segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Não há eleitores negros em Joinville?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Vou esclarecer logo de início, apenas para evitar confusões: este texto é baseado no primeiro dia de horário eleitoral gratuito na televisão. Repito: o primeiro dia. Estive a ver os filmes de todos prefeituráveis e a minha conclusão – que vale o que vale, mas parece óbvia – é que para alguns deles Joinville não é uma cidade de negros.

Os dados estatísticos mais recentes mostram que 17,4% da população de Joinville é formada por negros (estimativa do IBGE para 2011). E, no entanto, esse número não está refletido nas peças publicitárias exibidas por alguns candidatos. Mas onde fui buscar a ideia de verificar a presença de negros na publicidade?

O que despertou a minha curiosidade para esse ponto específico foi  a candidatura de Udo Dohler. Todos sabemos que corre o boato, aí pela cidade, de que ele não emprega negros na sua empresa. O que não é verdade. Eu próprio constatei, nos meus tempos de repórter, que não passava de boato. Aliás, vale dizer: o empresário tem sido acusado de coisas que não fez.

Fiquei a imaginar como os publicitários de Udo Dohler iriam tratar a questão. Pensei que haveria um bom número de negros no filme. Mas não. Quem se der ao trabalho de ver vai perceber que os tais 17,4% não estão representados entre os figurantes. Culpa do candidato? Não. O problema é  que os publicitários pensam apenas como publicitários... e têm vistas curtas para a política.

Mas, para minha surpresa, o grande apagamento de negros foi no filme de Marco Tebaldi. Entre as mais de uma centena de figurantes, aparecem apenas cinco ou seis negros (e a maioria, pelo que imagino, em fotos compradas em bancos de imagens - já prontas). Aliás, alemães com roupas típicas parecem ser imagens recorrentes. A Joinville de Tebaldi é branquinha, branquinha, branquinha.

O filme de Kennedy Nunes tem mais negros, mas parece ter sido obra do acaso. Aliás, li em algum lugar que foi o filme mais comovente nesse primeiro dia. Comovente? Ora, é um filme igrejeiro que tenta, em vão, uma lagriminha no canto do olho. Só é capaz de funcionar se o cara tiver mais glândulas lacrimais do que neurônios.

Mas o filme prova que Kennedy Nunes não faz distinção entre brancos, negros, amarelos ou verdes. Para ele são todos iguais: ou seja, um rebanho de eleitores que precisam ser salvos pelo seu enorme talento de administrador. Porque ele promete ser nada mais, nada menos, do que o melhor prefeito de todos os tempos. De presunção e água benta...

No horário de Carlito Merss, os negros estão presentes numa proporção claramente superior aos tais 17,4%. Mas correndo o risco de recorrer a estereótipos, nada mais natural, já que o jingle do atual prefeito é um samba. Por brincadeira, poderia parafrasear a campanha e dizer: “Negros em Joinville, agora tem”. Mas vai que algum juiz encrespa e cassa o meu espaço no blog.

P.S.: Não dá para fazer a avaliação do filme de Leonel Camasão porque, ao que parece, não há muito a ver em termos de captação de imagens de vídeo.

24 comentários:

  1. Hummm! Não deu de Carlito e agora vai de Udo? Prevalece a lógica. Mas, como diz LHS, "Devagar com o ando que o santo é de barro".

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    1. Meu caro Anônimo, a minha posição sobre Udo Dohler permanece a mesma que expressei num texto escrito há meses (veja o link). E eu lido com fatos... e de fato o candidato foi acusado de coisas que não fez. Posso fazer mais alguma coisa por você?

      http://www.chuvaacida.info/2012/01/udo-dohler-vai-abracar-viuva-porcina.html

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  2. A campanha do PT lançou um vídeo com o ator Robson Benta lendo um texto. Segundo dois amigos, o vídeo lembra aquelas campanhas de "conscientização" do voto da Justiça Eleitoral, pois o texto aborda de modo geral a questão do voto, sendo somente no final a revelação da campanha do Carlito. Porém, é impossível desassociar a figura do Benta do PT. O PT em Joinville sempre foi um partido político associado a questão do povo negro na cidade. Lembro de outras pessoas além do Benta: o Chico de Paula, a Raquel, a professora Consola e assim vai.

    O PMDB que é estranho. Sempre, pelo menos nas minhas lembranças, foi um partido com adesão de setores significativos do povo negro local, em maior número do que o próprio PT, mas na sigla do Carlito o povo negro representou mais atuação política do que na sigla do LHS.

    Hoje, no jornal Anotícia, encontrei uma imagem da campanha do Udo no domingo, onde estava de mão dada com o Sandro Silva (do PPS), mesmo sendo da base de apoio do alemão Tebaldi.

    Maikon K

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  3. Muito boa colocação. Insistir na imagem do alemão com roupa típica já cansou. Agora, insistir nesta presença do negro, como o fez Carlito, e colocar um samba? Samba em Joinville? É forçado.
    O que eu me pergunto mesmo é onde está o operário joinvilense, porque esse é, ainda e sempre, a maioria esmagadora da população.

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    1. Falou pouco e disse tudo.

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    2. Eu não vou fazer a defesa do Carlito. Mas vou usar a história como elemento para tentar debater essa questão do samba.
      Na década de 1930,os bailes de carnaval já aconteciam por Joinville, inclusive em clubes tradicionais, mas é claro que nesses clubes tradicionais a entrada de pessoas negras estavam proibidas. Se vc dúvida, pesquise no site do Jornal Anotícia. Outro caso é a questão do carnaval de rua e nos clubes dos Bairros da cidade, onde o samba entravam, inclusive a população negra. Então, usar o samba não é forçado, mas uma jogada da campanha espertamente pensada.
      Maikon K

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    3. Patético dizer que samba em Joinville é forçado. Não sabe nada sobre a cidade.

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  4. Taí uma coisa que não vi e não tenho a menor vontade de ver: Horário eleitoral gratuito na tv. Podem andar pelados (as) que não vão me convencer.
    Galo

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  5. Com mais de 7 milhões colocados em publicidade com certeza resulta em uma campanha " espertamente pensada"

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  6. Faço outro questionamento. Não há jornalista/âncora em Joinville? Dá nojo ouvir a TVCOM (RBS) anunciando debate na próxima sexta-feira com os candidatos. Pronunciando Udo Dóler... isso mesmo, com "ó". É inconcebível que uma cidade do tamanho de Joinville tenha que engolir apresentadores de Floripa que nem os nomes dos candidatos sabem, imagina os problemas da cidade. Que nojo!! Cadê os âncoras da RBS Joinville???

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    1. Bairrista como a RBS é, já é muito ela escalar apresentadores de Floripa. Podiam ser os gaúchos anunciando o debate. Já pensou: "Mas que barbaridade, tchê! Os gaudérios que querem governar a prefeitura da maior cidade de SC vão se bater em um debate. Trilegal!"

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    2. ahahah, curti!
      Galo

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    3. Ah, mas isso é um absurdo né! Era só o que faltava. Nada contra o Renato Igor mas nem pra gravar uma chamada conseguiu pesquisar e falar o nome certo? Imagina no ao vivo???

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  7. Candidato que coloca "alemães" vestindo "roupas típicas" devia ser multado pelo TRE.

    A invisibilidade virtual do negro em Jville. não é exclusividade da política, infelizmente.

    Durante anos a historiografia tradicional defendeu que não houve presença escrava na cidade durante a colonização, baseada tão somente no fato de que o contrato firmado em 1850 proibia aos colonos manterem escravos em suas terras.

    Pois bem, uma historiadora joinvilense, Denize da Silva, mostrou o equívoco em uma belíssima dissertação de mestrado. Tudo bem, os colonos não podiam ter escravos, mas nada os impedia de usar a mão-de-obra escrava já existente. Simples assim, mas tal detalhe escapou aos Ternes da vida, apesar das fontes estarem onde sempre estiveram: no Arquivo Histórico da cidade.

    Da historiografia à política, algumas coisas parecem insister em permanecer as mesmas. As ideias prontas e os preconceitos, idem.

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  8. É mesmo. Sempre os manezinhos da ilha metidos de mediadores. Não conhecem nada da cidade e o mínimo que podiam fazer, era procurar saber a pronúncia correta dos candidatos.
    Lembro que há muitos anos atrás, nas primeiras edições do Festival de Dança, chamaram a Sônia Bridi para a cobertura do evento. Daí um colega de trampo comentou que "bonito, será que não tem ninguém com competência na cidade? Precisam trazer a moça da Capital?".
    Hoje sou eu que faço a mesma pergunta: "Não tem ninguém competente aqui da cidade? Precisam importar de Floripa?"
    Colorado.

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    1. O da BAND já foi horroroso. TVCOM, dá pra dar um desconto. Vamos ver a RBS mesmo, se vão "inovar" colocando alguém local ou vão mais uma vez importar um de Florianópixxxxx.

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    2. É um abuso não darem para a Talita e o Rafael. Eles são super carismáticos. Todo mundo adora eles. Deveriam ser os dois.

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  9. Caro Baço, nosso programa eleitoral número 2 mostrou não apenas os negros, mas também os LGBTs, idosos, etc. . E está dando polêmica aqui na cidade por termos mostrado um beijo gay na propaganda eleitoral. http://www.youtube.com/watch?v=xEQRKeRzfkM&list=UUjoNuASf59phn0uowhr0Q5g&index=2&feature=plcp

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    1. Salve, Leonel.
      Como eu disse, fiz o texto a partir apenas do primeiro programa e o programa do PSOL praticamente não tinha captação de imagens. Já dei uma olhada no segundo. E, cá para nós, aquela imagem do beijo gay tem tudo para ser um sucesso de público e crítica na liberalíssima Joinville. Cuidado que em vez de prefeito ainda te elegem Joana D'Arc e te atiram para a fogueira... Abraços

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  10. Nao e novidade que joinville abriga uma populacao nazista e vergonhosamente racista.

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  11. Leonel, parabéns pelo programa. Foram os segundos mais corajosos de que tive notícia na história recente da política joinvilense.

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  12. Joinville está ficando uma merda!!! Perdendo sua identidade.


    Forró e Samba em Joinville é o anúncio da desgraça em sua cultura histórica, samba e forró pode ser legal para alguém, mas que seja em outro canto faz favor.

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  13. Roda de Samba e Pagode é o que não falta em Joinville. Esse pessoalzinho que renega a "brasilidade" da cidade e só sabe falar dessas baboseiras de cidade alemã deveriam aceitar os fatos, cada vez mais isso vai ficar pra trás. Vos fala um descendente de alemão que não liga a mínima pra isso. Prefiro a multiculturalidade.

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