POR SALVADOR NETO
Vivemos tempos tumultuados, agitados. Tempos em que o ódio vem superando a razão e a tolerância. A crise política chega a temperaturas altíssimas com uma sucessão inimaginável de fatos estapafúrdios em um estado democrático de direito. A investigação da corrupção via Operação Lava Jato, que parecia ser um serviço de limpeza das instituições do país, saiu de um roteiro de descobertas dos cartéis de empreiteiras para seguir um enredo de partidarização da justiça. Um perigo para a nossa jovem democracia.
Quem estuda um pouco de história sabe que a “luta” contra a corrupção foi usada sempre que interesses escusos foram contrariados por governos legitimamente eleitos pelo voto. Foi assim com Getúlio Vargas (1954), e não por acaso já na ocasião o nosso petróleo estava ao fundo da tal luta. Todos sabem como acabou a história. Em seguida, JK teve que suar para disputar a eleição, ganhar e tomar posse. Mesmo assim construiu Brasília, a capital onde dizem, nasceu o “modelo” empreiteiro de fazer política.
A
corrupção, ela novamente, ajudou a eleger o udenista Jânio Quadros em 1960 com
a sua “vassourinha”, que ia varrer a bandalheira do Brasil. JK foi tachado como
o mais corrupto homem público pelos grandes conglomerados de mídia da época.
Nada mais atual. Jamais provaram nada contra ele, que teria morte estranha após
longo exílio por conta da tão saudosa – ainda bem que para poucos – ditadura
militar (1964-1985). Também Jango, que assumiu com a renúncia de Jânio Quadros,
sucumbiu aos brados da união entre tradição, família e propriedade contra a
corrupção e o tal “comunismo”.
Por
incrível que pareça, há quem acredite que no regime militar não houve
corrupção. Como saber se a livre manifestação, as liberdades individuais e de
reunião, a censura, encobriam o país com o manto do terror, da perseguição a
quem pensasse diferente? Sugiro a quem duvide disso estudar... história do
Brasil, ou vá neste link para começar a pesquisa. Durante o regime militar
foram realizadas obras gigantes como a Transamazônica, Ponte Rio Niterói,
Usinas de Itaipu e Tucuruí, entre outras. Quem as construiu? As famosas
empreiteiras, praticamente as mesmas que você sabe envolvidas na Lava Jato.
Após
a redemocratização, que é bom que se repita, foi conquistada com a luta de
muitos brasileiros e brasileiras contra as arbitrariedades e torturas do regime
militar – e com a concessão de uma anistia geral até hoje contestada –
construímos uma Constituição Federal de 1988. Ela é a lei maior do país, que
devolveu aos brasileiros e brasileiras os seus direitos individuais, a
cidadania, e direitos que foram negados por séculos ao povo trabalhador. Até
hoje essas conquistas ainda são implementadas lentamente, pois são discutidas e
aprovadas – ou não – no Congresso Nacional. E lá, o conservadorismo permanece
forte, até hoje.
Hoje
ao ver o atual quadro de pré-convulsão social provocado por uma ação
sincronizada entre parte do MPF, Justiça, Polícia Federal e a grande mídia que
já comandou os golpes e tentativas de golpes já citados, tomando por base a
“corrupção”, temo pelo futuro do meu país. Como jornalista não posso me furtar
a opinar sobre o que vejo, pelo que estudei, e por ver tamanha manipulação
midiática que joga irmãos contra irmãos. Quando o maior grupo de mídia do país
passa quase 10 horas ao dia divulgando situações somente contra um grupo
político, e apenas contra a presidente Dilma e o ex-presidente Lula, não há
como disfarçar. O modelo do passado voltou a agir. E sem o menor
constrangimento.
Mesmo
contra a maré odiosa que só repete o que vê na grande mídia como verdade sem a
necessária reflexão, comparação e estudo, é preciso denunciar esses atos que
são vendidos como normais. Não, não é normal e tampouco legal levar um
ex-presidente sob coerção a um depoimento em um aeroporto sem que ele tenha se
negado alguma vez a isto. O ex-presidente não está indiciado, é investigado com
toda a força, e até sua prisão preventiva sem qualquer prova já foi pedida. Aos
olhos da massa pode ser o máximo. Mas sempre há um detalhe, ele já foi
condenado pela mídia.
Não,
não é legal, e tampouco natural, que um juiz de primeira instância determine
grampos à advogados e seus clientes, à Presidente da República, a Ministros de
Estado (todos com foro privilegiado pela CF e Código Penal), os divulgue
diretamente à mídia sem o devido processo ao STF. É uma afronta ao estado
democrático de direito que conquistamos a duras penas. Atos como esse podem ser
a fresta que promove um estado de exceção.
Não,
não é natural que enquanto a Câmara dos Deputados é comandada por um denunciado
por corrupção, Eduardo Cunha do PMDB - que deveria estar fora do cargo
exatamente por isso - o próprio coloca um processo de impeachment da presidente
Dilma para tramitar com “urgência” sem qualquer base legal, sem provas, apenas
por vingança política e interesses de quem o financiou até aqui. Para lembrar,
o processo contra Cunha no Conselho de Ética está paralisado há quase seis
meses.
Não,
brasileiros e brasileiras, não é legal nem natural que estejamos à beira de uma
guerra civil por manipulações midiático-oposicionistas/oposicionistas/judiciais
que inflam a massa popular, que emanam uma cortina de fumaça que esconde
interesses inconfessáveis pelo poder, pelo nosso petróleo, sem que pelo menos
desconfiemos de tudo que se lê, vê, ouve, e claro, compartilha.
Não
é razoável que joguemos nossos direitos e garantias fundamentais nas mãos de
qualquer pessoa do poder após uma longa luta para tê-los!
Hoje você pode achar legal o espetáculo midiático, a espetacularização dos fatos (?!) veiculados. Mas pense, amanhã podem estar atrás de você, com ou sem provas, com escutas, transcrições pela metade, manipuladas.
Aí você pode pensar: mas depois você se defende. Quem não deve, não teme. Será? É tempo de frear os sentimentos, de pensar muito antes de atacar alguém, um amigo, uma outra pessoa. De acusar sem provas. Você pode estar cometendo uma injustiça gigante, que poderá jamais ser reparada.
Hoje você pode achar legal o espetáculo midiático, a espetacularização dos fatos (?!) veiculados. Mas pense, amanhã podem estar atrás de você, com ou sem provas, com escutas, transcrições pela metade, manipuladas.
Aí você pode pensar: mas depois você se defende. Quem não deve, não teme. Será? É tempo de frear os sentimentos, de pensar muito antes de atacar alguém, um amigo, uma outra pessoa. De acusar sem provas. Você pode estar cometendo uma injustiça gigante, que poderá jamais ser reparada.
E
mais: você poderá ser também a vítima, jogando os seus direitos conquistados
via democracia, na vala comum que muitos desejam que você jogue. Construir uma
sociedade democrática, com todos os vícios e erros que ela tem é muito difícil.
Agora, destruir é fácil. Pense nisso. Pense no país. Pense em você. Pense nos
seus. Se errarmos mais uma vez, a história não nos absolverá.
É assim nas teias do poder...
* Em
16 de outubro de 1953, o jovem advogado Fidel Castro pronunciava a sua
autodefesa, após ser preso pelo assalto ao quartel Moncada, em Cuba, – quando
tentou derrubar o então presidente e ditador Fulgêncio Batista. “A história me
absolverá”, foi a última frase proferida pelo líder da Revolução Cubana e como
ficou conhecido o documento que reúne este célebre discurso, que completa 60
anos . Título adapta a frase histórica a esse momento histórico que vivemos.
* Sugiro também a leitura do texto "A culpa é das estrelas?", que escrevi aqui no Chuva há pouco mais de um ano falando sobre essa força propagandista que levou ao nazismo, clique aqui para ler.
* Sugiro também a leitura do texto "A culpa é das estrelas?", que escrevi aqui no Chuva há pouco mais de um ano falando sobre essa força propagandista que levou ao nazismo, clique aqui para ler.