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sexta-feira, 18 de março de 2016

A história não nos absolverá *















POR SALVADOR NETO


Vivemos tempos tumultuados, agitados. Tempos em que o ódio vem superando a razão e a tolerância. A crise política chega a temperaturas altíssimas com uma sucessão inimaginável de fatos estapafúrdios em um estado democrático de direito. A investigação da corrupção via Operação Lava Jato, que parecia ser um serviço de limpeza das instituições do país, saiu de um roteiro de descobertas dos cartéis de empreiteiras para seguir um enredo de partidarização da justiça. Um perigo para a nossa jovem democracia.

Quem estuda um pouco de história sabe que a “luta” contra a corrupção foi usada sempre que interesses escusos foram contrariados por governos legitimamente eleitos pelo voto. Foi assim com Getúlio Vargas (1954), e não por acaso já na ocasião o nosso petróleo estava ao fundo da tal luta. Todos sabem como acabou a história. Em seguida, JK teve que suar para disputar a eleição, ganhar e tomar posse. Mesmo assim construiu Brasília, a capital onde dizem, nasceu o “modelo” empreiteiro de fazer política.

A corrupção, ela novamente, ajudou a eleger o udenista Jânio Quadros em 1960 com a sua “vassourinha”, que ia varrer a bandalheira do Brasil. JK foi tachado como o mais corrupto homem público pelos grandes conglomerados de mídia da época. Nada mais atual. Jamais provaram nada contra ele, que teria morte estranha após longo exílio por conta da tão saudosa – ainda bem que para poucos – ditadura militar (1964-1985). Também Jango, que assumiu com a renúncia de Jânio Quadros, sucumbiu aos brados da união entre tradição, família e propriedade contra a corrupção e o tal “comunismo”.

Por incrível que pareça, há quem acredite que no regime militar não houve corrupção. Como saber se a livre manifestação, as liberdades individuais e de reunião, a censura, encobriam o país com o manto do terror, da perseguição a quem pensasse diferente? Sugiro a quem duvide disso estudar... história do Brasil, ou vá neste link para começar a pesquisa. Durante o regime militar foram realizadas obras gigantes como a Transamazônica, Ponte Rio Niterói, Usinas de Itaipu e Tucuruí, entre outras. Quem as construiu? As famosas empreiteiras, praticamente as mesmas que você sabe envolvidas na Lava Jato.

Após a redemocratização, que é bom que se repita, foi conquistada com a luta de muitos brasileiros e brasileiras contra as arbitrariedades e torturas do regime militar – e com a concessão de uma anistia geral até hoje contestada – construímos uma Constituição Federal de 1988. Ela é a lei maior do país, que devolveu aos brasileiros e brasileiras os seus direitos individuais, a cidadania, e direitos que foram negados por séculos ao povo trabalhador. Até hoje essas conquistas ainda são implementadas lentamente, pois são discutidas e aprovadas – ou não – no Congresso Nacional. E lá, o conservadorismo permanece forte, até hoje.

Hoje ao ver o atual quadro de pré-convulsão social provocado por uma ação sincronizada entre parte do MPF, Justiça, Polícia Federal e a grande mídia que já comandou os golpes e tentativas de golpes já citados, tomando por base a “corrupção”, temo pelo futuro do meu país. Como jornalista não posso me furtar a opinar sobre o que vejo, pelo que estudei, e por ver tamanha manipulação midiática que joga irmãos contra irmãos. Quando o maior grupo de mídia do país passa quase 10 horas ao dia divulgando situações somente contra um grupo político, e apenas contra a presidente Dilma e o ex-presidente Lula, não há como disfarçar. O modelo do passado voltou a agir. E sem o menor constrangimento.

Mesmo contra a maré odiosa que só repete o que vê na grande mídia como verdade sem a necessária reflexão, comparação e estudo, é preciso denunciar esses atos que são vendidos como normais. Não, não é normal e tampouco legal levar um ex-presidente sob coerção a um depoimento em um aeroporto sem que ele tenha se negado alguma vez a isto. O ex-presidente não está indiciado, é investigado com toda a força, e até sua prisão preventiva sem qualquer prova já foi pedida. Aos olhos da massa pode ser o máximo. Mas sempre há um detalhe, ele já foi condenado pela mídia.

Não, não é legal, e tampouco natural, que um juiz de primeira instância determine grampos à advogados e seus clientes, à Presidente da República, a Ministros de Estado (todos com foro privilegiado pela CF e Código Penal), os divulgue diretamente à mídia sem o devido processo ao STF. É uma afronta ao estado democrático de direito que conquistamos a duras penas. Atos como esse podem ser a fresta que promove um estado de exceção.

Não, não é natural que enquanto a Câmara dos Deputados é comandada por um denunciado por corrupção, Eduardo Cunha do PMDB - que deveria estar fora do cargo exatamente por isso - o próprio coloca um processo de impeachment da presidente Dilma para tramitar com “urgência” sem qualquer base legal, sem provas, apenas por vingança política e interesses de quem o financiou até aqui. Para lembrar, o processo contra Cunha no Conselho de Ética está paralisado há quase seis meses.

Não, brasileiros e brasileiras, não é legal nem natural que estejamos à beira de uma guerra civil por manipulações midiático-oposicionistas/oposicionistas/judiciais que inflam a massa popular, que emanam uma cortina de fumaça que esconde interesses inconfessáveis pelo poder, pelo nosso petróleo, sem que pelo menos desconfiemos de tudo que se lê, vê, ouve, e claro, compartilha.

Não é razoável que joguemos nossos direitos e garantias fundamentais nas mãos de qualquer pessoa do poder após uma longa luta para tê-los!

Hoje você pode achar legal o espetáculo midiático, a espetacularização dos fatos (?!) veiculados. Mas pense, amanhã podem estar atrás de você, com ou sem provas, com escutas, transcrições pela metade, manipuladas.

Aí você pode pensar: mas depois você se defende. Quem não deve, não teme. Será? É tempo de frear os sentimentos, de pensar muito antes de atacar alguém, um amigo, uma outra pessoa. De acusar sem provas. Você pode estar cometendo uma injustiça gigante, que poderá jamais ser reparada.

E mais: você poderá ser também a vítima, jogando os seus direitos conquistados via democracia, na vala comum que muitos desejam que você jogue. Construir uma sociedade democrática, com todos os vícios e erros que ela tem é muito difícil. Agora, destruir é fácil. Pense nisso. Pense no país. Pense em você. Pense nos seus. Se errarmos mais uma vez, a história não nos absolverá.


É assim nas teias do poder...


Em 16 de outubro de 1953, o jovem advogado Fidel Castro pronunciava a sua autodefesa, após ser preso pelo assalto ao quartel Moncada, em Cuba, – quando tentou derrubar o então presidente e ditador Fulgêncio Batista. “A história me absolverá”, foi a última frase proferida pelo líder da Revolução Cubana e como ficou conhecido o documento que reúne este célebre discurso, que completa 60 anos . Título adapta a frase histórica a esse momento histórico que vivemos.

* Sugiro também a leitura do texto "A culpa é das estrelas?", que escrevi aqui no Chuva há pouco mais de um ano falando sobre essa força propagandista que levou ao nazismo, clique aqui para ler.

segunda-feira, 14 de março de 2016

A rua é de todos


POR JORDI CASTAN

Fui em 2015 e voltei de novo (aqui).  E voltarei à rua todas as vezes que seja preciso. Não se mudam as coisas desde o sofá. Há que agir, assumir riscos e se manifestar. Coisas que o brasileiro evita fazer. O brasileiro, e o sambaquiano ainda mais, historicamente evita se expor. É esta omissão a que tem permitido chegar ao ponto ao que temos chegado. E não vou me referir só ao Brasil, porque nem Santa Catarina e muito menos Joinville são ilhas de excelência, no momento em que o país faz água por todos os lados.

Omitir-se é deixar que outros ocupem os espaços que são de todos. Ainda não entendi por que havia tanto patrulhamento nas redes sociais, com qualquer um que se manifestasse a favor de manifestar-se no dia 13. Ou será que, sim, entendi? Será que há uma parcela da sociedade que se considera dona da rua? Que não gosta que outros possam se manifestar?

Eu fui. Vi gente de todas as classes sociais, famílias inteiras, em muitos casos até três gerações se manifestando. Externando a sua revolta contra a crise moral é ética que assola o Brasil. Ninguém distribuiu sanduíches de mortadela. A maioria dos cartazes tinham sido feitos de forma espontânea, sem muitos recursos e com uma boa dose de criatividade e de humor. O brasileiro da classe média estava lá. Aliás, essa classe média não era o grande resultado do governo que aí estaá? Não foi o governo quem tirou milhões da pobreza? Como essa gente desagradecida é quem justamente agora esta questionando o governo e o partido que conseguiu estes logros?

Vão dizer que quem estava lá eram os derrotados? É oportuno lembrar que a presidente não conseguiu que a maioria dos brasileiros a votassem: 21,10% não votaram, 1,71% votaram em branco e 4,63 anularam o voto. E um país em que votar é obrigatório.  O total de votos no outro candidato, os nulos, os brancos e as abstenções somaram mais de 75%. A essa maioria silenciosa, devem ainda se somar os descontentes com o Governo, se acreditamos nas pesquisas que mostram que menos de 10% aprova o governo da presidente. Não é surpresa que numa cidade em que a presidente não ganhou, mais de 30.000 joinvilenses estivessem ontem na praça da bandeira.

E agora? Pois provavelmente nada. Como antes. Este é um movimento que não tem líderes, nem uma pauta única. Em comum unicamente a revolta contra a corrupção, contra o governo federal e o PT. O número de participantes em Joinville e nas centenas de outras cidades e capitais aumentou muito com relação à março de 2015. Pelos dados divulgados até hoje, mais de 50%, números que não podem ser ignorados. O governo pode fazer de conta que não é nada, como fez no passado. Seria bom pensar melhor antes de ignorar de novo. O risco é que políticos oportunistas se aproveitem deste momento e dessa maioria desencantada da política e dos políticos tradicionais.

Falando dos oportunistas houve poucos, mas houve e não foram bem recebidos, em São Paulo concretamente, foram convidados a retirar-se.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O Castelo de Cartas desmorona...


Ontem foi um dia muito simbólico na luta pelo fim da corrupção no Brasil. No mesmo dia a Polícia Federal cumpre mandado de busca e apreensão na casa de Eduardo Cunha e enfim o Conselho de Ética decidiu pela continuidade das investigações contra Eduardo Cunha. Estas investigações podem resultar em censura do deputado ou até mesmo a cassação de seu mandato. 

Para quem convive um pouco no meio político, é nítido que o deputado, ao ser ver acuado, usou sua última arma: a aceitação do processo de impedimento de Dilma Roussef. O que por sua vez, fez o governo entender que ele não tem mais nada nas mãos e, talvez, apenas talvez, tenha caído essa cascata de inferidas contra Cunha. 

Não entro na questão do mérito do impedimento, pois é alvo de ampla análise e os juristas conceituados estão divididos, mas um dos pontos que advogam contra os manifestantes que pedem o impeachment nas ruas é esse apoio louco e inconsequente à Eduardo Cunha. Oras, apoiar um cara que não sai do olho do furacão dos noticiários sobre escândalos de corrupção e propina em troca que ele dê seguimento a um processo de impedimento é apoiar o Coringa para este matar o Pinguim. 

O que poucos observam é a linha sucessória, caso o impedimento, de fato, ocorra. Não há uma alma decente ou competente na linha sucessória e, amigos, cá entre nós, tirar a Dilma não mudará nada neste momento.

O PT e PMDB, em nível nacional, são partidos marcados por estigmas nada bons. O primeiro é tido como incompetente, olhar com atenção apenas para a Política Social e negligenciar a Política Econômica. O outro, é conhecido como uma meretriz de luxo, que nunca vai à cabeça do pleito, mas fica nos bastidores articulando e executando suas maldades. Reitero que o maior erro do PT foi se aliar ao PMDB e a prova disso é o divórcio litigioso que assistimos todos os dias.

É frustrante observar que o jovem se encontra desacreditado da política, e não é pra menos. Qual foi o último político que encampou um projeto bom e o levou até o fim? Dá pra contar nos dedos (de apenas uma mão). 


Nossa civilização chegou neste ponto de evolução através da guerra ou da política. Retroceder à guerra não é necessário tampouco benéfico, mas é imprescindível que melhore-se a qualidade dos que se envolvem na política bem como a participação da população, porque apenas ter contato com a política apenas através dos jornais e a grande mídia não é suficiente tampouco esclarecedor.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

A "Cunha" que atrasa o Brasil


POR SALVADOR NETO

Em meu texto da semana passada aqui no Chuva Ácida, abordei o momento de grave crise política no país no artigo “Querem impedir o Brasil?” – clique aqui e leia – e hoje volto ao tema. Tive a oportunidade de estar no centro da luta política, Brasília, nesta semana. O que vi só corroborou o que escrevi, o que penso, e sobre o que sempre apuro para oferecer textos que ajudem os leitores a entenderem o que de fato acontece nos escaninhos do poder.

Essa crise política é grave, e põe em risco a nossa democracia. O grau de intolerância, ódio e traição aos preceitos mais básicos da convivência democrática. Querem realmente impedir o Brasil, e para isso colocaram uma “cunha” – o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ).
 
Não se iludam, essa cunha parou o Brasil
Nas 72 horas que vivi intensamente a crise política na capital federal, constatei que não importam os meios para se chegar ao poder central. Um processo iniciado já após as eleições de 2014 com a vitória de Dilma Rousseff e Michel Temer foi se intensificando mês a mês.

A oposição vem sistematicamente bloqueando no Congresso Nacional, especialmente na Câmara dos Deputados comandada por “Cunha”, quase todos os projetos do ajuste fiscal necessário. Esse processo deu uma trégua com a entrada de Michel Temer na coordenação política, mas logo depois com a saída dele, por pura falta de habilidade da presidente Dilma e do PT, a crise voltou ainda com mais força.

A conspiração começou ali. Chateado com o não cumprimento dos acordos que ele e seu aliado Eliseu Padilha tinham firmado com a base aliada, Temer saiu e sorrateiramente começou a articular contra o governo. Ao mesmo tempo, Eduardo “Cunha” viu seu desejo insaciável de poder se esvair com a grana da Suíça, a acusação do procurador geral da República, Rodrigo Janot, que abriu processo contra ele.

Até ali, o presidente da Câmara seguia seu objetivo final: derrubar o governo, enfraquecer Temer, e quem sabe, assumir a Presidência da República logo à frente. O castelo sonhado caiu. A partir dali a guerra aberta foi seguindo com chantagens, ameaças, todas covardemente não revidadas pelo governo e o PT. Acuado no Conselho de Ética, “Cunha” atacou com a aceitação do processo de impeachment de Dilma. E o fogo político incendiou Brasília.

A confusão, e a convulsão política, atingiram a todos, governo e oposição. Nos corredores do Congresso, nas comissões técnicas e nos gabinetes, conspirações a cada instante, listas de deposição de líderes – no caso do PMDB – retirada do relator do processo de cassação de “Cunha” no Conselho de Ética que virou um circo manipulado por seus aliados, chicanas à vontade, tudo para manter o poder, evitar a perda do mandato, e claro, derrubar o governo Dilma.

O ódio é sentido a cada metro do Salão Verde, em cada momento do plenário. Mas, e o Brasil? E o desenvolvimento econômico, os empregos, a renda, os projetos sociais, a casa própria, o poder aquisitivo do povo? Ah, isso não está em pauta, e só estará caso a “Cunha” seja retirada. É o que vi e apurei, ouvindo e entrevistando vários deputados e lideranças.

Sem a deposição das armas de ambos os lados, o Brasil vai ladeira abaixo. A insanidade é tamanha que só enxergam um caminho, o de assumir o poder a qualquer custo, passando por cima da Constituição Federal, buscando derrubar o governo eleito democraticamente utilizando uma ferramenta constitucional que no momento, não se aplica. Temer e parte do PMDB viu uma chance de assumir o poder nestes últimos dias.

Foram avisados de que se Dilma cair, ele cai junto por motivos idênticos ao da representação proposta pela oposição, e aceita com fervor por “Cunha”. O presidente da Câmara dos Deputados está desmoralizado, usa criminosamente de todas as armas que tem no cargo para atrasar o país, única e exclusivamente para se safar. E não irá se safar.

Do que vi nesse dezembro quente e em ebulição em Brasília, para que se retome a vida normal e a democracia seja preservada, o primeiro passo é o afastamento de “Cunha” da presidência. Já imaginaram um governo com “Cunha”? Sim, ele é o terceiro na linha sucessória. Pelo andar da carruagem, o STF vai agir, mas somente isso não é suficiente, pois seus aliados estão todos na mesa diretora. Portanto, a coisa vai continuar.

É preciso que se promovam novas eleições para a Presidência da Câmara. E ao mesmo tempo, com a altivez que os cargos exigem, Dilma e Temer tem de se entender, e superar as divergências em nome do Brasil. A oposição se preparar para 2018. Os partidos aliados, deixarem de picuinhas. E o Congresso Nacional trabalhar em favor do Brasil. Sem a “Cunha” que impede o avanço do país, podemos voltar a crescer e continuar no caminho do desenvolvimento com inclusão social. Juízo Brasil, juízo. E sem “cunhas”.


É assim, nas teias do poder...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Querem impedir o Brasil?















POR SALVADOR NETO

Há quase 23 anos vivi os momentos históricos do impeachment do ex-presidente, hoje senador por Alagoas, Fernando Collor, cuja abertura do processo foi aprovada por 441 votos na Câmara dos Deputados. Collor foi o primeiro presidente da República eleito pelo voto direto após o regime militar, ao derrotar em segundo turno o então candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Duas entrevistas foram determinantes para a mobilização popular.

Primeiro o irmão do presidente, Pedro Collor, à revista Veja, denunciando o chamado esquema PC e o desvio de verbas públicas para as empresas do ex-tesoureiro de campanha. Depois, o motorista Francisco Eriberto França confirmou à revista Isto É ter feito pagamentos para Fernando Collor e sua esposa, Rosane Collor, com cheques e valores que buscava nas empresas de PC Farias.

No dia 29 de setembro de 1992, o deputado Ibsen Pinheiro abriu a sessão de votação pelo impeachment de Fernando Collor de Melo em um Congresso Nacional cercado por milhares de manifestantes Caras Pintadas. Com 441 votos favoráveis, 38 contrários, 23 ausências e uma abstenção, a Câmara dos Deputados decidiu pelo afastamento imediato do presidente da República de suas funções e autorizou o Senado Federal a abrir processo de cassação de mandato e dos direitos políticos.

No dia 2 de outubro, Collor foi comunicado de seu afastamento temporário pelo período que durasse o processo de impeachment e o então vice-presidente da República, Itamar Franco, assumiu o cargo. Itamar permaneceria na cadeira presidencial até o fim do mandato, em 1994. 
A cassação de Fernando Collor de Melo foi confirmada por 76 votos favoráveis e dois contrários no Senado Federal, em 29 de dezembro de 1992. O ex-presidente ainda tentou uma manobra para evitar a perda de seus direitos políticos. Depois de aberta a sessão no Senado, o advogado de defesa de Collor, José Moura Rocha, apresentou aos senadores a carta de renúncia dele.


A tentativa, no entanto, foi em vão, e a cassação foi confirmada. Em 1994, o ex-presidente foi absolvido no Supremo Tribunal Federal (STF) da acusação de corrupção passiva por falta de provas. A absolvição na ação penal, entretanto, não o livrou da suspensão dos direitos políticos por oito anos, a contar da data do que seria o término do seu mandato presidencial, em 1994. 

Escrevo isso para mostrar um pouco daquele contexto histórico, onde estávamos recém-saídos das fraldas da democracia. Aliás, nossa democracia é jovem. Em palestra que fiz a estudantes recentemente ainda perguntei quantos ali tinham 30 anos de idade ou mais. Apenas um levantou a mão. O que diferencia àquele impeachment deste que foi acolhido pelo deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara?

No de Collor, havia indícios, o governo havia confiscado dinheiro de empresas e pessoas físicas, e os deputados e senadores, sempre eles, se sentiam “desprestigiados” pelo Presidente, que se sentia um imperador. O clima era de confronto total. E mesmo assim, juridicamente Collor foi inocentado. Na arena política, no Congresso, foi derrotado. O país sofreu muito com essa grave crise, e quem viveu sabe.


Neste caso atual o que há é uma não aceitação, por parte da oposição, da vitória de Dilma contra Aécio. É fato incontestável que Dilma venceu no voto popular, e ponto. Na democracia é assim, vence quem tiver mais votos. Desde a derrota, a oposição tenta impedir o governo de governar. Cria factoides, promove ou incentiva atos de ódio contra a Presidente, seu partido o PT, e até aliados.

Articularam vários pedidos de impeachment, alguns arquivados por Cunha, antes interessado em mostrar seu poder e influenciar. Eduardo Cunha tramou até contra seu companheiro, Michel Temer, presidente de seu partido, e vice-presidente da República! Até quando surgiram as tais contas na Suíça. Aí a chantagem, o achaque, aumentou, até chegar ao atual estágio. É uma espécie de “abraço do afogado”.


Eduardo Cunha é acusado de gravíssimos crimes pela Procuradoria-Geral da República: corrupção, evasão fiscal e lavagem de dinheiro. Ocultou suas contas na Suíça em depoimento na CPI da Petrobrás e tem um longo histórico de envolvimento em escândalos de corrupção desde que chegou ao poder junto a PC Farias e Collor de Melo. Assim que as denúncias a Cunha foram comprovadas pelo Ministério Público do Brasil e da Suíça, o PSOL entrou com representação pedindo a cassação de seu mandato. 

Ou seja: um réu da Justiça, que mentiu e omitiu contas e bens em depoimento da CPI da Petrobras, não pode continuar presidindo a Câmara dos Deputados. É uma vergonha para os brasileiros, e uma afronta à legalidade. Portanto, os casos de impeachment de 1992 e o que se quer hoje são completamente diferentes. Este parece ser um puro golpe, mais “bonito” aos olhos da oposição, mas que leva o país para o buraco. Para tentar se salvar da perda de seu mandato no Conselho de Ética, Cunha passou os últimos meses chantageando deputados de diversos partidos. 

Em ato tardio a bancada do PT votou pela continuidade do processo de cassação do mandato de Cunha. Em retaliação, Cunha abriu processo de impeachment contra Dilma. Mas, o impeachment só pode existir em casos extremos, quando existe crime comprovado de responsabilidade. Gostemos ou não do governo Dilma, ele foi eleito democraticamente, e deve cumprir seu destino, com uma oposição séria e responsável, não esta que é comandada por verdadeiros coveiros do país como Cunha, Aécio, e outros menos votados. Até o momento não há nada que incrimine a Presidente, e sua biografia é incomparavelmente melhor que a de Cunha.


O governo Dilma enfrenta a crise econômica que ronda o mundo desde 2008, e que agora chegou forte ao Brasil. Durante seu primeiro mandato, medidas de redução de impostos para manter a economia girando foram feitas, empresas e o povo conseguiram se manter, até que a receita exauriu. Problema do governo eleito, e que deve assumir seus erros e encontrar saídas. 

A crise política contamina o Brasil inteiro, e principalmente a economia. Impede investimentos, cria medo e instabilidade a quem gera a riqueza, empresas e trabalhadores. Este ato de Eduardo Cunha, aplaudido por apoiadores no Congresso e país afora, é um impedimento ao Brasil, ao seu futuro, à retomada do desenvolvimento econômico. Não esqueçam que o governo não é só do PT, mas também do PMDB, PSD, PP, e outros P’s. 

É hora de acabar com esse terceiro turno interminável, inexistente na vida democrática. Há que se ter grandeza na oposição, para criticar e sugerir, mas não agir com o fígado, destilando ódio e empurrando o país para o obscurantismo. Não adianta matar a galinha dos ovos de ouro para se obter imediatamente todo o conteúdo. E, afinal, a democracia manda: tentem novamente em 2018. O resto é choro, ódio, e atos que só paralisam o país.

Por trás de tudo isso há interesses inconfessáveis, externos e internos – ou mistura de ambos -, pela Petrobras e o que sobrou do patrimônio brasileiro vendido nos anos 1990 a preço de bananas. E claro, desmonte do Estado, etc, etc. A hora não é para brinquedinhos políticos, é hora de unificar o país para superar a crise econômica.

É assim, nas teias do poder...

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Nos fios da teia #1


POR SALVADOR NETO

Inovar sempre é bom. Com Nos Fios da Teia, notas curtas sobre temas variados, da província, do planalto, de além mar, tecerei comentários e informarei os assíduos e permanentes leitores do Chuva Ácida. Vamos lá?

Caso Lia Abreu – O texto da semana passada sobre a perseguição política à fiscal sanitarista (clique aqui) chegou a mais de 5 mil visualizações únicas, mais de 300 compartilhamentos, superando mil leituras únicas somente no site, uma audiência que assusta a turma do outro lado do rio. Quem não deve, não deveria temer. Final do caso está próximo. E vai sobrar para muita gente, do maior ao menor...

Fakes – Chega até a refinada redação que há gente fiscalizando de perto alguns perfis “fakes” que andam rondando, ofendendo e intimidando quem critica o governo da “Villa”. Os dados de IPs, nomes e outras cositas más podem chegar em setor que ainda trabalha no governo Udo. Esperemos.

Colombo x PMDB – O governador que mais anuncia obras na mesma proporção que não as inicia, nem finaliza, está mais uma vez colocando o PMDB do finado LHS no bolso. Na base dos convênios, enreda (ou seria enteia) o prefeito Udo, que espera a grana, a obra, e nada. Enquanto isso, Darci de Matos articula.

Darci de Matos – Meio como quem não quer nada, nos escaninhos do poder, o deputado estadual do PSD vai tecendo sua campanha à Prefeitura. Motiva outros candidatos a se lançarem, acena a lideranças comunitárias com possíveis espaços a partir de 2017 na Prefeitura, e não briga com ninguém. Resta saber se aguentará a pressão na hora do pau comer na campanha.

Mariani Governador? – Após longos anos brigando nas internas do PMDB, o deputado federal parece que finalmente conseguiu quebrar a pedra que o impedia de seguir em frente na sua obstinada vontade de ser governador. Só que falta combinar mais coisas com Eduardo Moreira, Dário Berger, Paulo Afonso e outros. Muita água passará por baixo das pontes da Ilha. Inclusive uma água do oeste chamada Merísio.

Amin de novo? – O ex-governador, deputado federal pelo famoso PP, estourou as urnas em 2014 e volta com força total rumo ao governo de SC. Articula candidaturas por todo o estado, inclusive em Joinville que agora não tem mais a força de LHS, e terá apoio velado, ou aberto, tanto de PSD, PSDB e outros que cansaram de arrumar a casa para outros morarem. Ano que vem vai mostrar se o carecone vem prá valer. Virá.

PMDB tucanou – Enquanto aumenta a ocupação de cargos poderosos na esplanada em Brasília, o partido que está sempre no poder (tal qual foi o PFL/DEM) faz jogo de cena em cada estado. Uns gritam que não aceitam negociação de cargos, outros que querem a governabilidade. E assim passam por grandes estadistas. Na verdade, tem sempre é muita sede de poder. Com o PT ou quem estiver no Palácio do Planalto. Tomaram o lugar dos bicudos em cima do muro.

Colocaram a cunha no Cunha – Eduardo Cunha (PMDB), o incansável achacador do governo Dilma, do PMDB, do Temer e de quem quer que esteja na sua frente na corrida por mais poder, pensou que seria Presidente. Mas colocaram uma cunha – logo pode ser uma tornozeleira eletrônica – com as contas na Suiça, denuncia por corrução no STF. Em breve teremos novo presidente na Câmara dos Deputados.

Dilma e o golpe – Quem conhece um mínimo de política, acompanha o setor historicamente, sabe que o que está em jogo não é se a Dilma roubou ou não. A oposição quer voltar ao poder na marra, e com ajuda da grande mídia, não cansa de criar fatos com seus “soldados” bem instalados em TCUs, STJs, STFs, TSEs, ao longo de muito tempo no poder. O que se quer é dar um golpe branco. Quem viveu o período da ditadura militar sabe que a volta de tempos parecidos que sejam, seria um desastre para o país. Engana-se quem acha que os movimentos sociais ficarão em casa. Podemos viver tempos difíceis.

Prefeito por um dia – Joinville tem coisas que a colocam como cenário da novela de Dias Gomes, o Bem Amado. Agora, por ocasião das férias do prefeito Udo Döhler, a grande negociação pelo bem da cidade e que deve impactar deveras o futuro dos cidadãos, é quem vai ser prefeito por cinco, sete, dez ou 15 dias: Rodrigo Coelho ou Rodrigo Fachini. Os Rodrigos estão decidindo como farão para sentar naquela cadeira... e a caneta, será que fica na mesa? Joinville, Joinville... você merece mais. Muito mais.

É assim, os fios da teia nas teias do poder...

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Para você que é chamado de coxinha, reaça, paneleiro...


POR VANDERSON SOARES

Este blog tem uma grande variedade de escritores e voluntários que todos os dias agraciam o intelecto de seus leitores com textos que refletem a atualidade de Joinville e do Brasil de um modo geral. Às vezes textos ácidos, irônicos, cheios de bons argumentos, que nos fazem pensar em como melhorar nossa sociedade. Uma boa parcela destes escritores são assumidamente de esquerda, outros mais ao centro, nenhum de extrema direita (ainda bem!).

Este texto vai pender para a direita, mesmo que eu não seja de lá. Esta semana tomei conhecimento de 2 informações e de um acontecimento que me incentivaram a vir aqui hoje defender o ponto de vista da classe média:

1) A figura logo ao final deste texto, com uma publicação de alguém desabafando que gerou milhares de compartilhamentos;

2) Sílvio Santos já foi quem mais contribuiu para o Imposto de Renda, mesmo não sendo o mais rico do país;

3)  Dilma passou, oficialmente, o poder de articulação política para Temer

Ok, concordo que os 3 pontos são um pouco aleatórios e, talvez, aparentem ser desconexos, mas tem uma íntima ligação, que tentarei expor nas linhas abaixo.

Sobre a classe média. Muitos intitulam-na de coxinhas, reaças, retrógrados e afins.  Não sou de direita, sou contra qualquer forma de preconceito, sou contra o ódio e sou a favor da igualdade de possibilidades a todos.

Defendo, em partes, as bolsas que este governo tem dado. Seus incentivos e, principalmente, a abertura do ensino superior para classes que antes tinham muito mais dificuldade para chegar lá.

O que não dá de concordar é que um cidadão de classe média, autônomo ou empresário de pequeno e médio porte seja intitulado dos nomes que falei acima, simplesmente por defender a sua realidade. A figura 1 explica um pouco do ponto de vista que quero defender.

Sem emprego gerado pelas pequenas e médias empresas de pessoas da classe média, não há emprego e assim, aqueles que financiaram sua casa no Minha Casa Minha Vida não poderão pagar suas parcelas. Se não há emprego, não pagarão as parcelas dos carros que compraram com aquela baixa do IPI, não conseguirão pagar as contas de luz que os condicionadores de ar necessitam.

Mas então você quer que os pobres continuem na masmorra e o pessoal da Casa Grande continue com seus benefícios? Não, claro que não. Sou a favor destas medidas, quando acompanhadas de estratégias sustentáveis. Agora, dá-se de tudo para um lado e colocam-se impostos sobre tudo do outro lado. A balança não se equilibra.

O governo, e os principais defensores da esquerda, atacam a classe média por irem contra algumas medidas, mas vejam, é a classe que mais trabalha e que mais produz e que, em troca, apenas recebe mais impostos pra pagar em troca de nada. Coloquei o item 2, sobre o Imposto de Renda do Sílvio Santos, para mostrar como o nossos sistema é incorreto.

No ano em que Sílvio Santos foi quem mais pagou Imposto de Renda ele nem sequer figurou entre os mais ricos do Brasil. Como pode isso? Se o Imposto de Renda é proporcional à renda, como pode o que não mais ganhou, ser o que mais pagou? O PT não estava no poder quando Sílvio foi quem mais contribuiu para o IR, mas não fez nada em seu governo para mudar isso. Continuou a esfolar a classe média e nem sequer mexeu no bolso de quem realmente tem dinheiro para contribuir. Ao invés de por em pauta a taxação das grandes fortunas, preferiu meter goela abaixo impostos para a classe média.

Repito, sou a favor de proporcionar a todos o mesmo ponto de partida. Todos tem direito a educação, saúde e alimentação adequada. Mas não apenas tirar de um lado e colocar no outro, sem pensar na sustentação destes projetos.

Entrando no item 3, quero dizer que Dilma fracassa mais a cada dia. No segundo mandato de Lula e em seu primeiro mandato, só fizeram dívidas, realizaram aquilo que defendiam como sendo o correto, mas não pensaram na continuidade disso. Não tinham cacife pra manter isso tudo.

Hoje estamos assim:
- Levy manda e desmanda na economia, de modo a conseguir pagar o rombo gerado nos últimos anos;
- Eduardo Cunha, do PMDB, presidente da Câmara dos Deputados;
- Renan Calheiros, do PMDB, presidente do Senado Federal;
- Michel Temer, do PMDB, Vice Presidente da República e Dilma, ontem mesmo, deu a ele poderes para articulação política;
- PT fez coligação com o PMDB para se eleger.

Agora eu te pergunto, você que defende com unhas e dentes o PT, Dilma e Lula. Qual é a sensação de esperar tanto tempo para estar no poder, fazer tudo aquilo que o partido defendia, não conseguir manter, endividar o governo e agora, paulatinamente, realizar uma renúncia branca, entregando o poder assim, oficialmente, ao PMDB, partido que o PT tanto atacou por tanto tempo?

A Ética dos Meios não se aplica na resposta. O PT fracassou e toda a sua história em defesa dos trabalhadores começa a cair por terra, suas teorias não mais são sustentáveis na prática, como diziam ser. 


segunda-feira, 16 de março de 2015

Eu fui!!!

POR JORDI CASTAN



Sim, eu fui. Estive na Praça da Bandeira e fiz o que achei que devia fazer, protestei pacificamente contra este desgoverno que aí está. Externei o meu descontentamento contra a presidente, seu governo, a corrupção institucionalizada e me encontrei com uma Praça da Bandeira cheia de joinvilenses que, como eu, exerceram o seu direito de protestar.

O que eu encontrei lá? Encontrei outros joinvilenses que, como eu, de uma forma espontânea, decidiram sair de casa para se manifestar. Encontrei uma Joinville plural, de todas as idades e de todos os setores. Gente que trabalha para fazer esta cidade prosperar. Havia gente de todas as classes sociais, os que chegaram a pé, em bicicleta, em coletivo. Gente de todas as cores, de todos os tamanhos e de todos os bairros da cidade. Encontrei gente que estava lá com cartazes feitos a mão.

As cores que predominaram eram as da bandeira, Amarelo, azul e verde, também havia branco. Ninguém de vermelho. Ninguém com bandeira de nenhum partido. Foi um ato político, mas foi apartidário. Tinha lado a lado, monarquistas, defensores de minorias e representantes de associações de moradores, dos diversos coletivos e entidades que formam o tecido social desta cidade.

O que não encontrei lá? Não tinha sanduíche de mortadela, nem ônibus fretado, tampouco achei ninguém distribuindo R$ 35,00 para participar do evento. Não distribuíam camisetas. Não tinha cartazes feitos em gráfica, nada que parecesse muito organizado. Cada um estava na praça expressando sua opinião. Não vi nenhuma violência. Nem foi possível identificar nenhum guineano ou algum militante de aluguel. Não escutei nenhum slogan ofensivo, nada que fosse incompatível com o estado de direito que ainda temos no Brasil.

Chamar o ex-presidente de cachaceiro não poderia ser considerado ofensa, ele próprio nunca tem ocultado sua predileção pela bebida nacional. E pedir que o dinheiro público roubado seja devolvido aos cofres públicos, tampouco é algo que possa ser considerado ofensivo, mas eu sou, claramente, mais liberal e permissivo que a maioria dos que dedicaram os últimos dias a um patrulhamento ostensivo para tentar desestimular as pessoas a se manifestar e esta gente tem uma sensibilidade muito mais aguçada quando se trata dos seus lideres, a sensação é como se só eles tivessem o monopólio das ruas e a exclusividade da ofensa.

Esquecem eles que as ruas são o espaço público por excelência, o espaço de todos. E o direito de ir à rua e manifestar-se livremente é um princípio democrático inquestionável. Ainda estou tentando entender por que estranho motivo essa gente fez tanto esforço para evitar que o brasileiro fosse à praça?

É bom lembrar que o brasileiro aprendeu que podia “impichar” um presidente e tirá-lo do poder na prática. Muitos dos que hoje estão no governo já foram “caras pintadas” e foram às ruas e pedir o “impeachment” do presidente Collor e disso não faz tanto tempo assim.  

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

De Impeachments PASSIVOS.

A lista não tem fim. 
Tem uma coisa que parece não mudar nunca. Desde antes das eleições no ano passado, têm pipocado pedido após pedido (informal) de Impeachment contra a Presidente Dilma Rousseff. E claro, sempre por parte de pessoas que não parecem entender muito bem como a democracia, os três poderes e as suas esferas de influência, ou o próprio processo de Impeachment funciona.

Nenhum desses pedidos parece ter realmente à ver com qualquer irregularidade por parte da Presidente: os argumentos vão desde de responsabilidade indireta pela corrupção na Petrobrás (aquela que corre desde - ao menos - 1996) até os aumentos das contas de luz e água (atribuição dos ESTADOS), a precariedade das escolas públicas (Estados e Munícipios), o preço da gasolina (cujos tributos federais compõe apenas 06% do preço, e quase um terço é composto por tributos ESTADUAIS) e os preços do ônibus "que não param de subir" (Munícipios). Isso quando não entram no reino da teoria da conspiração e falam em golpe comunista, guerrilheiros cubanos/venezuelanos infiltrados, "doutrinação marxista/gayzista", eleições roubadas e outras sandices, jamais demonstrando uma única peça de evidência para essas alegações extraordinárias.

A lista de protestos pedindo impeachment é gigantesca. No entanto, Joinville conseguiu se superar no quesito "manifestação tola em prol do Impeachment". No meio da onda de protestos marcados para o dia 15 de março, a descrição do movimento joinvillense no facebook trazia:

"Protesto PASSIVO por nossos direitos não será aceito bandeiras ou camisas de partidos políticos, vândalos e black blocs serão entregues a polícia pela própria população!

Obs: Usar verde e amarelo de alguma forma (vestes ou pinturas no rosto).
Não da mais para aceitar o preço da gasolina esta um absurdo, a passagem de ônibus não para de subir, a luz os impostos tudo ficando sem controle, e um aumento razoável no salário do povo NADA!

Se já conseguiram uma vez podemos conseguir de novo.
BRASIL MOSTRA TUA CARA!"

A descrição foi corrigida, trocando de PASSIVO para PACÍFICO, mas a falta de total pontuação permaneceu. Não bastando o ufanismo patriótico, o revanchismo apartidário e a revolta com questões que não são de âmbito federal (e há muito que se criticar no âmbito federal), e com uma questão que diz muito mais respeito ao legislativo do que ao executivo (o valor do salário mínimo), temos essa gafe hilária. A confusão de PACÍFICO (não violento) com PASSIVO (inativo). Desta vez, os revoltosos tem sua desculpa para não comparecer: estão protestando passivamente. Uma dica: querem um impeachment passivo? É só esperar o fim do mandato.

E citado o nosso escabroso legislativo... Me pergunto se os revoltosos que pedem o impeachment estão cientes de como o processo funciona. Não são poucos os que parecem pensar que, derrubada Dilma, assumiria Aécio. Não pessoas: quem assume no impedimento da Presidente é o Vice, Michel Temer. Se esse for retirado do cargo também, antes do final da primeira metade do mandato, são feitas novas eleições diretas, e até o resultado dessas assume interinamente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Se este cair, assume Renan Calheiros. Se Temer cair após a metade do mandato, as eleições para a presidência são indiretas, feitas pelo Senado. E é claro, o mais óbvio: o procedimento do Impeachment depende única e exclusivamente do congresso nacional, e engana-se quem pensa que mudar o executivo enquanto se preserva tal antro de corrupção como está vá mudar alguma coisa.

Claro, há mais uma questão aqui em jogo: Alguém poderia me dizer uma democracia que fora derrubada, e deu lugar a outra democracia? Não contentes com o resultado das eleições, alguns preferem rasgar todo e qualquer princípio democrático, somente para tirar Dilma do poder - não importanto quem ou o quê assuma. E isso que a brigada do impeachment é até moderada: preferem tomar uma via judicial para não ter que assumir que perderam mais uma vez. No entanto, tem gente no meio disso que pede abertamente por um golpe de estado uma Intervenção Militar Constitucional (sem base na constituição) caso o impeachment falhe.

Chega a ser cômico: a revolta com o governo petista é tamanha, que usam coisas que não são responsabilidade deste para pedir um golpe de estado "e reestabelecer a democracia". Já vi afirmarem que a reeleição da Dilma "acabou com a imagem do Brasil no exterior". Não é o que tenho visto no Reino Unido. Mas uma coisa posso dizer com certeza: não há nada mais devastador para as relações exteriores de um país do que um governo democrático caindo na base do grito. Governos interinos e transições forçadas são uma marca de "repúblicas de bananas" - e pelo visto, alguns preferem que voltemos a ser um estado fantoche, corrompendo o sistema "para acabar com a corrupção".

Ao menos o protesto será "Passivo". Sim, corrigiram o erro. Mas não deixa de ser cômico que tenham cometido uma falha tão óbvia quanto esta. Quem sabe se os revoltosos soubessem algo da política nacional além de "mensalão e petrolão", soubessem contra o que protestar. No entanto, para protestos com pautas claras, a resposta deles é sempre "contra a corrupção ninguém protesta".

Em uma nota cômica, um texto provavelmente humorístico circulando no facebook afirma que para conseguir o impeachment é necessário pedir no cartório "um COMBO DE QUATRO IMPEACHMENTS" - pois segundo o texto, ao ser retirado do cargo, assume o presidente anterior. Então tem que se pedir quatro impeachments (Dilma, Dilma, Lula, Lula) para que FHC volte ao poder e emposse o Aécio. Digo provavelmente devido a quantidade de asneiras que já vi serem ditas em completa seriedade. E não duvido que haja quem leve a sério e realmente vá no cartório pedir o tal combo (com refri e batata). 

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

39 ministros - só falta um para empatar com o Gabão

POR JORDI CASTAN


Tem gente demais ou competência de menos

Em todos os níveis da política opta-se pela maior quantidade, em lugar de priorizar a maior competência. O resultado é gente demais para eficiência de menos. Administrar uma casa, uma família, inclusive uma pequena empresa é mais complexo do que pode parecer. Os recursos são limitados e é difícil atender todos os interesses a contento.

Administrar uma cidade, um estado ou um país é muito mais complexo. A estrutura necessária para superar este desafio muda caso a caso. No Japão, por exemplo, o primeiro ministro Shinzo Abe consegue reunir todo o gabinete formado por 8 ministros em quaisquer sala do palácio de governo. O presidente Barack Obama, precisaria convocar só a 15 secretários de estado, equivalente norte-americano ao cargo de ministro. A chanceler alemã Angela Merkel precisa de 16 ministros para governar o país. Só o Gabão com 40 ministros supera os 39 ministros da Presidente Dilma.

No Brasil são necessários 39 ministros para preencher os 24 ministérios e as 10 secretarias da presidência e cinco  órgãos com status de ministério, para poder acomodar todos os partidos aliados e atender todos os acordos feitos durante a campanha eleitoral, alguns ministérios são tão exóticos como o da Pesca, das Cidades, do Esporte ou os dois ministérios um da Agricultura e outro do Desenvolvimento Agrário. Ou ainda as secretarias de políticas de promoção da igualdade racial ou a das relações institucionais. O presidente da Câmara de Gestão, criada pelo Planalto, o empresário Jorge Gerdau, acha que não se pode trabalhar com 23,5 mil assessores de confiança na estrutura política. E tem razão. Se cada um dos 39 ministros fizesse um breve relato da sua pasta, coisa de 15 minutos, tempo improvável em se tratando de gente em geral bastante loquaz e prolixa, seria preciso uma reunião ministerial de no mínimo 9 horas e meia.

E em Joinville? 
O problema do excesso de cargos e da falta de competência não é só federal. Em Joinville, o prefeito Udo Dohler, conta com uma equipe de 14 secretários centrais, 8 subprefeitos, 10 presidentes de fundações e companhias. Sem contar miríades de auxiliares e achegados, uma equipe de 32 homens e mulheres comprometidos com o único objetivo de fazer o melhor por Joinville. Caso tomasse a iniciativa de promover uma reunião de trabalho do primeiro escalão, não conseguiria que durasse menos de 8 horas se cada um fizesse um relato bem sintético do que anda ou não fazendo. Dificilmente administraria una empresa privada com uma equipe deste tamanho.

Reduzir o número de secretarias e consequentemente de cargos comissionados para passar a contar com uma equipe mais enxuta e capaz envolveria um enorme custo político que o prefeito já não tem. Por outro lado enfrentaria a resistência dos próprios vereadores, tanto os da situação, como inclusive os da oposição, para reduzir o número de cargos. Situação que escancara tanto a promíscua relação entre Executivo e Legislativo, como uma atitude irresponsável na busca e preservação de mais vagas para afilhados políticos e apaniguados próximos. É algo que deve ser visto como uma atitude estranha é, a todas as luzes, prejudicial aos interesses maiores da cidade a que também eles deveriam servir. Neste aspecto tanto Joinville, como Florianópolis, como Brasília seguem o mesmo mau exemplo.