quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Acordo pra boi dormir













POR RAQUEL MIGLIORINI

A Conferência do Clima – COP21 – em Paris colocou como principal objetivo a garantia de que, ao menos 55 dos 197 países participantes, trabalhem para que o aquecimento da Terra não ultrapasse 2°C até 2100. Cada país se comprometeu a elaborar uma Lei Federal, transformando em obrigação o acordo firmado em Paris. Esse processo, chamado de ratificação, foi assinado pelo Sr. Michel Fora Temer nesta segunda, dia 12 de setembro.

Na prática, quer dizer que o país se comprometeu a cortar quase 45% de emissão dos gases poluentes liberados na atmosfera, em comparação com 2005. O primeiro, e mais importante passo, seria o reflorestamento de grandes áreas desmatadas e cessar o desmatamento de florestas brasileiras. O segundo seria o investimento financeiro pesado em países em desenvolvimento para ajudá-los a gerar crescimento econômico e social sem devastação de suas reservas naturais.

Pois bem. Durante a cerimônia de ratificação, o senhor Temer disse que “preservação do meio ambiente é política de Estado e deve estar presente no programa de todos os governos”. E ainda que “o nosso governo está preocupado com o futuro e tudo o que fazemos, hoje, não visa ao dia de amanhã, mas visa a um futuro que preserve as condições de vida dos brasileiros no meio ambiente e em todos os demais setores, mesmo aqueles referentes a economia nacional”.

Toda essa fala é muito bonita. Mas demagógica. Não fosse o ministro da Agricultura escolhido pelo vice-presidente o senhor Blairo Maggi, mais conhecido como “Rei da Soja”, responsável pelo desmatamento da Floresta Amazônica em proporções nunca vistas. Outro ministro, o Sarney Filho, disse estar convicto ser possível aliar crescimento econômico e preservação ambiental. Já para José Serra, o país deve fortalecer os investimentos no setor energético, florestal e agropecuário.

Fica fácil perceber que o vice e os três ministros não conversaram antes dos pronunciamentos porque o que cada um espera é incompatível em conjunto. Eles esperam um milagre, assim como os governantes anteriores? Aonde estão os estudos e as propostas para que ocorra o crescimento econômico com preservação ambiental?

Para termos uma pequena amostra do quanto os governos se preocupam com isso, basta uma rápida espiadela nos planos de governo dos candidatos a prefeitos nas médias e grandes cidades. As soluções apresentadas para o meio ambiente são arcaicas e sabemos que a maioria nunca sairá do papel.

Aqui em Joinville não é diferente: dos cinco planos que li, nenhum traz novidades. Tratam com pouca relevância as invasões e desmatamentos em áreas de proteção ambiental e usam como solução ambiental a ampliação da ETA Cubatão, para aumentar o consumo, sem falar da manutenção de matas ciliares e da diminuição de impermeabilização das áreas urbanas.

O meio ambiente pode ser aliado ao desenvolvimento sustentável desde que haja seriedade e estudos antes de construções e emissão de alvarás; uso de tecnologia de ponta e novas formas de pensar antigos problemas antes de implantações de fábricas poluentes. Estou chovendo no molhado? Talvez sim. Mas é inadmissível que a pauta de meio ambiente seja colocada como menos importante que Saúde, Educação e Segurança.

Se os governos, Federal e Municipal, estivessem realmente preocupados com o futuro, teríamos as melhores cabeças nas secretarias de Meio Ambiente e planos de gestão que nos encheriam de esperança. E não teríamos que prometer nada de dedos cruzados em Paris.

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