terça-feira, 4 de setembro de 2012

Muita hipocrisia por metro quadrado


POR JORDI CASTAN

Na sexta feira passada, participei como espectador do debate promovido pelo jornal A Notícia, em parceria com a TV COM/SC e a Sociesc.


Auditório lotado, o primeiro a chegar foi Carlito Merss. Na sequência Udo Dohler, Leonel Camasão, Marco Tebaldi e Kennedy Nunes, todos quase ao mesmo tempo. Cada um dos candidatos acompanhado do seu grupo de assessores e alguns candidatos a vereador, mas poucos.

Cumprimentos formais, em alguns casos destilando hipocrisia, mas de forma sutil, imperceptível para o espectador menos atento. A certa distância, a imagem parece o encontro de um grupo de ex-alunos ou de velhos conhecidos.

Carlito transpira nervosismo e, no seu caso, é perceptível o desconforto. Nada parece estar funcionando como estava previsto. Pode ter havido excesso de otimismo ou amadorismo, mas é evidente que o clima e o ambiente não lhe são propícios. O seu vice chega um pouco mais tarde que os demais, mas dentro do horário previsto. Voltolini esta à vontade, age quase como se ele próprio fosse um dos candidatos.

Udo Dohler busca com o olhar com quem conversar, busca eleitores. Aluno aplicado, se esforça em fazer tudo o que tem aprendido. Não consegue dissimular o desconforto com uma situação que lhe é alheia, mas a disciplina pode mais e até faz um esforço para sorrir. O seu vice desaparece no meio do público.

Leonel Camasão ganha disparado o primeiro embate. Os alunos, melhor dizendo, as alunas da Sociesc presentes no auditório, são verdadeiras tietes do candidato. Ao final do debate, muitas delas pedem para ser fotografadas com Leonel Camasão, que é  quem se encontra mais à vontade. Sem a pressão dos demais, a sua atitude contrasta com a dos outros candidatos. O seu vice se confunde entre a nuvem de fotógrafos do jornal A Notícia, parece até um deles.

Kennedy Nunes chega com a segurança de quem está acostumado a atos públicos. De todo modo, aparenta menos segurança que em outras ocasiões. O seu vice circula pouco e senta rapidamente, rodeado de assessores. Kennedy olha para todos os lados, tenta sentir o ambiente e identificar melhor que papel interpretar.

Marco Tebaldi chega rodeado de um grupo de assessores, anda devagar, cumprimenta pouco e não parece estar muito à vontade. A sensação é que está a contragosto, que preferiria estar em outro lugar. O seu vice age mais como um convidado do que como alguém que esta no auditório para somar apoios e buscar votos.

Todos os candidatos parecem conhecer os resultados da pesquisa que será divulgada no sábado, 1 de setembro, e atuam em consonância. As suas ações e atitudes parecem pautadas pelos dados das pesquisas próprias ou de terceiros e pelos conselhos dos seus assessores próximos. O resultado é um ambiente falso, forçado, pouco natural.

Iniciado o debate propriamente dito, todos parecem nervosos. É verdade que uns menos que os outros, depende do que tenham a perder. O formato do debate impede qualquer surpresa, qualquer pergunta mais incisiva e, quando alguém toma a iniciativa de ousar um pouco mais, as respostas são evasivas e inconclusivas.

De novo Leonel Camasão ganha o público. A sua juventude e despreocupação com os votos que possa ganhar ou perder permitem que esteja completamente à vontade. São dele as perguntas e os questionamentos mais interessantes, ainda que a necessidade de querer marcar uma posição ideológica ou partidária faz que o interesse do público acabe se perdendo rapidamente. Todos os candidatos utilizaram a técnica malufista de não responder às perguntas formuladas e se dedicar a conversar sobre outros temas. Neste quesito, menção especial para Carlito Merss

Há perguntas mais incisivas entre Marco Tebaldi e Carlito Merss e entre Kennedy Nunes e Carlito Merss e/ou vice-versa. Mas não há farpas. Todos se conhecem bem. São pequenos confrontos coreografados, repletos de ironia e de subentendidos. Em pauta a ampliação da Arena, as contas da Felej, a mobilidade e os problemas da saúde. Os tópicos que os marqueteiros têm pautado para ser abordados. As perguntas e respostas parecem um jogo de voleibol estilizado, um jogo entre compadres em que todos deixam a bola fácil para que o outro a possa devolver.

Não há confrontos verdadeiros, não há sangue. É um jogo entre colegas, em que quatro dos candidatos sabem que, de uma forma ou de outra, estarão no segundo turno. Ou como candidatos ou como aliados de algum candidato. É o momento de preservar futuras alianças. O PSOL não está nem um pouco preocupado com o segundo turno. Sabe que nem estará nele, nem o seu apoio será necessário para qualquer candidato. Já avisa inclusive que não apoiará a nenhum dos outros candidatos.

Acabado o debate, cada candidato vai ao encontro da sua torcida, para receber elogios e cumprimentos. Tampouco entre as equipes há sinceridade. O auditório, que durante duas horas concentrou a maior densidade de hipocrisia por metro quadrado da cidade, começa a ficar vazio. 

Leonel Camasão se deixa fotografar rodeado de jovens eleitoras. Marco Tebaldi tem pressa, parece que acordou de repente e sumiu a sonolência que aparentou durante todo o debate. Carlito Merss também saiu rapidamente e sabe que não foi bem. O seu vice permaneceu durante mais tempo, percorrendo cada um dos grupos, excetuando aqueles claramente identificados com os outros candidatos. Kennedy Nunes ficou um pouco mais no palco do debate conversando animadamente. Está satisfeito com o seu desempenho. Udo Dohler é o último a sair. Busca um por um cada um dos possíveis votos.

Já no jardim, uma imagem espontânea, os alunos de uma sala gritam o nome do Udo e pedem que ele se aproxime. Entre supresso e feliz se aproxima da janela e cumprimenta e aperta a mão dos alunos. O fotógrafo não perde a imagem e a oportunidade.

18 comentários:

  1. Meu caro Jordi, creio que Joinville é o lugar onde existem mais hipócritas por metro quadrado.
    Parabéns pelo texto. Descreveste tão bem, que a imaginação me fez ver o balé dos candidatos pelo auditório. Como ler é essencial. Preenche o vácuo do cérebro.
    Abraço

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    1. Sou meio avesso a estos atos circenses, mas recomendo ao eleitor acompanha-los para ter uma visão melhor dos bastidores. Os olhares, os tapinhas nas costas, dizem muito a um espetador atento.

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  2. Após a cutucada do Leonel no código florestal do LHS, este último foi até o candidato do PSOL (após acabar o debate) tentar explicar a força que o que ele colocou no senado é bom para a natureza, foi hilário ver o LHS cercado de alguns empresários puxa-sacos, enquanto as meninas que acompanharam o debate foram fotografar com o Leonel

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    1. Ivan,

      Também presenciei esta situação. Achei a cutucada do Leonel neste caso desnecessária, este tipo de situações em que o discurso idelogico nacional do PSOL se sobrepõe aos temas locais.
      Mas gostei de ver que o Senador Luiz Henrique procurou o candidato para tentar convence-lo que a solução proposta no novo código florestal é a melhor para o Brasil.

      É uma pena que gente inteligente acredite que se pode estabelecer um código florestal com normas, limites e parâmetros iguais para todo o pais.

      Mas isso é tema para outro post.

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    2. Oi Jordi, pode parecer desnecessário, mas o LHS leva muitos votos pro Udo, então é sempre bom lembrar aos eleitores do LHS o que ele andou fazendo no cenário federal. Provavelmente a gente também discorda se seria bom ou não pro Brasil, mas como você disse, é assunto pra outro post.
      Não te vi lá, queria ter conhecido pessoalmente.
      Abs

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    3. Vai ser difícil o troféu moto-serra LHS tentar convencer o Leonel de que o novo código florestal é uma maravilha; na realidade ele só consegue convencer os ignorantes e ruralistas.
      E Jordi, se com normas, limites e leis se desmata uma área igual a 20% de SC por mês na Amazônia, tu queres o que? Pode colocar um post, queremos debater tecnicamente isto.

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    4. É muito bom conhecer pessoalmente a quem conhecemos só aqui nas redes sociais. Em geral é sempre uma agradavel surpresa.

      Sim, claro que estava. Não poderia ter escrito sem estar presente.

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  3. "Voltolini esta à vontade, age quase como se ele próprio fosse um dos candidatos."
    É uma lastima ele não ser candidato. Poderia, dado sua conduta histórica, ser o diferencial neste grupo.

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    1. Perfeito.
      Homens da estatura moral de Voltolini estão se tornando cada vez mais raros. É, de longe, o maior diferencial de todos que estão na disputa. Infelizmente num papel secundário, como já se tornou comum em todo o país, quando se trata de gente de bem.

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    2. Realmente é uma pena, ele poderia compor o governo local com nomes como o Maluf, Amin, o Bolsonaro, o Pizzolatti, tudo gente de bem.

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    3. Voltolini não é candidato? Pq estava sábado desses em caminhada solo

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    4. Se for para citar nomes probos e sérios nos demais partidos vai faltar espaço nestes comentários. A forma mais rápida de acabar com o debate envolve a técnica da "farinha do mesmo saco" ! Uma pena.

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    5. Se o significado de "farinha do mesmo saco" fosse ser do mesmo partido, não vejo o porque da indignação. Afinal de contas partido não é a agremiação que reúne pessoas que pensam de forma semelhante, com idéias e valores parecidos, com os mesmos planos? Ou prá que será que existem partidos?

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  4. Realmente...Voltolini como vice um desperdicio...deveria ser na verdade o cabeça de chapa...sem duvida q o Carlito ganhou com ele de parceiro...qto a hipocrisia....mas qual politico não o é?...ela chega a se tornar uma arte na vida de um politico...e aquele q não souber faze-la além de péssimo artista sera um péssimo politico dentro dos conceitos atuais de politica...

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  5. Se Voltolini fosse candidato cabeça de chave, meu voto seria dele... Infelizmente não é.

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  6. Eu fico também penalizado pelo Voltolini, tadinho. Não leva uma eleição faz tempo. Mas eu tenho uma dica para ele: passar essas eleições e colocar um caldo de cana com o Carlito na Rua das Palmeiras, agora que tá bonitinha. Ou então montar uma empresa para troca de lampadas das luminárias, vai ter bastante serviço.

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  7. Não custa lembrar que Carlito não poderá se reeleger e então será a vez de Voltolini ! Vale apostar agora nele...aqui todos disseram que ele pode ajudar não o Carlito mas a cidade.

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  8. Eu não disse nada...e não aposto um centavo nele...

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