quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Prefeitura tem que investir na inteligência


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Vou começar o texto com um comentário sobre a passagem do prefeito Carlito Merss pela Europa. Mas como não é o tema que pretendo discutir hoje, resumo tudo em um único parágrafo. Porque a viagem - que corre o risco de ser uma perda de tempo - desperta duas reações: uma negativa e outra positiva.

A negativa é bastante óbvia. É impossível, num tempo tão curto, ter respostas confiáveis para qualquer questão, mesmo que seja o simples aluguel de bicicletas. O ponto positivo é que ninguém pode acusar o prefeito de ter ido fazer turismo. Porque só um turista muito fora da casinha topava fazer um roteiro desses. É uma daquelas viagens que, depois da volta, o cara olha para as fotos e nem sabe onde esteve. Aliás, sob esse aspecto Carlito fica a perder feio para um antecessor, que arranjava tempo para passeios pelos Champs Elisées.

Mas vamos à proposta do texto. Por tudo o que foi dito, ficou clara a ideia de que o prefeito e a sua comitiva foram fazer um benchmarking* (ou vários) no Velho Mundo. Ora, digam o que disserem, é sempre um fato positivo. E não importa quem esteja no poder. Aliás, a ideia pode parecer meio maluca, mas o benchmarking é uma coisa tão importante para os municípios como Joinville que deveria ter estatuto de secretaria.

Oooops! Sim, uma Secretaria do Benchmarking. Seria uma organização com gente especializada em identificar as melhores soluções por esse mundão afora. Afinal, todo administrador tem que estar antenado nas alternativas mais modernas, criativas e eficientes. E hoje em dia, com tantos recursos do mundo digital, as pessoas poderiam estar em Joinville a pesquisar.

Com esse trabalho, toda vez que um prefeito fosse viajar (mesmo que no futuro venha a ser aquele deputado deslumbrado com a estranja), já estaria munido com informações mais abalizadas sobre os temas a analisar. Viajar é preciso. Mas sem o oba-oba oportunista a que os políticos brasileiros se habituaram. Viagens de benchmarking devem ser coisas profissionais, sem politiquices. Não por acaso o termo benchmarking vem do universo empresarial.

Ah... tem gente que vai dizer que seria mais uma teta para essa gente viajar. E há mesmo razões para ficar com um aviãozinho atrás da orelha. Porque a história é pródiga em maus exemplos. Os leitores e leitoras mais atentos sabem de administradores que levaram, em suas viagens para o exterior (como elementos da área de “comunicação”), pessoas que não falavam o inglês, o francês e ainda trucidavam o português.

Mas isso não altera a bonomia da ideia do benchmarking. Porque com uma equipe de especialistas nessa área, o prefeito só iria viajar munido de dossiers sobre todos os temas a avaliar no exterior. E não só o prefeito. Porque seria uma forma de dar ferramentas e dados essenciais para outros responsáveis da administração municipal.

É inconcebível, por exemplo, que o turismo seja administrado por pessoas sem mundo. Que as instituições do meio ambiente não estejam sintonizadas nos projetos mais inovadores no planeta. Que a área de cultura tenha a decidir gente que nunca entrou num museu a sério. Ou que os senhores do planejamento urbano não conheçam, com pormenor, os projetos de sucesso em termos de mobilidade urbana.

O benchmarking permite reunir informação. Mas o essencial é saber gerir essa informação. O que exige talento, criatividade e cultura de mundo. O que, infelizmente, não ocorre com o poder público. Em primeiro lugar, porque os postos chave são sempre ocupados pelos amigalhaços e, também, porque não há dinheiro para contratar profissionais de alto nível.

Se Joinville quer entrar de vez no caminho da modernidade, o poder público precisa investir mais na inteligência, no expertise. Porque o capital intelectual é o maior patrimônio que qualquer prefeitura pode ter. Afinal, a informação é a melhor ferramenta de trabalho para quem planeja as cidades.

Think global. Act local.


* Benchmarking - Processo contínuo e sistemático que permite a comparação das performances das organizações e respectivas funções ou processos face ao que é considerado "o melhor nível", visando não apenas a equiparação dos níveis de performance, mas também a sua ultrapassagem"
DG III – Indústria da Comissão Europeia, 1996

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Um parque de falácias

POR CHARLES HENRIQUE

Antes de tudo, até para não assustar o leitor, eu quero dizer que gosto muito dessa cidade. Nasci em Joinville, moro nela, estudo e comento sobre ela, mas tem uma hora que cansa, principalmente quando você viaja e vê como as coisas acontecem fora da “parte de dentro”, ou do interior, como muitos preferem dizer.

Temos 500 mil habitantes. OK. Maior cidade do Estado de Santa Catarina? OK. Terceira maior do Sul? OK. Mas o provincianismo com que tratamos algumas questões assusta, da mesma forma que nos primeiros anos da cidade, quando ainda era Colônia Dona Francisca. Mas, por qual motivo eu escrevo sobre isto?

Estive em Brasília durante alguns dias (voltei ontem de viagem) e de lá acompanhei tudo o que se passava por aqui, inclusive a “inauguração” daquelas três praças que a Prefeitura insiste em chamar de parque. Onde eu estava tinha um Parque da Cidade, e de longe, era sim um parque (infos sobre o Parque da Cidade neste link http://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_da_Cidade_Sarah_Kubitschek ). Aí fiquei a pensar (no bom português lusitano do Baço): qual a diferença entre a Praça Dario Salles e as três praças da rotatória do Guanabara? Nenhuma! Ambas têm muito concreto, um parquinho para as crianças, e espaço para sentar e observar. Mas lá no Guanabara inventaram que é parque, está bem. Não quero aqui citar conceitos de teóricos do Urbanismo sobre o que viria a ser um parque, mas, de forma platônica, todo mundo sabe o que é um parque, e está longe do cenário encontrado lá pelas bandas da Rua do Bera. Tudo bem, é um espaço público novo. Ótimo. “Só” venderam de forma errada.

Ao voltar para Joinville, ligo a TV e a manchete do telejornal: Florianópolis vai construir a quarta ponte e o Governo do ESTADO pretende gastar R$ 1,1bi. Enquanto nós assistimos de camarote a UFSC-de-um-curso-só na Curva do Arroz, o BNDES, o Aeroporto, a gestão das políticas públicas de cultura, a “beira-mangue”, o antigo Fórum, integrantes de primeiro escalão presos, o Fonplata e o silêncio (em alguns momentos aproximando-se da mendicância) dos governantes por melhorias e agilidade nestes e em outros processos, a cidade vai parando e se contentando com pouco. Qualquer praça ou semáforo vira motivo de festa. Riram da minha cara quando contei sobre este cenário lá em Florianópolis ou em Brasília.

Joinville por mais que seja ótima pra se viver e lugar que sempre adorei, é um parque de falácias. “Eu quero fazer, mas faço em etapas que nunca serão concluídas” ou “padrão de primeiro mundo” são frases que escuto desde criança e estão caindo por terra, felizmente para muitos. Está na hora de olharmos para os lados e percebermos que as coisas acontecem por lá e por aqui, fingem que acontecem.

PS 1: Este texto não pretende ser um “Buracoville”, mas sintam-se à vontade caso queiram comparar.

PS 2: Este texto não pretende ser anti gestão A ou B. As falácias tem em Joinville o seu habitat natural há décadas.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O poder da perseguida

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

A imperatriz chinesa Wu Hu, da Dinastia Tang, era uma mulher muito estranha. Mas esquisito mesmo foi o protocolo de governo que ela inventou. Para mostrarem respeito pela sua nobreza imperial, todos os que exerciam altos cargos, além dos embaixadores de outras nações, deveriam obedecer a um ritual: eram obrigados a dar-lhe umas lambidelas na (digamos assim) perseguida.

Ok... os mais pudicos podem deixar de ler a crônica aqui, porque vamos penetrar nesse tema. O caso de Wu Hu é referenciado nos livros de história. E há pinturas daqueles tempos que confirmam a prática. Mostram a imperatriz com a roupa aberta e homens ajoelhados a beijarem as suas partes mais íntimas.

Já imaginou, leitor, o que acontecia nas grandes solenidades de Estado, com centenas de convidados? Deviam ser autênticos banhos de língua. Lá pelas tantas a imperatriz, com certeza, começava a revirar os olhinhos chineses. Talvez o nome Wu Hu seja onomatopaico, inspirado num momento em que ela, inadvertidamente, deixou escapar um gemido:

- Wu hu. Wu huuuuuu.

Mas não pense, leitor, que a imperatriz fazia isso para se divertir. Até é provável que tenha unido o útil ao agradável, mas o que importava era demonstrar o seu poder. Aliás, vale lembrar que não são raros, na história da civilização, os momentos em que as mulheres usaram a perseguida como forma de expressão. Duvida?

Há um antigo hábito das mulheres somalis. Quando queriam ofender alguém, mostravam a dita cuja. Heródoto conta que algumas mulheres egípcias que viajavam pelo Nilo mostravam as partes pudentas aos povos ribeirinhos para mostrar desprezo. Mas terrível mesmo era para os gregos antigos. Se vissem, sem querer, a nudez de uma mulher, os caras achavam que iam ter azar para o resto da vida. Eu, hem!

E se Wu Hu fosse um imperador?

domingo, 6 de novembro de 2011

Policial que prende policial

POR ET BARTHES

Um policial prendendo outro policial? Foi o que aconteceu na Florida (EUA), quando o oficial de polícia Fausto López acabou preso por condução perigosa. E a autora da prisão foi uma patrulheira rodoviária. O infrator chegou a ultrapassar os 190 km/h e ignorou as insistentes ordens para parar o carro. Mas não adiantou. Teve que obedecer e, sob a ameaça de arma, acabou algemado e em cana.

sábado, 5 de novembro de 2011

Eu não tenho preconceito, mas...


POR GUILHERME GASSENFERTH

Há algumas semanas eu assistia a uma palestra sobre um tema interessante. Num dado momento, o palestrante fez o célebre prelúdio que sempre me deixa preocupado: “eu não sou homofóbico, mas...”. Esta introdução invariavelmente indica que uma assertiva preconceituosa está por vir. Para compreender melhor, é possível substituir a palavra homofóbico por racista, por exemplo. O comentário que vem a seguir provavelmente será preconceituoso. Afinal, alguém já viu uma pessoa não ser chata após dizer “não quero ser chato, mas...”?

Este preâmbulo que o palestrante em questão usou reflete uma dicotomia em nossa sociedade. É sabido que o preconceito e a discriminação são condenáveis, negativos, indesejados, mas por outro lado, ainda assim, vigem no pensamento e sentimento de muitos. Quando ele se justifica dizendo que não é homofóbico, é porque entende que sê-lo não é algo essencialmente bom. Se assim não fosse, não precisaria dizê-lo, pois a sua vindoura frase de teor homofóbico seria bem aceita pelos receptores da mensagem. Talvez apresente justificativa prévia para inconscientemente livrar-se da culpa pelo que vai falar. Mas mesmo assim ele vai adiante e diz o que pensa. Nestes casos, é o próprio porco que joga as pérolas.

Na mesma linha dos que dizem não ser homofóbicos, mas assim agem, estão os que “não tem nada contra, mas só não gostam dos afeminados.” Tenho muitos amigos e conhecidos que comentam comigo: “nada tenho contra você, você é meu amigo, mas não gosto das ‘bichinhas’”. Isto é medíocre e precisa ser extinto. É claro: quando não se é diferente, não há choque. Individualmente, nunca fui vítima de discriminação. Como não sou afeminado e insiro-me num estrato visto como ‘normal’ pela sociedade, em aspectos sociais, culturais, econômicos, profissionais etc., as pessoas não vêem em mim alguém diferente. É mais do mesmo, com a exceção do comportamento sexual e afetivo, mas que geralmente é praticado à luz da intimidade. O verdadeiro ser desprovido de preconceito é o que tem amizades com quem quer que seja, e usa como único critério as afinidades intelectuais, pouco lhe importando o modo de falar, vestir-se ou gesticular do amigo.

A homofobia só faz uma sociedade mais doente e injusta. É reprovável por todos os ângulos, sob todos os prismas, e deve, por isso, ser combatida, inclusive com a devida positivação legal.

Rogo a todos que considerem que diferentes pessoas, com diferentes credos, diferentes etnias e diferentes orientações sexuais são todas peças do complexo quebra-cabeças que é a sociedade e, portanto, devem ser não só toleradas, incluídas e respeitadas, mas trazidas ao bojo da igualdade que norteia uma convivência saudável e feliz.

Por fim, quero compartilhar: interessante pesquisa conduzida pela Universidade da Geórgia dividiu criteriosamente homens em grupos “homofóbicos” e “não-homofóbicos” e expôs os grupos a três vídeos de sexo: entre dois homens, entre um homem e uma mulher e entre duas mulheres. Apenas o grupo dos homofóbicos apresentou excitação durante a exibição do vídeo gay. Hm... Deixo esta conclusão por conta de cada um.

Guilherme A. Heinemann Gassenferth é empresário, envolvido com causas sociais e ativismo LGBTT e especialista em Gestão de Organizações do Terceiro Setor pela PUC PR.

Está escrito

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Chuva Ácida na Rádio Udesc

Na semana passada, Jordi e eu (Felipe) estivemos no programa Conversa e Poesia, da Rádio Udesc Joinville, para falar sobre o blog Chuva Ácida, a convite do jornalista Eduardo Schmitz. A conversa foi bem legal e eu, inclusive, conheci o Jordi pessoalmente. Quem quiser ouvir e conferir, é só clicar no play ali embaixo. Pode comentar depois.

A viagem do prefeito Carlito a Europa


Por JORDI CASTAN

Preparei para quinta feira, um texto sobre a fixação que alguns têm com a Europa.  Adiantei uma parte dele para hoje. 


Quando se trata de políticos então a Europa parece a Meca de tudo o que há de bom é de melhor. No tema urbanismo, desenvolvimento sustentável, qualidade de vida parece que não tem outro lugar como Europa, nem pensar em viajar para Colômbia  Peru, Chile ou Bolívia. Achamos que somos tão superiores aos nossos vizinhos que nada temos a aprender deles.

Depois de uma viagem de uma semana o prefeito e a sua comitiva voltaram cheios de idéias, de novidades e principalmente de certezas. Numa visita de um dia, em apenas algumas horas, um tema tão complexo e que tem na Europa tantos detratores, como é o da incineração do lixo, se converte na panacéia para resolver o problema do lixo de Joinville. Imagino como deve ter sido de boa e produtiva a visita para que o prefeito Carlito tenha ficado tão empolgado. Ficou a duvida sobre que outros sistemas de tratamento e disposição de lixo foram visitados e o nível de analise técnico que foi feito para já ter tomado uma decisão. Lembrei inclusive de uns certos caminhões adquiridos no governo Paulo Afonso que tinham como objetivo ser a solução definitiva para incinerar o lixo hospitalar e que nunca entraram em funcionamento e apodrecem ou já apodreceram num estacionamento da capital.

 Temos que reconhecer que esta semana na Europa deve ter sido de uma intensidade tal que grandes decisões mudaram a nossa Joinville para sempre. Foi sem duvida uma semana decisiva para o futuro da cidade. Inclusive a idéia de priorizar o transporte coletivo e as bicicletas é outra novidade trazida da Europa que fará muito bem a Joinville. Imagino o que poderia ter sido deste governo se esta viagem tivesse se realizado no primeiro semestre de 2009. 

Acho ainda que a fixação com Europa de uns, e a fixação com os europeus, de outros é desmedida e exagerada.

Juiz espanca a filha, mas não é processado

POR ET BARTHES

Se o homem é juiz e faz esse tipo de coisas com a própria filha, o que esperar dele num julgamento? No Estados Unidos, o juiz William Adams espancou violentamente a filha (na altura com 16 anos) com um cinto. As imagens, gravadas em 2004, só agora foram reveladas pela filha, Hillary Adams, hoje com 22 anos. Ela diz que a intenção é apenas demonstrar que o pai precisa de cuidados psiquiátricos. O pai diz que é uma vingança de Hillary porque ele teria ameaçado lhe cortar a mesada. O problema nisso tudo é que o juzi não vai ser acusado, porque depois de tanto tempo o crime prescreveu. Mas tem gente que quer ver o homem fora dos tribunais.

AOS LEITORES




O Chuva Ácida defendeu, desde o primeiro momento, a publicação de todos os comentários dos leitores. E até este momento nenhum comentário, nem mesmo anônimo, deixou de ser publicado. A regra sempre foi clara. A publicação seria livre - com a moderação dos integrantes do blog - desde que respeitadas as regras da democracia, da pertinência e da urbanidade.
Mas tem havido casos de abuso e excessos de pessoas que, escondidas sob proteção do anonimato, desrespeitam o mais elementar princípio da urbanidade. E isso obriga a mudar esse procedimento a partir de agora.
Os integrantes do blog reafirmam: o espaço está aberto aos joinvilenses - e não só - com o objetivo de fomentar o necessário e útil debate. Todas as ideias são bem-vindas. Mas se houver leitores – em especial sob o anonimato – que ultrapassem a linha da razoabilidade, as suas intervenções serão desconsideradas.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Feministas protestam contra DSK

POR ET BARTHES

Há coisas difíceis de entender, mas que acontecem. A associação das feministas ucranianas FEMEN, cujas integrantes usam a nudez como forma de protesto, está a realizar uma turnê pela Europa. Com roupas exíguas e a usar um aventalzinho, elas foram até à frente da casa de Dominique Strauss-Kahn, em Paris, para uma manifestação. O motivo é, segundo elas, a situação das mulheres no planeta, em especial na Ucrânia, onde a prostituição não para de crescer. Segundo o roteiro, o próximo a “sofrer” com uma manifestação é Berlusconi, na Itália.


A gaiola dos macacos


POR JORDI CASTAN

Henry Mencken, jornalista americano definiu de forma precisa a Democracia, como sendo a arte de gerir o circo desde a gaiola dos macacos.

É conhecida a experiência desenvolvida a partir de um estudo cientifico sobre o comportamento de um grupo de macacos colocados numa gaiola. No centro da gaiola e a certa altura se colocou um cacho de banana. E se disponibilizaram algumas caixas, que se empilhadas permitiriam a um macaco ou a um grupo deles alcançar as bananas.

Um dos macacos tomou a iniciativa de empilhando as caixas alcançar o cacho. Quando conseguiu, um potente jato de água foi lançado sobre todo o grupo.
E sucessivamente foi repetida experiência, até que os próprios macacos desestimulavam, inclusive com violência, os que insistiam em tentar alcançar o cacho.

Quando finalmente não houve novas iniciativas, um dos macacos da gaiola foi substituído por um novo macaco, que sem conhecer a experiência, tomou a iniciativa de tentar alcançar o cacho, sendo desestimulado a fazê-lo pelos demais macacos. A experiência foi repetida até que todos os macacos que compunham o grupo inicial foram substituídos por um novo grupo de macacos que nunca tinha vivido a experiência de receber o jato de água. Porem que de modo condicionado e estimulados pelos outros, desistiram de tentar alcançar o apetitoso cacho de bananas maduras.

Temos aqui na nossa paróquia, as nossas próprias gaiolas de macacos, em muitos casos a troca, total ou parcial, dos macacos se realiza de quatro em quatro anos, em outras com menor freqüência. Também aqui são os macacos mais experientes os que assumem o papel de instruir os novos sagüis, que entram na gaiola, sobre o que pode e o que não pode, sobre o que deve e o que não deve ser feito. O curioso é que a cada nova troca, os sagüis recém chegados superam rapidamente a técnica, criatividade e habilidades dos macacos mais experientes. As macaquices dos novos sagüis superam em muito o imaginado pelos antigos lideres do bando que cedem o seu espaço a novas hordas de sagüis ensandecidos, ávidos por cachos de banana e por fazer macaquices inimagináveis pouco tempo atrás.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Tommy's verdadeiras, europeus de araque

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Faz alguns dias, aqui mesmo no Chuva Ácida, rolou uma discussão mais divertida que útil: uma repetição insistente de marcas ligadas ao mundo da moda. E, do que me lembro, as mais mencionadas foram Tommy e Nike. Não é precisa muita ginástica mental para perceber que, no caso de muita gente, o uso dessas marcas produz a sensação de sofisticação. Na boa.

Não quero jogar mais achas nessa fogueira de vaidades. Mas acho legal discutir o valor aspiracional que as marcas representam para as pessoas, em especial a classe média mediana. Ops... classe o quê? Simples. É classe média em termos econômicos e mediana em termos culturais. O fato é que qualquer estudioso do marketing sabe que a marca, em especial na moda, é um escudo e uma forma de defesa para certas inseguranças sociais.

A tal classe média mediana é formada por gente com o saldo bancário confortável. Mas, como já disse alguém, é um tipo de gente tão pobre que tem apenas dinheiro. Falta cultura. Falta charme. Falta mundo. Então, o que o cara faz? Se esconde atrás de símbolos (a marca é um deles), que funcionam como próteses da personalidade. Ou seja, se eu nada tenho a dizer, a marca fala por mim.

LENDA URBANA - Achei divertido ver tantas citações à marca Tommy. E lembrei de uma lenda urbana. Há um bom tempo, a imagem da marca sofreu um forte baque com uma notícia que se espalhou: Tommy Hilfiger teria dito, no programa da Oprah Winfrey, que não teria criado produtos tão bons se soubesse que seriam usados por negros, judeus, asiáticos ou latinos.

É um hoax que circula há quase uma década. Hilfiger só esteve no programa uma vez: para um desmentido. Só que o boato custou uma boa fatia de mercado à marca. Porque muita gente com grana deixou de usar os seus produtos. Não porque o dono da empresa teria sido racista, mas porque não queriam estar no mesmo grupo de negros, asiáticos ou latinos. Consumidor é um bicho estranho, meu povo.

QUE EUROPEUS? - É o que traz uma insidiosa ironia. Afinal, as pessoas que se manifestaram sobre as marcas aqui no Chuva Ácida são latinas. Ok... tem uns caras que, por terem muitas consoantes no sobrenome, não se consideram latinos e juram que são europeus. Tem gente que até ostenta passaportes de países da Europa onde nunca pôs os pés.

Detesto ser eu a trazer péssimas notícias, meus amigos, mas vocês não são europeus. Ter olhos azuis, cabelos loiros e um nome difícil de escrever não basta. A questão é geográfica: europeu é quem nasce na Europa ou viveu lá o tempo suficiente para adquirir a nacionalidade (nunca a naturalidade). E a machadada final vem com este raciocínio lógico: os latinos estão entre os que dão má fama à marca... então, ao usarem as suas vistosas camisas, os latino-americanos de Joinville também estão a dar força para o estereótipo. Será que percebem?

É chato ser discriminado, não é?

Saradões falam sobre câncer de mama

POR ET BARTHES

Tem todos os clichês que as feministas considerariam machismo explícito. Mas vem da Rethink Breast Cancer, uma instituição canadense de combate ao câncer de mama, criada há cerca de uma década. Uma das características da Rethink é ter uma comunicação arrojada, como no caso da promoção do filme promocional desta aplicação de smartphone. Estudos do marketing identificaram um fato interessante: as mulheres prestam mais atenção aos filmes onde aparecem homens sarados e a mostrar os músculos. Todo o texto fala do exame do toque e a ideia é fazer com que o público feminino preste mais atenção ao filme.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

E as cidades litorâneas da região?


POR CHARLES HENRIQUE

Todo ano esse tema entra em pauta, eu sei. Mas precisamos discutir sobre as cidades litorâneas da região norte/nordeste de Santa Catarina. Nosso litoral é “invadido” por turistas de diversas regiões do mundo, e nós, joinvilenses, também gostamos de ficar na praia no verão. O problema é que o incômodo, e o estresse tomam o lugar do lazer devido à falta de organização e estrutura destes municípios.

São problemas em todos os níveis, desde os mais primários (como falta de água e energia elétrica) até os mais complexos (como a inexistência de uma política de desenvolvimento urbano). Enquanto o turista for visto apenas como um consumidor, que despende grandes quantidades, ao invés de ser um humano, que busca uma qualidade de vida melhor que os grandes centros urbanos, teremos as mesmas reclamações toda vez que formos para alguma praia da região.

A impressão é que muitos municípios estão beirando entre o despreparo e o desconhecimento, pois é inadmissível que após tantos anos sobrevivendo do turismo estas cidades não conseguiram ter como prioridade a infra-estrutura necessária para bem atender o turista e catapultar o maior valor delas: a imagem. Se a praia é bela e a cidade não, o turismo não vinga. Está cheio de casos em que a praia em si é péssima, mas a cidade é ótima.

Em São Francisco e Barra do Sul temos problemas com o acesso pela BR-280. Barra Velha tem problemas básicos de infraestrutura e na gestão da Prefeitura (ô cidade para ter um escândalo envolvendo o Prefeito). Piçarras sofre com a falta de dragagem da orla (as seguidas ressacas “comeram” toda a faixa de areia) e com a mobilidade urbana (o crescimento desordenado fez surgir grandes engarrafamentos nas ruas). Penha ganhou um grande impulso com o parque Beto Carrero, mas ainda tem uma estrutura muito semelhante à década de 90. Itapoá tem um acesso complicado e está começando a atrair os turistas em larga escala...

Quantos problemas, não? A solução seria a união destes municípios em prol de uma agenda única, evidenciando assim a importância para a economia. Deste modo, o Governo de SC e a União não olhariam para a região de outra maneira? Se esse clima de competição por turistas continuar (“a minha cidade traz mais gente que a sua”) vai acabar matando toda a pouca imagem positiva que resta. Costa do Encanto é coisa de publicitário do LHS. Aqui é a Costa do Improviso.

Obs: a foto mostra um pouco como a cidade de Penha trata o trânsito.

domingo, 30 de outubro de 2011

Uma reflexão sobre PICHAÇÃO


POR FELIPE SILVEIRA

Aguardado com expectativa pela população joinvilense, o Parque da Cidade, semana passada, foi notícia nos jornais por ter a pista de skate pichada. Os comentários nas redes sociais, especialmente no twitter, e o título da matéria no jornal A Notícia (“Parque da Cidade sofre vandalismo antes mesmo de inauguração em Joinville”) me chamaram a atenção.

Fiquei um pouco incomodado com a ideia sobre pichação e comecei a questionar se o ato era mesmo um ato de vandalismo. Sem querer discutir o conceito jurídico, quero lançar novos olhares sobre o fenômeno social que é a pichação. Adianto que não sei quase nada sobre o assunto, mas que me senti incomodado com o olhar tão superficial sobre a questão e desejo fazer, junto com vocês, uma reflexão sobre o assunto.

Outra ressalva importante, antes de continuar: eu sei que grafite e pichação são coisas diferentes e que um já é (nem sempre foi) tratado como arte e o outro é considerado vandalismo. Apesar de eu achar que isso simplifica demais a questão e ter minhas desconfianças, gostaria de pedir que não reduzissem o debate a isso.

A pichação, no meu entendimento, é uma resposta dada por excluídos a uma realidade de desigualdades sociais. Pelo que sei, a pichação consiste na assinatura do pichador ou do grupo ao qual pertence. Ou seja, é uma disputa social. Isso ficou mais claro quando vi um trecho do documentário “Luz, câmera, pichação”, de Gustavo Coelho, Marcelo Guerra e Bruno Caetano. Veja o trailer:


Ao ver o vídeo, a gente começa a entender o que significa, para essas pessoas, a cultura da pichação. Ou melhor, começa a entender que é uma cultura (no sentido mais amplo da palavra, que é um conceito que muita gente tem dificuldade pra entender).

Mas clareza mesmo sobre a razão que motiva os pichadores, algo que eu já tinha a impressão, eu tive ao ler uma resenha sobre o documentário com o seguinte trecho: “quando se está confinado à margem, dentro de qualquer coisa que chamamos de classes menos favorecidas, pobres, miseráveis ou favelados, ser um autor pode ser tudo o que se tem. As assinaturas das pichações, que nos últimos 20 anos foram se tornando cada vez mais estilizadas e aprimoradas a ponto de se tornarem ilegíveis ou incompreensíveis para quem não é do meio, ou melhor, da família, são uma forma de registro histórico, de identidade, e auto-estima.”

Para mim, antes de chamar de vândalo, vagabundo, é importante entender o que motiva a pichação. Para algumas pessoas, isso nem faz diferença. Uma conhecida minha, integrante do Coletivo Chá, explicou mais ou menos assim: se alguma coisa está na rua, ela vai sofrer intervenção da rua. Meu amigo Ivan Rocha, ligado ao movimento hip hop, também disse algo parecido no twitter: “Os caras fazem uma pista de skate e não querem que tenha arte urbana? muro unicolor não combina com esportes radicais”. Ou outro, ele diz: “De modo geral eu não curto pichação pq é só divulgação do próprio nome mas numa pista de skate não da pra reclamar”.

Na minha opinião, a pichação torna a cidade mais feia. Eu não gosto, mas me incomodo com o olhar conservador que é o mais comum. Eu percebo que ela é muito mais comum onde a desigualdade é maior, onde a falta de oportunidade é maior, onde falta educação, cultura, esporte e lazer. Esse é um exercício legal para as pessoas que viajam bastante: fazer essa relação entre desigualdade social e quantidade de pichação.

Uma última ressalva: sei que tem muito playboy que gosta de pichar. Para mim, isso não faz diferença. Assim como o hip hop, muitas culturas que nascem nas periferias são incorporadas pela classe média. Às vezes, elas são “estupradas”, outras não. De qualquer forma, esse é o movimento da cultura.

Para finalizar, um momento jabá, mas que também serve ao debate. No primeiro semestre, eu e o amigo Bruno Isidoro, com orientação do professor Léo Diniz, fizemos o documentário “Coletivo Chá: um olhar sobre a arte urbana em Joinville”. Não tem a ver exatamente com pichação, mas já que estamos falando de arte urbana, aí vai mais um olhar.

A saúde de Lula é alvo de oportunismos


MARIA ELISA MÁXIMO

Tem coisas que precisam ser comentadas no ato, como esta campanha absurda que estão levantando em torno da saúde do ex-presidente Lula. Por isso, vou tentar juntar aqui um pouco do tenho tenho lido e escrito nas redes digitais, em especial no Facebook, como uma tentativa de fomentar e aprofundar o debate.

Ontem, logo após ter me supreendido com a notícia do câncer de Lula, não poderia imaginar que a surpresa maior ainda estava por vir. Horas depois, vários amigos, familiares e conhecidos multiplicavam uma campanha estampada com a imagem do ex-presidente: Lula, faça o tratamento pelo SUS! Eram muitas postagens, inúmeras, e aumentavam a cada atualização de página. A pergunta que não calava era: mas porque diabos o Lula deveria fazer seu tratamento pelo SUS? Pra "sentir na pele" a precariedade do atendimento? Mas, afinal, se há problemas no SUS, estes são de responsabilidade do Lula? Seja o que for, a campanha é uma ironia? Inacreditável, simplesmente. Mas, pra além do teor lamentável da tal campanha, mais indignante ainda era a superficialidade das pessoas que a compartilhavam: apenas repassavam, sem nenhum traço de reflexão, sem a mínima discussão, sem argumento. Meus questionamentos não cessavam: quantos desses que dissipam este tipo de campanha são realmente usuários do SUS? Pela minha intuição, imagino serem poucos. Mas então, com que fundamento criticam? Quanto mais eu me questionava, mais eu concluia que tratava-se de uma crítica gratuita, rasa, parasita, que, de tão perversa, aproveitava-se de um momento difícil na vida do ex-presidente para vociferar insultos contra ele e seu governo (consideremos, ainda, que criticar o Lula, nas mentes rasas, é o mesmo que criticar o governo Dilma).

Expressei minha reação e, ufa!, foram muitos os comentários de apoio. Junto comigo, começaram a surgir, pouco a pouco, outras postagens críticas à campanha, o que transformou minha timeline num verdadeiro front de batalha. Sim, opiniões fundamentadas em argumentos demoram mais a aparecerem, porque exigem tempo de maturação e prudência para serem formuladas. Já a crítica pela crítica pode se alastrar instantaneamente, não precisa de tempo. De qualquer modo, poucos se abriram ao debate. De todos os meus conhecidos que compartilharam a campanha, apenas um deles, me chamou para o debate e expôs seus argumentos. Os demais, mantiveram-se reclusos aos seus ressentimentos, vendidos ao discurso da mídia oficial que não conta tempo para exibir reportagens sensacionalistas, que exploram as pessoas nas filas, nas emergências, aguardando leitos ou atendimento. O que é bom, nunca é mostrado.

Ninguém ousa lembrar ou parar pra pensar que, hoje, o SUS realiza tratamento para portadores do HIV (e que grande parte dos pacientes soro positivo levam uma vida normal graças à distribuição gratuita do coquetel), realiza cirurgia bariátrica (redução de estômago) em casos comprovados de obesidade mórbida, fora os tratamentos contra vários tipos de câncer, dentre tantos outros. Se o Lula tivesse que ser atendido pelo SUS, certamente não seria mal atendido. O fato é que ele não precisa e, aliás, é bem provável que grande hospitais particulares disputem por realizar gratutiamente o tratamento de um ex-presidente com a popularidade de Lula, pois é publicidade para eles.

Em meio a este debate, eis que hoje de manhã nos deparamos, na MegaPix, com a exibição do documentário Sicko, do genial Michael Moore. Ele adentra as profundezas do sistema de saúde estadunidense e mostra a podridão que permeia as políticas de saúde do país geralmente apontado como referência de modernidade e avanços. Corrupção, descaso, maus tratos... No contraponto, busca entender de dentro a realidade de sistemas universais como o do Canadá, da Grã Bretanha, da França, de Cuba, onde todos (inclusive estrangeiros, imigrantes) têm acesso gratuito a todo, todo tipo de tratamento: das pequenas suturas às grandes e complexas cirurgias. Fazendo as devidas ressalvas relativas às especificidades da realidade brasileira, marcada por profundas diferenças sociais e por uma extensão territorial e densidade populacional incomparáveis às dos outros países, estamos, com o SUS, muito "bem na foto".

Talvez, o que mais esteja faltando para melhorar é, mais do que qualquer coisa, a crença da população brasileira no SUS. O SUS, garantido pela Constituição de 1988, é uma conquista dos movimentos populares e sociais no Brasil pautada pelos princípios da universalidade, equidade e defesa de um Estado laico e verdadeiramente democrático. Antes de criticar o SUS, sem nem ao menos ser seu cliente, precisamos defender o SUS e, aí sim, reivindicar as melhorias necessárias participando mais efetivamente dos centros decisórios. Ficar em casa, apenas clicando no "curtir" ou "compartilhar" destas campanhas toscas não ajuda em nada a melhorarmos esse sistema. Espero que, um dia, as pessoas saibam aproveitar melhor o potencial multiplicador e a esfera de ação das redes sociais para dissipar o bom debate, crítico sempre, mas pautado por argumentos e pela troca inteligente de idéias.

sábado, 29 de outubro de 2011

A droga da criminalização

MARIA ELISA MÁXIMO

Em 2008, orientei um TCC em Jornalismo sobre os Mutantes. Sim, aquele grupo musical dos anos 60/70, que teve Rita Lee como uma das suas integrantes e que misturava ao rock e ao som estridente das guitarras uma série de outras referencias musicais, sob forte influência do Tropicalismo. Como todos sabem, os Mutantes faziam um som psicodélico, "inspirados", talvez, pelo consumo significativo de LSD.

A orientação deste trabalho perfaz uma das lembranças mais marcantes da minha carreira docente, pois lembro do quanto "briguei" com a visão conservadora do aluno a respeito das drogas e do seu uso. Para analisar o consumo de LSD pelos Mutantes, o aluno recorria a discursos oficiais da polícia, por exemplo, para chegar à conclusão de que teriam sido as drogas as responsáveis pelo fim do grupo. Do outro lado, eu insistia na possibilidade de pensarmos o uso de drogas, em especial do LSD, como o motor criativo do grupo e, mais do que isso, como uma forma de resistência. Afinal, estávamos falando de um dos períodos políticos mais complexos que o país vivia. Os Mutantes integravam, nesse sentido, a contracultura brasileira, e o uso de drogas, pra mim, não deixava de ser um caminho de se colocar na contra-mão do sistema conservador que minava, principalmente, a liberdade de expressão e de ação das pessoas.

A despeito de minha insistência em promover uma visão mais crítica do aluno, ele manteve seu ponto de vista. O trabalho foi entregue e encaminhado à banca e, como eu já esperava, foi fortemente contestado. Entre outros aspectos frágeis do texto e da análise, um dos pontos bastante criticado foi a maneira como o aluno pensava o papel das drogas na produção artística do grupo. Mas, mesmo diante das críticas, o aluno não apenas se manteve em sua posição, como a reforçou. Foi reprovado em banca, pelo conjunto de problemas que o trabalho apresentava.

Trago este fato à tona porque creio que ele seja ilustrativo do senso-comum que existe sobre o uso de drogas atualmente, inclusive nas gerações mais jovens, universitárias, que são frequentemente expostas a pontos de vista mais diversificados e alternativos a respeito de assuntos polêmicos. Em geral, as pessoas fincam raízes no caminho mais fácil: droga é uma droga, e ponto. Esta semana recebi a visita de um rapaz que pedia ajuda a uma casa de recuperação de dependentes químicos aqui de Joinville. Ele pedia R$10 por um kit com saco de lixo, esponja, grampos de roupa e um adesivo da entidade. No adesivo, o slogan: Diga não às drogas! Crime nem pensar. Verdadeiramente não compensa! Mais uma vez me surpreendeu o fato de que até mesmo aqueles que são vítimas do sistema punitivo, usam o discurso desse sistema para passar sua mensagem: usando drogas, você será um criminoso e isso "verdadeiramente não compensa". Estranho, não?

Vale pensarmos um pouco sobre a serventia desse sistema punitivo, que tudo criminaliza (o que retoma, em parte, nosso debate sobre o aborto, iniciado aqui no Chuva Ácida). Um texto interessante do Ilanud (Instituto latino americano das nações unidas para a prevenção do delito e tratamento do delinquente), publicado no Promenino, levanta algumas questões sobre o impacto da criminalização das drogas sobre os índices de delinquência juvenil. E, dentre outras coisas, o texto procura mostrar como os mecanismos de controle e de repressão são seletivos, servindo à manutenção das desigualdades sociais: enquanto jovens das classes sociais mais favorecidas, flagrados como consumidores de drogas, dificilmente chegam às portas da justiça, jovens pobres são facilmente criminalizados pela via do tráfico de entorpecentes, como traficantes ou auxiliares do tráfico, e raramente como apenas consumidores. Esta diferença no tratamento de jovens "ricos" e "pobres" ou, mais especificamente, entre brancos e negros, no âmbito do consumo de drogas, é exaustivamente discutida por Vera Malaguti Batista, no livro Difíceis ganhos fáceis: drogas e juventude pobre no RJ (Editora Revan, 2003). A obra é recomendadíssima para quem deseja aprofundar-se na reflexão crítica sobre o tema.

À criminalização somam-se outras medidas radicais, que implicam em reclusão, como a internação compulsória, em prática no Rio de Janeiro desde maio deste ano como parte das políticas de "combate ao crack". Sobre esse assunto, a revista Caros Amigos deste mês trouxe uma entrevista com o psiquiátra Dartiu Xavier, professor da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e diretor do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes (Proad). Nesta entrevista, Xavier nos presenteia com um contraponto não apenas à criminalização, mas também ao próprio uso, sugerindo outras maneiras de ser ver a droga e seu uso, sobretudo ao falar da perspectiva da "redução de danos". Criticando severamente a prática da internação compulsória, Xavier alerta para a perversidade deste tipo de política, que recorre ao modelo carcerário, dos grandes hospícios, e acaba sendo ineficaz em termos terapêuticos. No final das contas, acaba servindo a propósitos higienistas, de "limpeza" urbana. Segundo ele,
existe uma lógica muito perversa da internação compulsória que atribui a situação de miséria e de rua à droga, quando, na realidade, a droga não é causa daquilo, ela é consequência. Acredito que o trabalho feito nas ruas, nas cracolândias e com crianças de rua deveria ser no sentido de resgate de cidadania, moradia, educação, saúde (XAVIER, 2011, p. 16).

Xavier relativiza a relação entre o consumo de drogas e a dependência química, afirmando que, para o alcool e a maconha, por exemplo, menos de 10% dos usuários se tornam dependentes, enquanto que para o crack a porcentagem de dependência é de 20% a 25% dentre os consumidores. Os demais permanecem no padrão do consumo "recracional"; são pessoas que trabalham, são produtivas, têm família. E, nesse sentido, ele tenta desconstruir a associação entre uso de drogas e perda da noção de realidade (associação esta que, muitas vezes, justifica a internação forçada). Enfim, não se trata de querer minimizar o problema das drogas, mas de vê-lo sob outros ângulos que não o do senso-comum, do caminho mais fácil e, principalmente, da criminalização e da repressão. Até mesmo porque não se pode excluir os próprios consumidores como informantes privilegiados na elaboração de políticas públicas relativas à prevenção, ao tratamento, desintoxicação, ressocialização, etc. Eu não tenho dúvidas de que a criminalização não é o caminho e acho importantes os movimentos que emergem, atualmente, contra isso. É claro que a descriminalização do uso deverá, num futuro ideal, vir acompanhada de políticas sócioeducativas e de formas de controle da comercialização, mas este é ponto pra outro debate.

O Twitter está bombando

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Polícia norte-americana endurece com manifestantes

POR ET BARTHES


Está muito mal a civilização quando o país que representa a maior democracia do planeta começa a tratar manifestantes com bombas de efeito moral. A ação da polícia de Oakland, na California, nos Estados Unidos, foi marcada por excessos inadmissíveis. Um manifestante ficou ferido e os outros, na tentativa de prestar socorro, foram também alvo de granadas dissuasoras. Para o mundo, ficaram imagens que até hoje só eram vistas em países de terceiro mundo. Há algo de muito podre no reino do neoliberalismo.

Se enrolar numa cobra?

POR ET BARTHES

As imagens são antigas, mas mesmo assim não perdem o interesse. Se você tivesse que deixar o seu filho brincar com um animal doméstico, escolheria uma cobra python gigante com cinco metros de comprimento? E ainda deixaria a criança rolar com ela pelo chão? Pois esta família no Camboja acha natural ter o bicho em casa e brincando com o filho. E acha que dá sorte.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Prefeitura e a liberdade de expressão


Por JORDI CASTAN

Não é novidade. Alguns dos inquilinos atuais da Prefeitura Municipal não conseguem lidar bem com as críticas. Na verdade, algumas pessoas menos que as outras. É uma dificuldade manifesta em alguns setores e que se agrava pela total falta de maturidade e da prática de algo tão importante na sociedade democrática: o respeito pela liberdade de expressão.
É preciso maturidade para aceitar as opiniões contrárias, da mesma forma que se recebem os elogios dos áulicos. A dificuldade é tão manifesta que, não conseguindo refutar o argumento da crítica – nem sequer contra-argumentar ou mostrar o contraditório –, a prática mais comum é tentar desacreditar o crítico, o argumentum ad hominem. Tem até quem parta diretamente para o xingamento.

Ocupar cargos públicos exige outros predicados. Deveria prevalecer a competência antes da fidelidade partidária e, principalmente, o respeito aos direitos do cidadão que paga impostos. E, entre eles, o direito à liberdade da expressão. No atual governo municipal, o que separa “os homens dos meninos”, sem nenhum sexismo explícito na frase, é a capacidade para lidar com as críticas. Ter ataques chiliquentos pelos corredores do paço municipal é impróprio de quem tem por obrigação respeitar e servir o cidadão.
Toda administração pública tem que saber lidar com a crítica. E há de se reconhecer que nunca ficou tão fácil a crítica, tamanha a quantidade de trapalhadas, atitudes insensatas e desatinos produzidos.

Os críticos estão divididos em grupos: as viúvas das administrações anteriores, que choram a perda do poder e das suas benesses e que só esperam a oportunidade de voltar a ele. Do outro lado estão os que entendem que a cidade está regredindo, que há uma perda de qualidade tanto no dia a dia das pessoas como na forma como a coisa pública é tratada. Essas pessoas acreditam que as coisas podem e devem ser melhores do que são e as suas criticas vem acompanhadas de propostas e alternativas para melhorar.

Na democracia deve existir espaço para estimular o contraditório, o debate, a troca de idéias. Tanto uns como outros tem o direito e a obrigação de expressar as suas idéias e convicções, pois a decisão final caberá ao eleitor. As iniciativas do poder público de desacreditar os críticos acabam desacreditando também os elogios dos áulicos. Porque nem uns nem os outros não sobrevivem sem a liberdade de expressão.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Anonymous responde à Veja

POR ET BARTHES

E já que o tema liberdade de pensamento e de expressão está na ordem do dia, hoje o Chuva Ácida traz o manifesto do Anonymous (movimento em crescimento em todo o mundo), que pretende desmascarar a revista Veja. A publicação é acusada de tentar desacreditar os movimentos sociais em nome dos interesses da direita. “Já é de conhecimento público, até mesmo entre a sociedade menos informada, que a revista Veja é um instrumento de manipulação ideológica e política”, diz o vídeo.

Não é Carlito. É uma questão pessoal

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Um dia destes, ainda no calor da Operação Simbiose, que envolveu vários integrantes da administração pública, vi um twitt interessante do deputado Darci de Matos. Ele punha as coisas nos seguintes termos:
- Se a Polícia Federal investigar vai encontrar mais casos de corrupção na gestão Carlito.
Ah... volto a lembrar. A Operação Simbiose era, naquela altura, o prato forte da agenda midiática da cidade. E escrevi um texto a respeito, aqui mesmo no Chuva Ácida. Não sei se andei distraído, mas não vi qualquer reação da Prefeitura de Joinville às declarações do deputado.
Mas um dia destes, bastou um colunista do Chuva Ácida fazer um comentário mais corrosivo e pronto: lá vem uma ameaça de processo judicial. Hummm... deixem-me ver se eu entendi. Não seria um caso de dois pesos e duas medidas? Vale para um, não vale para outro? Não sei, mas tenho dúvidas de que isso esteja de acordo com procedimentos institucionais.
Mas a conclusão, à luz de um certo histórico, fica fácil. É um caso pessoal. Não vai além disso. É que os autores da ameaça de processo tem sido um alvo das críticas do colunista do Chuva Ácida. Aliás, não só no blog mas em outros veículos de comunicação. Portanto, a ameaça é um ataque ao analista crítico, no particular, e à liberdade de expressão, no geral.
E mais. Quem estiver atento às redes sociais sabe que um alto responsável do governo Carlito Merss (que esteve ligado ao IPPUJ até muito recentemente) produz uma espécie de cruzada contra a pessoa a quem chama “colunista girafa” (vejam a imagem dos twitts abaixo). E, por extensão, acaba por atingir os outros autores do blog.
Viram a imagem dos twitts? A obsessão desse senhor beira o que podemos chamar assédio moral. O colunista em questão tem ignorado as investidas, sou testemunha disso. Mas eu não preciso de paninhos quentes. Não aceito que um tipo qualquer – que não me conhece de lugar algum e não sabe da minha história – vá para uma rede social dizer que sou “anencéfalo” (vejam o primeiro twitt).
Portanto, já que estão a judicializar a liberdade de expressão, vou dar o meu veredito: é uma questão pessoal e uma conspiração de medíocres. Aliás, como já disse alguém (acho que Marx), a burocracia é um gigante operado por pigmeus. Ok... alguém pode argumentar: ele não está mais no IPPUJ. E eu contra-argumento: mas dá para acreditar que não ele exerce influência? É só reler os twitts.
E vou mais longe: não tenho dúvidas em afirmar que isso está a ser feito à revelia do prefeito. Eu conheço Carlito Merss desde os anos 80, quando o PT lutava para se formar e firmar. Sei que ele foi sempre um defensor acérrimo da liberdade de expressão. E só quem estava na política ativa nessa época sabe o valor que isso tem. Para um democrata a sério, a liberdade de expressão é inegociável.
Ao longo do tempo, Carlito construiu um forte capital político, a pulso e por mérito próprio. Isso ninguém lhe pode negar. Mas agora ele corre o risco de ter essa imagem manchada por funcionários públicos que, cegos por vendetas pessoais, preferem apagar fogo com gasolina.
Fatos: os amanuenses nada têm a perder. Mas Carlito tem. Mais do que a imagem, é a sua história que fica marcada.




Acabou o Stammtisch, é hora da AnonimosFest...


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O tema stammtisch não é a minha praia. Aliás, até tropeço na grafia da palavra. E, se vale o depoimento, a expressão "stammtisch" sequer existia no vocabulário da cidade há 17 anos, quando deixei Joinville. Nunca ouvi falar.

O meu primeiro contato aconteceu há poucos anos, quando fui convidado para um encontro. Achei legal. Mas eu sou fácil de agradar: se tem bebida e comida, eu gosto logo. Só houve um senão. Foi meio difícil engolir o fato de os caras se afirmarem alemães, mesmo sem nunca terem posto os pés na Alemanha. Ok... a cerveja gelada ajuda a engolir essas coisas.

Não sou um especialista em stammtisch, mas a comunicação é o meu habitat. E me dou a liberdade de analisar a repercussão do texto escrito pelo Felipe Silveira. Eu disse "a repercussão", não o texto em si. Mais para falar nos excessos de alguns "anônimos", que emparedaram a discussão com posições claramente terceiro-mundistas. Nunca se sabe o que esperar de pessoas que se escondem por trás do anonimato.

Para começar, deixo aqui um estatement. O texto do Felipe tem um bom insight. É uma abordagem criativa, que foge ao blablablá comum. E, independente do teor, só isso já indicia um bom profissional de jornalismo. Hoje em dia, em qualquer profissão, a criatividade é o grande diferencial.

E por falar nisso, eis a minha primeira referência aos anônimos. Houve um deles que, em tom de ironia, chamou o Felipe de menino estudante. Mas isso diminui alguém? Não. Aliás, a importância que se dá ao diploma é uma das maiores tolices da pequena burguesia do patropi.

É claro que o diploma é importante (estudar é bem mais, claro). Mas o diploma não é uma divindade a ser venerada. Nem pode ser usado como uma afirmação de classe. Não sei se ajuda a entender, mas eu dei aulas numa das maiores universidades da Europa e nunca tive que mostrar um único canudo. Simples. Os caras conheciam o meu trabalho. E o portfólio fala por si.

Outra coisa que arrepia os neurônios é quando aparece alguém a tentar desqualificar o autor do texto com o argumento de que ele é comunista ou socialista. Meus amigos e amigas, vamos deixar isso bem claro. Ser socialista ou comunista só é defeito para quem não evoluiu do estado mental dos anos de chumbo. Ei... e isso foi no século passado e tinha o nome de ditadura. No mundo civilizado e democrático, ser socialista ou comunista significa apenas uma coisa: ter uma posição política que deve ser respeitada. Simples. Não vale como argumento.

Aborrecida também é a paulocoelhização da opinião do anônimo. Tem gente que toma o autor do texto por um pobre coitado e, numa dica de auto-ajuda, afirma que se ele deixar de ser invejoso, a vida começa a correr bem. Inveja? Mas que raios leva a pessoa a imaginar que ser bem sucedido é ter um carrão e roupas de marca? Ou que isso provoca inveja em todo mundo? Ah... Baudrillard explica.

Enfim, há muitos anônimos. E entre eles muitos intolerantes. Tantos que dava para fechar a Visconde e fazer uma AnonimosFest. O problema é que tinha que ser um baile de máscaras, porque essa gente não gosta de mostrar a cara.
Para terminar, ficam dois registros.

1. Há muitos comentários que estão de acordo com a proposta do Chuva Ácida. Sérios, ponderados, propositivos e sem ofensas pessoais. Esses são sempre bem-vindos.

2. Ah... e eu uso Nike. Mas não uso Tommy, porque na Europa é roupa de gente brega. Sinto muito se é uma má notícia.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Integrantes do governo Carlito Merss ameaçam processar integrante do Chuva Ácida por não concordarem com crítica

POR COLETIVO CHUVA ÁCIDA

Foi mais rápido do que pensávamos. O Chuva Ácida não completou sequer um mês de existência e já há uma tentativa de silenciamento. O mais surpreendente, no entanto, é que a ameaça vem do governo Carlito Merss, do Partido dos Trabalhadores. Não eram eles os intransigentes defensores da liberdade de expressão?

Um dos integrantes do coletivo Chuva Ácida recebeu um e-mail de um dos órgãos da Prefeitura (Ippuj) com uma ameaça de processo judicial. O crime? Dar a sua opinião. Ou seja, estamos à frente de um caso de delito de opinião. Parece que o conceito de liberdade de expressão ainda não chegou ao corredores do paço municipal. E aos poucos as máscaras vão caindo. Afinal, parece que eles não são tão democráticos.

Neste momento, Carlito Merss está na Europa a ver como as coisas são feitas. Seria recomendável que também prestasse atenção ao conceito de democracia, mais maduro no Velho Mundo. E depois devia partilhar a experiência com os seus assessores mais diretos, que parecem não entender o que é o espírito republicano.

Como se não bastassem os altos índices de reprovação no aspecto administrativo, o Governo Carlito Merss agora também põe em xeque o pouco capital político que lhe resta, pois tal atitude projeta uma imagem de antidemocrático, autoritário e contra a liberdade. A oposição agradece. Assim, as chances de reeleição se esvaem.

Para muitos, Carlito está cercado de pessoas com pouca preparação para os cargos que exercem. E o ataque direto a este blog parece ser uma prova disso. O caminho de pessoas habituadas à democracia seria exercer direito ao contraditório. Mas os assessores diretos de Carlito Merss, que parecem tomados por uma febre de autoritarismo, preferem seguir o caminho da retaliação.

O episódio mostra um fato inequívoco. No poder, o Partido dos Trabalhadores não parece ser diferente dos outros. E recorre aos mesmos métodos de tempos passados no Brasil, quando os coronéis políticos pediam a cabeça dos seus desafetos. É uma situação muito semelhante. Aliás, judicializar a liberdade de expressão é uma das marcas dos regimes autoritários.

O Chuva Ácida surgiu com uma proposta clara: um blog de opinião feito por pessoas sem rabo preso com o poder. E sabíamos que seria um caminho difícil, uma vez que ainda há muita gente pouco habituada ao debate quotidiano e a uma efetiva liberdade de expressão.

Mas o exemplo vem de cima. E se os governantes de Joinville são os primeiros a desconsiderar a liberdade de expressão, então ainda há muito por fazer. Mas o Chuva Ácida estará aqui para abrir o caminho que leva à democratização da opinião na blogosfera joinvilense. Podem contar com isso.

E fica um aviso. Olhem para o número de pessoas que já acederam a este blog. Porque uma coisa podemos garantir: são pessoas (e eleitores) que certamente acreditam na liberdade de expressão. Sem ferrolhos.

A casa, o trabalho, a rua e o Stammtisch na Visconde de Taunay

POR CHARLES HENRIQUE

Ontem me deparei com uma ótima discussão promovida pelo Felipe Silveira aqui no Chuva Ácida. O Felipe foi no cerne da proposta inicial deste blog, e escancarou sua opinião sobre a Visconde de Taunay, o Stammtisch, e a “bolha”. Pra quem não leu, recomendo ler o texto dele (e os comentários) antes de continuar a leitura do meu. Não que eu siga a mesma linha, mas serve para ampliar e qualificar mais ainda o debate.

Estive sábado lá na Visconde de Taunay participando do Stammtisch (fui o organizador da barraca dos Twitteiros de Joinville) e claro, como um bom cientista social, estava numa observação participante. E após ficar processando as situações que presenciei, juntando com as características da cidade, vou usar-me um pouco das idéias do brilhante antropólogo Roberto daMatta, principalmente as contidas no livro “A Casa e a Rua”. Nesta obra, o autor conta como as pessoas convivem com suas moradias, e quais as relações que elas tem com a rua, com o “mundo exterior” a casa. Os padrões de comportamento são completamente diferentes.

Ainda segundo daMatta, a rua é o lugar do anonimato, do impessoal, onde não há espaço para elos mais especializados. Mas, devido à estratificação do trabalho (uns ganham mais que os outros) algumas ruas tornam-se lugares para manter o status dos freqüentadores, seja lá para quem for, mesmo que para o desconhecido. O que importa é mostrar que “tenho” e que “ganho mais que você”. A rua vira uma “entidade moral”, lugar de “domínios culturais institucionalizados” capazes de despertar “imagens esteticamente emolduradas” pela mídia e pelo marketing das marcas ou dos produtos que “poucos podem ter”. Tudo isso esteve presente no Stammtisch de sábado.

A Visconde de Taunay com seus bares é um lugar perfeito para quebrar a impessoalidade que a rua tem. Por ter se tornado um point, principalmente dos mais jovens, a necessidade de mostrar-se e manter-se “emoldurado” para os contatos que lá estarão é evidente e necessário. É só uma parte de Joinville! No Iate Clube é assim, no Golf Club e muitos outros lugares. Até em lugares menos “prestigiados” pela classe média (ou a falsa classe média) é assim. Cada grupo social tem seu “point”. Uns são mais evidentes que os outros, dependendo do ponto de vista de quem observa. Na Visconde é explícito justamente por estar a céu aberto, ou seja, na rua.

O erro que não podemos cometer é associar Stammtisch à Visconde. O Stammtisch da Visconde está desconfigurado, virou uma feira de empresas e um ambiente extremamente segregado, muito diferente de um “encontro de amigos”. Quem já foi no Stammtisch de Pirabeiraba sabe do que estou falando. É um clima muito diferente. Outro detalhe que devemos prestar atenção é que cada vez mais as pessoas tem atitudes na rua que nunca teriam em suas casas, principalmente nos lugares de reprodução da imagem, como na Visconde de Taunay (em casa temos o sentimento de comunhão; na rua, competição). O que representa hoje a ‘Via Gastronômica’, a Avenida Getúlio Vargas já representou nos anos de 1910, por exemplo. Mudam-se os nomes, mas as atitudes parecem ter o mesmo padrão.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A bolha


POR FELIPE SILVEIRA

Em Joinville há uma bolha. Uma bolha social. A teoria é do meu amigo Ronaldo Santos, mas eu concordo plenamente e assino embaixo. Tem muita gente nessa bolha joinvilense. E elas vivem lá, dentro da bolha, distantes da realidade, com a percepção distorcida, interagindo apenas com as pessoas da bolha. Neste texto vamos falar de algumas características desse “fenômeno social” e espero que me digam o que acham.

A bolha é a classe média, mas não somente. Um lugar interessantíssimo para observar a bolha é o Stammtisch que ocorreu neste sábado (22) na Via Gastronômica. Aliás, a Via Gastronômica é o QG da bolha.

Não tenho absolutamente nada contra o stammtisch, muito menos contra a Via Gastronômica. Inclusive, quando posso (nunca), vou lá tomar um chopinho. A ideia do stammtisch, expressão alemã que significa “encontro de amigos”, em português, é muito legal. Grupos de amigos montam barracas (cada grupo monta uma) e lá tomam chope, assam carne e oferecem petiscos. Todo mundo confraterniza. Realmente, um encontro de amigos.

Mas o interessante do stammtisch da Via Gastronômica é que toda a bolha estava lá. E tuitando que estavam lá, claro. Imagina que feio não ser visto no maior evento da bolha e nem registrar o momento?!

É fácil reconhecer alguém da bolha. Eles andam uniformizados. Homens com camisa da Tommy Hilfiger (ou similar. Mas, se você é da bolha, corra comprar uma. É feio usar similar), bermuda (jeans, de preferência) e relógio estilo Fausto Silva. Sapatênis (ultrapassado) ou tênis Nike. Bonés são opcionais. Não importa qual seja a época ou o ano, eles estão sempre assim.

Já as mulheres, claro, acompanham a moda. Ano passado todas usavam aquele shorts com bolso aparecendo (imagina se o bolso era feito de lixo hospitalar? A “bolhana” teria um troço). Relógio gigante e dourado é item básico deste ano, assim como as duas ou três correntes de tamanhos diferentes usadas ao mesmo tempo. A única coisa que não muda é o tamanho dos óculos: gigante sempre. E, pra finalizar, maquiagem quase pra noite. Todas lindas, inclusive as feias.

O problema da bolha joinvilense, no entanto, não é o vestuário. O problema da bolha é a influência que ela tem sobre ela mesma. As pessoas da bolha sabem que existe uma grande Joinville fora dela, mas para elas não importa. Uma pessoa da bolha costuma falar muito dos seus amigos da bolha como referência e de trocar elogios com os seus iguais, mesmo que mal os conheçam. Por isso, o habitat natural da bolha é a coluna social.

A bolha detesta os problemas de Joinville. Por exemplo, a demora nas obras da Via Gastronômica. A bolha também adoraria melhorias nos bairros, como o América, o Saguaçu e o Atiradores. A bolha adora falar mal do prefeito Carlito, pois onde já se viu deixar uma cidade com tantos buracos?! (Não é uma defesa de Carlito, é apenas uma característica da bolha) E a bolha adora vestir a camisa do JEC e ir na Arena na fase boa! Ah, e a bolha tuita muito.

A bolha está aí, exercendo influência sobre os seus iguais. O que me preocupa é que a bolha está de olho na próxima eleição. E, se ganhar, vai querer governar para a bolha, achando que a bolha é o povo. Ainda bem que a bolha não tem força para eleger ninguém.

domingo, 23 de outubro de 2011

Deixem o meu, o seu, o nosso Batalhão em paz!





Uma das tantas discussões que escuto com frequência sobre Joinville é que o espaço do 62º Batalhão de Infantaria, em pleno coração da cidade, deveria ser um parque. Um Central Park. Um parque central para o joinvilense chamar de seu. Só mentes brilhantes defendem essa tese.

Está certo que o atual parque, que será inaugurado no próximo mês, está longe de ser um parque dos sonhos. Falta um detalhe crucial: árvores. Mas o que esperar do pai dos futuros parques somente ser inaugurado em pleno ano de 2011... Somente em 2011. Um parque. Pero no mucho.

Daqui a pouco volto ao tema Batalhão, mas antes é preciso fazer uma reflexão nem tanto profunda sobre os parques. O joinvilense nato, aquele da gema, nunca se preocupou muito com os tais parques, essa é a realidade. Isso é coisa de gente que veio de outros estados. Gente que sentiu falta de algo e começou a bater na tecla: os parques. Salutar discussão. Nem vou entrar no mérito das recreativas e coisa e tal.

E eu não sou contra parques. Preferia que Joinville tivesse praia. Até uma estrutura melhor na Vigorelli já valia. Ou que a cidade fosse voltada para a Babitonga com uma linda beira-mar para correr e se divertir. Não precisaria nem de parque. Mas construir uma praia não é fácil. Nem os dólares do Fonplata pagariam tal audácia deste fictício administrador.

Pois bem... Joinville perdeu uma bela chance de ter sua praça ou ainda poderá tê-la, no verdadeiro sentido de um Parque Central. A cidade perdeu há muitos anos a chance de ter um parque que poderia estar localizado no espaço onde hoje fica o Centreventos Cau Hansen e o Hipermercado Big. Aquela imensa quadra – se houvesse planejamento no passado – poderia ser um grande parque. Inclusive com um bom teatro no meio (teatro? Era pra ser ali, né? Mas isso é outra história. Baço e Jordi devem lembrar).

Imagine você um parque em plena Beira-rio. Iria ficar lindo, mas a cidade ainda tem uma chance do tal Central Park. O sociólogo Charles Henrique defende essa tese junto comigo. O terminal de ônibus sai do Centro e reforma ou derruba o ginásio Abel Schulz. Ali sim um grande corredor verde com espaço para feiras ao céu aberto, grandes shows, espelhos d’água... Coisa linda.

Mas não. O povo continua na defesa da extinção da quadra do 62º BI. Um parque ali é acabar com uma região. Deteriorar. Desvalorizar imóveis. Um parque é bonito. É útil pra sociedade, mas acabar com o 62º BI é um exercício de insanidade. Vejam vocês, hoje, madames, rapazes, atletas, gordinhos, gordinhas, bonitonas, todos podem fazer com tranquilidade seus exercícios na nova calçada do “Meu, do Seu, do Nosso Batalhão”. Tudo isso com segurança aos olhos vigilantes dos soldados. Se ali fosse um parque... segurança zero.

E pode ter certeza que junto com o parque viriam os aproveitadores, batedores de carteira, usuários de drogas e por aí vai. Daqui uns bons anos os joinvilenses abandonariam o parque e a região seria um bolsão para furtos e outros tipos violência. Pode acreditar.

O Batalhão precisa ser realmente nosso. Precisa abrir suas portas para a população. Precisa deixar as pessoas entrarem no local, fazer exercícios lá dentro, utilizar os equipamentos dos militares, jogar futebol, vôlei e basquete nas quadras. Ser um local de convívio mútuo, de integração, sem deixar de ser uma área militar.

O Batalhão é meu, seu, nosso. Está ali para garantir a segurança de todos nós e da pátria. O Exército brasileiro precisa abrir suas portas e deixar o encastelamento que remete para uma época sombria. Precisamos conhecer o Batalhão, orgulhar-se dele, conhecer a nossa história, o passado do nosso País. A quadra do 62º BI não precisa transformar-se em uma praça. Precisa sim é abrir as portas e ser tomados pelos joinvilenses.


Marco Aurélio Braga é jornalista