POR AMANDA WERNER
Estava na fila do mercado, enquanto um grupinho em minha frente discutia
a corrupção do Brasil. Falavam sobre os corruptos do momento e um dos
presentes, com muita retórica e aparente propriedade, defendia até que corrupção
deveria ser punida com a pena de morte, já que era a grande chaga do país e
que, aí sim, todos os problemas seriam resolvidos.
Saindo do local, ainda zonza com o susto de presenciar tão
inflamado debate em uma fila de mercado, avisto um ajuntamento de pessoas na saída,
e percebo se tratar de um vendedor de CD’s e DVD’s piratas. Me chamou a atenção
o pracista estar rodeado de algumas das pessoas que faziam parte do grupinho
anticorrupção que me antecedeu na fila do mercado. Observei.
Claro, nenhuma das pessoas perdeu a grande oportunidade de pagar mais
barato e todos voltaram para as suas casas com os CD’s em mãos. Refleti.
Todos nós nos sentimos vivos, muito espertos, ao tirarmos vantagem de alguma
coisa. Não avançar o sinal vermelho torna-se sinônimo de imbecilidade em um país
onde a Lei de Gérson impera, e exprime, sem galanteios, traços do caráter
nacional.
A corrupção do outro é condenável. Parece diferente o corrupto que
aceita propina, da pessoa que lucra no troco, ou da que fura filas. E também
daquele que ensina o filho a não mentir, mas assim que o telefone toca, manda
dizer que o pai não está. Há ainda os que imprimem documentos particulares com
a impressora do trabalho. E os que pagam um “troco” para agilizar expedição de
alvarás e documentos em repartições públicas.
Não se pode esquecer que também há corrupção ao votar em candidatos que
se sabe serem corruptos, onde com sua eleição se espera benefícios, das mais
diversas espécies. Cargos, coordenações, alianças políticas, funções no Estado.
O empresário, que financia a campanha de candidatos para depois receber em
favores, validando a lei do rabo preso.
Dessa forma, avaliza-se a desonestidade e abre-se mão dos direitos de
cidadãos.
A depender do grau de envolvimento com as mais diversas situações,
pode-se enxergar as pequenas corrupções como atos normais do dia a dia.
Mas é importante lembrar que em todos os casos há um crescente desprezo pelo
direito alheio.
O “jeitinho” diário é corrupção. Trabalhando como erva daninha, de início
imperceptível, com o tempo promove a degeneração contínua dos valores. Ou será
possível que o ser humano já tenha nascido corrupto, cometendo imediatamente um
desvio de verbas prodigioso?
A consciência, já não permite fazer distinção entre o bem e o mal. A
facilidade que se tem em justificar desrespeitos às leis e aos direitos, faz
com que se pense que as leis foram feitas somente para os outros.
A grande força da democracia está em resistir e combater a corrupção.
A corrupção não é circunscrita. Não está em Brasília. Ou nas Câmaras
Municipais. É metástase social de origens profundas e de difícil localização,
ainda que se utilize a moralidade como meio de contraste.
Como então extirpar esse mal? Combatendo a corrupção moral, que é berçário
da corrupção cultural e da institucional. Afinal, onde se acha que não há
problemas em cometer pequenos ilícitos, como o de “molhar a mão” de um
policial, não será o Estado a impedir alguém de fazer alguma coisa.
Há como resolver o problema por meio deste ponto de vista? Olhando para
si? Lá estão os governantes. E alguns políticos. Os que pagam e os que aceitam
propina. Lá estamos nós.
Amanda Werner é formada em Direito e vive em Joinville há 18 anos.
Amanda Werner é formada em Direito e vive em Joinville há 18 anos.