POR FILIPE FERRARI
Esse é um texto amargo, porque são tempos difíceis. (Não me peça que eu lhe faça uma canção como se deve...)
Ontem, um conhecido falou sobre a "festa" da
democracia, defendendo seu direito de fazer campanha em um espaço de diversão e
descontração para colegas de trabalho. O problema é que esta festa está mais
para festim canibalístico, onde todos querem se devorar, e gente comum tentando
tirar o seu da reta pra não virar aperitivo. Se não é festa, é circo, onde quem
acha que é festa está maquiando os palhaços. (mas não se preocupe meu amigo/ com os horrores que eu lhe digo / isso é somente uma canção / a vida realmente é diferente / quer dizer / a vida é muito pior”)
A democracia representativa não é nada mais do que uma
armadilha para a dilaceração dos incautos. Repudio quem a instrumentaliza para
seus atos, para buscar seus cargos, para manter seus privilégios às custas dos
menores, dos fracos. Admiro quem acredita nela, mas admiro a ingenuidade, a
força de mudança que existe antes de ser tratado pela máquina. Talvez esse seja
o combustível da máquina. Mas com combustível sabemos o que acontece: vira
fuligem, suja as mãos mais limpas. (Se você vier me perguntar por onde andei/ no tempo em que você sonhava / de olhos abertos, lhe direi / amigo, eu me desesperava)
Durante um bom tempo da minha vida, não votei. Anulava,
os tempos não exigiam. Já se sabia quem levaria, e o outro lado não parecia TÃO
pior. Hoje não. Se eximir do voto hoje é abrir brechas. Somos obrigados a
votar, não apenas pela lei, mas pela barbárie. São tempos difíceis. (como é comum no seu tempo / que ficou desapontado / como é comum no seu tempo / que ficou apaixonado e violento como você / eu sou como você )
Acho muito belo pensar no companheirismo, na
solidariedade, mas que mundo é esse que nos pede solidariedade e nos soterra de
trabalho? Onde está o tempo para os amigos? Para a construção dos sentimentos
comunitários mútuos? (Mas o dinheiro é cruel e um vento forte soprou os amigos)
"A esquerda agoniza", insiste um "jenial" Anônimo aqui do blog. Pior que há momentos em que acredito nisso. A esquerda
agoniza em sua própria vaidade, na sua dificuldade de articulação, renovação e
tolerância. Já a direita, que agora tripudia e se exalta no Brasil, será
engolida pelo monstro que está a criar. ([…]
mas sei que nada é divino / nada, nada é maravilhoso / nada, nada é sagrado /
nada, nada é misterioso, não”)
*Texto livremente inspirado no excelente artigo que esses dias rodou pela internet sobre um dos maiores letristas da América do Sul.