqui deste lado do Atlântico. E posso dizer, sem medo de errar: “eu sou
vocês amanhã”.
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