A lista não tem fim. |
Nenhum desses pedidos parece ter realmente à ver com qualquer irregularidade por parte da Presidente: os argumentos vão desde de responsabilidade indireta pela corrupção na Petrobrás (aquela que corre desde - ao menos - 1996) até os aumentos das contas de luz e água (atribuição dos ESTADOS), a precariedade das escolas públicas (Estados e Munícipios), o preço da gasolina (cujos tributos federais compõe apenas 06% do preço, e quase um terço é composto por tributos ESTADUAIS) e os preços do ônibus "que não param de subir" (Munícipios). Isso quando não entram no reino da teoria da conspiração e falam em golpe comunista, guerrilheiros cubanos/venezuelanos infiltrados, "doutrinação marxista/gayzista", eleições roubadas e outras sandices, jamais demonstrando uma única peça de evidência para essas alegações extraordinárias.
A lista de protestos pedindo impeachment é gigantesca. No entanto, Joinville conseguiu se superar no quesito "manifestação tola em prol do Impeachment". No meio da onda de protestos marcados para o dia 15 de março, a descrição do movimento joinvillense no facebook trazia:
"Protesto PASSIVO por nossos direitos não será aceito bandeiras ou camisas de partidos políticos, vândalos e black blocs serão entregues a polícia pela própria população!
Obs: Usar verde e amarelo de alguma forma (vestes ou pinturas no rosto).
Não da mais para aceitar o preço da gasolina esta um absurdo, a passagem de ônibus não para de subir, a luz os impostos tudo ficando sem controle, e um aumento razoável no salário do povo NADA!
Se já conseguiram uma vez podemos conseguir de novo.
BRASIL MOSTRA TUA CARA!"
A descrição foi corrigida, trocando de PASSIVO para PACÍFICO, mas a falta de total pontuação permaneceu. Não bastando o ufanismo patriótico, o revanchismo apartidário e a revolta com questões que não são de âmbito federal (e há muito que se criticar no âmbito federal), e com uma questão que diz muito mais respeito ao legislativo do que ao executivo (o valor do salário mínimo), temos essa gafe hilária. A confusão de PACÍFICO (não violento) com PASSIVO (inativo). Desta vez, os revoltosos tem sua desculpa para não comparecer: estão protestando passivamente. Uma dica: querem um impeachment passivo? É só esperar o fim do mandato.
E citado o nosso escabroso legislativo... Me pergunto se os revoltosos que pedem o impeachment estão cientes de como o processo funciona. Não são poucos os que parecem pensar que, derrubada Dilma, assumiria Aécio. Não pessoas: quem assume no impedimento da Presidente é o Vice, Michel Temer. Se esse for retirado do cargo também, antes do final da primeira metade do mandato, são feitas novas eleições diretas, e até o resultado dessas assume interinamente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Se este cair, assume Renan Calheiros. Se Temer cair após a metade do mandato, as eleições para a presidência são indiretas, feitas pelo Senado. E é claro, o mais óbvio: o procedimento do Impeachment depende única e exclusivamente do congresso nacional, e engana-se quem pensa que mudar o executivo enquanto se preserva tal antro de corrupção como está vá mudar alguma coisa.
Claro, há mais uma questão aqui em jogo: Alguém poderia me dizer uma democracia que fora derrubada, e deu lugar a outra democracia? Não contentes com o resultado das eleições, alguns preferem rasgar todo e qualquer princípio democrático, somente para tirar Dilma do poder - não importanto quem ou o quê assuma. E isso que a brigada do impeachment é até moderada: preferem tomar uma via judicial para não ter que assumir que perderam mais uma vez. No entanto, tem gente no meio disso que pede abertamente por um golpe de estado uma Intervenção Militar Constitucional (sem base na constituição) caso o impeachment falhe.
Chega a ser cômico: a revolta com o governo petista é tamanha, que usam coisas que não são responsabilidade deste para pedir um golpe de estado "e reestabelecer a democracia". Já vi afirmarem que a reeleição da Dilma "acabou com a imagem do Brasil no exterior". Não é o que tenho visto no Reino Unido. Mas uma coisa posso dizer com certeza: não há nada mais devastador para as relações exteriores de um país do que um governo democrático caindo na base do grito. Governos interinos e transições forçadas são uma marca de "repúblicas de bananas" - e pelo visto, alguns preferem que voltemos a ser um estado fantoche, corrompendo o sistema "para acabar com a corrupção".
Ao menos o protesto será "Passivo". Sim, corrigiram o erro. Mas não deixa de ser cômico que tenham cometido uma falha tão óbvia quanto esta. Quem sabe se os revoltosos soubessem algo da política nacional além de "mensalão e petrolão", soubessem contra o que protestar. No entanto, para protestos com pautas claras, a resposta deles é sempre "contra a corrupção ninguém protesta".
Em uma nota cômica, um texto provavelmente humorístico circulando no facebook afirma que para conseguir o impeachment é necessário pedir no cartório "um COMBO DE QUATRO IMPEACHMENTS" - pois segundo o texto, ao ser retirado do cargo, assume o presidente anterior. Então tem que se pedir quatro impeachments (Dilma, Dilma, Lula, Lula) para que FHC volte ao poder e emposse o Aécio. Digo provavelmente devido a quantidade de asneiras que já vi serem ditas em completa seriedade. E não duvido que haja quem leve a sério e realmente vá no cartório pedir o tal combo (com refri e batata).