segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Els caganers... ou os cagões



POR JORDI CASTAN

Os presépios são típicos desta época do ano. Reproduzem a imagem fantasiada do momento e do lugar em que de acordo com a tradição nasceu Jesus. Há países e culturas em que a construção do presépio ganha sofisticação e requintes de obra de arte, mas também são uma forma de expressar a cultura popular. Na Catalunha, Espanha, é comum encontrar escondido em algum dos cantos do presépio o “caganer” (em português, o cagão), uma figura icônica do presépio popular. A criança achar o “caganer” era um atrativo adicional a fascinação que exerciam os presépios.




Hoje além do “caganer” vestido com a barretina tradicional, o mercado oferece centenas de alternativas, de políticos a atores, de jogadores de futebol a personagens do imaginário popular. Há nestes “caganers” modernos uma representação do protesto, a imagem dos que fazem ou fizeram cagadas. A escolha de políticos não é aleatória e não há homenagem neste caso.  Há na figura do “caganer” tradicional essa mistura tão comum na cultura mediterrânea de irreverencia com o respeito, de juntar num mesmo momento a seriedade com o deboche.

É este equilíbrio pendular entre os dois extremos o que permite que num mesmo presépio convivam anjos anunciando o nascimento de Jesus e “caganers” escondidos detrás de uma moita. É a mais pura reprodução da nossa realidade quotidiana: enquanto uns vivem a sua vida diária, há os que não podem evitar fazer o que todos os “caganers” fazem. Hoje os “caganers” representam mais, representam o protesto da sociedade com os que fizeram cagadas. Convivem, assim, os dois conceitos: a crítica e a homenagem. 





Há na figura do “caganer”, mostrado com as calças abaixadas e defecando, uma forma de protesto frente ao “status quo” e suas normas e regulamentos. O “caganer” é a figura fora de lugar na imagem idílica do presépio, é o "outsider". A sua figura rompe a imagem idílica da paisagem perfeita, a sua presença humaniza e dessacraliza a representação do nascimento de Jesus.

O objetivo inicial de reproduzir a imagem da manjedoura, da Virgem e de São José, acompanhados do boi e do asno que, de acordo com a tradição cristã, seriam a fiel imagem daquela noite de dezembro faz mais de dois mil anos. A imaginação, a habilidade, a técnica e os meios disponíveis tem sofisticado os presépios que contam com rios de aguas límpidas, com pastores e seus rebanhos, com agricultores e suas hortas e campos de cultivo, com caravanas de reis magos que cada dia se aproximam um pouco mais para que sua chegada coincida com a noite do 5 de janeiro, quando de acordo com a mesma tradição os reis chegaram a Belém e fizeram as suas oferendas. Hoje graças ao "espírito natalino" convivem lado a lado, em alguns países, o Papai Noel e Melchior, Gaspar e Balthazar.

Os brinquedos são a versão moderna do ouro, a mirra e o incenso, mas a lógica sempre foi que os mesmos reis magos que trouxeram suas oferendas para o "menino deus", seguissem desempenhando a mesma tarefa e presenteassem a todas as crianças com os seus presentes. A disputa entre a crescente pressão comercial do natal liderada pelo omnipresente Papai Noel deve se considerar vencida pelo marketing mais agressivo e bom velhinho. Até porque as crianças de hoje não querem ficar esperando quase duas semanas a que cheguem os reis e seus pagens montados em camelos, que na verdade são dromedários, trazendo os brinquedos.

Em tempos em que o tempo é dinheiro, ninguém gosta mais de três velhinhos que chegaram atrasados. As crianças e os adultos seguem buscando os “caganers” escondidos, ou nem tanto, num canto do presépio. Até porque não faltarão nunca os que vivem fazendo o que os “caganers” fazem com tanta propriedade. 

Um comentário:

  1. A estátua do Lula está errada, ela devia tepresentá-lo plantando bananeira, pois ele defeca pela boca.

    ResponderExcluir

O comentário não representa a opinião do blog; a responsabilidade é do autor da mensagem