Mostrando postagens com marcador honra. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador honra. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Honra ou honestidade


POR JORDI CASTAN
Os estudos mostram que o brasileiro lê pouco e compreende menos a cada dia. Pouca leitura reduz o vocabulário e, com menos palavras, o sentido e o significado vão se perdendo. Em pouco tempo ninguém mais lembra do que significam. Com frequência escutamos palavras fora de contexto e chega a ser até hilároa quando chegam a ter o seu sentido deturpado ou tergiversado.

Aproveitando o período eleitoral, proponho uma análise sobre o significado de "honra" e "honestidade". Já acreditei que honestidade era pré-requisito para concorrer a um cargo público, mas hoje acho que os honestos fogem da política para não serem confundidos com esta corja de malfeitores que tem se apossado do Legislativo e do Executivo. Me atreveria a dizer que até do Judiciário tem ir por esse caminho, porque não há dois sem três.

Diz o dicionário que honra é:
1. Consideração e homenagem à virtude, ao talento, à coragem, às boas ações ou às qualidades de alguém.
2. Sentimento de dignidade própria que leva o indivíduo a procurar merecer e manter a consideração geral; pundonor, brio.
3. Dignidade, probidade, retidão.
4. Grandeza, esplendor, glória. 
5. Pessoa ou coisa que é motivo de honra, de glória.
6. Culto, veneração.
7. Graça, mercê, distinção.
8. Honestidade, pureza, castidade, virgindade.
Leio e fico pensando quantos dos candidatos que aí estão disputando a eleição encaixariam nesta definição. Então lembro que nenhum deles cita a honra. Escolhem a Honestidade para serem identificados pelos eleitores. É bom lembrar que Honestidade é uma das definições de Honra, casualmente a última delas. Definitivamente nenhum dos candidatos se apresenta como um homem, ou uma mulher de Honra e isso, neste momento, os honra. A dúvida é se tiveram um ataque de sinceridade e não querem apresentar-se ante o eleitor como algo que não são ou com o que não se identificam, ou se não tendo noção do que seja a Honra, optam por escolher a honestidade como característica definidora.
Honestidade:
1. Qualidade ou caráter de honesto; honradez, dignidade. 
2. Probidade, decoro, decência.
3. Castidade; pureza; virtude.

Só dar uma olhada no dicionário e fica claro, para qualquer um, que é mais fácil ser ou se considerar honesto que honrado. A diferencia pode parecer sutil, mas não é. Estamos, como sempre, por estas terras e manguezais, nivelando por baixo. O que deveria ser pré-requisito mínimo é apresentado como virtude, como diferencial.

Sou dos que acredita que se elegemos os políticos que elegemos é porque no íntimo, se estivéssemos lá, faríamos a mesma coisa. Quantos de nós somos honestos por falta de oportunidade? Só essa falta pertinaz de honestidade pode justificar os políticos que temos e a insistência doentia do eleitor em votar em candidatos investigados por corrupção ou pior até condenados. Candidatos que para piorar são e seguem sendo os mesmos de sempre.

Gente que enriqueceu na política, políticos profissionais, que só existem pela conivência do próprio eleitor. Tem ainda os que insistem em querer eleger presidiário cumprindo pena. É evidente que os mesmos que tem dificuldades em compreender a diferença entre honra e ser honesto, tenham, também, dificuldades em entender que um presidiário (detento condenado a cumprir pena ou a trabalhar num presídio) por ter sido condenado em segunda instancia, não pode pretender ser candidato a nada mais que a sindico do próprio presídio.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Os homens que não amam as mulheres













POR CECÍLIA SANTOS

Um jornalista e uma hacker investigam o desaparecimento misterioso da sobrinha de um milionário há 20 anos, e no caminho desvendam uma série de assassinatos de mulheres cometidos com requintes de sadismo, pelo mero prazer de matar. Várias das vítimas são prostitutas de países do Leste Europeu, mulheres de quem “ninguém vai sentir falta”, segundo um dos assassinos. É a trama do primeiro livro da Trilogia Millenium, do autor sueco Stieg Larsson, cujo título é “Os homens que não amavam as mulheres”. 

Eu não quero falar sobre a chacina de Campinas, mas sobre como homens que comentam em redes sociais e portais de notícias estão encontrando justificativas para o assassino, ressuscitando o velho crime de honra, culpando a vítima pela morte premeditada e covarde de toda uma família.

São comentários de embrulhar o estômago. Há homens que defendem a submissão da mulher, outros colocam a mão no fogo pelo assassino quanto à acusação de que ele teria abusado sexualmente do filho. Isso é que é camaradagem entre machos.

Mas, segundo muitos, o grande culpado pela chacina é o feminismo. No balaio de sérias deturpações da realidade contidas nas cartas deixadas pelo assassino (que mistura a política nacional, o sistema prisional, os impostos e os direitos humanos), o ódio do assassino de Campinas não é dirigido apenas à ex-mulher, mas às mulheres que a apoiaram.

E eu sinto muito, mas é justamente isso que o feminismo faz: nós nos apoiamos umas às outras, fazemos o possível para que mulheres não sejam assassinadas, acolhemos as que sofrem violência e lutamos todos os dias contra a opressão de gênero. É até constrangedor explicar que o feminismo não quer colocar as mulheres acima dos homens, quer apenas que os homens parem de nos matar.

Não somos nós que destruímos famílias, o que destrói é a prepotência dos homens que não aceitam que as mulheres sejam tratadas como pessoas com direitos, vontade própria e autonomia. É compactuar com a misoginia dos amigos e relativizar ou justificar o feminicídio.

Os agressores de mulheres e feminicidas não são monstros, são apenas filhos saudáveis do patriarcado, gente que você encontra no elevador, no trabalho, na igreja, no bar, que até parecem ser bons maridos e pais de família, mas que, quando contrariados, são apenas homens que não amam as mulheres.