POR FILIPE FERRARI
Estive dando uma olhada nos candidatos a vereador para
Joinville, e algo (que não é nenhuma novidade) me chamou a atenção: os
“pastores”. Na listagem dos 300 e tantos candidatos, cinco deles carregam em
seus nomes “artísticos” alguma alcunha que remeta à religiosidade, tal qual “pastor(a)”,
“evangelista” ou “capelã”. E, qual o problema disso?
Eu sou professor. Em algumas oportunidades, coloco esse
título em frente ao meu nome, especialmente por questões profissionais.
Entretanto, esse título me é concedido por um diploma, no qual consta o
reconhecimento de uma universidade, reconhecida e chancelada pela instância
máxima da educação nacional, o MEC. Se eu sair do país, mediante as burocracias
necessárias, esse meu diploma é válido em diversos outros países do mundo.
Agora, quem regulamenta a profissão de “pastor”?
A função de pastor/ministro/sacerdote é extremamente
importante, e exige muito estudo. Em diversos âmbitos e círculos sociais, é
essa pessoa quem presta auxílio para pessoas em depressão, questões conjugais,
enlutados, aconselhamentos, entre outros. Até o século XX, e até hoje em
determinados rincões desse país, as igrejas são um dos únicos espaços
fomentadores de dignidade e socialização, especialmente em situações de
marginalização social. Aí que está o problema da picaretagem. Assim como em
todo ramo de trabalho, os picaretas pululam no cargo de ministros religiosos, e
são os que trazem má fama à classe.
Aqui em Joinville, passamos pelo mesmo problema. Tem
tecnólogo tatuadão (que, graças a Deus não concorre ao legislativo) que fez
teologia em lugares meio obscuros (que comemora quando UM aluno consegue
validar o diploma), tem pedagoga vereadora pastora que quer enfiar goela abaixo
o Escola Sem Partido, e por aí vai. Na verdade, dos religiosos que concorrem à
Câmara, apenas um deles declarou como profissão ser Sacerdote ou Membro de
Ordem ou Seita Religiosa, apesar do Ensino Médio Incompleto. Sendo assim, até eu posso me chamar de pastor (não, obrigado, o título é uma ironia)!
Obviamente a regulamentação de um cargo como esse merece
muita discussão, e não se pode exigir que o Estado interfira nas
religiosidades. Entretanto, também não se poderia achar normal que pessoas se
invistam de títulos e cargos para agir no meio público. Se determinada
denominação acredita no seu “ungido”, que essa unção seja agente transformador
(ou deformador) do meio que a aceitou. A autoridade religiosa para o meio público
somente deveria ser levada em consideração se tivesse o aval da regulamentação
oficial. Existem por aí excelentes escolas e faculdades de Teologia, que inclusive
tem conceito máximo junto ao MEC e à Capes.
Afinal, sempre cabe a pergunta, você iria a um médico que
exerce sua profissão sem um diploma, apenas pelo reconhecimento?
Você questiona o título por uma razão meramente burocrática. Não sou da área, mas penso que o título de pastor é concedido pela instituição (igreja), e se ele vale ou não fora do Brasil, basta questionar as igrejas pentecostais espalhadas pelo mundo. Já “evangelista” ou “capelã”, não sei se tais títulos têm reconhecimento oficial. Entretanto, se eu fosse um devoto de São Francisco, eu poderia auto intitular-me “franciscano” (embora exista a Ordem oficial) ou “mariano/marista”, se fosse de Santa Maria. Se alguém andar para cima e para baixo munido com a bíblia a “pregar” a palavra de Deus nas casas das pessoas, esse não pode auto intitular-se “evangelista”? Essas alcunhas estão para além de títulos burocráticos. Daí você questionar o nível de conhecimento para atingir a função, está a entrar num espaço nebuloso, pois teríamos de questionar a qualidade de inúmeros cursos reconhecidos pelo MEC que, na prática, sabe-se que estão aquém do mínimo exigido.
ResponderExcluirMas, convenhamos, com tantos apelidos bizarros você não está preocupado com o nível de formação daqueles que se intitulam “pastores”, ou “evangelistas” ou “capelãs”, muito menos com a “deformação” que poderiam causar. Sua preocupação é com os votos dos devotos eleitores que os candidatos supostamente ligados a religião alcançariam.
Em tempo, que tal questionar os candidatos “Sindicalistas Fulanos” que estão aos montes pelo Brasil a prometer para trabalhadores algo que não poderão cumprir no exercício da função?
Linda resposta, mas deixe de ser "anônimo".
ExcluirFelipe, se você pode ser pastor, também posso me autodenominar historiador?
ExcluirFranciscanos e maristas são padres/monges, que passam por um processo de formação extenso, assim como a maioria dos padres católicos, que estudam tanto quanto um médico para exercer seu ofício.
ExcluirE como eu já falei (e repito), no âmbito privado, cada um se chama do que quiser, até de anônimo. Agora, no público, já é outra coisa. "Vereadora pastora" é um baita título bizarro.
Quanto aos cursos reconhecidos pelo MEC, concordo em partes, mas é o melhor que temos.
Quanto mais estado e mais regulação melhor!
ResponderExcluirNão basta a chancela da comunidade onde o "pastor" trabalha, ele precisa de reconhecimento estatal (leia-se políticos)!
Na visão do nobre articulista nenhum dos discípulos de Cristo poderia ser um religioso, afinal eram todos homens do povo, iletrados, um punhado de pescadores...
Quanto mais estado, pior!
ExcluirMenos regulamentação, menos burocracia, mais liberdade, menos estado.
O que o pastor faz ou não na sua comunidade realmente não me interessa (salvo algum crime). Agora, a questão é quando isso para para o âmbito público, mas isso já está escrito no meu texto.
ExcluirAgora, essa visão dos apóstolos parte do senso comum. Lucas era um médico, Mateus, um cobrador de impostos, logo tinha educação formal. Judas era um zelote, então deveria conhecer muito bem a letra da lei judaica.
Pedro sim era um pescadorzão, e aí você pode me dizer "ah, viu? E sobre ele foi fundada a Igreja!". Pode ser, mas não vamos esquecer das chapuletadas que nosso amigo pescador leva de Paulo no livro de Atos. E Paulo era um acadêmico da época, um homem cosmopolita, viajado e com uma educação clássica filosófica.
Obviamente o sistema educacional da época era extremamente diferente do atual, por isso temos que cuidar com o anacronismo.
Concordo contigo Filipe, na questão religiosa.
ResponderExcluirPorém, vejo que você é contra a "Escola SEM Partido".
Então eu te pergunto:
- Você foi a favor da extinção das matérias OSPB e Educação Moral e Cívica, impostas às escolas pelo regime militar?
Afinal de contas, aquilo era "Escola COM Partido"!
E pra finalizar, respondo a tua pergunta final:
- Não, eu não iria a um médico que exerce uma profissão sem um diploma, da mesma forma que nunca votei num presidente que possui um nível de educação tão baixo, quanto... vocês sabem de quem estou falando!
A esquerda agoniza!
Afff, lá vem o agonizado.
ExcluirA escola realmente não pode ter partido. O que essa lei ridícula quer, não é tirar o partido da escola, mas sim tirar o poder de opinião do professor, e isso a educação da Ditadura fazia muito bem.
Essa lei safada engana os incautos principalmente pela sua força de discurso, e pelo jogo de palavras que se aproveita da atual descrença em partidos políticos.
Nem sempre uma pessoa ter um diploma é tudo. Vários presidentes americanos não tiveram. A questão do Lula se tornou emblemática em função do projeto de esquerda e não necessariamente por Lula não ter curso superior. Bill Gates não tem. Antonio Ermírio de Moraes também não tinha. Amador Aguiar era analfabeto. Então, essa coisa do diploma pode também ser um peça burocrática, pelo menos se levarmos em consideração que conhecimento e sabedoria são coisas distintas. Um médico por ter um grande conhecimento, um saber especializado e técnico, mas não por isso ele um sábio. Dilthey, filósofo nem tanto conhecido entre nós, separou os saberes entre Geistwissenschaften (ciências do espírito) e Naturwissenschaften (ciências naturais). As primeiras são conhecimentos para os quais o diploma técnico nem sempre é tudo. Já no segundo caso, falamos de conhecimento em sentido "meio/fins" como o são os casos das Engenharias, da Medicina, da Geologia e várias outras.
ResponderExcluirComo sempre, herr Werner, nos abrilhantando com sua erudição. Concordo contigo. Quando propus a questão do papel do pastor, parece que eu lego à técnica e à burocracia a regulação das funções. Lutero me odiaria, hahaha.
ExcluirSilvio Santos também chegou longe sem diploma. Por que só o Lula que é criticado?
ResponderExcluirEssa indignação seletiva é mesmo impressionante...
Talvez porque, o que Lula fez ou deixou de fazer como presidente, interferisse mais em nossas vidas do que o "Topa tudo por dinheiro"! Essa tua comparação é tão sem sentido, como aquela feita por Jean Wyllys, onde ele diz não entender o questionamento sobre o salários de políticos e o não questionamento sobre salários de grandes executivos de empresas. Consegue entender?
ExcluirEssa laicidade é um grande pé no saco. Eu prefiria que Deus estivesse vivo, viu Nietzsche!!!
ResponderExcluirComo pensamento político ideológico não fosse uma espécie de religião moderna. O próprio Gramsci pensou isso do marxismo.
A própria discussão política esquerda / direita não deixa de ser uma discussão de qual é a porta mais larga para o céu do progresso.
E se fosse a macumbeira do morro do meio ninguém falava. Mas como são os evangélicos que se mobilizam em torno do seus candidatos. E concorrem com as ideologias mais progressistas convém ressaltar esse detalhe.
Já dizia o Pe. Marcelo Rossi: "Ou você é um líder religioso, ou você é um líder político. (...) Nunca vote em uma pessoa religiosa. (...) A pior coisa é o fanático. Fuja dessas pessoas, que são as mais perigosas e as que se corrompem mais facilmente."
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