POR ANTONIA GRIGOL
Este ano meu propósito era não reclamar de Udo Dohler. Afinal, não votei nele. Meu propósito era reclamar de quem votou e escolheu ser mandado pelo dono da cidade. Um homem que despreza trabalhador e trabalhadora, que nos acha indolentes e relaxados. Mas os fatos batem à minha porta:
1. Faço a defesa intransigente do SUS e, para quem não entende o que significa intransigência, defendo que ninguém tenha outras formas de assistência que não seja o SUS.
2. Ontem, usei o SUS para tomar banho, escovar os dentes e meu café (tudo garantido por agências reguladoras do SUS e Vigilância Sanitária). Mas estas ações do SUS não foram suficientes para eu não sentir dores articulares. Um dia dói o cotovelo, outro o joelho e as articulações das mãos doem todos os dias.
3. Procurei a Unidade de Saúde Costa e Silva no dia 12 de janeiro. Cheguei por volta de 08h20min, retirei a senha do acolhimento, expliquei a minha necessidade à enfermeira Marlene Serafim, que me encaminhou para consulta.
4. No dia marcado fui cedinho. Fiz meu prontuário novo. A funcionária da recepção me orientou e encaminhou para a sala de espera em frente aos três consultórios médicos. Saquei da bolsa um livro da Edith Seligmann intitulado "Trabalho e Desgaste Mental". A mulher do meu lado ficou contando as lajotas. Outra lendo "50 Tons de Cinza" e a terceira uma revista.
5. Em poucos minutos já estávamos conversando. Primeiro foi uma disputa para saber quem tinha mais dores ou doenças, a saga nos consultórios médicos públicos e privados a consultas e exames pagos. Os remédios caros, comprados porque os SUS não garantiu. Enfim, uma bela sessão de "contação" de histórias.
6. Logo o papo rumou para a obesidade. Aí novamente as mulheres interagiram e falaram sobre os melhores alimentos. O que engorda e emagrece, as dificuldades com dieta e a luta para manter o corpo da artista da TV. As mulheres contavam suas histórias vividas e sentidas a seu modo, mas cada uma com a história mais importante. O terceiro assunto foi a comida para os filhos. Neste momento, houve divergências. Este, confesso, foi um momento tenso quando as mulheres/mães que estavam no banco responsabilizam as mulheres pela obesidade dos filhos. Ufa! Ainda bem que a cada quarto de hora três saiam do papo porque eram chamadas para os consultórios e eu fui ficando sozinha. Aí escutei "Antonia". Era o meu médico me chamando.
7. O profissional médico Rafael Gorges Werlichl, recém-chegado de Pirabeiraba com muitos elogios dos moradores do distrito, ouve minhas queixas, faz algumas sugestões e solicita os exames laboratoriais. E me encaminha para o agendamento dos exames.
8. Retorno para a recepção e escuto o farmacêutico chamar a senha 189. Tinha tanta gente que fiquei meio tonta. Aí encontrei uma técnica de enfermagem. Sempre simpática, me cumprimenta e fala “hoje está corrido, estamos em duas técnicas para atender todo mundo". Eu, que ia perguntar qual o caminho para realizar a minha vacina atrasada da hepatite, me calei e pensei. Como duas técnicas de enfermagem dão conta de toda esta gente? Impossível não adoecer. Mas o governo do Udo Dohler investiu pesado quatro anos em campanhas para denigrir a imagem dos trabalhadores do setor público. E se, naquele momento, uma delas demonstrasse cansaço, as pessoas iam achar que era preguiça.
9. Então peguei a senha para agendar os meus exames. Eu sentei e fiquei olhando para as pessoas, seus movimentos, suas expressões. Também olhei para as paredes e vi um belo painel com fotos de pessoas. E me dei conta que Udo Dohler é excludente até no painel. Pareciam fotos do Facebook. Só gente rindo, feliz. Achei bonito. Mas nenhuma pessoas com deficiência... Fui chamada. Demorei para perceber que era eu. Quase perdi a vez... a recepcionista precisou chamar duas vezes. Então sentei em frente ao computador entreguei minha solicitação. Eram 9h17min e a menina da recepção gentilmente explica que não tem como marcar meus exames porque a cota do dia terminou e que somente na segunda-feira às 7 horas da manhã nova cota será liberada. Orientou-me a voltar nesse dia.
10. Aí meus pensamentos voaram para 2012, quando fui gestora e que os exames eram na hora. Mas agora são os tempos de Udo Dohler e ele cortou 65% do orçamento. Eu com as dores... vim para casa. Se eu estivesse trabalhando teria perdido três dias de trabalho para ir à unidade de saúde. Como ficaria minha situação no trabalho?
11. Porque as unidades de saúde ficam abertas ao meio-dia se o exame que eu preciso marcar só pode ser às 7 horas. E tem que estar no limite do horário, porque às 8 e pouquinho terminam as cotas para a cidade inteira?
12. Porque tão poucos funcionários para atender toda a demanda? E quando elas adoecerem quem vai devolver a saúde?
13. Enfim, só restou esperar segunda-feira para ir marcar o exame. Mas se o gestor estivesse preocupado com a economia, teria assegurado que meu problema fosse resolvido antes. Por quê? Porque a cada vez que vou a unidade gero mais custos para o SUS. Porque utilizo toda a estrutura de saúde da unidade, luz, água, funcionários, etc. Recursos que, se fossem utilizados uma única vez, tudo bem. Mas três para a mesma finalidade? A economia burra de Udo Dohler e sua equipe não dá conta de enxergar isto.