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quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Verão e coliformes fecais












POR RAQUEL MIGLIORINI
Em matéria veiculada na mídia nacional, Santa Catarina foi destaque pela balneabilidade de suas praias, ou melhor, pela não balneabilidade. As análises de coliformes fecais (bactérias presentes no intestino de mamíferos, incluindo os humanos) ficaram  acima do permitido em 70% dos pontos analisados nas praias catarinenses perto do período de festas e melhorou um pouco na primeira quinzena de Janeiro.

Sabemos que a quantidade de turistas que visitam o litoral catarinense no verão agrava a situação mas essa desculpa não é mais aceitável. Existem tecnologias para estações de tratamento de esgoto doméstico que permitem usos intermitentes, ou seja, podem ser ativadas na temporada e desativadas ao longo do ano para diminuição de custos.

Em setembro de 2016, a prefeitura de Balneário Camboriú inaugurou a Passarela da Barra, ou passarela do “seu” Maneca, em homenagem ao senhor que fazia o vai-e-vem de passageiros pelo rio que dá o nome a cidade. Foram gastos R$ 30 milhões numa passarela. 

Ficou bonita, tem obras e fotografias em exposição, mas garanto que o “seu” Maneca ficaria muito mais feliz se esse dinheiro todo tivesse sido utilizado na coleta e tratamento de esgoto que é despejado diariamente no rio que ele tanto cuidou. Usando como exemplo um sistema de tratamento de efluentes, como um reator anaeróbico, e a instalação da rede coletora para cerca de 5000 habitantes, o custo seria de aproximadamente R$ 8 milhões. Seria uma aplicação mais digna dos recursos públicos. Agora, aquela pergunta básica: o que aparece mais, a Passarela sobre o rio ou um monte de tubos enterrados?

Balneário Camboriú tem mais da metade das praias centrais poluídas e culpa a falta de chuvas pelo alto índice de coliformes na água ou o excesso de chuvas pelos surtos de viroses e leptospirose. A solução encontrada pela antiga gestão para se livrar do esgoto doméstico, seria a construção de um emissário para jogar os efluentes em alto mar. Desconheço proposta mais indecorosa e arcaica. Mas talvez tenha surgido porque uma estação de tratamento, por menor que seja, pode ocupar um terreno onde caberia um prédio. E isso, naquela cidade,é inconcebível. Aliás, esse estilo contaminou Itapema, Penha e demais cidades dos arredores. E bota contaminação nisso.

De nada adianta a indignação dos catarinenses, contestando os dados e dizendo que no Nordeste a situação é pior. Não é. Santa Catarina precisa se livrar do coronelismo que assola sua beleza natural e cuidar do seu quintal, escolher governantes preocupados com a preservação ambiental e que tenham a visão mais avançada em relação ao turismo e desenvolvimento urbano. Se não, corremos o risco de afundar no que está sendo jogado direto no mar.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Todo verão é a mesma história

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

O ano de 2014 acabou, as festas de fim de ano também. A cidade aos poucos vai ganhando a sua forma deprimente de sempre (um ciclista, menino de 8 anos, já morreu em 2015 por causa da insegurança que assola a mobilidade joinvilense). Mas é necessário fazer um registro do que aconteceu nas praias da região neste período festivo, principalmente pelo lado urbanístico da coisa, pois as cidades litorâneas são o escárnio da qualidade de vida e da urbanidade.

A sazonalidade do veraneio brasileiro causa grandes impactos para as cidades, as quais não possuem uma estrutura adequada para seus moradores fixos e nem para os turistas. Todos os problemas já existentes se multiplicam exponencialmente devido ao acúmulo de gente no mesmo ambiente. E quando não há uma organização mínima, a falta de respeito e de alteridade imperam, graças ao ser humano dotado de suprema inteligência.

O que mais presenciei foram desrespeitos a tudo aquilo que defendemos durante os outros meses de dano, sobretudo aos direitos dos ciclistas e aos pedestres. A quantidade de carros amontoados em cima das calçadas foi absurda, só porque era o lugar mais perto da praia. Faixa de pedestres, no alto verão, tornou-se apenas um acessório que ilustra as ruas. As ciclovias (ou ciclocoisas, dependendo do lugar, quando existem) foram sistematicamente desrespeitadas e fiscalização alguma surgia para combater a infração. O resultado todos já sabemos: vidas humanas colocadas em risco.

É incrível como o brasileiro é um analfabeto urbanístico (usando o termo empregado pela professora Ermínia Maricato) e as gestões municipais são omissas. E mais assombroso é como nas praias, durante o verão, isso se exacerba. Vira uma terra sem lei, onde ser "espertinho" é sempre o melhor e danem-se os outros, pois ninguém irá fiscalizar. Infelizmente é algo repetitivo. Você vai para a praia fim de ano e vai encontrar este cenário descrito.

Ou as cidades litorâneas mudam seu pensamento, ou nosso tipo de turismo ficará saturado em pouco tempo. O mar, por si só, não garante qualidade de vida. Ter lindas praias não segura o turista todos os anos, pois o meio em que ele convive está piorando e a qualidade de vida é tão ruim quanto os grandes centros urbanos brasileiros. A capacidade de inovar precisa vir destas cidades litorâneas, principalmente das mais desejadas pelo setor imobiliário, graças à aplicação dos instrumentos redistributivos do Estatuto da Cidade. Com transporte público eficiente, mobilidade com segurança para todos, organização fundiária e sanitária as cidades se tornarão minimamente melhores do que são hoje e trarão muito mais renda pelo turismo (e durante o ano todo, sem depender somente do veraneio).


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

E os "ataques" continuam...

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

O Estado de Santa Catarina, desde o fim de 2012, até o começo deste ano, vem acompanhando uma série de crimes cometidos por todo o território (total de 37 cidades atingidas). Supostamente organizados, criminosos incendeiam carros, ônibus e cometem atentados a postos da polícia. O governador Raimundo Colombo, após muita insistência (e apelo de setores da mídia) aceitou o "reforço policial" da força nacional para combater estes criminosos.

Este episódio só retrata o patético momento da segurança pública catarinense. Profissionais mal remunerados, sem estrutura, sistema carcerário desintegrado e outros diversos problemas compõem a realidade de nosso estado. Os "ataques" estão repercutindo agora, mas há anos esta "onda de violência" atinge Santa Catarina. Entretanto, ela era responsável pela morte, em sua grande maioria, do jovem, do negro, do "favelado", do ser "invisível socialmente". É aquele que passa todo dia no programa policial e vira "mais um".

Agora que atinge a propriedade privada de grandes empresários do setor de transporte, o governo se preocupa e a grande mídia faz com que nosso estado pareça estar numa guerra civil de dar inveja a vários países em conflito. Por qual motivo os altos índices de assassinatos não eram combatidos nos anos anteriores? Por qual motivo nunca se buscou uma solução para o sistema carcerário estadual, criando políticas que promovam a reinserção do preso, e não apenas uma "jaula humana"? O governador nos deve muitas respostas. E a grande mídia, parcial, promotora de grandes interesses de pequenos grupos, também.

Enquanto este circo acontece, tudo continua na mesma: "ataques" continuam, presos são transferidos para presídios federais (enganando os trouxas-analistas-de-sofá) e o pobre, jovem e negro continua morrendo pelos motivos que já conhecemos há décadas. Sem escola, sem emprego, sem cultura e sem perspectivas, o caminho da violência encontra-se escancarado. Matar ou morrer, nessa altura da vida, para estes cidadãos, é a mesma coisa. Já para o governador e sua equipe, vira índice do IML, publicado na mesma imprensa parcial e os "ataques" são "danosos para a economia catarinense".

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Bombeiros de Joinville e a defesa do indefensável


POR GUILHERME GASSENFERTH

Quando estava lendo a edição do último sábado de ANotícia, deparei-me com um artigo cujo título já me fez torcer o nariz: “A verdade sobre os bombeiros”, do oficial da PMSC Zelindro Farias. A epígrafe da missiva já se reveste de arrogância. É como se pedisse para esquecer tudo o que o jornal e seus leitores vem escrevendo a respeito dos bombeiros voluntários porque era tudo mentira, e agora alguém vem apresentar a verdade absoluta.

O Sr. Farias, provavelmente imbuído do sentimento corporativista característico dos militares, chama de falácia a afirmação do Jordi Castan de que os bombeiros militares custam quarenta vezes mais que os voluntários. Segundo o relatório de execução orçamentária de SC de 2011, parece que o Sr. Castan foi modesto. Enquanto os bombeiros militares custaram R$ 159,6 milhões aos cofres públicos estaduais, os bombeiros voluntários receberam repasses da ordem de R$ 1,5 milhões do governo do Estado. Nesta conta, os militares custaram 101 vezes mais ao Estado. É óbvio que há outros repasses públicos, das prefeituras e talvez até do governo federal, mas é muito óbvio: uma corporação onde a maior parte dos trabalhadores são voluntários vai custar muito menos que uma outra com pessoal concursado e recebendo para trabalhar.

Com algumas afirmações cujo raciocínio me parece obtuso, o Sr. Farias esforça-se para defender o indefensável. É favorável à exclusividade dos bombeiros militares na realização das vistorias preventivas nas empresas, o que o torna um opositor da possibilidade do trabalho voluntário nesta seara.

Conheço pouco a corporação de voluntários daqui. Mas posso afirmar que não há necessidade de que os militares atuem em Joinville. Primeiramente porque o Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville é exemplar. Apresenta tempo de resposta melhor que o preconizado pelos padrões mundiais; é equipado adequadamente, possuindo até mesmo equipamentos mais avançados que muitas outras corporações; trabalha em conjunto com SAMU e Polícia Militar nos atendimentos a emergências; presta vistoria técnica preventiva sem nada cobrar dos contribuintes; e há 120 anos é um marco histórico do voluntariado, cidadania e participação civil em Joinville e em Santa Catarina.

A insistência que os bombeiros militares tem em buscar a exclusividade da realização de vistorias cheira-me a ambição financeira. É claro, imaginem quantas empresas a maior cidade do Estado e outras possuem onde os militares poderão faturar R$ 0,26 por metro quadrado de vistoria. Uma empresa como a Whirlpool, cuja planta tem mais de 1 milhão de m2 renderia aos bombeiros militares sozinha mais de R$ 260.000,00. Imaginem todas as empresas somadas. É dinheiro que não tem fim e justifica a gana por impedir a prestação deste serviço por bombeiros voluntários, que nada cobram.

Agora, se a intenção é nobre e os bombeiros militares querem é auxiliar no salvamento, socorro, combate a incêndio e resgates então eu sugiro que direcionem os esforços para as 177 cidades catarinenses onde não há nenhum tipo de bombeiros. Com certeza lá serão muito úteis e a comunidade os receberá bem.

Os joinvilenses estão satisfeitos com os Bombeiros Voluntários, entidade que tanto nos orgulha e protege há 120 anos. Agradecemos a gentileza, mas seus préstimos não são necessários por aqui.

* o autor participa do Curso de Formação de Bombeiros Voluntários do CBVJ.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Floripa é melhor que Joinville

POR GUILHERME GASSENFERTH

“A minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá. As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá”. Este trecho do famoso poema Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, serve para ilustrar o sentimento em relação à diferença da atenção dada pelo Governo Estadual (o atual e todos os seus antecessores) a Joinville e Florianópolis. Não só pelas palmeiras imperiais que são um símbolo inconfundível de nossa bela cidade, mas pelas aves. Elas representam nossos políticos. Nossa representatividade é pequena e nossos deputados gorjeiam muito pouco. Só isto pode explicar a disparidade do tratamento dado a Floripa e a Joinville.

Analisei a execução orçamentária do Estado de 2011 em todos os recursos específicos onde constavam o nome “Florianópolis” e o nome “Joinville”. Joinville teve investimentos diretos da ordem de R$ 28.266.642,84. E a capital, R$ 59.402.058,36. Joinville recebeu 47,58% do que recebeu Floripa. Não é nem a metade.

Na área da cultura, o Governo do Estado esforçou-se para aprovar no Ministério da Cultura o projeto para captar recursos via Lei Rouanet para a reforma da Ponte Hercílio Luz. Pediram R$ 76,8 milhões, mas ganharam autorização para captar apenas R$ 64,5 milhões. Vejam que eu sou favorável à reforma, é um símbolo de todo o estado. O que me irrita é não ver a mesma disposição em ajudar Joinville. Que fração deste valor seria suficiente para reformar nossos museus da Bicicleta, de Arte, Fritz Alt e do Sambaqui, além da Biblioteca Municipal e da Casa da Cultura? 10%? 5%? 1%? E não vem NADA.

Vamos à área da saúde: em Florianópolis, o Governo do Estado mantém o Hospital Celso Ramos, o Hospital Infantil Joana de Gusmão, o Hospital Nereu Ramos, a Maternidade Carmela Dutra, o Hospital Florianópolis, o Instituto de Cardiologia e o Instituto de Psiquiatria. São sete hospitais. Em Joinville, o Regional, o Infantil e a Maternidade Darcy Vargas. São três.

Na educação: a UDESC em Florianópolis tem 21 cursos. Em Joinville, 9. Como o número de escolas públicas não está muito acessível, não vou pesquisar a fundo. Mas estou certo de que se encontrar, não me surpreenderei se o número de escolas públicas estaduais na capital for muito maior do que em Joinville.

No que diz respeito à segurança pública, em Florianópolis há 12 delegacias e 3 subdelegacias da Polícia Civil. Em Joinville, há 9 delegacias. Em 2007, Floripa tinha 1,1 mil policiais militares e em 2011 nossa Joinville tinha 600. Lá, os bombeiros são militares e custeados pelo Estado. Aqui, são voluntários.

Mas está na infraestrutura viária a maior disparidade. O governo do Estado acaba de entregar a duplicação da SC-401, que faz a ligação da Trindade com as praias do Norte. Além disso, há outras 6 rodovias estaduais dentro de Florianópolis. Há vários elevados e viadutos com investimento do Governo do Estado. Em Floripa, o governo estadual investiu 250 mil em projetos para analisar viabilidade de implantar metrô de superfície. Havia dinheiro reservado para estes estudos em Joinville, mas o governo não executou. E agora estão estudando construir a quarta ponte, com investimentos da ordem de 1 bilhão de reais. Então o Estado faz rodovias, duplicações, pontes bilionárias, elevados e viadutos em Floripa, mas em Joinville não consegue duplicar uma rua?

Sei que Floripa é a capital, que a geografia local é muito diferente, que há várias situações que influenciam esta absurda disparidade entre a maior cidade e economia do Estado e a capital. Mas diferença é uma coisa, pouco caso é outra. Para Floripa tudo e pra Joinville nada? Florianópolis é melhor que Joinville?

É urgente que aumentemos a representatividade de Joinville, não só em quantidade, mas principalmente em qualidade. Joinville tem dois senadores (talvez a única cidade do Brasil a ter dois senadores exercendo o cargo),um deputado federal e três deputados estaduais. E as coisas continuam na mesma toada triste. Nosso prefeito se diz amigo de Lula e parceiro da Dilma, mas a cidade continua à míngua também de recursos do Governo Federal. Nossos representantes têm que gorjear mais.

Não acho que Floripa mereça menos. Mas Joinville merece MUITO MAIS.

Mas a culpa principal é nossa. Antes de acusarmos os políticos, não nos esqueçamos de que jabuti não sobe em árvore. Se eles estão lá, é porque nós os colocamos ali. E caberá a nós tirá-los.