sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Mulheres, mobilidade e cidades acolhedoras



POR CECÍLIA SANTOS

Em dezembro do ano passado participei do evento “A mobilidade urbana e a perspectiva das mulheres” aqui em São Paulo, organizado pela WRI Brasil. Foi um evento de alto nível com mulheres da academia, do CET e de diversos ONGs e coletivos de mobilidade.

Estudos e estatísticas coletados mostram que as mulheres são as principais usuárias do transporte público e também a parcela da população que mais caminha. É mais comum em famílias que possuem apenas um automóvel que ele seja utilizado pelo homem. 

Nas famílias de classe média ou alta, as crianças quase sempre são transportadas de carro ou transporte escolar. Isso lhes tira a autonomia e independência e gera um outro problema: 1 a cada 3 crianças têm sobrepeso, e 15% estão obesas. 

Os espaços públicos para as pessoas com crianças (quase sempre mulheres) que caminham e que utilizam transporte público carecem de estruturas como bancos para que mulheres possam amamentar, espaços sombreados, trocadores, bebedouros, cestos de lixo. Sem falar nas calçadas, que geralmente são bastante inóspitas para pessoas idosas, com limitações de mobilidade ou para carrinhos de bebê. 

As mulheres também estão sujeitas ao assédio e à violência sexual no transporte público, muitas vezes com a omissão das empresas responsáveis pelos ônibus, trens e metrôs e das autoridades públicas.

Em uma cultura que valoriza o transporte motorizado individual, que resulta em menos pessoas caminhando, os espaços públicos se tornam ainda menos seguros para as mulheres. Também faltam iluminação e segurança pública. 

Além da violência física, outro risco associado a caminhar é o de atropelamentos – as mulheres, os idosos e as crianças até 10 anos de idade são os mais vulneráveis a esse risco. A prioridade do pedestre não é respeitada, nem mesmo em faixas de travessia. E apesar da tendência mundial à redução da velocidade nas grandes cidades de países desenvolvidos, estudos e pesquisas e a própria recomendação da ONU, a mentalidade carrocrata brasileira insiste na solução motorizada individual e em vias expressas com altas velocidades. 

Infelizmente as mulheres são minoria nos espaços de poder e decisão relacionados à mobilidade, como CET, secretarias e conselhos de transporte. Uma fala que me chamou a atenção foi que são homens que projetam os ônibus, e eles não são adaptados para gestantes. 

Uma cidade acolhedora e segura para as mulheres precisa ser planejada de forma a haver transporte público de qualidade, proximidade entre moradia, trabalho e lazer, e vias com baixa velocidade, com valorização e segurança dos diferentes modais.

6 comentários:

  1. "Nas famílias de classe média ou alta, as crianças quase sempre são transportadas de carro ou transporte escolar. Isso lhes tira a autonomia e independência e gera um outro problema: 1 a cada 3 crianças têm sobrepeso, e 15% estão obesas. "

    1) Obesidade e exercícios físicos não tem nenhuma ligação comprovada, quanto mais o trajeto a pé para a escola. Obesidade tem ligação direta com alimentação.

    2) Você sugere que as crianças, independente da distância e idade, façam o trajeto à escola a pé?

    No mais, o texto está bonzinho.

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    1. A realidade das crianças de periferia é ir a pé para a escola, independente da distância e idade, e isso as torna bem vulneráveis. A solução, a meu ver, passa por uma cidade mais segura, com ruas caminháveis e transporte público de qualidade, para que todas as crianças, independente de classe social, estejam seguras e possam desfrutar de mais independência e autonomia.

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    2. A questão é que calçadas organizadas estimulam o seu uso. Calçadas precárias ou inexistentes estimulam o uso do automóvel.

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    3. Ou calçadas "caminháveis" são negligenciadas em função do automóvel. Veja que em muitos lugares elas são projetadas para facilitar a entrada e saída da garagem, criando desníveis perigosos para o pedestre. Em São Paulo a gestão anterior fiscalizou e obrigou os moradores a refazer calçadas em alguns locais. Claro que houve uma chiadeira geral, porque o cidadão pensa no carro mas esquece a possibilidade de se acidentar em uma calçada mal feita e ficar várias semanas sem poder dirigir.

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  2. Meu Deus, quer dizer pais levam crianças para a escola de carro porque as calçadas não são boas? Nossa que simplismo...

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    1. Acho que deixei claro que a questão é bem mais ampla do que calçadas. Convido-o a ler o restante do texto a partir do terceiro parágrafo. Mas entendo a birra do cidadão com a questão das calçadas: implica fazê-las bem feitas e submeter-se às normas municipais. E nem todo mundo curte seguir normas, não é? Um abraço

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