POR GUILHERME GASSENFERTH
Você sabe qual é a cidade com a maior população que vive em
zona rural de Santa Catarina? Chapecó? Campos Novos? Lages? Não. É Joinville.
Sim, nós temos a maior população rural do Estado! E o que isto significa, além
de presumivelmente uma informação nova para você? Que o mínimo que Joinville
(estamos incluídos aqui, OK?) precisa fazer pela zona rural é dar mais atenção.
Antes de começarmos de verdade, atente para o fato de que nem todo mundo que
vive na zona rural é agricultor. Aquele pessoal que vive no Golf Club e no
Country Club não me parece do tipo que acorda com as galinhas, calça uma
Havaianas surrada e vai pra roça arar a terra, ordenhar a vaca e plantar milho.
Mas eles são habitantes da zona rural! Muito bem, feito o necessário
nivelamento de informações, vamos ao texto.
Quero pedir licença aos moradores que se aposentaram e foram
pro campo ou que preferiram uma vida mais calma e foram viver num sítio mesmo
trabalhando na área urbana. Não é de vocês que eu quero falar. Meu papo é sobre
a zona rural agrícola.
Vamos falar de infraestrutura. Pense em qual é a estrutura
que estradas como Mildau, Quiriri, Piraí ou do Atalho, por exemplo, oferecem
aos seus habitantes. A população que vive no sítio, nas estradas rurais
esburacadas, com pontes precárias, sem sinal de telefone, sem internet, sem TV
à cabo, estará satisfeita com sua condição de vida? Ou vocês acham que agricultor é obrigado a assistir o Faustão no domingo à tarde?
E mais: será que os jovens que vivem nas estradas rurais
estão satisfeitos com sua condição de vida? São jovens como nós e querem lazer,
cultura, saúde, educação, oportunidade, infraestrutura – iguaizinhos a nós. A
diferença é que daqui de casa ao Centreventos, ao SESC, à academia, à
UNIVILLE, ao Shopping Garten, aos grandes supermercados etc. dá 3 km ou menos.
Para quem mora no fim da estrada Dona Francisca ou no Quiriri, dá 30. E o ônibus é bem escasso!
A preocupação com os jovens explica-se porque eles precisam
continuar lá. É preciso fazer com que ser agricultor seja rentável, prazeroso e
motivo de orgulho. Joinville não pode correr o risco de perder o cinturão verde e agrícola para a especulação imobiliária, por razões econômicas e ambientais.
Econômicas porque o abastecimento agrícola é um trunfo da
cidade. Temos boas plantações de arroz, banana, milho, aipim, além de outras
culturas em menor número mas que contribuem no abastecimento interno, na redução do custo dos alimentos e num alimento mais fresco! :)
Ambientais porque do nosso território de mais de 1.100 km²,
mais de 50% é Mata Atlântica preservada. Desnecessário contar que a absoluta
maioria deste pulmão verde está na área rural da cidade. Com pequenas
propriedades orgânicas, isto permanece inalterado. E é preciso incentivar a
produção agrícola orgânica nas bacias do Piraí e Cubatão, fazendo com que a
terra seja menos agredida, o ambiente seja mais preservado e, principalmente,
nossa água seja pura.
Já falei isto outras vezes, mas é também plenamente
possível incentivar ainda mais o turismo rural, e não só pros turistas de fora,
mas principalmente para o joinvilense. É tão bacana visitar sítios, saber como
funciona a produção de melado ou de geleia, comprar produtos coloniais direto
do produtor, aproveitar as paisagens, tomar um revigorante banho de rio... E poucos
joinvilenses sabem o privilégio que têm no próprio quintal. Tem gente hoje em dia que tá tão urbana que não sabe nem como é um peru (tô falando do animal!).
Minha maior tristeza é ver que os candidatos a prefeito não
apresentaram planos consistentes ou coerentes para valorização da zona rural da
cidade. Não é difícil: infraestrutura completa, incentivo à produção orgânica,
programas de apoio aos agricultores, em especial os jovens, turismo rural,
incentivo à comercialização direta com mais feiras pela cidade (sem atravessadores,
valorizando o produtor), entre outras ações e projetos que devem ser feitos
para fazer Joinville não ser apenas a maior cidade rural, mas também a melhor
cidade rural catarinense. Tô sonhando muito?
Parabéns !!! Bom texto !!
ResponderExcluirdu grego.
Meu caro Guilherme.
ResponderExcluirDe artigo a artigo voce vem se superando. Esse é, na minha opinião, o melhor que voce publicou até agora no Chuva Ácida. Parabéns pela abordagem, pela pesquisa e pelo texto limpo.
E jamais deixe de sonhar.
Obrigado, Nelson. Serei sempre um sonhador, principalmente quando se tratar de Joinville e dos joinvilenses =)
ExcluirA maior população rural de Joinville se deve diretamente à sua maior população total.
ResponderExcluirSe considerarmos a proporção rural/urbano temos aqui um dos menores índices (3,38%), ao passo que municípios com economia na agropecuária possuem mais de 70% em alguns casos.
Se não acharem uma alternativa rentável, com pouca dependência de mão-de-obra e ambientalmente correta, a nossa área rural vai ser formada só por dormitórios e sítios de lazer.
No site do Udo eu achei: http://www.udo15.com.br/propostas/agricultur
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