POR CHARLES HENRIQUE VOOS
Tudo o que começa, termina. A vida é assim. Mandatos ruins são assim. Com a cerveja da melhor água do Brasil foi assim. Um ano é assim. E um amor também é assim (as juras de casamento são prova disso). Algumas coisas morrem como um Réveillon em Joinville e têm vida curta. Infelizmente foi o mesmo com o nosso amor. Acabou.
Acabou da mesma maneira que as tainhas do Tebaldi no Cachoeira, ou na fluidez da arrotatória da Univille. Acabou como a flor de ipê-amarelo que não agüenta um dia em função da chuva. Acabou como o Sol, que some rapidinho, ou como a superlua, encoberta pelas nuvens abundantes. Acabou como as bolas de natal da árvore em frente a Prefeitura, que mais pareciam laranjas enormes. Acabou como as flores, as bicicletas. Acabou como a casa construída para um Príncipe, o qual nunca a conheceu.
Enfeites de Natal ou laranjas enormes? |
Não esqueço desse amor falido, do mesmo modo que o aeroporto, encerrando suas atividades na primeira neblina, ou em um “não” de alguma entidade empresarial para um Prefeito submisso. Morreu (mas bem “morrido”, viu?) em um manguezal aterrado da zona leste. Morreu na expectativa de cursos de humanas na UFSC-de-um-curso-só, ou na expectativa de mudança com o PT em Joinville. Faleceu como o Cine Colon e o Cine Palácio ou o boato do shopping Mueller indo pelos ares.
Dói demais lembrar desse amor que caiu diante da covardia de uma boca de lobo sem o sistema de drenagem, ou tropeçou na estrutura de onde existira um parquímetro do Cartão Joinville. Aquele amor que morreu mais do que o vai e volta do Kolonie Zeitung, ou dos diferentes nomes e usos dados à Estação Ferroviária. Foi apagando até morrer, com a mesma classe que a churrascaria Familiar. E derreteu como a sorveteria Polar.
Derreteu... |
Nosso amor foi verdadeiro como a expectativa de Pedro Ivo Campos em Florianópolis, mas morreu da mesma forma que ele, sem atingir seu ápice. Nosso amor parecia ser duradouro como a função do cobrador nos ônibus, mas ruiu ao primeiro sinal de mudança (este amor não é passível de uma realocação de função, tá bem?). Tudo morreu como a ligação da Almirante Jaceguay, ou como a vida do “Bandido da Luz Vermelha”, após 30 anos na prisão. Ninguém matou este amor, ele apenas morreu. Achar culpados seria como achar um responsável pela poluição do Cachoeira, ou pelo fechamento do Linguado. Impossível. Coisas da vida que vai e vem.
Morreu tão rápido quanto ele fora da cadeia... |
Nosso amor sumiu de uma hora pra outra como a linha interbairros, ou como o interesse da Leroy Merlin na Beira-Rio. Foi tão rápido quanto o Festival de Dança ou como o circo Áurea no Iririú. A morte foi mais inesperada que a do Ottokar Doerffel e do Padre Carlos no mesmo ano. Morreu, assim como a expectativa da maior colônia agrícola da América do Sul ser Joinville, ou como a sociedade do falanstério do Saí.
Entretanto, ainda prefiro acreditar que nosso amor morreu como um Réveillon em Joinville. Da mesma forma que nasceu, morreu. Rápido. Fulminante. Sofrido. Agudo. Intempestivo e intermitente. Apostando que será bom, mas com um final sem precedentes. Desta maneira, fazer o quê? A vida é assim mesmo. Ainda bem que nosso amor não foi como a acústica do Centreventos. Ainda bem!
Muito bom Charles. Um dos melhores textos que já li aqui. A cada publicação vocês se superam. Quanta coisa a gente esquece... Memória curta a nossa.
ResponderExcluirQue inspiração Charles. Texto fugindo do habitual, mas sem deixar de falar do habitual. É, em Joinville os amores lembram o carnaval, em 3 dias eles se dissipam igual fumaça.
ResponderExcluirAW
Até que o bandido da Luz Vermelha quando novinho, não era de se jogar fora! Na foto parece ser um cara cheio de "marra", eheheh.
ResponderExcluirA última visão dele (só o vi uma única vez)foi andando ali perto do Bar Garoto, no Terminal Central, de camisa vermelha, muito doido e de óculos de sol. E no óculos, balançando de um lado pro outro a etiqueta com o preço. Muito engraçado, mas muito triste também. Mostra como nosso sistema penitenciário não recupera ninguém. Ou sai de lá com gradução no crime, ou mais doido que entrou.
AW
Muito bom!
ResponderExcluirCaiu como uma luva!
Caiu como uma chuva...
ResponderExcluirParabéns, hein! Que texto!!! Adorei o final, da acústica do Centreventos.. hahahaha.. deveras nunca ter existido.
ResponderExcluirEnfim, muito bom, subjetivo e objetivo ao mesmo tempo! Adorei o resgate da memória!
Esse cara só podia ser da área de Humanas. Por um humano mais humano!! hehehe
bjos
Perfeita a analogia, Charles. Resta ao joinvilense lamentar o passado ou seguir em frente; resgatar o que for possível e inovar no que for necessário. Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirParabéns pelo texto. Mesmo sendo de Floripa e não compartilhando diretamente todas as referências, fiquei emocionado. Joinville merece esse amor que nunca perde a esperança.
ResponderExcluirMas,afinal..levaste um pé na bunda!??
ResponderExcluirIsso só os fortes entenderão...
Excluirkkkkkkkkkkk,Sorry!!
ExcluirÉ na arte que a gente coloca coisas da vida..rsrs
ExcluirEu adorei o texto, a foto da sorveteria Polar, as perfeitas analogias.. mas o que me fez rir foi a acústica do Centreventos! hahaha.. Só os fortes entenderão, mas com o mínimo de bom senso (e boa memória) esse texto faz TODO sentido. Cai como uma luva! ;)
ResponderExcluiré muito sofrimento pra um guri.
ResponderExcluirParabéns!!! Adorei seu texto, quantas lembranças, principalmente a foto da Polar onde passei muitas tardes saboreando aquele sorvete maravilhoso. As analogias muito bem elaboradas. Continue nos brindando com esta delícia de leitura..
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