segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Mentiras e estatísticas

POR JORDI CASTAN

É de Benjamim Disraeli a expressão: “existem três tipos de mentiras: mentiras, mentiras sujas e estatísticas". Veio na hora quando tomei conhecimento dos dados divulgados pelo IPPUJ e a SEINFRA sobre o estado atual e futuro das ciclovias e ciclofaixas em Joinville.

Os dados informam que há em Joinville 101 quilômetros e 440 metros entre ciclovias e ciclofaixas. O quadro anexo permite acompanhar os dados. Não é objetivo deste post questionar as informações divulgadas oficialmente pelo órgão responsável do governo municipal. Mas gostaria de destacar dois pontos.

O primeiro é que a lista relaciona todas as ciclovias e ciclofaixas existentes, algumas delas com mais de 30 anos de idade e a maioria das ciclovias com mais de 15 anos. Não estou insinuando que haja um intento de creditar-se obras que não são desta gestão, elas são inclusive anteriores à própria existência do IPPUJ. Mas é bom ficar claro que a tabela anexa não especifica o ano de implantação de cada uma delas e pode induzir a conclusões erradas.


Total de Ciclofaixas e  Ciclovias em Joinville SC

O segundo ponto é que nos mais de 28 anos que percorro praticamente duas vezes por dia - as ruas Albano Schmidt e Helmuth Fallgater - não tenho percebido que haja uma ciclovia e sim uma ciclofaixa. Entendo que ciclovia, ciclofaixa e tráfego compartilhado são soluções diferentes e não deveriam ser confundidas.

Uma ciclovia (ou pista ciclável) é um espaço destinado especificamente para a circulação de pessoas utilizando bicicletas. Há vários tipos de ciclovia, dependendo da segregação entre ela e a via de tráfego de automóveis:

tráfego compartilhado: não há nenhuma delimitação entre as faixas para automóveis ou bicicletas, a faixa é somente alargada de forma a permitir o trânsito de ambos os veículos.

ciclofaixa:é uma faixa das vias de tráfego, geralmente no mesmo sentido de direção dos automóveis e na maioria das vezes ao lado direito em mão única. Normalmente, nestas circunstâncias, a circulação de bicicletas é integrada ao trânsito de veículos, havendo somente uma faixa ou um separador físico, como blocos de concreto, entre si.

ciclovia: é segregada fisicamente do tráfego automóvel. Podem ser unidireccionais (um só sentido) ou bidireccionais (dois sentidos) e são regra geral adjacentes a vias de circulação automóvel ou em corredores verdes independentes da rede viária*.

Melhor nem entrar no mérito da qualidade da malha que formam estes 101 quilômetros, se estão ou não dentro do que estabelece a legislação, se a sua largura é adequada ou  se a segurança que oferecem as ciclofaixas para os ciclistas é adequada. Tampouco tentar entender se há ou não uma política coerente de mobilidade para ciclistas. Pelo contrário, os dados apresentados projetam que está consolidada a perda de qualidade do modelo atual, pois prevê uma redução no percentual de ciclovias (melhores e mais seguras, quando corretamente projetadas e executadas) atualmente em questionáveis 15,39 % para 9,09% num futuro indefinido e incerto.

Ciclofaixas e Ciclovias projetadas

Voltando aos dados divulgados pelo governo municipal, chama a atenção a inclusão de um segundo gráfico também anexo em que se incluem as ciclovias e ciclofaixas projetadas. Os números apresentados nesta segunda tabela projetam 211 quilômetros de ciclovias para o futuro que, somados aos atuais 101 quilômetros, preveem um total de 313 quilômetros. 

Não há nenhum cronograma, nenhuma informação que permita identificar as fontes de recursos e a diferença entre a fantasia, a quimera e a realidade. É comum, especialmente no período próximo ao final do mandato, apresentar informações, dados e projetos com o objetivo de informar o que foi realizado e o que poderá ser executado no futuro. A conclusão é que os dados apresentados nem informam com clareza o que foi executado nesta gestão, nem conseguem diferenciar o que são projetos contratados e previstos para os próximos meses, do que são só ideias e sonhos. Mais que sonhos, quimeras.



* Fonte Wikipedia

20 comentários:

  1. A foto que ilustra o texto demonstra o quanto as coisas funcionam só no papel. Segundo a lei, as bicicletas deveriam ter preferência sobre o transporte motorizado, mas o que se vê é o fim da ciclofaixa para benefício dos automóveis, ao invés de haver a integração da ciclofaixa da Otto Boehm com a da Marquês de Olinda (que fica a pouquíssimos metros dali).

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  2. Eu adoro a ciclofaixa da Otto Boehm , liga NADA a P...A Nenhuma !!!! kkkk
    num bairro rico !!! seria para os moradores dos condomínios passearem nos domingos???

    e o povo do Ippuj achou o máximo !!! kkkk

    parece piada , mas não é !!!

    Gostei muito da descrição do Mestre Apolinário para nossa cidade : cidade industrial de baixa renda !!! e tem gente q acha o máximo (cidade grande) !!!

    du grego

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    1. Grego, por favor defina bairro rico.
      Qual seria o motivo para os moradores do bairro Atiradores, arredores e pessoas que passam por ele não disporem de uma ciclovia?

      Moro no Atiradores há mais de 40 anos, noo tempo em que nem se sabia de sua existência, as ruas eram de barro e valetas de drenagem a céu aberto.

      Atiradores em números:
      - Nenhuma escola pública
      - 1 praça somente - a praca edífício Dulce, em terreno doado pela construtora para permitir visão da rua ( sim, numa época preocupavam-se com isso)
      - Quase 40% de sua área ocupada por mata atlantica
      - O maior cemitérios municipal
      - Batalhão do exército brasileiro
      - Unidade do Senac ( sistema S governo Federal)
      - 1 condomínio Industrial-empresarial
      - Ligação BR101 centro de Joinville
      - Nenhuma associação de moradores

      A cicloFAIXA da Otto Boehm liga nada a lugar nenhum mas não por culpa do bairro ou seus moradores.

      Desculpem o comentário 100% bairrista

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  3. Não é o caso para se comentar neste post, mas meus dedos não se contiveram. Cheguei à conclusão de que Joinville está para os buracos, assim como os buracos estão para Joinville.
    Incrível, mas mal uma rua é asfaltada, não leva um mês já começam a fazer buracos e remendos. Não bastassem os buracos naturais causados pela mãe natureza, os homens de preto da cidade, vão lá e fazem mais. Tenho andado aí pelo mundo, e com toda certeza Joinville é campeã absoluta. Missburaquenta. Vô te falar hein!?
    Colorado

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  4. Sobre ciclovias e ciclofaixas? Abandonei a missão. A Cidade das Bicicletas definitivamente deu as costas às bicicletas.
    Resumindo: Cidade não tem e não preserva título nenhum.
    Parece que não gosta de identidade. Aliás gosta! Gosta que as pessoas fiquem reclamando o tempo todo.
    Colorado

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  5. Se possível, gostaria de deixar aqui link sobre um texto que fiz do assunto das ciclofaixas para quem quiser aprofundar o assunto:
    Ciclofaixas de Joinville não garantem a segurança dos ciclistas
    http://ivanrocha.com.br/blog/?p=172

    Obrigado

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  6. 101 km de ciclofaixas imaginárias?

    Bom, não sei se os números são reais ou não, porém gostaria muito que a prefeitura melhorasse a atual condição das ciclovias e ciclofaixas. As poucas que existem estão sujas e cheias de buracos. ( ciclista também fura pneu )

    Se for para fazer no estilo "paisagem" ou "para bonito" então nem façam. É preciso integração entre elas.

    Andar em uma ciclofaixa sem continuidade, é como andar com o carro por uma via pavimentada e de repente, entrar no meio do mato. ( É a mesma sensação, ou pior )

    Existem os que dizem que não há ciclistas o suficiente em Joinville: Mentira!
    Há muitos ciclistas que trocariam o carro ou o ônibus pela bicicleta. Claro, se houvesse estrutura.

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    1. Parece que o foco tem sido atender dados estatísticos. Dar numero. De acreditar nestas pesquisas em pouco tempo teremos mais ciclovias (Ops! desculpem Cicloenganções) que Berlim.

      Espere a campanha gratuita na TV para escutar que Joinville fez....que agora tem....e por aí afora.

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    2. O discurso é sempre o mesmo, pois é feito por alguém que não conhece do assunto: O próprio candidato!

      A prefeitura falou em trazer o sistema de aluguel de bicicletas para Joinville, se for um sistema privado ótimo, porém, se for bancado pela prefeitura, já sabemos que fim terá.

      Não é pessimismo não, é realismo. Basta olhar para o estado de conservação de tudo que é público.

      Em tempo, usei e aprovei o projeto do Itaú ( Bike Rio ) sistema prático e inteligente em uma das melhores cidades para se pedalar no Brasil: Rio de Janeiro.

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  7. Concordo! Existem ciclistas para Joinville! E não só ciclistas de fins de semana. Tem ciclistas para todos os gostos e ocasiões.
    O problema todo é que parece não haver mais Joinville para os ciclistas. Ela está dominada... Por quem eu não sei!
    Colorado

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  8. é la na estrada da ilha tem uma empresa que coloca e movimenta caminhao encima da ciclovia, ou melhor a empresa esta encima dela. mas o presidente da associação diz que ja conversou (politica da boa vizinhança) sei como é essa historia. por que nao luta como lutou pelo zoneamento.... aquilo é uma vergonha

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    1. Bom dia Caro Anonimo. Com relação aquela questão da Estrada da Ilha, já foram comunicados a ex-Conurb, policia militar e ouvidoria da PMJ. Se o senhor desejar fazer outra sugestão, estamos abertos. Acontece que naquela região muitos reclamam (o que é muito fácil e cômodo) e poucos tomam alguma atitude que ajude o bem comum. O senhor já tem o meu e-mail, é só me mandar sugestões e participar da reunião da Associação de moradores, que será dia 10/09.

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    2. Eu já abri reclamações no site da PMJ com relação a sujeira ( próximo ao cemitério ) e estado de conservação da ciclofaixa da Estrada da Ilha, mas até hoje, praticamente nada foi feito.

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  9. Uso a bicicleta diariamente como meio de transporte para o meu local de trabalho, e infelizmente o que venho constatando na prática, é que ao invés das ciclovias e ciclofaixas aumentarem também em quantidade (não só qualidade), elas estão... diminuindo! Meus exemplos são a rua Campos Salles no Glória, e na Av Beira Rio (trecho em frente ao Centreventos que foi recentemente reformado). Na 1ª, a sinalização nas placas existe, mas a ciclofaixa (que já era absurdamente intermitente) já desapareceu em vários locais, devido a manutenções na rua. Na 2ª, o que um dia foi uma ciclovia, hoje foi reformada porém não há sinalização que indique que ela continue sendo uma ciclovia, fazendo com que normalmente os pedestres caminhem por ali e corram o risco de serem atropelados pelos ciclistas, especialmente quando acontecem eventos no Centreventos. Cabe lembrar que recentemente uma comitiva da PMJ foi a Europa com tudo pago pelo "povão" para analizar algumas soluções...

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    1. A ciclofaixa da Benjamin Constant também está sendo destruída por obras. Lamentável!

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    2. Lamentãvel mesmo, mas absolutamente previsível

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  10. Jordi, você sabe se há alguma obrigatoriedade de ciclovias para se asfaltar ruas? Por exemplo, para se pavimentar x km de ruas, precisa-se ter uma porcentagem de x de ciclovias. Ouvi uma conversa dessas com o pessoal da massa crítica, e isto justificaria colocações de ciclofaixas sem planejamento de mobilidade, somente para números estatísticos.
    Rafael R. Fischer / fixieyou.com

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    1. Há sim uma informação sobre exigencia de ciclovias ou ciclofaixas em projetos que recebem recursos do BNDES.

      Há inclussive um projeto de lei, não sei se foi aprovado, obrigando a colocar ciclovias e ciclofaixas sempre que o asfaltamento ou a rua seja feita com recursos federais.

      O que como você pode supor explicaria muita coisa.

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