POR RODRIGO BORNHOLDT
No início do século passado, o jurista Rui Barbosa aplicava ao fazer jornalístico o seu aguçado sentido de dignidade e ética: “A imprensa é a vista da Nação. Por ela é que a Nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça”.
Outro grande brasileiro, o jornalista Cláudio Abramo, menos de um século depois nos presenteava com sua definição lapidar e sucinta do que deve ser o jornalismo: "... a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter".
A chegada das mídias sociais permitiu a disseminação de notícias, mas além delas, também de boatos, opiniões e factoides. Cabe, assim, ao próprio leitor, a responsabilidade de se formar e de se informar adequadamente. No mundo digital, é necessário filtrar o que se recebe.
Ocorre que, dentro dessa babel informacional, misturam-se teóricos da conspiração, fanáticos de todos os quadrantes políticos, farsantes pagos e lunáticos vocacionais. Mas, sabendo garimpar, é possível encontrar alguns oásis nesse deserto de irresponsabilidade.
O Chuva Ácida é um bom exemplo de espaço democrático, plural, arejado e instigante na internet, onde invariavelmente expressam-se opiniões relevantes sobre temas candentes, graças à heterogeneidade dos seus autores.
Sou leitor assíduo, principalmente pelo seu enfoque local e seu caráter alternativo, onde podemos encontrar o que raramente vemos publicado na mídia tradicional, como a defesa da cota 40, discussões sobre a LOT, denúncias de uso da máquina pública e mau uso de recursos públicos.
Como se pode verificar na área de comentários, é quase impossível agradar a todos, mas, ao contrário do que ocorre com o Facebook, onde muitas vezes as pessoas acabam se encapsulando em uma taba de amigos fundamentalistas, seja lá do lado que for, no Chuva Ácida somos obrigados a nos confrontar com textos que, a princípio, podem nos desagradar, mas que, muitas vezes, abalam algumas de nossas convicções petrificadas.
O Chuva Ácida cumpre, pois, um papel que deveria também caber à mídia tradicional: o de garantia do pluralismo e de discussão de temas relevantes. Não poucas vezes, deparo-me com programas da televisão fechada em que os convidados tem sempre a mesma visão a respeito dos assuntos pautados, sejam eles políticos ou econômicos. É a tentativa de buscar hegemonia onde deveria haver discussão e abertura de ideias para que o próprio cidadão pudesse formar sua convicção.
Podendo ser panfletário, pois que alternativo, resolveu o “Chuva” praticar jornalismo de verdade, abrindo espaço às mais variadas tendências e opiniões. Consegue, também, ser universal sem perder o local. Fala do cotidiano e de questões da cidade sem cair num provincianismo embolorado!
Por isso saúdo a permanência dessa iniciativa que, ao completar cinco anos, gerou brigas, discussões e discórdias, próprias a uma sociedade viva e democrática. Cumpre-se, assim, o importante papel de remexer o lodo acumulado no fundo das nossas frágeis certezas.
Que venham os novos debates!
Rodrigo Bornholdt é advogado,
doutor em direito
e professor universitário
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