quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Comentário a respeito de Belchior
















POR FILIPE FERRARI


Esse é um texto amargo, porque são tempos difíceis. (Não me peça que eu lhe faça uma canção como se deve...)

Ontem, um conhecido falou sobre a "festa" da democracia, defendendo seu direito de fazer campanha em um espaço de diversão e descontração para colegas de trabalho. O problema é que esta festa está mais para festim canibalístico, onde todos querem se devorar, e gente comum tentando tirar o seu da reta pra não virar aperitivo. Se não é festa, é circo, onde quem acha que é festa está maquiando os palhaços. (mas não se preocupe meu amigo/ com os horrores que eu lhe digo / isso é somente uma canção / a vida realmente é diferente / quer dizer / a vida é muito pior”)

A democracia representativa não é nada mais do que uma armadilha para a dilaceração dos incautos. Repudio quem a instrumentaliza para seus atos, para buscar seus cargos, para manter seus privilégios às custas dos menores, dos fracos. Admiro quem acredita nela, mas admiro a ingenuidade, a força de mudança que existe antes de ser tratado pela máquina. Talvez esse seja o combustível da máquina. Mas com combustível sabemos o que acontece: vira fuligem, suja as mãos mais limpas. (Se você vier me perguntar por onde andei/ no tempo em que você sonhava / de olhos abertos, lhe direi / amigo, eu me desesperava)

Durante um bom tempo da minha vida, não votei. Anulava, os tempos não exigiam. Já se sabia quem levaria, e o outro lado não parecia TÃO pior. Hoje não. Se eximir do voto hoje é abrir brechas. Somos obrigados a votar, não apenas pela lei, mas pela barbárie. São tempos difíceis. (como é comum no seu tempo / que ficou desapontado / como é comum no seu tempo / que ficou apaixonado e violento como você / eu sou como você )

Acho muito belo pensar no companheirismo, na solidariedade, mas que mundo é esse que nos pede solidariedade e nos soterra de trabalho? Onde está o tempo para os amigos? Para a construção dos sentimentos comunitários mútuos? (Mas o dinheiro é cruel e um vento forte soprou os amigos)

"A esquerda agoniza", insiste um "jenial" Anônimo aqui do blog. Pior que há momentos em que acredito nisso. A esquerda agoniza em sua própria vaidade, na sua dificuldade de articulação, renovação e tolerância. Já a direita, que agora tripudia e se exalta no Brasil, será engolida pelo monstro que está a criar.  ([…] mas sei que nada é divino / nada, nada é maravilhoso / nada, nada é sagrado / nada, nada é misterioso, não)


Espero estar mais otimista daqui quinze dias, afinal de contas sempre é dia de ironia, no meu coração.


*Texto livremente inspirado no excelente artigo que esses dias rodou pela internet sobre um dos maiores letristas da América do Sul.

6 comentários:

  1. É, bom mesmo é a Autocracia, ou uma Ditadura bem gostosa nos moldes daquela do facínora caribenho, que finalmente vai liberar a população cubana antes do cascudo puxá-lo pelos pés.

    Moço, deixa eu dar a real. Você já dançou moonwalk ao som de Billie Jean sozinho no quarto? Já roubou aquelas balinhas da sala de reunião da empresa? Já assistiu algum pornô com zoofilia? Já olhou debaixo da cama antes de dormir? Já fez xixi na cama?

    Pois é, votar nulo é igual. As pessoas fazem, mas não falam porque é muito feio. É vergonhoso mesmo! Foram os votos nulos que colocaram Dilma Rousseff no poder em 2010 e 2014, por exemplo. É isso que você quer para Joinville, que um quadrúpede emerja do inferno e tome de assalto a cidade?

    Então vote! Vote no menos pior! Porque se você fizer, ao menos poderá vir a este blog e se queixar da política sem parecer um hipócrita desgraçado.

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    1. E você já experimentou passar por um curso básico de alfabetização e aprender a ler e a interpretar um texto antes de vir babando raiva? Ou então, a usar a poderosa ferramenta da metáfora?

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    2. Pois é, metáforas não existem nos meus textos. Ironias, sim!

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  2. Qual o problema do voto nulo? É um voto como outro qualquer! Se o sistema permite, não vejo mal algum.

    Não aceitar o voto nulo é como se fosse proibido torcer (ou deixar de torcer) pra esse ou aquele time em um campeonato. No final, alguém vai ser campeão. Com você torcendo ou não.

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    1. OK, só não reclame do vereador/prefeito/governador/presidente depois, pois a chance de fazer a diferença foi desperdiçada por você.

      (Em tempo, como em qualquer democracia do mundo, o voto deveria ser facultativo. Só vai votar quem realmente está interessado)

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  3. O voto nulo geralmente representa uma dentre as situações abaixo:

    1) Projeção psicológica como mecanismo de defesa. Provavelmente por questões afetivas do indivíduo em seu relacionamento com o todo. Popularmente definido como "revoltado".

    2) Vaidade intelectual. É um dos muitos atos de inconformismo com sua insignificância enquanto indivíduo perante o coletivo (e até perante o Universo). Infelizmente, não aceita a natureza caótica da consciência humana, e acaba usando falácias e contradições em algum momento.

    3) Limiar da ingenuidade (relacionada à Anarquia). Acredita que o coletivo têm capacidade de se "autoregular", em uma espécie de epopéia da geração espontânea da ética, ignorando veementemente a evolução das sociedades ao longo da história.

    E quanto ao voto válido? Fica para outra hora...

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