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terça-feira, 9 de julho de 2013

São os políticos seres alienígenas?

POR JORDI CASTAN


A revista Veja, da qual não sou nem leitor nem assinante, estampa na sua capa desta semana uma pergunta inquietante: “Você concorda que Brasília deveria abandonar a galáxia distante onde está e voltar ao Brasil?”. Imediatamente me veio à mente o filme MIB (Men in Black)  de 1997, protagonizado por Tommy Lee Jones, Will Smith e a encantadora Linda Fiorentino. Depois foram feitas outras versões e já está hoje na terceira.

O filme apresenta a possibilidade, até hoje fantasiosa, de que seres extraterrestres vivessem normalmente aqui na Terra. Depois de ver a capa da "Veja", não me resta nenhuma dúvida de que o filme é premonitório. Os nossos políticos não podem ser seres normais, não podem ser terrenos... ou seria mais correto dizer terráqueos? Não é Brasília que deve voltar à Terra, desde a galáxia distante em que a "Veja" assegura que se encontra. Brasília existe, é real e está no Planalto Central. Eu mesmo já estive lá mais de uma dezena de vezes. Os políticos de Brasília, como em todas as capitais e todos os municípios brasileiros, foram abduzidos por seres de outra galáxia, alienígenas que estão entre nós para destruir a nossa civilização ou o que resta dela.

É impossível imaginar que, enquanto milhões de brasileiros saem às ruas a pedir uma mudança, estes senhores possam estar passeando em jatinhos da FAB, pagos com o nosso dinheiro para assistir jogos de futebol, casamentos, visitar amigos e levando juntos parentes e namoradas. Nos últimos 5 meses foram 65 vezes. Tudo enquanto às portas dos estádios as pessoas enfrentavam a polícia pedindo reformas, protestando contra a corrupção e contra o mau uso do dinheiro público. Dentro dos estádios, alheios a tudo, tinha políticos posando de torcedores.

 A invasão está espalhada por todos lados. Nas assembleias legislativas, importantes projetos de lei outorgam o título de capital da carne, ou da banha, ou do jiló a esta ou aquela cidade. Enquanto isso, a saúde, a educação e a segurança desmoronam, como resultado da má gestão, do gasto exagerado e da própria roubalheira.

Nos municípios do interior, pequenos sátrapas dispõem dos recursos públicos como se fossem próprios, e contratam jardins de inverno, aquários, carros com motorista e quilometragem ilimitada ou qualquer outra bobagem que lhes dê na telha. Tudo ao mesmo tempo que recebem em audiência os representantes da sociedade que defendem a redução do custo do transporte público ou o passe livre. Para ter uma noção de como a situação escapou do controle, entre 2005 e 2012 os municípios brasileiros contrataram mais de 1.500.000 de funcionários e a proporção de funcionários públicos em relação à população cresceu 32% sem que os serviços públicos tenham melhorado. No caso de Joinville, a maior empregadora do município é a Prefeitura, com mais de 11.000 funcionários. Cada dia são necessários mais impostos para pagar os custos de uma máquina que não para de crescer. 

Não me resta qualquer dúvida: os políticos que elegemos não são deste planeta, eles são de outro mundo. Ocupam corpos com aparência de humanos, falam como humanos, se comportam em público como se fossem seres humanos. Mas não o podem ser. É impossível que esta gente seja tão insensível ao sofrimento deste país, que não vejam as filas na madrugada, as escolas interditadas, o patrimônio público deteriorando-se, os professores mal pagos e o aumento descontrolado da criminalidade.

Estes alienígenas devem possuir algum tipo de poder hipnótico que, retransmitido pelas ondas do rádio ou da televisão, fazem que os eleitores deste país sejam acometidos de ataques sorumbáticos e votem nas maléficas urnas eletrônicas, justamente nos candidatos alienígenas. Porque é difícil aceitar que representem um corte da nossa sociedade. Não pode ser que sejamos tão ruins. São uma abdução em massa ou uma invasão extraterrestre. Só isso poderia explicar uma situação como a que vivemos. E é evidente que a nave mãe que os trouxe não quer levá-los de volta.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

PEC 37. Não há o que comemorar.

POR FABIANA A. VIEIRA

 Depois daquela cena toda que vi na noite de terça-feira no plenário da Câmara dos Deputados, tive uma certeza. O povo gosta mesmo é do espetáculo.

Sim, por mais que todas essas manifestações tragam um quê de indignação, fica claro que o povo estava só esperando uma amostra da competência dos nossos representantes. E eles responderam bravamente.

Mas a verdade é que essa pauta não será a salvação para o fim da corrupção. Aliás, o arquivamento da PEC 37 não vai fazer nem cócegas nesse assunto.

A sensação é que foi uma vitória acachapante contra a corrupção, mas a realidade é que tudo ficou como já estava. Ou seja, o poder de investigação criminal não é exclusivo da Polícia Federal, nem do Ministério Público. Aliás, o Ministério Público nunca teve essa prerrogativa. Para ter essa legitimidade terão que regulamentar isso ainda, através de um projeto de Lei Complementar (parece que já está tramitando no Congresso).

O Congresso, que de bobo não tem nada, precisava dar uma demonstração de que entendeu o recado das ruas e pegou uma das principais reivindicações para mostrar que está alinhado com o povo. E por que escolheram bem a PEC 37? Porque a PEC 37 poderia ser arquivada sem danos para ninguém.

Não mudou absolutamente nada, nem mudaria se fosse aprovada, pois certamente o MP não deixaria de investigar, como hoje já faz sem nenhuma determinação constituinte para isso. A Constituição assegura ao MP a possibilidade e o dever de acompanhar a investigação da polícia. Na prática as coisas são assim: a polícia investiga. o MP acusa, o advogado defende e o juíz ou juri julga.

Eu fico me perguntando porque o povo abraçou com tanta força essa causa. Na verdade tudo não passava de uma disputa entre delegados da Polícia Federal e promotores do Ministério Público. Daí veio um lobby gigantesco intitulado PEC da Impunidade. Aliás, quem foi o marketeiro gênio que pensou nisso? E mais ainda, quanto será que custou essa campanha da PEC da Impunidade? Camisetas, panfletos, parafernalhas. Quem pagou? Quem poderia investigar isso?

Mais do mesmo, fico com a sensação de que o povo finge que exerceu sua cidadania, o Congresso finge que trabalhou alinhado com a opinião pública, a imprensa finge que fez seu papel esclarecedor e o gigante finge que acordou!

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Certeza de que as mãos estão limpas?


POR JORDI CASTAN

Fotomontagem que circula nas redes sociais


As histórias só fazem sentido quando colocadas numa ordem lógica. Nem sempre a sequencia lógica é a sequência cronológica. A história do debate da LOT em Joinville e do papel que tem jogado - e continuam a jogar - alguns dos seus principais protagonistas está longe de acabar. Alguns têm um papel muito maior do que pode parecer à simples vista; outros são meros figurantes, mas formam a plateia necessária para legitimar um processo que, quanto mais se conhece menos democrático e transparente parece. Um processo em que os interesses ganham um protagonismo e uma força cada vez maior e mais nítido.

Há poucos dias foi divulgada a degravação de um vídeo em que o prefeito eleito Udo Dohler reconhecia que houve envolvimento de vereadores para modificar o zoneamento da Estrada da Ilha, propondo a alteração do tamanho dos lotes permitidos e que ele foi procurado para isso. Esta é uma história que tem vários capítulos anteriores e que esta longe de concluir.



2.- Sob pressão das entidades empresariais (Acij, Acomac, Ajorpeme e CDL) e do prefeito eleito, Udo Döhler (PMDB), vereadores de Joinville querem aprovar o projeto de lei que institui a LOT (Lei de Ordenamento Territorial) a qualquer custo. (Fonte: Portal Joinville)


3.- Rodrigo Coelho destacou que o Legislativo é um poder independente. “Joinville quer a aprovação da LOT. Não podemos ficar mais dois anos reféns desta inércia. Terão o nosso respaldo e apoio para decidir com autonomia por ser um Poder independente”, disse Coelho. O ex-presidente da Acij e prefeito eleito UdoDöhler (PMDB) já declarou que é a favor da aprovação da lei. (Fonte: Portal Joinville)




5.- "Quando esteve aqui o Dr. Udo Dohler numa reunião... Acomac, Ajorpeme, ACIJ, CDL e Dr. Udo disse: Olha, nós precisamos votar isso agora, votar isso agora, em votação, etc... porque se não vamos perder grandes investimentos,  a minha resposta foi: Dr. Udo, aqui é a Câmara, não é uma empresa". Odir Nunes Ex- presidente da Câmara de Vereadores de Joinville em reunião com representantes de Associações de moradores. 31 de janeiro de 2012

6.- Odir decide processar o prefeito Udo Dohler O vereador e ex-presidente da Câmara de Vereadores de Joinville, Odir Nunes(PSD), divugou comunicado declarando que está constituindo advogado para entrar com ação contra Udo Dohler em função de afirmações feitas por ele em vídeo que se encontra na 2ª Vara da Fazenda Pública. (Fonte: Jornal Gazeta de Joinville).


A integra do texto do vídeo que forma parte da ação popular



O prefeito faz uma afirmação grave e com ela da credibilidade ao que era um segredo a vozes. A leitura da imprensa reforça a ideia, que o envolvimento do prefeito no episódio não seria meramente circunstancial.

Será, por acaso, que o prefeito é um inocente útil ao afirmar que teria sido procurado? Há elementos suficientes para concluir que o prefeito Udo Dohler não poderá entoar o mantra lulista do "eu não sabia" em sua defesa.  Afinal, relatos presenciais e declarações fornecidas à imprensa comprovam que ele e as principais entidades empresariais de Joinville pressionaram o presidente da Câmara de Vereadores de Joinville, Odir Nunes, sendo o atual prefeito um forte articulador do processo pela aprovação da LOT. Difícil supor que não saiba quem sejam os vereadores que viram cifrões na mudança do tamanho dos lotes na região da Estrada da Ilha.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

E se pudéssemos enquadrar os políticos no Código de Defesa do Consumidor?


 POR AMANDA WERNER

A Lei 8078/1990, vulgo CDC- Código de Defesa do Consumidor, dispõe sobre a defesa do consumidor. Eu, que ando a estudar as leis, comecei a divagar. E se pudéssemos enquadrar os políticos no CDC?

Imaginemos que nós, eleitores, sejamos os consumidores. Os políticos eleitos são os produtos e serviços. E os partidos e coligações, os fornecedores. Neste meu devaneio, todo o conjunto formaria uma grande relação de consumo. Ok. Entendo que o político pode fazer o papel tanto de produto, quanto de fornecedor. Já que é o seu próprio vendedor.

Trazendo para este mundo de eleições, os princípios que norteiam os direitos do consumidor, poderíamos considerar que nós, eleitores, somos vulneráveis, pois, individualmente, não estaríamos em condições de fazer valer nossas exigências.  Afinal, com a sofisticação do marketing nas campanhas políticas, com o bombardeio de informações por todos os lados, e o empurrãozinho que alguns têm da mídia - radialistas, jornalistas, apresentadores de programas na televisão, e que outros têm das Igrejas, somos mesmo hipossuficientes, não é? Em função do que foi colocado, mereceríamos ter a nossa proteção ampliada em função da desproporção, pois nessa relação de troca, a inferioridade é evidente.

Sendo assim, teríamos assegurada a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva. Para esclarecimento: propaganda enganosa é, conforme o CDC, qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, mesmo que por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor. E abusiva, é a publicidade discriminatória de qualquer natureza, que incite à violência, explore o medo ou a superstição.

Ou seja, toda a promessa feita em campanha integraria o contrato a ser celebrado. Em outras palavras, tudo o que o candidato prometesse fazer, quando eleito, teria a obrigação de cumprir, sob pena de, alternativamente e à escolha do eleitor:

I - cumprir de forma forçada a obrigação, nos termos da promessa de campanha;

II- devolver os votos, deixando a vaga a um suplente, que se submeteria às mesmas regras. Dá pra outro fazer, já que não tem capacidade.

III- ressarcir os eleitores monetariamente pelo serviço não prestado. O eleitor-consumidor-credor, faria uma estimativa dos prejuízos resultantes de não haver o político-devedor cumprido com a sua obrigação. Sem prejuízos de eventuais danos morais causados à população pela expectativa das promessas, como: mais leitos de UTI, melhorias na educação, e por aí vai.

E se caso, houvesse danos ao erário provenientes de corrupção, poderíamos comparar ao vício oculto. Vício oculto, é aquele que não é facilmente identificável pelo consumidor. Seria o caso do político que não se sabia ser corrupto, mas que colocou as manguinhas pra fora durante a gestão. Neste caso, responderia  o meliante, digo, político, com a desconsideração de sua personalidade política, pagando com os seus próprios bens, ou ainda, com os bens dos partidos e das coligações, que seriam solidariamente responsáveis. Queria ver se os partidos colocariam qualquer ladrãozinho ficha suja para integrar os seus quadros. Ou, se os partidos fariam coligações absurdas para garantir cargos e poder.

Finalmente, nesse delírio, haveria ainda outro benefício: o da inversão do ônus da prova. Os políticos eleitos é que teriam que provar que não são culpados das acusações que lhes são imputadas, e não o contrário. Afinal, a responsabilidade da prova é daquele que tem melhores condições e mais facilidade de produzi-las. Creio que esta seria a parte mais difícil já que a tal “transparência” seria efetivamente exigida.

Mas e aí, alguém se candidata?

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Você e as eleições

POR GUILHERME GASSENFERTH


Eu havia começado a versar um texto sobre o resultado das urnas na campanha eleitoral de Joinville. Estava prestes a tecer críticas aos eleitores pelo desempenho de alguns candidatos os quais considero muito ruins e inadequados à Câmara de Vereadores. Quase escrevi um texto falando sobre as questões religiosas que influenciam na escolha dos cidadãos e de como se vota errado na cidade. Ia dizer que estava começando a torcer pro mundo acabar mesmo dia 21 de dezembro. Mas aí, refleti sobre minhas ideias e cheguei a duas conclusões às quais compartilho com vocês, leitores.

Primeiramente, assustei-me com a minha carga de egocentrismo e arrogância. Então, quer dizer que EU sei o que é o certo pra cidade, e milhares de eleitores é que estão errados? Mais humildade, Guilherme! OK, não posso desconsiderar o fato de que, além de eu ter feito faculdade de ciências políticas por um ano, leio e pesquiso muito sobre o assunto. Também é verdade que tenho provavelmente mais instrução e acesso à informação que os eleitores daquele vereador que diz que “creche não precisa de professor”, por exemplo.

No entanto, as pessoas têm as suas razões. Pode que sejam razões desprezáveis, como uma prótese dentária nova ou uma cesta básica (ou ainda um poste, moeda de troca de um vereador joinvilense que não foi reeleito). Há gente que vota sem qualquer critério válido, como aparência do candidato ou carisma. Existe também o eleitor que imbuído dos mais questionáveis interesses pessoais, como cargo, favorecimento ou status, sufraga o candidato que será melhor pra si, pouco importando a cidade. Mas há pessoas que, legitimamente, acreditam que candidatos os quais eu desprezo sejam o melhor pra cidade. Como poderia eu julgá-las?

Há pessoas que votam em quem é da sua religião. Particularmente, eu jamais votaria em algum candidato kardecista simplesmente por também sê-lo. Para mim, é tão fundamentado quanto votar pra vereador em alguém cujo prato favorito também é aquele cachorro-quente ao lado da DPaschoal (não é tão bom quanto o teu, Simone, mas aquele eu como a hora que eu quiser!).

A segunda conclusão, que mais me chamou a atenção, foi o fortíssimo pensamento de eximir-se de responsabilidade. Eu já estava pensando: “como podem votar em fulano, aquele candidato pilantra” ou ainda “povo burro, vota no fulano e depois vem reclamar”, sem falar no clássico “cada povo tem o governo que merece”. Neste meu pensamento arrogante veio à tona não só o egocentrismo de achar que o meu ponto de vista é sempre o que deve balizar o pensamento alheio, mas também a ideia de que OS OUTROS é que estão errados. OS OUTROS que votaram no candidato ruim. OS OUTROS fazem a sociedade pior.

Epa, peraí! Você (e eu) faz sua parte? Paga TODOS os impostos, sem mencionar um curso de faculdade inexistente na sua declaração de IR só pra restituir mais? Você pensa sempre na coletividade antes de pensar em si? Você é um cidadão que respeita todas as leis de trânsito? Será que devolve o troco dado errado? Você nunca colava na escola? Será que nunca votou num candidato corrupto porque ele seria melhor para sua empresa, para o seu emprego, para o seu bairro, para a sua rua, para a sua família, mas não necessariamente para todos?
Vamos adiante: você cobra seus políticos ou acha que eleger é sua única responsabilidade? Você clama por mais educação, por mais transparência, pela aplicação correta dos impostos que paga, por justiça social, por saúde preventiva? Você faz trabalho voluntário por entender que sociedade somos todos e, com esforços combinados, faremos nossas sociedades serem o que queremos? Você dá condições para que seus colaboradores estudem? Incentiva o filho da empregada doméstica a ir bem na escola? Você educa os seus filhos, ensinando-os desde crianças a não passarem por cima dos outros? Incentiva-os a estudar, a ler, a opinar, a não obterem vantagens ilícitas, a serem cidadãos, a respeitarem os outros, a amarem o próximo, a darem bom dia, dizerem obrigado ou a serem gentis?

A pergunta que resume tudo é: VOCÊ DÁ O EXEMPLO? Se alguém pudesse saber TUDO o que você faz, mesmo aquelas que você faz em segredo, e expor num outdoor ao lado de sua foto, você teria orgulho de si?

Meus amigos, a menos que algum de vocês (infelizmente não é o meu caso) tenha respondido “sim” para TODAS as questões acima, pare de condenar os outros e canalize suas energias para sua reforma íntima. Se a sua resposta pra qualquer pergunta acima tiver sido “não”, lamento informar que os candidatos eleitos são responsabilidade nossa, que a corrupção é responsabilidade nossa e que tudo o que há de ruim, imoral e ilegal na prefeitura, na Câmara, na Assembleia e no Congresso e em toda a sociedade é culpa NOSSA.

PS: obrigado à competente e querida Jozi Elen pela revisão no texto :)

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Corrupção e honestidade [2]

POR JORDI CASTAN



Nem bem o post do Chuva Ácida tinha entrado no ar e o jornal A Notícia publica a informação de que o PSDC diz ter havido um acordo envolvendo o pagamento de R$ 9.500 parcelados para que o partido apoiasse o PT em Joinville. Depois de feito um primeiro pagamento, pelo PT,  de R$ 2.000, e não tendo sido confirmadas as demais partes do acordo, o PSDC devolveu o dinheiro ao PT. E passou a tomar parte da coligação liderada pelo PMDB, partido que, a acreditar no candidato Osvaldo Darú (PSDC), teria cumprido o acordo, fazendo os pagamentos previstos. Não parece, portanto, que este apoio seja resultado de uma ação altruísta, o que leva a supor que possa também neste caso havido um estímulo pecuniário.

À luz destas informações, que tem como fonte o próprio presidente do PSDC e candidato a vereador Osvaldo Darú - ele confirma que fez o acordo, recebeu o dinheiro e depois devolveu o dinheiro recebido para se aliar a outra coligação - o nível de honestidade da campanha eleitoral em Joinville e dos seus principais candidatos desceu um degrau mais.

Duas informações merecem destaque e comentário. Os valores envolvidos para convencer a determinados partidos a se aliarem a outros: negociar o apoio de uma sigla partidária por R$ 9.500 em quatro parcelas. E ainda fazê-lo com o PSDC, um dos partidos que oficialmente compôs a coligação liderada pelo PSDB que tem a Marco Tebaldi como candidato. Em resumo: o mesmo partido fez e desfez alianças e jurou fidelidade e amor eterno no mínimo a três dos candidatos em disputa. Um forte indicador de a quanto anda a credibilidade e o valor de determinados partidos e políticos e mostra claramente que a possibilidade de que o próximo prefeito de Joinville seja honesto é menor ainda que o previsto no post anterior.

Corrupção e honestidade


POR JORDI CASTAN

Há os que insistem em tergiversar a verdade tentando nos fazer acreditar que entre os cinco candidatos a prefeito de Joinville só há um que é honesto. Insinuam, na sua lógica retorcida, que os outros não o são. E, a partir desta inverdade, elaboram o fantástico raciocínio que há só uma opção para escolher: o honesto.

Primeiro que, entre os candidatos, há mais de um que é aparentemente é honesto - o que quer dizer que se a minha opção for por votar por alguém honesto, parece que teria mais de uma opção. É verdade que há candidatos que, de acordo com todos os indícios, não o são. É uma pena que o Brasil como país e a sua sociedade como um todo insistam em conviver de forma tão promíscua com a corrupção. O país teve a oportunidade de afastar de uma vez todos os políticos que tinham pendências com a justiça. Uma oportunidade única de fazer uma faxina e permitir que uma nova geração pudesse chegar à política e iniciar um processo de mudança.

Particularmente não ponho a mão no fogo por ninguém. Só minha família mais próxima entra neste grupo restrito. Com relação aos outros, todas as vezes que o fiz acabei com queimaduras de maior ou menor gravidade. Em se tratando de políticos o risco é elevado demais. Ainda que seja obrigado a acreditar que em tese a maioria dos candidatos nestas eleições é absoluta e totalmente honesta, no fundo tenho a certeza que a maioria não o seja tanto. E entre os que eventualmente venham a se eleger, o número daqueles que continuarão honestos até o fim do seu mandato podem ser contados com os dedos de uma orelha.

Entramos aí no perigoso terreno de tentar medir a honestidade. Os paladinos do candidato honesto logo vão começar a dizer que o seu candidato pode ser considerado totalmente honesto. Caso insistam em defender a honestidade absoluta e a pureza virginal do seu candidato, eu acharia que ou bem enlouqueceram ou estão brincando. Como a ironia não é algo que este grupo domine, a possibilidade maior será a primeira. 


A segunda linha de raciocínio é absolutamente perversa e tem sido usada muito neste país e em Joinville na última década. Como ninguém é honesto, a desonestidade é um estado natural e se alguém hoje se corrompe o faz porque também os outros o fizeram anteriormente. Uma forma de tentar fazer desta sem-vergonhice uma prática socialmente aceita e por tanto perdoável.

Quando o Brasil inicia a trancos e barrancos o julgamento do mensalão, os cidadãos acompanham atônitos as manobras para inocentar, fazer prescrever ou negar o que foi a institucionalização da corrupção no governo. Seria importante que a sociedade não votasse em candidatos corruptos, condenados ou não. O ideal seria ainda que o eleitor escolhesse não só aqueles que fossem honestos, também preferissem aqueles que parecessem honestos. E no caso dos nossos cinco candidatos o quadro se reduz muito.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Eu, cidadã, confio


 POR AMANDA WERNER
Em época de eleições todo o cuidado é pouco. O assédio vem de todos os lados. Como conseguir confiar em um candidato depois de tanta frustração política acumulada? Como qualificar o voto? Eis algumas atitudes que me inspiram confiança:

Confio naqueles que desde a tenra idade são sensíveis às causas sociais. Que atuaram na escola como representantes de classe, participaram do Diretório Acadêmico, ou com causas do seu bairro. Confio nas lideranças naturais. Bem mais do que nas fabricadas.

Confio nos que têm vocação para a política. Nos que têm dedicação apaixonada pela causa. E nos que têm senso de responsabilidade e proporção.

Confio nos que tomam partido. Nos que ao serem indagados sobre temas cabeludos, como aborto, pena de morte e eutanásia assumem a sua opinião. Mesmo que a opinião seja contrária à minha. Confio naqueles que não escorregam como sabão. Confio nos candidatos que não procuram agradar a todos, mantém-se firme em suas convicções, mesmo que isso signifique perder alguns votos.

Confio naquele que não faz crítica vazia. Naquele que propõe ideias para resolver a situação, e confio mais ainda naqueles que fazem acontecer.

Confio em quem não fica só a tecer elogios.

Confio em quem não é onipresente. Confio naquele que considera mais importante ficar com a família do que participar de várias feijoadas em um mesmo final de semana, ou marcar presença em cultos religiosos diversos, e confio mais ainda naquele que, como eu, acredita que ter trânsito livre de festas a enterros não é a melhor forma de fazer política.

Confio em quem faz, infinitamente mais, do que em quem fala que vai fazer se for eleito.

Confio no marketing pessoal obtido com realizações e não com o dinheiro.

Confio em quem pensa que se fazer algo pelos idosos é mais do que dançar com eles em bailes de terceira idade.

Confio no político de uma palavra só. Não naquele que tem uma palavra no atacado e outra no varejo. Creio ser a votação secreta a madrinha da corrupção. Confio nos que não defendem os interesses públicos com palavras, e os próprios, com o voto.

Confio nos humildes, e que não costumam se autoproclamar virtuosos.

Nunca voto em alguém que está no poder por mais de dois mandatos. Pois acredito que as raízes criadas pelo poder são as mais difíceis de extirpar.

Pesquiso o comportamento pregresso e valores do candidato.

Confio no candidato que não financia a mídia.

Lembro, que a legislação, tão somente, permite a propaganda eleitoral a partir do dia 06 de julho do ano da eleição.  Entrevistas de rádio ou televisão são permitidas pela lei, mesmo as anteriores à esta data. Nessas entrevistas, os candidatos podem falar de propostas, desde que não peçam votos. 

Reflito apenas,  se, quando ocorre superexposição, esta é por conta da significância das ações do candidato, ou, por causa do seu poder econômico.

Ainda, lembro que  a lei não permite propaganda eleitoral em outdoor. Contudo,  felicitações ao dia das mães, pais, ou ao dia do trabalhador são permitidas. Pois são consideradas  apenas marketing pessoal. Confio, como você poderia imaginar, no candidato que não se utiliza desse meio. 

É caro (e)leitor. O candidato que possui essas qualidades conseguiria facilmente me conquistar. É bem provável que o meu voto vá para alguém assim. Só desconfio de uma coisinha... desconfio que terei dificuldades para encontrar candidato na próxima eleição. Eu devo ser mesmo muito exigente.

sábado, 10 de março de 2012

A corrupção do outro


POR AMANDA WERNER


Estava na fila do mercado, enquanto um grupinho em minha frente discutia a corrupção do Brasil. Falavam sobre os corruptos do momento e um dos presentes, com muita retórica e aparente propriedade, defendia até que corrupção deveria ser punida com a pena de morte, já que era a grande chaga do país e que, aí sim, todos os  problemas seriam resolvidos.

Saindo do local,  ainda zonza com o susto de presenciar tão inflamado debate em uma fila de mercado, avisto um ajuntamento de pessoas na saída, e percebo se tratar de um vendedor de CD’s e DVD’s piratas. Me chamou a atenção o pracista estar rodeado de algumas das pessoas que faziam parte do grupinho anticorrupção que me antecedeu na fila do mercado. Observei.

Claro, nenhuma das pessoas perdeu a grande oportunidade de pagar mais barato e  todos voltaram para as suas casas com os CD’s em mãos. Refleti.

Todos nós nos sentimos vivos, muito espertos, ao tirarmos vantagem de alguma coisa. Não avançar o sinal vermelho torna-se sinônimo de imbecilidade em um país onde a Lei de Gérson impera, e exprime, sem galanteios, traços do caráter nacional.

A corrupção do outro é condenável. Parece diferente o corrupto que aceita propina, da pessoa que lucra no troco, ou da que fura filas. E também daquele que ensina o filho a não mentir, mas assim que o telefone toca, manda dizer que o pai não está. Há ainda os que imprimem documentos particulares com a impressora do trabalho. E os que pagam um “troco” para agilizar expedição de alvarás e documentos em repartições públicas.

Não se pode esquecer que também há corrupção ao votar em candidatos que se sabe serem corruptos, onde com sua eleição se espera benefícios, das mais diversas espécies. Cargos, coordenações, alianças políticas, funções no Estado. O empresário, que financia a campanha de candidatos para depois receber em favores, validando a lei do rabo preso.

Dessa forma, avaliza-se a desonestidade e abre-se mão dos direitos de cidadãos.

A depender do grau de envolvimento com as mais diversas situações, pode-se enxergar as pequenas corrupções como atos normais do dia a dia.  Mas é importante lembrar que em todos os casos há um crescente desprezo pelo direito alheio.

O “jeitinho” diário é corrupção. Trabalhando como erva daninha, de início imperceptível, com o tempo promove a degeneração contínua dos valores. Ou será possível que o ser humano já tenha nascido corrupto, cometendo imediatamente um desvio de verbas prodigioso?

A consciência, já não permite fazer distinção entre o bem e o mal. A facilidade que se tem em justificar desrespeitos às leis e aos direitos, faz com que se pense que as leis foram feitas somente para os outros.

A grande força da democracia  está em resistir e combater a corrupção. A corrupção não é circunscrita. Não está em Brasília. Ou nas Câmaras Municipais. É metástase social de origens profundas e de difícil localização, ainda que se utilize a moralidade como meio de contraste.

Como então extirpar esse mal? Combatendo a corrupção moral, que é berçário da corrupção cultural e da institucional. Afinal, onde se acha que não há problemas em cometer pequenos ilícitos, como o de “molhar a mão” de um policial, não será o Estado a impedir alguém de fazer alguma coisa.

Há como resolver o problema por meio deste ponto de vista? Olhando para si? Lá estão os governantes. E alguns políticos. Os que pagam e os que aceitam propina. Lá estamos nós.




Amanda Werner é formada em Direito e vive em Joinville há 18 anos.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

As ONGs, os Ministérios e a pilantropia

POR GUILHERME GASSENFERTH


Com os escândalos envolvendo ONGs (Organizações Não-Governamentais) e dinheiro público no ano passado, três ministros do governo Dilma caíram em 2011: Pedro Novais, do Turismo; Orlando Silva, dos Esportes; e Carlos Lupi, do Trabalho. E tais fatos lamentáveis acenderam o fogo do debate sobre as ONGs. Comum era (é) ouvir perguntas como: são boas ou não? São criadas apenas para usurpar de dinheiro público? Se é não-governamental, como pode receber dinheiro do governo?

Na mais aceita das estimativas, o Brasil possui hoje entre 300 e 400 mil ONGs, com base em um levantamento do IBGE em 2005. Há quem diga um milhão. Eu prefiro crer nestas cerca de 400 mil. Mas quantas são corruptas no cerne? Quantas nasceram com intenção de desviar verbas? Mil? Que seja dois, três mil. Não são 1% do total de ONGs. E em não sendo 1%, é injusto taxar todas as ONGs de usurpadoras de recursos do governo (ou nossos). Ademais, as ONGs existem, no geral, para ocupar uma lacuna deixada pelo Estado, que não consegue atender todas as demandas sociais – é quando a sociedade se organiza para prestar estes serviços.

No recente escândalo do Ministério dos Transportes que derrubou o ex-Ministro Orlando Silva, o atual ocupante da pasta, Aldo Rebelo, diz que a culpa pelos problemas ocorridos são das ONGs. Oh, sim, Sr. Ministro. A corrupção é assim mesmo: as ONGs entraram no Ministério sorrateiramente, sem ninguém ver, foram até o cofre e se refestelaram. Não houve alguém que liberou isso dentro do Ministério, não há favorecidos, ninguém do governo saiu lucrando. Ridículo, vazio, irresponsável. Eu poderia até ficar mais chocado com esta declaração, mas o quê dizer de alguém que negou a existência do mensalão três vezes?

O que quero mostrar é que não se pode afirmar que as ONGs são criminosas. Sem dúvida, existe no Brasil o que se conhece por “pilantropia” – a criativa contração entre as palavras pilantra e filantropia. Há ratos asquerosos que se aproveitam da facilidade de receber recursos por meio de convênios e criam ONGs de fachada para enriquecerem. Contudo, as boas ONGs também querem a punição e fechamento destas entidades. Nós, representantes das ONGs, também queremos mais fiscalização. Pedimos, há anos, um marco regulatório pro setor. E vamos continuar com a nossa luta – pelo aumento do impacto social positivo que causamos e também pela depuração das entidades que compõem o nosso setor. Elas prestam um serviço hoje indispensável à população. É quase impossível afirmar o que seria da nossa cidade sem a força do Terceiro Setor.

Temos em Joinville exemplos de ONGs que funcionam há dezenas de anos prestando importantíssimos serviços à sociedade joinvilense. É o caso do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville, a mais antiga corporação do gênero na América Latina, há 120 anos defendendo nossa gente e nosso patrimônio. O Hospital Dona Helena, com mais de 80 anos, é uma associação sem fins lucrativos (sim, eles cobram pelo atendimento, mas os recursos não vão para o bolso de um “dono”, devem por força de Lei ser reinvestidos nos objetivos da ONG – no caso, o atendimento hospitalar). A SOCIESC, mantenedora de umas das melhores escolas técnicas do Brasil, é uma ONG. O Banco de Olhos de Joinville, o Lar da Mãe Abigail, a AACD/ARCD, o Rotary Club, o Lions Club, a Creche Conde Modesto Leal, a APAE, a ADEJ, a AJIDEVI, a Associação Joinvilense de Teatro etc. Todas são ONGs. Em Joinville temos inclusive uma associação de ONGs, a AJOS (também uma ONG), que promove anualmente a Festa da Solidariedade, entre outras atividades.

Defendamos e apoiemos o trabalho das ONGs. É como diz o comercial da Coca Cola: “Há razões para acreditar. Os bons são a maioria.”

domingo, 25 de dezembro de 2011

O futebol e a praga dos ratos


POR NICO DOUAT

O futebol é um esporte fascinante. Ao mesmotempo polêmico e, possivelmente, o mais popular do mundo.

A Copa do Mundo de futebol é a únicacompetição global que rivaliza com as olimpíadas. Só uma Copa do Mundo defutebol é capaz de integrar, de forma civilizada e competitiva, em torno de umsó esporte, em um mesmo ambiente de competição de duro confronto físico, um semnúmero de países de culturas e condições de desenvolvimento totalmentediferentes, não raro beligerantes. No futebol, a despeito de conflitosculturais, religiosos, ideológicos ou econômicos, essa integração se dá de maneira natural,pacífica e surpreendentemente disciplinada.

O esporte, de forma geral, é catalisador desentimentos conflitantes que vão da paixão ao ódio, da honra à frustração, doorgulho à vergonha, todos nos seus limites e vividos quase ao mesmo tempo. Édas poucas atividades humanas que mostram, de forma didática, as conseqüênciasdas escolhas pessoais. A necessidade de uma conduta rígida seja amador ouprofissional, o sacrifício e a renúncia pessoais, a obediência às regras,a importância do planejamento, da disciplina, da boa liderança, do espírito deequipe, da integridade, do respeito, enfim, de todas as experiências que formama base moral e ética de qualquer sociedade desenvolvida.

O futebol é polêmico justamente peladubiedade de algumas das suas regras.
Por isso reina, ainda, como um dos poucos, ouo único esporte de massa profissionalizado e globalizado que admite o erro,evidente e comprovado, como causa direta de um resultado.

O exemplo clássico disso é a regra deimpedimento que por sua relação direta com a perspectiva se torna quaseimpossível de ser aplicada de forma correta. Exatamente por isso abre uma imensapossibilidade para a dúvida, para a injustiça e, não raro, para a malandragem. Assim,a despeito de já existirem todos os meios tecnológicos disponíveis paraevitá-lo, seja por má fé, seja pela dificuldade de percebê-lo corretamente, umárbitro tem grandes chances de prejudicar uma equipe que investiu e preparou-sepor meses, quando não, anos, seja para um torneio regional seja para uma Copado Mundo.

A paixão pode até admitir isso, mas,certamente, o profissionalismo e a integridade não, ou pelo menos, não mais. Osapaixonados haverão de condenar-me pela ousadia, os conservadores pelodesrespeito à tradição, mas firmo a minha opinião de que há cada vez menosespaços para a dúvida, a rapinagem, a resignação, a indulgência, em um ambienteem que o profissionalismo, a competitividade e os custos, pessoal, profissionale financeiro, exigem o máximo de imparcialidade e retidão no comportamento e norespeito às regras.

O Brasil é um caso único. Todo brasileiro queaprende a falar, começa com três palavras: “mamãe”, “papai” e, quase com certeza,o nome do time de futebol do “papai”.

A Copa do Mundo, se é, por si, um eventomundial contagiante, para o Brasil é um momento mágico. De quatro em quatroanos partilhamos um genuíno sentimento patriótico e de união cívica poucas vezesvistos em torno da seleção de futebol que vai nos representar na Copa do Mundo. Em nome disso, deixamos de lado qualquerpreferência pessoal, digamos, “ideólogo-futebolística” e passamos a sersimplesmente brasileiros unidos por uma causa: A vitória da seleção brasileira.

Somos radicais defensores do nosso time docoração, no dia a dia, mas acompanhamos atentamente, durante quatro anos, ascarreiras de todos aqueles que poderão fazer parte da nossa seleção de futebol,pouco importando o clube defendam.

Conhecemos em detalhes toda a história danossa seleção, qualquer evento, por mais inexpressivo, mas que possa a vircontribuir, eventualmente, para ameaçar o orgulho de sermos considerados osmelhores. Procuramos nos informar profundamente da história de tudo, times,treinadores, escalações, momentos históricos, e os reverenciamos com respeito. Cadajogador, o treinador, os seus históricos profissionais, são conhecidos,estudados e discutidos em detalhes.

O brasileiro é implacável quando se trata deexigir qualidade, dedicação e seriedade da sua seleção de futebol. Exige omelhor, sem qualquer condescendência. Exige quase o impossível, mas sabereconhecer os méritos do possível. Por conta disso, transforma em vilão o heróido jogo anterior, se perceber qualquer sinal de esmorecimento, inabilidade,mesmo por motivo justificável. Só admite a vitória. Não admite jogador “médio”na seleção; tem que ser “o melhor” entre os melhores da posição.

Não é por pouco que a figura públicabrasileira mais reverenciada, no Brasil e no exterior, em todos os tempos, éjustamente Pelé. Polêmico, criticado, por suas declarações, mas é definitivamenteuma unanimidade quando se trata do reconhecimento do exemplo da sua habilidade,conduta técnica e profissional.

A justificar parte do título deste ensaio, edepois da decepção vivida na Copa de 2010 e da provável confusão que será a de2014, guardo uma frase do professor José Arthur Gianotti, filósofo e ProfessorEmérito da USP, que usou uma metáfora para descrever o deprimente espetáculopolítico brasileiro: “Toda cidade tem ratos. Mas os sanitaristasdizem que, quando os ratos começam a ser vistos, é porque aumentaram em númerode tal maneira que há perigo para a saúde pública. Corrupção em governo existedesde a Grécia. Corrupção na Igreja, desde São Pedro. Ou seja, o problema não énovo. Mas o tamanho da corrupção altera suas formas. O que estamos vendo hoje éque ela chegou junto do coração do sistema. E sabepor quê? Porque o sistema foi ético, por absurdo que possa parecer. Os mafiososencontraram a porta aberta, invadiram a casa dos puros e ainda se cobriram como manto da ética...”

Fico pensando como seria maravilhoso se otorcedor brasileiro transferisse, pelo menos uma parte desse sentimento cívicoem relação à seleção brasileira de futebol para a tarefa de “desratizar” os nossostrês poderes.

Seria ótimo se o implacável torcedorbrasileiro usasse o mesmo interesse, o mesmo rigor crítico, o mesmo cuidado, amesma convicção que usa como torcedor da sua seleção na tarefa de eleger quemvai representá-lo em todos os níveis de governo pelos próximos quatro anos.

Teríamos, certamente, muito mais a comemorar.

domingo, 13 de novembro de 2011

O herói do milhão

POR JORDI CASTAN

Que um policial militar do Rio de Janeiro tenha recusado aceitar um suborno de R$ 1.000.000 tem sido uma das notícias mais comentadas nestes dias, numa sociedade em que é comum que com uma contribuição a Nossa Senhora do Cafezinho seja possível não ser multado e sair sem pontos na carteira, é evidente que recusar um suborno como este merece destaque. A duvida é se o destaque é pela recusa ou pelo valor oferecido. Os especialistas informam que os valores praticados pelo mercado são em geral muito menores.

Sem ir muito longe, aqui em Santa Catarina, não é mais novidade que policiais e outros funcionários públicos que deveriam estar comprometidos com a segurança dos cidadãos estejam mais próximos dos marginais, de quem deveriam nos proteger. Ver, ouvir e ler notícias que envolvem diretamente estes agentes públicos, pelo recebimento de propinas e subornos tem se convertido em algo tão corriqueiro, que já ficamos insensíveis. O caso do policial do Rio ganhou notoriedade pela recusa. Tem até gente maldosa que acha que o valor foi tão alto que ele próprio não acreditou que fosse verdade. O importante é que não aceitou e o marginal foi preso.

A banalização da corrupção se dapela quantidade de corruptos e pelo baixo valor envolvido nas transações. Um troco para um cafezinho mostra melhor que nada o nível a que temos chegado. Casos de R$ 20 ou pouco mais, são a melhor prova de que a corrupção é sistêmica, que tanto corruptores como corruptos tem desenvolvido um mercado, emque regras e valores são conhecidos e praticados pelas partes, na maior tranqüilidade.

A informação do próprio Nem, que a metade do seu movimento econômico era destinada a pagar policiais corruptos, casos de policiais escoltando marginais não são raros e mais que envergonhar as corporações, semeam a desconfiança e a insegurança numa sociedade que nãoconsegue mais diferenciar marginais comuns, dos marginais fardados. O resumo éque 90% dos policiais envergonham os 10% restantes.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A mulher do Cesar



Por JORDI CASTAN

Fico cada vez mais preocupado com o que vejo. Depois que a imagem de pureza virginal do início, o governo Carlito caiu de vez situações que, se antes poderiam parecer só estranhas, agora começam a parecer suspeitas.

Não é segredo. As mudanças de zoneamento e as autorizações para construir em determinados locais tem permitido o enriquecimento fácil e por vezes vertiginoso, de nomes conhecidos da nossa sociedade. A criação do Conselho da Cidade tem, entre outros objetivos, o de permitir uma gestão mais democrática da cidade, além de estimular um maior protagonismo da sociedade na definição do seu futuro. Críticas à transparência, representatividade, paridade e forma de condução do Conselho da Cidade tem sido frequentes. Mais antes do que recentemente, é verdade.  Do Conselho da Cidade e dos seus membros, devemos esperar, como da mulher do Cesar, não só que sejam e hajam com honestidade, mas também que pareçam honestos.  

Os últimos acontecimentos municipais põem em duvida a honorabilidade de dois membros titulares do poder público no Conselho da Cidade. As acusações são de vender, intermediar, pressionar funcionários ou desconsiderar recomendações avalizadas para obter beneficio. Não é ainda evidente se um beneficio auferido a título pessoal ou se também houve benefício para algum partido político ou outros ocupantes de cargos públicos. A pergunta ecoa cada vez com maior intensidade: o prefeito sabia? Será que existem outras relações promíscuas?.

 A nova Lei de Ordenamento territorial foi discutida e aprovada pelo Conselho da Cidade. Todo o processo de discussão da lei foi pautado pela pressa e prazos exíguos, resultado de um planejamento e de um cronograma inadequado. Isso obrigou as Câmaras Técnicas a analisar temas complexos com pouco tempo e, em prol do cumprimento dos prazos legais, se criou uma forte pressão para aprovar a proposta que deverá ser encaminhada proximamente à Câmara de Vereadores. A lei aprovada pelo Conselho muda sensivelmente gabaritos, adensamento e os usos permitidos em praticamente toda a cidade, concedendo uma "licença" para que as regras atuais mudem.

Dos sete representantes do poder público, dois se encontram sob suspeita de ter vendido ou trocado favores para conceder licenças de construção em desacordo com a legislação atual. Dois representantes de sete representam significativos 30% dos votos do poder público no Conselho. Se considerarmos que é imprescindível a existência do corruptor para que a corrupção se concretize, há uma possibilidade muito elevada que os próprios corruptores estejam adequadamente representados nos outros 70% que formam o Conselho da Cidade,  é evidente que a mulher de Cesar não parece mais tão honesta. É provável, inclusive, que a mulher do Cesar nem seja honesta.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Quem são os corruptos, deputado Darci?



POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Deem uma olhada no twitt, leitor e leitora. O deputado Darci de Matos diz que se a Polícia Federal for mais longe, certamente vai encontrar outros casos de corrupção no governo Carlito Merss. Quando vi a afirmação, fiquei à espera do próximo post do deputado, onde ele certamente iria concretizar a acusação e dar casos e nomes. Mas não.

Ou estive distraído ou o deputado Darci de Matos silenciou. Aliás, fui novamente à procura do twitt com a denúncia e não encontrei. Deve ter sido barbeiragem minha ou o deputado foi hackeado. Porque eu me recuso a pensar que Darci de Matos tenha apagado a mensagem, ao sentir o peso das afirmações.
O fato é que, como mostra a imagem, as acusações foram feitas. E arrisco aqui algumas ilações:

1. Se o deputado sabe de outros atos de corrupção na gestão Carlito Merss - e afirma isso aos seus mais de dois mil seguidores na rede social -, então está moral e eticamente obrigado a fazer uma denúncia esclarecedora e cabal. Quem sabe de casos corrupção e não denuncia é conivente. Ou não?

2. Mas se o deputado fez as acusações que não consegue concretizar, porque não tem nomes e provas, então está a ser leviano. E não vamos acreditar que um deputado eleito com o voto dos joinvilenses - e que pretende ser o futuro prefeito - seja capaz de um ato de porra-loquismo político.

3. Outra hipótese: o deputado Darci de Matos sabe de casos de corrupção, mas prefere ficar caladinho. Afinal, essas informações seriam muito úteis na campanha eleitoral do ano que vem. Então, neste caso estará a ser oportunista. O que não é bonito.

4. As afirmações do deputado foram feitas no calor da Operação Simbiose que, soube-se na semana passada, tem novos arguidos. Mas não deve ser a isso que Darci de Matos se referia. Primeiro porque isso era previsível. A corrupção é como caranguejo na panela: a gente puxa um e os outros vem agarrados. Falando em termos hermenêuticos, é sempre bom lembrar que o deputado diz “mais corrupção” e não “mais corruptos”. Ou seja, que haveria mais casos.

5. É certo que o deputado tem im(p)unidade parlamentar. Mas talvez Carlito Merss não goste de ver o seu nome denegrido em público e decida tomar alguma atitude. Todos, mesmo um prefeito sob fogo cerrado, tem direito ao bom nome.

6. O texto diz: “se a Polícia federal investigar”. Ops! Isso quer dizer que não está a investigar? E nestas circunstâncias só resta à Polícia Federal ouvir o parlamentar e saber tudo o que ele tem a dizer. Os cidadãos não esperam menos que isso.

O fato é que eu - e certamente os leitores do Chuva Ácida - estou corroído pela curiosidade. Vamos lá, deputado Darci de Matos, diga os milagres e os nomes dos santos.

P.S.: Admito a hipótese de o Twitter do deputado ter sido hackeado por algum ciber-terrorista. Pode acontecer.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Corrupção: o que tem a ver com você?

POR JORDI CASTAN

Não tem quem nos possa ganhar. É verdade que no quesito corrupção ainda não alcançamos os níveis escandalosos que praticam os países africanos menos desenvolvidos. Os modelos presidencialistas, em que publico e privado se confundem e misturam de tal forma que fica impossível de diferenciar aonde acaba um e começa o outro. Mas estamos nos esforçando para rapidamente equiparar-nos aos melhores, fazer da corrupção parte do nosso cotidiano é um passo firme e definitivo, para que deixemos de nos impressionar com os escândalos e que o corrupto de amanha nos leve a esquecer o de hoje. A banalização da corrupção faz que fiquemos insensíveis, que nada nos surpreenda mais, que nem os valores envolvidos, nem os nomes de corruptores e corrompidos sejam novidades. Chegamos até cumprimentar e em algumas situações extremas homenagear os maiores corruptos. Oferecendo comendas e prêmios aos melhores dos piores.

Se em corrupção o Brasil esta no caminho, para estar entre os melhores, em procrastinação, não tem para ninguém. O Brasil é campeão mundial de “empurrar com a barriga”, transferir para outro dia, demorar em resolver algo. Claro que algumas vezes a casa cai, textualmente, na nossa cabeça, e não nos quedaria alternativa que por as mãos na massa e resolver. Mas conseguimos dar um jeito de adiar uma vez mais a solução.

A elegância com que ignoramos os problemas,deixando de falar deles, olhando para o outro lado, a facilidade com que os esquecemos, nos levam a acreditar infantilmente que se fechamos os olhos,quando os abramos de novo, tudo estará resolvido, como por um passe de mágica. Claro que as coisas não se resolvem sozinhas, na realidade a tendência é que os problemas que não enfrentemos se avolumem e cresçam. Quando mais procrastinemos maiores serão os problemas, poderemos sempre culpar os que nos antecederam por não ter tomado as decisões e atitudes corretas e necessárias, estaremos novamente praticando o nosso esporte preferido, empurrar com a barriga, deixar de decidir, adiar, protrair, alongar, dilatar. Todos eles sinônimos que definem nosso esporte favorito.